O Grito de Edvard Munch
Jane Maiolo
...sabendo Jesus que
chegara sua hora de partir desse mundo para o Pai, tendo amado os seus
próprios, que estavam no mundo, amou-os até o fim[2]”.
Em nenhum tempo, em nenhuma
pátria, em nenhuma sociedade, a rogativa por amor, justiça, paz e fraternidade
se fez tão intensa.
Vivemos tempos áridos num país,
cuja a expectativa espiritual é supostamente tornar-se a “pátria do Evangelho”,
clamamos por reajustes urgentes, por educação de qualidade e por uma filosofia
ética e moral que nos liberte das crenças apequenadoras e pueris. Porém, essa
filosofia se encontra entre os homens desde 1857, sob o título de Doutrina
Espírita.
O Espiritismo é, ao mesmo tempo,
uma ciência de observação e uma doutrina filosófica. Como ciência prática ele
consiste nas relações que se estabelecem entre nós e os Espíritos; como
filosofia, compreende todas as consequências morais que dimanam dessas mesmas
relações[3]. Seu
maior objetivo é dar ao homem a liberdade de consciência no uso perfeito de sua
razão.
Como religião, Allan Kardec
comenta na Revista Espírita do mês de
dezembro de 1868, por ocasião do Discurso de Abertura da Sessão Anual
Comemorativa dos Mortos, na Sociedade de Paris, em 01/11/1868, se o espiritismo
seria uma religião? Ora, sim, sem dúvida, senhores. E explica que no sentido
filosófico, o espiritismo é uma religião, e nós nos glorificamos por isto,
porque é a doutrina que funda os elos da fraternidade e da comunhão de
pensamentos, não sobre uma simples convenção, mas sobre bases mais sólidas: as
mesmas leis da natureza[4]”.
Em tempos de ansiedades e
volúpias mentais é necessário refletir que temos feito para que o espiritismo
consiga aglutinar as forças colaborativas para as instâncias da ciência, da
filosofia e da religião?
Quais têm sido as propostas
educacionais para os espíritos reencarnantes nos dias atuais?
O livro A Gênese, publicado no ano de 1868, completou 150 anos em janeiro,
traz-nos a informação sobre a nova geração que marcaria a era do progresso e se
distinguiria pela inteligência, razão precoce e grande inclinação ao bem.
Será que o Codificador se
enganou quanto a nova geração?
Será que os responsáveis pela
educação libertadora da mente, têm negligenciado o efetivo papel na educação
para a geração que desponta neste mundo de acelerados apelos à vida
automatizada?
O episódio do “lava os pés”
registrado por João consoante consta no capítulo 13, versículo 1, nos oferece
pálido indicativo do trabalho edificado pelo Cristo junto aos discípulos
diretos. Narra o evangelista: “...
sabendo que chegaria a sua hora de partir deste mundo para o pai tendo amado os
seus próprios que estavam no mundo amou-os até o fim[5]”.
Jesus contava com aqueles homens
para a colaboração da divulgação de um novo princípio de vida, por isso mesmo,
os educou, preparou e os amou até o fim. Não houve exclusão, nem reproche e
sequer condenação. Independente de suas fraquezas, mazelas, equívocos, Jesus os
amou até o fim.
Educar o espírito vai além dos
valores efêmeros da contemporaneidade. Amou-os até o fim. Para o homem formado
no pensamento cíclico do nascer, crescer e morrer, significa amou-os até a sua
morte. Porém o sentido correto do amou-os até o fim ganha uma dimensão majestosa
e plena. Amou-os até o fim, significa amou-os até as últimas consequências, não
importando o desfecho daquela história.
Até o fim é, em primeiro lugar,
até o final de uma etapa; até se concluírem todas as coisas; até completar
todos os acordos. Significa ir até às últimas consequências; ao extremo da
situação; levá-la a término de modo constante e perfeito.
Ao refletirmos no papel que
estamos protagonizando, nesse momento da história, há de se avaliar o grau de
nossa participação nesse movimento de transição dos valores.
Será que o codificador se
enganou quanto a nova geração?
Quer os pais ou aqueloutros comprometidos
com tal mister, será que a atual crise moral é fruto da negligência dos
educadores?
De posse a mais de 160 anos de
um roteiro regenerador ainda insistimos nos velhos hábitos e crenças, repetimos
os princípios do homem instintivo e sensual?
O desânimo, a tristeza, a
depressão e a ausência de intenções superiores avolumam nos variados meios
sociais, haja vista o painel social, político e cultural da sociedade
contemporânea.
A tristeza conduz à morte como
afirmou Paulo de Tarso:
“Porque a tristeza, segundo Deus, opera
arrependimento para a salvação, da qual ninguém se arrepende; mas a tristeza do
mundo opera a morte[6]”.
A afirmativa paulina foi
chancelada pelos filósofos do século XVII e XIX, a saber, Baruch de Espinoza e
Henri Bérgson, quando proclamam que o homem possui uma potência divina,
intitulada Conatus[7],
energia essa capaz de mantê-los conectados com a vida e com propósitos
superiores, portando na falta dessa energia o homem entristece, definha, adoece
e morre.
A tristeza é a causa primeira
das enfermidades, portanto é necessário adotar o padrão comportamental do
Cristo, edificando roteiros sublimes no coração e na mente para adquirirmos
forças superiores de ação para gerirmos nossa administração, enquanto tutores
dos reencarnantes da nova era, pois neles são assentados a esperança do mundo
de regeneração.
Cultivar a potência divina em
nós é revigorar nossas oportunidades de trabalho e de redenção.
A tarefa de amar até o fim é a
tarefa confiada ao homem atento e que despertou para a grandeza do amor.
Amar até o fim é amar
incondicionalmente até as últimas implicações do amor. A cada instante vivido
na carne nos aproximamos da inevitável transposição para outras paragens na derradeira
viagem rumo às regiões espirituais, em face dessa fatalidade inexorável,
regulamento para a qual não há exceções, cabe refletirmos se estamos amando até
as últimas consequências do amor.
[2] João 13 : 1.
[3] Kardec, Allan. O
Que É O Espiritismo. Preâmbulo- 56ª. ed. - 1ª. imp. – Brasília: FEB, 2013.
[4] Kardec, Allan. Revista
Espírita de dezembro de 1868
[5] João 13 : 1.
[6] 2 Coríntios 7 : 10