sábado, 30 de setembro de 2017

Despersonalização, o distúrbio que impede pessoas de sentir amor[1]


Sarah Ashley, também paciente, melhorou depois de sessões de terapia

 
Adam Eley - 27 setembro 2017
 

Sarah é atriz. Ela está acostumada a interpretar papéis e projetar emoções. No entanto, por grandes partes de sua vida adulta, se sentiu emocionalmente anestesiada ‒ incapaz de sentir.
A britânica (que não divulgou seu sobrenome) sofre do transtorno de despersonalização, cujos portadores se sentem desconectados de seu corpo e do mundo ao seu redor.
O distúrbio mental faz o mundo parecer surreal, estar sob um nevoeiro ou bidimensional.
E o problema, apesar de pouco conhecido, não é tão incomum: estima-se que afete uma a cada 100 pessoas, segundo estudos científicos.
"Relacionamentos que você sabe que valoriza profundamente perdem sua qualidade essencial", explica Sarah à BBC. "Você sabe que ama sua família, mas sabe disso apenas em termos acadêmicos ‒ em vez de sentir (amor) do jeito normal".
Sarah teve três episódios crônicos do distúrbio, que chegaram a se arrastar por anos. O primeiro deles ocorreu enquanto era estudante universitária e estava sob o estresse das provas finais.
Acredita-se que o problema seja justamente uma espécie de mecanismo de defesa, ou seja, uma forma de o corpo "desligar" a realidade para lidar com períodos de trauma ou ansiedade extrema. Pode ser também desencadeado pelo uso de entorpecentes, como a maconha.
Para quem convive com o transtorno, o mundo pode mudar em um instante.
"Era repentino. As coisas pareciam alienígenas ou ameaçadoras", explica Sarah, que também sofria ataques de pânico durante os surtos. "E lugares muito familiares, como seu próprio apartamento, ficam parecendo sets de filmagem, e as suas coisas se parecem objetos cenográficos".
Há também quem passe por assustadoras experiências em que se sentem fora de seus próprios corpos ou como se o mundo estivesse em 2D, achatado.
Foi assim que Sarah se sentiu em seu segundo surto de despersonalização. "Eu estava lendo, segurando o livro, e de repente minhas mãos pareciam uma foto de um par de mãos. Eu sentia uma espécie de separação entre o mundo físico e minha percepção sobre ele".
Se não forem tratados, alguns pacientes acabam tendo de conviver com o problema durante a vida inteira.
 
Pouco conhecido
Apesar de ser reconhecida há décadas como transtorno e ter, segundo especialistas, incidência semelhante à de problemas como transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) e a esquizofrenia, a despersonalização permanece pouco difundida entre a comunidade médica.
Sarah diz que já passou por "até 20 (especialistas) ao longo dos anos que não sabiam do que eu estava falando, entre enfermeiras psiquiátricas, clínicos gerais, terapeutas e orientadores psicológicos".
A médica britânica Elaine Hunter, responsável pelo único centro de tratamento do transtorno de despersonalização no Reino Unido, diz que já viu a síndrome se desenvolver em adolescentes, que ficam apavorados ao se sentirem desconectados de seus corpos.
Uma de suas pacientes tinha 13 anos quando começou a apresentar os sintomas de despersonalização e ficou dois anos sem conseguir sair de casa ‒ tinha no mínimo dez ataques de pânico por dia relacionados ao transtorno e era incapaz de reconhecer seus próprios pais.
O tratamento inclui sessões de terapia cognitiva comportamental e, em alguns casos, medicação.
A gerente de vendas britânica Sarah Ashley passou pela terapia e notou uma "enorme diferença" em sua saúde mental.
"Antes (da terapia) eu olhava para minhas mãos e partes do meu corpo e sentia como se não fossem meus. Olhava para o espelho e era como se eu estivesse vendo uma outra pessoa", conta ela.
"Eu não conseguia comer, dormir. Agora, eu enfrento (episódios de) despersonalização, mas consigo lidar com eles rapidamente".




sexta-feira, 29 de setembro de 2017

O HOMEM QUE MATAVA O TEMPO[1]


