Pedro Lameira de Andrade a direita
Nascido na cidade do Rio de
janeiro, em 16 de setembro de 1880, e desencarnado em São Paulo, no dia 1º de
março de 1938.
Numa época quando o Espiritismo
era ainda muito mal compreendido, e quando reinava verdadeira desunião entre os
seus adeptos e até no seio de suas instituições, um vulto notável e infatigável
surgiu no cenário da divulgação doutrinária, constituindo-se num dos mais
salientes espíritas da época.
Nos anais da
História do Espiritismo, os registros biográficos do Dr. Pedro Lameira de
Andrade são bastante escassos, em flagrante contraste com o vulto da obra que
tão bem soube desempenhar, e que projetou o seu nome na posteridade. A exemplo
do que sucedeu com outros grandes missionários, cujas obras foram legadas aos
homens das futuras gerações, através dos informes de discípulos dedicados, a
missão fulgurante de Lameira de Andrade somente é suficientemente conhecida por
aqueles que com ele conviveram, os quais a ele se referem como um autêntico
benfeitor da Humanidade, um homem que procurou impulsionar seus companheiros de
jornada terrena, na senda do aprimoramento espiritual e do aculturamento,
poderosas alavancas que atuam no laborioso processo de reforma íntima das
criaturas humanas.
Seus pais foram Boaventura
Plácido Lameira de Andrade e Carolina Levereuth de Andrade, tendo o seu
nascimento corrido no bairro de Vila Isabel, no antigo Distrito Federal. Aos 17
anos de idade, perdeu seu pai e, atendendo a um convite de seu padrinho foi
para São Paulo, ingressando no Colégio Mackenzie, onde se formou em Teologia.
Não chegou a ordenar-se pastor protestante, em virtude de haverem surgido
algumas divergências entre ele e o reitor do Seminário.
Lameira era exímio tenor e, em
1904, casou-se com D. Elvira Silveira, pianista e professora de Pedagogia e
Psicologia da Escola Normal. Desse consórcio teve seis filhas. Nessa época ele
era também professor de português, grego e latim, lecionando na escola da Força
Pública, atual Polícia Militar de S. Paulo. Ingressando na Faculdade de Direito
de S. Paulo, formou-se em 1912. Dessa data em diante deixou de lecionar para
consagrar-se à profissão de advogado, tendo montado escritório em S. Paulo.
A desencarnação de sua filha
mais idosa deixou-o desolado e revoltado, passando a descrer de tudo.
Aconselhado por amigos procurou o Espiritismo, doutrina que lhe trouxe o
consolo e a certeza da imortalidade da alma.
Na década de 1920, Lameira de
Andrade já antevia a necessidade da instrução como fator decisivo para a
libertação do Espírito, através do conhecimento da verdade, por isso sonhava
com a fundação de escolas primárias e ginásios, que viessem a funcionar
alicerçados nos postulados da Doutrina Espírita. Nos idos de 1928 e 1929, com
vistas ao desenvolvimento de um programa nesse sentido, ao lado de outros
companheiros que estavam inspirados do mesmo ideal, lutou arduamente para a
implantação de um instituto de ensino que servisse de modelo para as futuras
organizações do gênero. Seu sonho concretizou-se quando viu funcionar o Liceu
Espírita Brasileiro, entidade que teve vida efêmera, durando pouco mais de um
ano.
Entretanto, a semente ficou
lançada.
Homem dotado de um dinamismo
invulgar, arrojado em seus cometimentos e animado de um idealismo
inquebrantável, Lameira tornou-se figura bastante conhecida em todo o Brasil e
principalmente no Estado de S. Paulo e no Rio de Janeiro, em cujo cenário, teve
a oportunidade de desempenhar a sua gigantesca tarefa.
A missão de Lameira de Andrade,
no seio do Espiritismo, foi desenvolvida, em grande parte, ao lado do Dr.
Augusto Militão Pacheco, renomado médico e um dos grandes baluartes espíritas
da época. Através dos seus escritos, das suas conferências, esse infatigável
seareiro não media esforços em suas peregrinações. Muitas cidades brasileiras
foram por ele visitadas e seu nome conseguiu empolgar grandes auditórios, pois
sabia abordar, com raro descortino, os ensinamentos evangélicos à luz da
Doutrina Espírita.
Foi procurador do "Abrigo
Batuíra", tendo sido um dos seus fundadores.
Durante 19 anos prestou
inestimáveis serviços a "Instituição Verdade e Luz". Embora não
conhecesse pessoalmente o grande missionário que foi Antônio Gonçalves da Silva
Batuíra sucedeu-o na direção da revista "Verdade e Luz", fundada no
ano de 1890. Foi membro da diretoria da Associação Espírita São Pedro e São
Paulo, onde trabalhou intensamente e com raro devotamento, ao lado de grandes
seareiros. Teve também marcante atuação no campo da assistência social, tendo
nesse afã, chegado até o sacrifício.
Foi ainda sócio benemérito da
Cruz Azul de S. Paulo, tendo prestado a esse organismo o fruto de seu esforço,
dando viva demonstração do seu Espírito magnânimo, sempre pronto a servir e a
cooperar na implantação e desenvolvimento de obras altruísticas.
Em 12 de julho de 1936, ao ser
fundada a Federação Espírita do Estado de S. Paulo, Lameira de Andrade foi
eleito seu orador oficial, em sua primeira diretoria, passando a representar
aquela egrégia instituição em quase todas as solenidades promovidas pelas
associações espíritas do Estado. Na própria Federação, ele era invariavelmente
requisitado pelos frequentadores, para proferir palestras, as quais eram
bastante concorridas.
Certa ocasião, chegada a hora
designada para a realização de uma conferência sobre o tema "O
Perdão", na Sede da Associação "Verdade e Luz" choveu
torrencialmente. Apenas estavam na sede da instituição o orador, Elói Lacerda e
outros dois companheiros. Lameira, vendo o salão vazio, aventou a ideia de
fazer uma prece e encerrar a reunião, sugestão prontamente repelida pelos
presentes. A palestra foi proferida, portanto, como se o salão estivesse repleto.
A determinada hora entrou no recinto uma pobre mulher, toda molhada, esperando
resguardar-se da chuva.
Assentando-se nas últimas
cadeiras, passou a prestar inusitada atenção às palavras do conferencista.
Ao finalizar a palestra, ela
aproximou-se do orador e lhe disse: "Graças a Deus entrei nesta casa e
ouvi suas palavras. Eu estava decidida a cometer um crime nesta noite.
Entretanto, agora compreendo as razões de minha desorientação e vou tomar rumo
diferente, vou lutar contra as forças negativas que quase me desviaram do
caminho do bem”. Lameira abraçou-a comovido, alegrando-se intimamente pelo fato
de ter servido de ponte para que aquela criatura se reencontrasse e viesse a
descortinar novos horizontes.
Lameira de Andrade viveu na
Terra pouco menos de 58 anos, desencarnando vítima de fulminante derrame
cerebral que o prostrou em poucas horas. Ele soube aproveitar bem esses curtos
anos de trabalho, desenvolvendo tarefa de gigante, no sentido de distribuir, em
profusão, tudo aquilo que era patrimônio de seu Espírito esclarecido e
evangelizado. Ele soube assimilar, em sua plenitude, os ensinamentos de Jesus
Cristo, no sentido de colocar a luz sobre o velador. Foi o bom obreiro que soube
restituir ao Senhor, em dobro, os talentos recebidos.
Sua desencarnação representou
irreparável perda para os espíritas de São Paulo e do Brasil, uma lacuna que
dificilmente seria preenchida.
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