James Gallagher - Repórter de
Ciência e Saúde, BBC News - 11 agosto 2017
Eles são os animais mais
geneticamente modificados que existem. E foram criados para ajudar a acabar com
a falta de órgãos para transplante.
Um grupo de cientistas conseguiu
eliminar com sucesso nos Estados Unidos um vírus presente no DNA de 37 porcos,
superando um dos maiores obstáculos à doação de órgãos do animal para seres
humanos.
A eGenesis, empresa de
biotecnologia americana, admite que evitar que os órgãos de suínos sejam
rejeitados pelo corpo humano continua sendo um grande desafio.
Mas, segundo os especialistas,
esse foi um primeiro passo promissor e animador.
O estudo, publicado na revista
científica Science, começou com a análise de células da pele dos porcos.
Os pesquisadores identificaram a
presença de 25 retrovírus endógenos de porco (Perv, em inglês) no código
genético do animal.
Experimentos mostraram que esses
vírus poderiam escapar para infectar os tecidos humanos. Os cientistas usaram
então a tecnologia Crispr[2] de
edição de genes para eliminá-los.
Na sequência, aplicaram a
técnica de clonagem, a mesma usada para criar a ovelha Dolly, para colocar o
material genético dessas células em um óvulo de porco e criar embriões.
O processo complexo é
insuficiente, mas 37 leitões saudáveis nasceram.
"Estes são os primeiros
porcos Perv-free (sem Perv)", afirmou à BBC Luhan Yang, cofundadora e
diretora científica da eGenesis e pesquisadora da Universidade de Harvard.
Eles também são "(os
animais) mais geneticamente modificados em termos de número de
alterações", acrescentou.
Longas filas
Se o xenotransplante -
transplante de órgãos entre diferentes espécies - funcionar, tem potencial para
diminuir as longas filas de espera por um transplante.
Mais de 100 mil pessoas precisam
de transplante de órgãos nos EUA. No Reino Unido, cerca de 6,5 mil estão na
lista de espera. E, no Brasil, mais de 34 mil pessoas aguardam por um
transplante, segundo a Associação Brasileira de Transplante de Órgãos.
"Admitimos que ainda
estamos nos estágios iniciais de pesquisa e desenvolvimento", disse Yang.
"Sabemos que temos uma
visão audaciosa de um mundo sem escassez de órgãos, o que é muito desafiador,
mas essa também é a nossa motivação para mover montanhas", completou.
Os porcos são particularmente
promissores para o xenotransplante, pois seus órgãos são de tamanho similar aos
dos seres humanos, e os animais podem ser criados em grande quantidade.
Mas remover os vírus é apenas
metade do desafio. Até mesmo os órgãos doados por outras pessoas podem causar
uma forte reação imune que leva à rejeição do transplante.
Os pesquisadores estão
investigando novas modificações genéticas para tornar os órgãos de porcos mais
compatíveis com o sistema imunológico humano.
Primeiro passo
Para Darren Griffin, professor
de genética da Universidade de Kent, a descoberta representa um "passo
significativo" para tornar o xenotransplante uma realidade.
"No entanto, há muitas
variáveis, incluindo questões éticas, para serem resolvidas antes que o
xenotransplante possa acontecer", alerta.
O professor Ian McConnell, da
Universidade de Cambridge, também reconhece o caráter promissor.
"Esse trabalho fornece um
primeiro passo promissor no desenvolvimento de estratégias genéticas para a
criação de uma raça de porcos em que o risco de transmissão de retrovírus seja
eliminado", diz.
"Resta saber se esses
resultados podem ser traduzidos em uma estratégia totalmente segura para o
transplante de órgãos", observa.
Desafios superados
Os pesquisadores tiveram que
superar desafios inesperados para realizar a edição de tantos genes de uma vez
só.
A tecnologia Crispr funciona
como uma combinação de um sistema de navegação por satélite e um par de tesouras.
O navegador encontra o lugar certo no código genético, enquanto as tesouras
executam o corte.
Mas fazer 25 cortes ao longo do
genoma do porco levou à instabilidade do DNA e à perda de informações
genéticas.
[2] A CRISPR é uma nova ferramenta de edição de genoma que
pode transformar esse campo da biologia – em um recente estudo feito em embriões humanos
geneticamente modificados pode ajudar a transformar essa promessa em realidade.
Mas cientistas querem mexer com genoma há décadas.
O CRISPR permite que
cientistas modifiquem genomas com uma precisão nunca antes atingida, além de
eficiência e flexibilidade. Os últimos anos foram cheios de conquistas para a
CRISPR, que criou macacos com mutações programadas e também evitou a infecção
do HIV em células humanas. No começo de Maio/2015, cientistas chineses
anunciaram que aplicaram a técnica em embriões humanos, o que dá uma dica dos
potenciais da CRISPR para curar qualquer doença genética. E sim, isso pode nos
levar à era do design de bebês (no entanto, como os resultados desse estudo nos
mostram, ainda estamos longe de conseguir levar essa tecnologia para a
medicina). [fonte: http://gizmodo.uol.com.br/tudo-o-que-voce-precisa-saber-sobre-a-crispr-nova-ferramenta-de-edicao-de-dna/
]
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