 
Irmão X
 

Aquelas respostas de Anselmo Figueiredo eram invariáveis.
Convocado à fé religiosa, o rapaz se desviava de qualquer consideração mais grave relativamente à vida. Filhos de pais devotados ao Espiritismo cristão, apesar da assistência carinhosa do genitor e dos comoventes apelos maternais, Anselmo afirmava sempre não haver atingido ocasião adequada.
No seu parecer, o pensamento religioso quadrava tão-somente a pessoas avançadas em idade. Entendia que era preciso desperdiçar a mocidade, gastar energias, estontear-se no prazer e, depois, quando chegasse a perspectiva da morte do corpo, resolveria os problemas da fé. Considerava indispensável aproveitar a saúde, para atender a caprichos inferiores.
Não permanecia na Terra? Que fazia a maior parte dos homens? Atendiam a desejos, através de comidas e bebidas, com os jogos e prazeres do tempo.
Falava-lhe o pai amoroso, de quando em quando:
Anselmo, já não és mais uma criança frágil. Creio que deves refletir maduramente quanto ao nosso destino eterno.
— Ora, meu pai — replicava contrafeito —, lá vem o senhor com as histórias de religião. Tenha paciência, não lhe pedi conselhos. Quando tiver sua idade, talvez pense nisto. Este mundo é bastante miserável para que se não aproveitem os dias tão curtos da mocidade.
E, depois de gesto irritante, arrematava:
— É necessário matar o tempo.
De outras vezes, comparecia a generosa mãezinha no concerto:
Meu filho, meu filho, repara que estamos na Terra, de passagem somente. Vamos aprender as lições da fé. Jesus espera-nos sempre com o perdão aos nossos erros. Anselmo, meu querido, porque não frequentas conosco a escola de iluminação espiritual? Seria isto prazer tão grande para tua velha mãe!... Encontraríamos juntos a fonte das águas eternas...
O moço esboçava um sorriso irônico, explicando-se:
Mamãe, não sou eu criminoso, nem desviado. Creio sinceramente na existência de Deus; mas que quer a senhora? Estou jovem, preciso viver a única ocasião de alegrias na Terra. A senhora e papai estimam os estudos evangélicos, enquanto que eu dou preferência aos cassinos. Que fazer? Não temos culpa, no que concerne às diferenças de predileções. Além disso, como não pode deixar de reconhecer, o período aproveitável da existência é muito enfadonho. É necessário matar o tempo, mamãe!
A pobre matrona suspirava triste e a luta continuava.
Bancário, com remuneração excelente, Anselmo dissipava os vencimentos entre o jogo e os prazeres alcoólicos, comprometendo-se, por vezes, em vultosos empréstimos que o genitor era compelido a resgatar com sacrifícios. Se faltava dinheiro para as extravagâncias, flagelava o coração materno com observações ingratas. E, se os amigos da casa, em visita à família, recordavam ao imprevidente a solução dos problemas da fé, respondia irredutível:
— Que desejam vocês? Observo-lhes o esforço, mas não estimo as tendências religiosas. Admito que semelhantes impulsos chegam com a idade avançada, ou com a moléstia imprevista. Em sã consciência, coisa alguma exige de mim a manifestação religiosa propriamente dita. Não sou velho, nem sou enfermo. Consequentemente, minha conduta é outra. O homem normal e tranquilo sabe matar o tempo. É o que faço sem perturbar a cabeça.
Após fitar a reduzida assembleia de amigos, como se enfrentasse multidões do mundo, de olhar dominador, Anselmo dirigiu-se ironicamente para uma velhinha simpática, exclamando:
— Que me diz a senhora, Dona Romualda? Acaso, não se aproximou do Espiritismo, em virtude de suas velhas cólicas? Teria pensado em religião antes disto?
A anciã humilde replicava, bondosa:
— Ah! Sim, Anselmo, talvez tenhas razão.
— E o senhor, “seu” Manuel — dirigia-se o moço, atrevidamente, a um negociante idoso —, teria buscado o Espiritismo, se não lhe aparecessem as varizes e o reumatismo?
O interpelado, entretanto, que não tinha a paciência de Dona Romualda, respondia firme:
— Mas, meu amigo, é o caso de abençoar as enfermidades. Se é que está esperando por elas a fim de renovar atitudes mentais, formulo votos para que a Providência Divina o atenda breve.
O rapaz esboçava gesto de aborrecimento e dava-se pressa em sair para a rua, murmurando entre os dentes:
— Estou muito distante de tais perturbações e, até que venha ocasião apropriada, matemos o tempo.
De nada valiam observações dos genitores, conselhos amigos, convites fraternais. A qualquer aborrecimento comum, desdobrava-se Anselmo em palavras blasfematórias. Se advertido, mostrava enorme fecundidade por evitar raciocínios nobres, declarando-se em época inoportuna a qualquer cogitação de natureza espiritual. O bilhar, o pano verde, as aventuras do desejo menos digno lhe empolgavam a mente.
Convidado inúmeras vezes pela bondade divina a traçar diretrizes superiores, com ao destino sagrado, Anselmo Figueiredo fugira a todas as oportunidades de iluminação íntima. Preferira as sombras espessas da ignorância a qualquer pequenino serviço de autoeducação. Sua ficha individual na Terra estava cheia de anotações inferiores: ociosidade, libertinagem, negação de atividades úteis.
A qualquer interpelação carinhosa, vinha à baila o velho estribilho: não havia atingido o tempo próprio, sentia-se distante da realização espiritual, aceitava as verdades eternas; entretanto, declarava-se sem a madureza necessária ao trabalho da própria edificação. E assim, o filho do casal Figueiredo atingiu os quarenta e oito anos, sempre se sentindo demasiadamente jovem para aproximar-se do conhecimento divino. Vivera à moda de borboleta distraída, sumamente interessado em matar o tempo.
Contudo, a morte não podia esperar por Anselmo, como os amigos do mundo, e chegou o dia em que o imprevidente não conseguiu abrir as pálpebras do corpo, ingressando em trevas densas, que lhe pareciam infinitas.
Percebeu sem dificuldade que não mais participava do quadro terrestre. Sentia-se de posse dos olhos, mas figuravam-se lhe agora duas lâmpadas mortas. Chorou, pediu, praguejou. Não mais entes amorosos a convidá-lo para o banquete do amor. Não mais a ternura maternal. Todavia, quando o silêncio absoluto não lhe balsamizava as dilacerações da mente em febre, ouvia gargalhadas irônicas, indagações maliciosas e ditos perversos. Nada valiam lágrimas e rogativas. Semelhava-se a um cego perdido em região ignorada, sem família, sem ninguém. Nunca pôde retomar o caminho de casa, ansioso por ouvir agora a palavra dos pais, a observação dos amigos carinhosos. Anos passaram sobre anos, sem que o arrependido pudesse contar o tempo de amarguras.
Houve, porém, um dia em que, após angustiosa prece, entre lágrimas, se fez claridade súbita em sua longa noite. O penitente ajoelhou-se, deslumbrado. Alguém lhe visitava a caverna escura. De repente, na doce luz que se formara em torno, apareceu-lhe a amada genitora a fitá-lo, com extrema doçura.
Mãe! Minha mãe! — bradou o infeliz — Socorre-me por piedade!...
Anselmo, em pranto, tentou alcançar a figura luminosa que o contemplava entristecida, mas debalde. A senhora Figueiredo, não obstante se fazer visível, parecia distante. O desventurado procurou correr para atingi-la, ansioso por se retirar das trevas para sempre. A mãezinha devotada, contudo, alçou a destra compassiva e falou emocionada:
— É inútil, por enquanto, meu filho! Estamos separados pelo abismo que cavaste com as próprias mãos. Há mais de dez anos aguardava ansiosamente este encontro; mas, em que estado lastimável te vejo, filho meu!...
— Querida mãe! — clamou o mendigo de luz — Por que me esqueceu o Senhor do Universo? Abandonado de todos, sou um fantasma de dor, sem o auxílio de ninguém. Por que tamanho padecimento? Por quê?
Enquanto o desditoso arquejava em soluços convulsivos, a genitora esclareceu, triste:
— Deus nunca te esqueceu, foste tu que lhe esqueceste as bênçãos no caminho do mundo. Cuidaste apenas de matar o tempo e o teu tempo agora permanece morto. Trabalha para ressuscitá-lo, meu filho, procurando obter nova oportunidade de serviço, perante a bondade do Senhor. As lutas do coração desfazem as trevas que rodeiam a alma. Não esqueças a longa estrada que ainda tens a percorrer...
E, antes que Anselmo pudesse formular novas interpelações, a luz espiritual apagou-se devagarinho, voltando a paisagem de sombras, a fim de que o imprudente do passado conseguisse acender a luz da própria alma, com vistas ao porvir.




[1] Pontos e Contos – Francisco C. Xavier

quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Os sofrimentos humanos[1]


