Adam Eley - 27 setembro 2017
Sarah é atriz. Ela está
acostumada a interpretar papéis e projetar emoções. No entanto, por grandes
partes de sua vida adulta, se sentiu emocionalmente anestesiada ‒ incapaz de
sentir.
A britânica (que não divulgou
seu sobrenome) sofre do transtorno de despersonalização, cujos portadores se
sentem desconectados de seu corpo e do mundo ao seu redor.
O distúrbio mental faz o mundo
parecer surreal, estar sob um nevoeiro ou bidimensional.
E o problema, apesar de pouco
conhecido, não é tão incomum: estima-se que afete uma a cada 100 pessoas,
segundo estudos científicos.
"Relacionamentos que você
sabe que valoriza profundamente perdem sua qualidade essencial", explica
Sarah à BBC. "Você sabe que ama sua família, mas sabe disso apenas em
termos acadêmicos ‒ em vez de sentir (amor) do jeito normal".
Sarah teve três episódios
crônicos do distúrbio, que chegaram a se arrastar por anos. O primeiro deles
ocorreu enquanto era estudante universitária e estava sob o estresse das provas
finais.
Acredita-se que o problema seja
justamente uma espécie de mecanismo de defesa, ou seja, uma forma de o corpo
"desligar" a realidade para lidar com períodos de trauma ou ansiedade
extrema. Pode ser também desencadeado pelo uso de entorpecentes, como a
maconha.
Para quem convive com o
transtorno, o mundo pode mudar em um instante.
"Era repentino. As coisas
pareciam alienígenas ou ameaçadoras", explica Sarah, que também sofria
ataques de pânico durante os surtos. "E lugares muito familiares, como seu
próprio apartamento, ficam parecendo sets de filmagem, e as suas coisas se
parecem objetos cenográficos".
Há também quem passe por
assustadoras experiências em que se sentem fora de seus próprios corpos ou como
se o mundo estivesse em 2D, achatado.
Foi assim que Sarah se sentiu em
seu segundo surto de despersonalização. "Eu estava lendo, segurando o
livro, e de repente minhas mãos pareciam uma foto de um par de mãos. Eu sentia
uma espécie de separação entre o mundo físico e minha percepção sobre ele".
Se não forem tratados, alguns
pacientes acabam tendo de conviver com o problema durante a vida inteira.
Pouco conhecido
Apesar de ser reconhecida há
décadas como transtorno e ter, segundo especialistas, incidência semelhante à
de problemas como transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) e a esquizofrenia, a
despersonalização permanece pouco difundida entre a comunidade médica.
Sarah diz que já passou por
"até 20 (especialistas) ao longo dos anos que não sabiam do que eu estava
falando, entre enfermeiras psiquiátricas, clínicos gerais, terapeutas e
orientadores psicológicos".
A médica britânica Elaine
Hunter, responsável pelo único centro de tratamento do transtorno de
despersonalização no Reino Unido, diz que já viu a síndrome se desenvolver em
adolescentes, que ficam apavorados ao se sentirem desconectados de seus corpos.
Uma de suas pacientes tinha 13
anos quando começou a apresentar os sintomas de despersonalização e ficou dois
anos sem conseguir sair de casa ‒ tinha no mínimo dez ataques de pânico por dia
relacionados ao transtorno e era incapaz de reconhecer seus próprios pais.
O tratamento inclui sessões de
terapia cognitiva comportamental e, em alguns casos, medicação.
A gerente de vendas britânica
Sarah Ashley passou pela terapia e notou uma "enorme diferença" em
sua saúde mental.
"Antes (da terapia) eu
olhava para minhas mãos e partes do meu corpo e sentia como se não fossem meus.
Olhava para o espelho e era como se eu estivesse vendo uma outra pessoa",
conta ela.
"Eu não conseguia comer,
dormir. Agora, eu enfrento (episódios de) despersonalização, mas consigo lidar
com eles rapidamente".
Me interessei pela matéria, algo "novo" no mundo das psicoses. Li até o final,porém faltou um complemento da ação praticada para melhora da paciente. Sou um terapeuta de regressão,procuro estar ficado nas novas informações,mas está deixou a desejar.
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