 
Joanna de Ângelis
 

Buda considerou a vida como uma forma de sofrimento e que a sua finalidade era, exclusivamente, encontrar a maneira de libertar-se dele. Para o budismo, a vida é constituída de misérias que geram o sofrimento; por sua vez, o sofrimento é causado pelos desejos insatisfeitos ou pelas emoções perturbadoras e (o sofrimento) deixará de existir se forem eliminados os desejos, sendo necessário, para tanto, uma conduta moderada, e a entrega à meditação em torno das aspirações elevadas do ser.
A fim de transmitir adequadamente suas lições, o príncipe Gautama utilizou-se de parábolas, conforme fez Jesus mais tarde.
O fundamento essencial dos seus ensinos se encontra na Lei do carma, graças à qual o homem é o construtor de sua desdita ou felicidade, mediante o comportamento adotado no período da sua existência corporal. Em uma etapa, a aprendizagem equipa-o para a próxima, sendo que a soma das experiências e ações positivas anula aquelas que lhe constituem débito propiciador de sofrimento.
O sofrimento se apresenta, na criatura humana, como uma enfermidade, que necessita de tratamento conveniente, em que se invistam todos os valores ao alcance, pela primazia de lograr-se o bem estar e o equilíbrio fisiopsíquico.
Deste modo, o sofrimento pode decorrer do desgosto orgânico ou mental que é um processo degenerativo do instrumento material do homem. As doenças campeiam, e a receptividade daqueles que se encontram incursos nos códigos da Justiça Divina sofrem-nas, mediante as coarctações (restrições) danosas dos mecanismos genéticos, ou por contaminação posterior, escassez alimentar, traumatismos físicos e psicológicos, num emaranhado de causas próximas, decorrentes dos compromissos negativos do passado mais remoto.
Noutro caso, o sofrimento resulta da transitoriedade da própria vida física e da fragilidade de todos os bens que proporcionam prazer por um momento, convertendo-se em razão de preocupação, de arrependimento, de amargura.
A busca do prazer é inata, instintiva, e o homem se lhe aferra na condição de meta prioritária.
Não raro, ao consegui-lo, frui da satisfação momentânea e, por insatisfação psicológica, propõe-se a prolonga-lo indefinidamente, sofrendo ante a impossibilidade de mantê-lo, pelas alterações naturais que se derivam da impermanência de tudo, pela saturação e, finalmente, pela perda de objetivo após conseguido o anelo (anseio, aspiração).
Por fim, surge o sofrimento dos condicionamentos de ordem física e mental.
Os hábitos arraigados constituem uma segunda natureza, com prevalência na conduta psicológica do homem. As alterações e transformações produzem sofrimento, pela necessidade de ajustamento, pelo esforço da adaptação, e os altibaixos da emoção que tende a reagir às mudanças que se devem operar na conduta.
Encontrado o sofrimento, o homem tem o dever de identificar as suas causas, que procedem dos atos degenerativos próximos ou remotos, referentes às suas reencarnações. Ao lado daqueles que ressumam (gotejam) das dívidas cármicas, estão os decorrentes das suas emoções desequilibradas, que têm nascentes no egoísmo, no apego, na imaturidade psicológica. Dentre outros, apresentam-se em plano de destaque, o medo, o ciúme, a ira, que explodem facilmente engendrando sofrimento.
Chega o momento de buscar-se a cessação deles, qual ocorre com as enfermidades que devem ser tratadas com carinho, porém com disciplina. De um lado, é imprescindível ir-se às causas, a fim de fazê-las parar, ao mesmo tempo evitar novos fatores desencadeantes. Conhecidas as origens, mais fáceis se tornam as terapias que, aplicadas convenientemente, resultam favoráveis ao clima de saúde e de bem estar.
O esforço empreendido para o término do sofrimento, apresenta-se em etapas que se vão incorporando ao dia-a-dia do indivíduo cioso da sua necessidade de paz.
Impões-lhe o trabalho de condicionar a mente à necessidade da harmonia, recorrendo à meditação em torno das finalidades altruísticas da vida, disciplinando a vontade, exercitando a tranquilidade diante dos acontecimentos que não podem ser evitados, das ocorrências denominadas tragédias, das quais pode retirar excelentes resultados para o comportamento e a auto realização.
O processo da cessação do sofrimento dá-se, ainda, através do sofrimento que propicia satisfação pela certeza que advém de se estar liberando da sua áspera constrição.
Enfrentar, portanto, o sofrimento, sem válvulas psicológicas escapistas, é uma atitude saudável, muito distante da distonia masoquista habitual. Também resulta de uma disposição consciente para o homem enfrentar-se desnudado, com uma visão otimista em torno do futuro por conquistar.
Realmente, o sofrimento faz parte do mecanismo da evolução na Terra. Nos reinos vegetal e animal ele se encontra na embrionária percepção das plantas, que sofrem as agressões e hostilidades do meio, as contaminações e processos degenerativos. Entre os animais, desde os menos expressivos até os mais avançados biologicamente, o sofrimento se manifesta na sensibilidade nervosa, como forma de produzir novos e mais perfeitos biótipos, em constante adaptação e harmonia das formas do psiquismo neles latente.
A superação do sofrimento é, sem dúvida, o grave desafio da existência humana, que a todos cumpre conseguir.
 
Recursos para a liberação dos sofrimentos
A coragem é fator decisivo para o bem do indivíduo na sua historiografia psicológica. Para hauri-la, basta o interesse consciente e duradouro em favor da aquisição da felicidade, que se deve tornar a meta essencial da sua existência.
Inexistente esta necessidade tampouco há sofrimento, porque, a ausência das aspirações nobres resulta da morte dos ideais, provocada pela indiferença da vida, em uma psicopatologia grave.
O sofrimento, em si mesmo, é fonte motivadora para as lutas de crescimento emocional e amadurecimento da personalidade, que passa a compreender a existência de maneira menos sonhadora e mais condizente com a sua realidade.
Os jogos e ilusões da idade infantil, superados, dão ensejo a uma integração consciente do indivíduo no grupo social no qual se encontra, fomentando o esforço pelo bem dos demais, por saber-se membro valioso e entender, por experiência pessoal, os gravames que a dor proporciona. Inobstante esta experiência lúcida, sabe que o esforço a envidar para liberar-se dos sofrimentos é, por sua vez, conquista da inteligência e do sentimento postos a serviço da sua realização pessoal e comunitária.
Na maior parte dos métodos, a vontade do paciente prevalece como fator de alta importância.
Excetuando-se os referidos sofrimentos por sofrimentos, e mesmo em grande parte deles, a reflexão bem direcionada gera uma psicosfera de paz, renovadora, que o envolve e alimenta, levando à liberação deles.
Relacionemos algumas fases da terapia liberativa:
a) Considerar todos os indivíduos como dignos de ser amados e tomar por modelo alguém que o ama e se lhe dedica, por isto mesmo, credor de receber todo o afeto. Este sentimento, sem apego nem interesse gerador de emoções perturbadoras, desarma o indivíduo de suspeitas, de ansiedades e medos, ao mesmo tempo dirimindo as incompreensões de outrem e desarticulando quaisquer planos infelizes.
Uma visão favorável sobre alguém dilui as nuvens densas que lhe obscurecem a personalidade, facultando um relacionamento positivo. A não reação à agressividade do outro desmantem-lhe a couraça de prepotência, na qual se oculta. Se a resposta é otimista e sem azedume, conquista-o para um intercâmbio útil, ampliando-lhe o círculo de expressões afetivas. Logo, este sentimento contribui para anular os efeitos do sofrimento moral e dissipar algumas, senão todas as suas causas perturbadoras. O ato de ver bem as demais pessoas, torna-se um hábito terapêutico preventivo, em relação às agressões do meio ambiente, dos companheiros, constituindo um encorajamento para a luta libertadora. O cultivo, a expansão de ideias e conceitos edificantes apagam o incêndio ateado pelo pessimismo da maledicência, da inveja, da calúnia, tornando respirável a atmosfera social do grupo onde o homem se localiza.
b) Identificar e estimular os traços de bondade do caráter alheio. Não há solo, por mais sáfaro (agreste), que, tratado, não permita o vicejar de plantas. Em todo sentimento existem terras férteis para a bondade, mesmo quando cobertas por caliça e pedregulhos. Um trabalho, breve que seja, afastando o impedimento, e logo esplendem os recursos próprios para a sementeira da esperança. Os indivíduos que se notabilizavam pela maldade na vida privada e no seu círculo social, revelavam-se bondosos e gentis tornando-se amados pela família e pelo grupo, mesmo conhecendo-lhes as atrocidades em que eram exímios. A maldade sistemática, a impiedade, o temperamento hostil revelam as personalidades psicopatas que, antes, necessitam de ajuda, ao invés de reproche (censura). A bondade, neles latente, aguarda o momento de manifestar-se e predominar, mudando-lhes o comportamento. Com tal atitude, a de identificar a bondade, torna-se possível a superação do sofrimento, como quer que se apresente, especialmente o que tem procedência moral.
c) Aplicar a compaixão quando agredido. Uma reação de pesar, ante o ato infeliz, produz um efeito positivo no agressor. Proporciona o equilíbrio à vítima, que não desce à faixa vibratória violenta em que o outro se demora. Impede a sintonia com a cólera e seus famanazes (influências), impossibilitando a instalação de enfermidades nervosas e distúrbios gastrointestinais e outros, face a não absorção de energias deletérias. A compaixão dinâmica, aquela que vai além da piedade buscando ajudar o infrator, expressa bondade e se enriquece de paixão participativa, que levanta o caído, embora seja ele o perturbador. Essa conduta impede que se instale o sofrimento na criatura.
d) O amor deve ser uma constante na existência do homem. Há em tudo e em todos os seres a presença do Amor. Em um lugar revela-se como ordem, noutro beleza e, sucessivamente, harmonia, renovação, progresso, vida, convocando à reflexão. O amor é o antídoto mais eficaz contra quaisquer males. Age nas causas e altera as manifestações, mudando a estrutura dos conteúdos negativos quando estes se exteriorizam. Revela-se no instinto e predomina durante o período da razão, responsabilizando-se pela plenificação da criatura. O amor instaura a paz e irradia a confiança, promove a não violência e estabelece a fraternidade que une e solidariza os homens, uns com os outros, anulando as distância e as suspeitas. É o mais poderoso vínculo com a Causa Geradora da Vida. É o motor que conduz à ação bondosa, desdobrando o sentimento de generosidade, ao mesmo tempo estimulando à paciência. Graças à sua ação, a pessoa doa, realizando o gesto de generosa oferta de coisas, até o momento em que é levado à autodoação, ao sacrifício com naturalidade.
O amor é o rio onde se afogam os sofrimentos, pela impossibilidade de sobrenadarem nas fortes correntezas dos seus impulsos benéficos. Sem ele a vida perderia o sentido, a significação. Puro, expressa, ao lado da sabedoria, a mais relevante conquista humana.




[1] O Homem Integral – Divaldo P. Franco

quarta-feira, 27 de setembro de 2017

O avanço genético que pode possibilitar transplante de órgãos de porcos em humanos[1]



James Gallagher - Repórter de Ciência e Saúde, BBC News - 11 agosto 2017


Eles são os animais mais geneticamente modificados que existem. E foram criados para ajudar a acabar com a falta de órgãos para transplante.

Um grupo de cientistas conseguiu eliminar com sucesso nos Estados Unidos um vírus presente no DNA de 37 porcos, superando um dos maiores obstáculos à doação de órgãos do animal para seres humanos.

A eGenesis, empresa de biotecnologia americana, admite que evitar que os órgãos de suínos sejam rejeitados pelo corpo humano continua sendo um grande desafio.

Mas, segundo os especialistas, esse foi um primeiro passo promissor e animador.

O estudo, publicado na revista científica Science, começou com a análise de células da pele dos porcos.

Os pesquisadores identificaram a presença de 25 retrovírus endógenos de porco (Perv, em inglês) no código genético do animal.

Experimentos mostraram que esses vírus poderiam escapar para infectar os tecidos humanos. Os cientistas usaram então a tecnologia Crispr[2] de edição de genes para eliminá-los.

Na sequência, aplicaram a técnica de clonagem, a mesma usada para criar a ovelha Dolly, para colocar o material genético dessas células em um óvulo de porco e criar embriões.

O processo complexo é insuficiente, mas 37 leitões saudáveis ​​nasceram.

"Estes são os primeiros porcos Perv-free (sem Perv)", afirmou à BBC Luhan Yang, cofundadora e diretora científica da eGenesis e pesquisadora da Universidade de Harvard.

Eles também são "(os animais) mais geneticamente modificados em termos de número de alterações", acrescentou.

Longas filas

Se o xenotransplante - transplante de órgãos entre diferentes espécies - funcionar, tem potencial para diminuir as longas filas de espera por um transplante.

Mais de 100 mil pessoas precisam de transplante de órgãos nos EUA. No Reino Unido, cerca de 6,5 mil estão na lista de espera. E, no Brasil, mais de 34 mil pessoas aguardam por um transplante, segundo a Associação Brasileira de Transplante de Órgãos.

"Admitimos que ainda estamos nos estágios iniciais de pesquisa e desenvolvimento", disse Yang.

"Sabemos que temos uma visão audaciosa de um mundo sem escassez de órgãos, o que é muito desafiador, mas essa também é a nossa motivação para mover montanhas", completou.

Os porcos são particularmente promissores para o xenotransplante, pois seus órgãos são de tamanho similar aos dos seres humanos, e os animais podem ser criados em grande quantidade.

Mas remover os vírus é apenas metade do desafio. Até mesmo os órgãos doados por outras pessoas podem causar uma forte reação imune que leva à rejeição do transplante.

Os pesquisadores estão investigando novas modificações genéticas para tornar os órgãos de porcos mais compatíveis com o sistema imunológico humano.

Primeiro passo

Para Darren Griffin, professor de genética da Universidade de Kent, a descoberta representa um "passo significativo" para tornar o xenotransplante uma realidade.

"No entanto, há muitas variáveis, incluindo questões éticas, para serem resolvidas antes que o xenotransplante possa acontecer", alerta.

O professor Ian McConnell, da Universidade de Cambridge, também reconhece o caráter promissor.

"Esse trabalho fornece um primeiro passo promissor no desenvolvimento de estratégias genéticas para a criação de uma raça de porcos em que o risco de transmissão de retrovírus seja eliminado", diz.

"Resta saber se esses resultados podem ser traduzidos em uma estratégia totalmente segura para o transplante de órgãos", observa.
 
Desafios superados

Os pesquisadores tiveram que superar desafios inesperados para realizar a edição de tantos genes de uma vez só.

A tecnologia Crispr funciona como uma combinação de um sistema de navegação por satélite e um par de tesouras. O navegador encontra o lugar certo no código genético, enquanto as tesouras executam o corte.

Mas fazer 25 cortes ao longo do genoma do porco levou à instabilidade do DNA e à perda de informações genéticas.
 


[2] A CRISPR é uma nova ferramenta de edição de genoma que pode transformar esse campo da biologia –  em um recente estudo feito em embriões humanos geneticamente modificados pode ajudar a transformar essa promessa em realidade. Mas cientistas querem mexer com genoma há décadas.
O CRISPR permite que cientistas modifiquem genomas com uma precisão nunca antes atingida, além de eficiência e flexibilidade. Os últimos anos foram cheios de conquistas para a CRISPR, que criou macacos com mutações programadas e também evitou a infecção do HIV em células humanas. No começo de Maio/2015, cientistas chineses anunciaram que aplicaram a técnica em embriões humanos, o que dá uma dica dos potenciais da CRISPR para curar qualquer doença genética. E sim, isso pode nos levar à era do design de bebês (no entanto, como os resultados desse estudo nos mostram, ainda estamos longe de conseguir levar essa tecnologia para a medicina). [fonte: http://gizmodo.uol.com.br/tudo-o-que-voce-precisa-saber-sobre-a-crispr-nova-ferramenta-de-edicao-de-dna/ ]

terça-feira, 26 de setembro de 2017

O Espírito e o Cãozinho[1]


 

 
(Sociedade, 4 de maio de 1860 – Médium: Sr. Didier)


O Sr. G. G..., de Marselha, nos transmite o seguinte fato:
Um rapaz faleceu há oito meses e sua família, na qual há três irmãs médiuns, o evoca quase diariamente, por meio de uma cesta. Cada vez que o Espírito é chamado, um cãozinho, do qual muito gostava, salta sobre a mesa e vem cheirar a cesta, soltando pequenos ganidos. A primeira vez que isto aconteceu, a cesta escreveu: ‘Meu bravo cachorrinho, que me reconhece’.  
Não presenciei o fato, mas as pessoas, das quais o ouvi várias vezes, o testemunharam e são excelentes espíritas e muito sérias para que eu possa pôr em dúvida a sua veracidade. Perguntei a mim mesmo se o perispírito conservava partículas materiais suficientes para afetar o olfato do cão, ou se este seria dotado da faculdade de ver os Espíritos. É um problema que me parece útil aprofundar, caso ainda não esteja resolvido.
1. Evocação do Sr. M***, morto a oito meses, do qual acabamos de falar.
Eis-me aqui.
2. Confirmais o fato relativo ao vosso cão, que vem cheirar a cesta que serve às vossas evocações, e que parece reconhecer-vos?
Sim.
3. Poderíeis dizer-nos a causa que atrai o cão para a cesta?
A extrema finura dos sentidos pode levar a adivinhar a presença do Espírito e até vê-lo.
4. O cão vos vê ou vos sente?
O olfato, sobretudo, e o fluido magnético.
            Charlet
 
Observação – Charlet, o pintor, deu à Sociedade uma série de comunicações muito notáveis sobre os animais, e que publicaremos brevemente. Por certo foi a esse título que interferiu espontaneamente na presente evocação.
5. Considerando que Charlet quer mesmo intervir na questão de que nos ocupamos, nós lhe pedimos que dê algumas explicações a respeito.
Com prazer. O fato é perfeitamente verossímil e, em consequência, natural. Falo em geral, pois não conheço aquele de que se trata. O cão é dotado de uma organização muito particular; compreende o homem, eis tudo. Sente-o, segue-o em todas as suas ações com a curiosidade de uma criança; ama-o e chega mesmo a ponto – e temos muitos exemplos para confirmar o que adiantamos – de a ele se devotar. O cão deve ser – não tenho certeza, entendei bem – um desses animais vindos de um mundo já avançado, para sustentar o homem em seu sofrimento, servi-lo, guardá-lo. Acabo de falar das qualidades morais que, positivamente, o cão possui. Quanto às suas faculdades sensitivas, são extremamente apuradas. Todos os caçadores conhecem a sutileza do faro do cão; além dessa faculdade, o cão compreende quase todas as ações do homem; compreende a importância de sua morte. Por que não adivinharia a sua alma e por que, mesmo, não a veria?
           Charlet
 
No dia seguinte a Sra. Lesc..., médium, membro da Sociedade, obteve em particular a explicação seguinte, sobre o mesmo assunto:
O fato citado na Sociedade é verídico, embora o perispírito desprendido do corpo não tenha nenhuma de suas emanações. O cão farejava a presença do dono; quando digo farejava, entendo que seus órgãos percebiam sem que os olhos vissem, sem que o nariz sentisse; mas todo o seu ser estava advertido da presença do dono, e essa advertência lhe era dada, sobretudo, pela vontade que se desprendia do Espírito dos que evocavam o morto. A vontade humana alcança e adverte o instinto dos animais, principalmente dos cães, antes que algum sinal exterior o tenha revelado. O cão é posto, por suas fibras nervosas, em contato direto conosco, Espírito, quase tanto quanto com os homens; percebe as aparições; dá-se conta da diferença existente entre elas e as coisas reais ou terrestres e lhes tem um grande pavor.
O cão uiva à Lua, conforme a expressão vulgar; uiva também quando sente a morte chegar. Em ambos os casos, e em muitos outros ainda, o cão é intuitivo. Acrescentarei que seu órgão visual é menos desenvolvido que seu órgão perceptivo; ele vê menos do que sente. O fluido elétrico o penetra quase que habitualmente. O fato que me serviu de ponto de partida nada tem de surpreendente, porque, no momento do desprendimento da vontade que chamava seu dono, o cão sentia sua presença quase tão depressa que o próprio Espírito ouvia e respondia à chamada que lhe era feita.
Georges (Espírito familiar)




[1] Revista Espírita – Junho/1860 – Allan Kardec

segunda-feira, 25 de setembro de 2017

SARAH MORAIS[1]

 

Nasceu no dia 13 de julho de 1888, na cidade de Uruguaiana, Estado do Rio Grande do Sul. Desencarnou em 11 de julho de 1932.
Foram seus pais Godofredo Velloso da Silveira e D. Bernardina Silveira. Consorciou-se com Josefino da Silva Morais, cujo matrimônio durou 28 anos e do qual não tiveram filhos.
Para os seus irmãos, em número de oito, sempre dispensou carinho, amparo e sustentação, visto ser a irmã mais idosa da família. Esposa, filha, irmã e amiga, sua dedicação era uma perene demonstração do elevado grau de espiritualidade assumido, a tudo atendendo com a máxima solicitude e altruísmo. Em todos os seus atos, mesmo nos mais singelos, deixava transparecer a grandeza de sua alma de escol, não permitindo que seus gestos de abnegação fossem enaltecidos ou mesmo percebidos por aqueles a quem servia, pois se considerava obrigada a dar de si, sem que lhe devessem gratidão ou reconhecimento.
Tornando-se espírita, encontrou dentro da Doutrina as mais belas e elevadas oportunidades de servir ao próximo, servindo dessa forma ao nosso Pai Celestial.
Fundando a Instituição Legionárias de Maria, na cidade do Rio de Janeiro, a 5 de janeiro de 1928, sociedade de socorro à pobreza envergonhada, ela se tornou, para seus companheiros de lides espiríticas, o exemplo vivo, do maior objetivo que o ser humano pode realizar na Terra: servir ao próximo, procurando despertá-lo para os surtos do progresso espiritual, não só através de palavras, mas com o exemplo nobilitante de atos de superioridade moral — amando muito, perdoando sempre, auxiliando o seu semelhante, no lar, na comunidade espírita e em muitas e variadas fases da vida no mundo. Envolvia a todos que dela se aproximavam na aura irradiante de sua fé inquebrantável, incutindo-lhes a certeza da imortalidade da alma e da existência de um Pai que preside a todas as coisas, fazendo-o através de palavras penetrantes e esclarecedoras, fundamentadas no exemplo que sabia tão bem propiciar.
Apesar de bastante enferma e com o corpo minado por insidiosa moléstia que a consumia, subia religiosamente, todas as semanas, a ladeira de um hospital em Cascadura, para levar alento, conforto, esperança e fé a uma multidão de criaturas abandonadas, que jaziam no isolamento daquele nosocômio, prestes a abandonar a vida terrena. Suas palavras, impregnadas de sinceridade e com base nos ensinamentos evangélicos, envolviam a todos os seres carentes de sustentação espiritual na hora da desencarnação. Quantas cenas edificantes e maravilhosas se passaram naquele ambiente de dor, esquecido pela maioria dos homens! Só Deus poderá julgar e avaliar o trabalho extraordinário dessa extraordinária mulher.
Desejosa sempre de ver o progresso do seu semelhante, incentivava muitas pessoas a comparecerem às explanações doutrinárias nas sessões de estudos do Centro Espírita "Fernandes Figueira", em Todos os Santos, sob cujos auspícios foi criada a Instituição Legionárias de Maria, quando na sua presidência estava o confrade José Manoel Teixeira, já desencarnado.
Sarah Morais, via em cada ser que socorria, em especial nas assistidas da Instituição, criaturas ligadas ao seu coração pelos laços espirituais e com imenso carinho dirige-as ao rebanho do Divino Pastor.
Possuía múltiplos dons mediúnicos, principalmente a psicografia, conseguindo receber quantidade apreciável de sonetos, poesias, quadras e mensagens que a todos enlevavam pelo cunho evangélico e espiritual que continham.
Nos últimos anos de sua existência terrena, esqueceu-se totalmente de si, consagrando-se devotadamente ao serviço de amparo ao próximo. Incompreendida, como acontece com todos os que têm algo de superior a realizar na Terra, foi objeto de censuras e críticas por parte daqueles que não podiam alcançar a sublimidade da missão que lhe coubera por partilha, em sua jornada terrena. Jamais se queixava das dores físicas ou morais, pelas quais passava, respondendo sempre quando inquirida: "Vou melhor do que mereço". Desta forma passou por este mundo sem jamais dar qualquer demonstração de fraqueza, pois, mesmo em seu leito de dor ainda conseguia dispensar conselhos e orientação para todos aqueles que buscavam soluções para seus problemas íntimos.
No dia 11 de julho de 1932, desencarnou essa denodada seareira espírita deixando por escrito várias disposições que deveriam ser tomadas, dentre elas: de não velarem o seu corpo que deveria ser costurado num lençol e sair do próprio quarto onde desencarnasse para o túmulo; não desejava preces pagas nem flores compradas, preferia que oferecessem os valores das mesmas para os pobres; que ninguém usasse luto, pois tinha a certeza plena de que uma nova vida a aguardava, onde poderia continuar as tarefas iniciadas na Terra, quando poderia concretizar seu sonho no infinito campo da caridade cristã.




[1] Personagens do Espiritismo - Antônio de Souza Lucena e Paulo Alves Godoy

sábado, 23 de setembro de 2017

Suicídio[1]


 

Para algumas pessoas, em determinados momentos da vida, pensar na morte como a única saída para uma situação de sofrimento intolerável, talvez pareça a única solução possível. Quando uma pessoa se sente no limite, de tal forma angustiada, desesperada e sem esperança, é compreensível que considere que prescindir do direito de viver, apesar de constituir uma solução permanente, pareça ser a melhor forma de lidar com uma situação que, naquele momento, é tão avassaladora e dolorosa. É como se sentisse que está perdida num labirinto completamente escuro, como se todos os caminhos que permitem o acesso às portas de saída deixassem de existir, e quem mesmo que tentasse percorrer um desses caminhos, isso apenas resultaria em mais um esforço inútil, pois não só encontraria as portas completamente trancadas, como não teria disponíveis as chaves adequadas para as abrir.
Se para si, a dor emocional que sente é de tal forma elevada, que a possibilidade de suicídio é uma opção viável, ou se de outra forma, receia que alguém que lhe é importante esteja a correr esse risco, reflita por favor, apenas por mais um pouco, nas próximas linhas e permita que esta informação a possa ajudar a compreender quão urgente pode ser procurar ajuda especializada.
 
A dimensão
Reconhecemos que falar sobre suicídio é particularmente desafiador. Parece que, semelhante a tantas outras situações de vulnerabilidade psicológica, para as quais preferimos olhar apenas em secreto, o silêncio funciona somente como mais uma “máscara” que visa esconder uma realidade de profunda dor, misturada com sentimentos de vergonha, estigma e diferença, oferecendo, mais uma vez, pouca ou nenhuma ajuda útil. Por isso, gostaríamos de por momentos, convidá-lo/a a retirar essa máscara, e a vestir o papel de um/a espectador/a atento/a, a uma realidade tão presente nas ditas sociedades modernas. Senão repare: apenas num único ano, cerca de um milhão de pessoas no mundo tiraram a sua própria vida – aproximadamente uma morte a cada 40 segundos – e provavelmente há 4 milhões que o tentam fazer! O suicídio encontra-se entre as 10 primeiras causas de morte, sendo que por cada suicídio ocorrem 11 tentativas sem sucesso. Cerca de 20% das pessoas que tentam suicidar-se, senão procurarem ajuda especializada, repetem essa ação no prazo de um ano, aumentando a probabilidade de eventualmente morrerem por suicídio. Cerca de 10 % de todas as tentativas de suicídio são mortais. Só em Portugal, a taxa de suicídio dobrou na última década, de cerca de 600 para mais de 1.200 casos por cada ano. Dá que pensar, não é?
 
Porquê o suicídio?
É importante entendermos que, a probabilidade de uma pessoa cometer suicídio varia num contínuo, que contempla a ideação suicida – pensamentos acerca da possibilidade de cometer o suicídio ‒, a tentativa de suicídio – gestos autodestrutivos não fatais – , até ao suicídio consumado, que resulta em morte. Mas face a qualquer um desses grupos, naturalmente a questão à qual gostaria de saber uma resposta, se prenda com o que motiva alguém a escolher terminar com a sua própria vida. Em termos genéricos, por um lado, o suicídio veicula o desejo de uma pessoa em escapar ou terminar com o seu sofrimento (que é resultante de variadíssimos problemas) e, por outro lado, o seu desejo em comunicar o seu sofrimento aos outros – é um pedido de ajuda. Além disso, cada pessoa tem os seus próprios motivos, muito particulares, profundos e extremamente dolorosos que a levam a ponderar desistir de viver. Uma mudança repentina nas suas circunstâncias de vida, tais como dificuldades financeiras, desemprego ou perda de status socioeconômico, mudanças no contexto familiar ou relacional (divórcio, fim de uma relação, morte de um familiar…) ou ainda a sensação de isolamento, solidão e a ausência de horizontes ou projetos futuros podem constituir fatores relevantes.
Não esqueçamos também a companhia indesejável de certas perturbações do humor (depressão, perturbação bipolar, esquizofrenia), que podem contribuir para um estado de maior desorganização e desconforto emocional, ao fragilizarem as potenciais competências para pensar em soluções e lidar com as adversidades, o que por sua vez aumenta a possibilidade do desespero se tornar ainda mais intolerável. Sabia que mais da metade das pessoas que se suicidaram, estavam deprimidas? Estima-se ainda que o risco de suicídio ao longo da vida em pessoas com perturbações do humor (principalmente depressão) é de 6 a 15%; com alcoolismo, de 7 a 15%; e com esquizofrenia, de 4 a 10%.
A comunidade científica também nos informa que a probabilidade de tentar o suicídio é duas a três vezes superior nas mulheres, enquanto os homens apresentam uma probabilidade quatro vezes maior de o consumarem. A escolha do método de suicídio, que pode ser influenciada pela disponibilidade de meios, também é variável em função do gênero feminino ou masculino.
Na verdade, talvez possa ficar surpreendido ao se aperceber que a maioria das pessoas que pensam, tentam ou cometem o suicídio, escolheriam outra forma de solucionar os seus problemas, se não se encontrassem numa tal angústia que as incapacita de avaliar as suas opções objetivamente. A sua intenção é parar a sua imensurável dor psicológica e não pôr termo à sua vida. Dão por isso sinais de esperança de serem salvas. Querem simplesmente fugir das duras realidades da vida e tensões com as quais não conseguem lidar, para as quais não veem uma solução possível, nem perspectiva de melhoria ou mudança no futuro.
O suicídio pode ser compreendido como resultante da interação de 3 fatores: pressão/stress social, vulnerabilidade individual e disponibilidade de meios:
Alguns números acerca das características das pessoas que tendem a suicidar-se…
²  Mais frequente nos homens que nas mulheres (2:1).
²  Presença de problema psiquiátrico/psicológico em pelo menos, 93% dos casos.
²  Perturbação do humor (depressão, bipolaridade) ou alcoolismo em 57 ‒ 86 % dos casos.
²  Doença terminal em 4 ‒ 6% dos casos.
²  Cerca de 66% comunicaram a intenção suicida (40% de forma clara).
²  Cerca de 33% tiveram tentativas anteriores de suicídio.
²  Cerca de metade não tinham contatado técnicos de saúde mental.
²  90% tinham contatado serviços de saúde.
 
 Factores que aumentam a probabilidade de suicídio
²  Modelos de suicídio: familiares, pares sociais, histórias de ficção e/ou notícias veiculadas pela mídia;
²  História de suicídio, violência ou de perturbação de humor na família;
²  Tentativas prévias de suicídio;
²  Ameaça ou ideação suicida com plano pormenorizado elaborado;
²  Acesso fácil a agentes letais, tais como armas de fogo ou pesticidas;
²  Presença de depressão, esquizofrenia, alcoolismo, toxicodependência e perturbações de personalidade;
²  Presença de perturbações alimentares (bulimia).
²  Presença de doenças de prognóstico reservado (HIV, cancro etc.);
²  Hospitalizações frequentes, psiquiátricas ou não;
²  Ter entre 15 e 24 anos ou mais de 45; Depressão;
²  Desemprego ou dificuldades econômicas que alteram o estatuto familiar;
²  Problemas no trabalho;
²  Morte do cônjuge ou de amigos íntimos;
²  Família atual desagregada: por separação, divórcio ou viuvez;
²  Perdas precoces de pessoas importantes (pais, irmãos, cônjuge, filhos);
²  Falta de apoio familiar e/ou social;
²  Ausência de projetos de vida;
²  Desesperança contínua e acentuada;
²  Culpabilidade elevada por atos praticados ou experiências passadas;
²  Ausência de crenças religiosas;
²  Mudança de residência;
²  Emigração;
²  Reforma;
²  Ter sido alvo de abuso sexual ou psicológico;
²  Experiência de humilhação social recente.
 
Suicídio: ato planejado ou impulsivo?
O suicídio raramente é uma decisão repentina, apesar de amigos e familiares conceberem esse acontecimento como algo completamente inesperado, surpreendente ou até chocante. Na maioria dos casos, o suicídio é algo planejado – a pessoa constrói um plano, estabelece uma data, define um método e pensa nessa possibilidade ao longo de algum tempo, antes de tomar uma decisão definitiva.
Porém, a impulsividade é uma característica da personalidade que interfere na tomada de decisão, ao modelar a rapidez com que se passa do pensamento ao ato, podendo constituir um fator de risco acrescido. Existem assim algumas situações em que o suicídio ocorre de forma impulsiva. Perante uma dada situação, que é dolorosa e intolerável, a pessoa toma uma decisão imediata, precipitada e sem pensar (no sentido de minorar a dor emocional sentida), emitindo uma resposta autodestrutiva que conduz à consequência irreversível da morte.
 
Sinais de alerta
Como descrito anteriormente, a maioria das pessoas que se suicidam, dão pistas e sinais de aviso, mas os outros que as rodeiam não estão conscientes do seu significado nem sabem como responder. Eis alguns exemplos de sinais de alerta, cuja detecção atempada e intervenção eficaz poderá salvar vidas:
²  Tornar-se uma pessoa depressiva, melancólica (apresenta uma grande tristeza, desesperança e pessimismo, chora sistematicamente);
²  Falar muito acerca da morte, suicídio ou de que não há razões para viver, utilizando expressões verbais tais como “Não aguento mais”, “Já nada importa”, ou “Estou a pensar acabar com tudo”;
²  Preparativos para a morte: pôr os assuntos em ordem, desfazer-se/oferecer objetos ou bens pessoais valiosos, fazer despedidas ou dizer adeus como se não voltasse a ser visto;
²  Demonstrar uma mudança acentuada de comportamento, atitudes e aparência;
²  Ter comportamentos de risco, marcada impulsividade e agressividade;
²  Aumento do consumo de álcool, droga ou fármacos;
²  Afastamento ou isolamento social;
²  Insónia persistente, ansiedade ou angústia permanente;
²  Apatia pouco usual, letargia, falta de apetite;
²  Dificuldades de relacionamento e integração na família ou no grupo;
²  Insucesso escolar (por exemplo, quando antes era aluno interessado);
²  Automutilação.
Face a este quadro, é provável que dê por si a reconhecer pelo menos alguns destes sintomas em pessoas que conheça, ou até mesmo em si próprio. Note, contudo, que a lista fornecida apenas fornece alguns exemplos de sinais que podem indiciar a presença de ideação ou tentativa de suicídio. Naturalmente, quanto maior o número de sinais presentes, maior o risco de suicídio, e paralelamente, maior a urgência em procurar ajuda quanto antes.
 
Como intervir?
Se veio até esta página por estar a colocar o suicídio como uma opção, queremos que saiba que não está sozinho. A sua vida é importante e podemos ajudá-lo. Por vezes, não falar dos problemas faz com que eles cresçam dentro de nós e conversar com alguém faz com que eles diminuam de tamanho e facilita o encontro de soluções alternativas.
O acompanhamento individual é a melhor forma de criarmos um espaço em que se possa sentir seguro, compreendido e ajudado na procura de outras opções ou soluções para as suas dificuldades. Nesse espaço, pretende-se:
²  Validar a vivência de desespero, tristeza e sofrimento emocional enquadrando-a na sua história de vida presente, passada e futura;
²  Compreender os motivos que o levam a colocar o suicídio como uma opção;
²  Olhar para os seus problemas sem os julgar, decompô-los em partes menores para que possam ser trabalhados separadamente;
²  Analisar as crenças subjacentes à convicção de que não existem outras alternativas de pôr fim à dor além do sofrimento;
²  Discutir a relação entre o que pensa, o que sente e como reage, monitorizando esses três elementos da experiência;
²  Encontrar novas formas de lidar com os problemas: Explorar e criar alternativas de solução que possam existir na sua vida (que neste momento não estejam facilmente visíveis) e desenvolver competências de confronto e resolução de problemas;
²  Desenvolver formas eficazes e adaptativas de comunicar os seus problemas aos outros;
²  Promover o seu sentimento de controle e eficácia pessoal;
²  Desenvolver estratégias de relaxamento que o possam tranquilizar no seu dia-a-dia e em situações de crise;
²  Promover a discussão de cenários futuros mais satisfatórios.
Este é um trabalho prático, que poderá, em alguns momentos, envolver familiares e amigos se isso for vantajoso. Os objetivos enunciados são apenas orientadores, dado que todo o processo de ajuda é centrado em si, nas suas características e na sua forma de ver o mundo e pretende-se que tenha impacto não só no seu presente, como também no seu futuro.
 
O que fazer quando identificar sinais de risco?
Se veio até aqui é porque desconfia que um amigo, um familiar, ou um conhecido seu poderá estar pensando em suicídio, ou que inclusive já fez uma tentativa de se suicidar, e não sabe como ajuda-lo, existem várias coisas que pode fazer por essa pessoa. Se reconhecer os sinais que descrevemos, aqui estão algumas indicações do que poderá fazer:
²  Em primeiro lugar, ser um bom ouvinte é essencial – simplesmente ouça, com toda a atenção, não apenas os fatos, mas a sua dor, medos e ansiedades. Não julgue, nem dê conselhos ou opiniões.
²  Reconheça o seu sofrimento, valorize o que é dito e demonstre que está disponível para ajudá-la. É fundamental que essa pessoa saiba e sinta o quão importante ela é para si, que a sua vida tem valor para alguém e que a sua dor emocional é compreensível e aceitável face às suas vivências presentes.
²  Demonstre empatia – procure compreender as coisas não do seu ponto de vista, mas segundo o ponto de vista do outro. Não faça comparações.
²  Se essa pessoa que o preocupa não falar abertamente do que sente ou pensa, é importante que tome a iniciativa em conversar com ela. Diga claramente que se apercebeu que o seu comportamento mudou (especifique que mudanças específicas observou) e que está preocupado/a com o que possa ter causado essas mudanças.
²  Não mude de assunto, nem faça comentários do tipo “anima-te”, “vai correr tudo bem”.
²  Não hesite em questionar aberta e diretamente se essa equaciona a ideia de suicídio como uma opção válida. Pode dizer algo como: “Imagino que estejas a sofrer muito, que seja avassaladora a dor que sentes em função de toda esta situação. Estás a considerar o suicídio como opção?”, “Parecem ser demasiados problemas para aguentares sozinha. Pensaste no suicídio como fuga?”, “Alguma vez pensaste em deixar tudo?” Essas questões transmitem a mensagem de que existe alguém que compreende a sua dor psicológica e de que a pessoa não está sozinha. Naturalmente, a abordagem a este tema sensível varia em função da situação e relação de confiança estabelecida.
²  É importante que a pessoa que pensa em suicídio saiba que a sua morte causaria sofrimento nas pessoas que a rodeiam, e haveriam pessoas que sentiriam a sua falta. Por isso, nunca é demais ter um gesto de carinho para com ela. Por vezes, a tentativa de suicídio pode ser um pedido de ajuda que pode evitar se a pessoa compreender, antes de tentar terminar a sua vida, que existe alguém que gosta de si, se importa consigo.
²  Nunca deixe a pessoa sozinha se sentir que existe perigo de ela cometer suicídio, nomeadamente se lhe parecer que a mesma tem um plano concreto de suicídio e já tomou decisões para o pôr em prática. Incentive-a pedir ajuda especializada (a um hospital, médico, psicólogo, ou psiquiatra) e retire da sua proximidade todos os objetos com que a pessoa se possa magoar. Se for necessário, chame uma ambulância, ou outro tipo de ajuda que possa ser pertinente, rapidamente.
 
Como lidar com a perda?
Se teve alguém na sua vida que se suicidou, provavelmente sente culpa e sente que transporta consigo o peso dessa vida perdida. É natural que sinta que podia ter agido de forma diferente, que podia ter feito coisas diferentes. Poderá sentir que deveria ter notado os sinais, talvez reveja constantemente os últimos tempos que passou com essa pessoa, as últimas coisas que lhe disse. Gostávamos de lhe propor que parasse por momentos e ficasse com esta ideia: uma pessoa que se suicida está em grande sofrimento. Enquanto amigos e familiares, podemos fazer o que está ao nosso alcance para demonstrar a importância que a vida dessa pessoa tem para nós. Mas muitas vezes os sinais são difíceis de detectar, e mesmo que os tivesse reconhecido, isso não seria uma garantia de que as coisas teriam sido diferentes. Em último caso, a decisão é sempre da pessoa que comete o ato – a culpa não é sua. A responsabilidade pelo que aconteceu, não estava nas suas mãos.
Se o conteúdo desta página o toca diretamente, e se se identifica com estes sinais ou conhece alguém nesta situação, peça ajuda. Existem várias entidades (CVV) e pessoas prontas para lhe prestar toda a ajuda necessária, que respeitarão as suas ideias, as suas crenças, os seus problemas e respeitarão, acima de tudo, o seu valor enquanto pessoa. Por isso, antes de escolher uma opção irreversível, dê pelo menos uma oportunidade a si mesmo de experimentar uma solução diferente. Estamos disponíveis para si – a sua vida é importante para nós.
Alguns mitos sobre suicídio:
Mito: As pessoas que falam sobre o suicídio não vão realmente cometê-lo só querem chamar a atenção, não devemos dar importância.
Realidade: Não, é essencial estar atento ao que a pessoa diz – o fato de falar em suicídio é um sinal de alerta. É um pedido de ajuda, uma forma de comunicar o seu sofrimento, e não apenas uma chamada de atenção. É importante aceitar, compreender e valorizar o que a pessoa sente.
Mito: A pessoa que fala em suicídio quer mesmo morrer e está decidida a matar-se, independentemente do que façamos.
Realidade: Quando alguém fala em suicídio, é importante reconhecer a dor da pessoa, porque ela está a pedir ajuda e podemos ainda estar a tempo de ajudá-la de alguma forma.
Mito: Quando alguém sobrevive a uma tentativa de suicídio, está fora de perigo.
Realidade: Na verdade, a existência de tentativas prévias de suicídio é um fator de risco que aumenta a probabilidade da pessoa tornar a tentar suicidar-se.
Mito: O suicídio é hereditário.
Realidade: Não existem estudos com resultados claros, e de fato a existência de suicídios na família pode ser um fator de risco a considerar. No entanto, existem muitos outros fatores que interferem na tomada de decisão, não sendo a hereditariedade o fator mais determinante.