sexta-feira, 31 de março de 2017

“Espíritas não praticantes?” [1]


Ser ou não ser espírita?
 
Ermance Dufaux
 

“Nem todos os que me dizem Senhor! Senhor! Entrará no reino dos céus”.

 
MATEUS, 7: 21 - 23

O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO – Cap. XVIII, Item 6
 

Que conceito afinal devemos ter sobre “ser espírita”? Será coerente e proveitoso admitimos, junto aos roteiros educativos da Doutrina Espírita, a figura tradicional do “religioso não praticante”?
Será que devemos oficializar essa expressão a fim de prestigiar aqueles que ainda não se julgam espíritas? Essas são mais algumas indagações a cogitar na formação de uma ideia mais lúcida sobre a natureza da proposta educativa do Espiritismo para a humanidade.
Ouve-se, com certa frequência nos ambientes doutrinários, algumas frases que expressam dúbias interpretações sobre o que seja “ser espírita”. Companheiros que ainda não se sentem devidamente ajustados aos parâmetros propostos pelos roteiros da codificação dizem: “ainda não sou espírita, estou tentando”, outros, desejosos em amealhar algum crédito de aceitação nos grupos, dizem: “quem sou eu para ser espírita?”, “Quem sabe um dia serei”!
Com todo respeito a quaisquer formas de manifestar sobre o assunto, não podemos deixar de alertar que somente uma incoerência de conceitos pode ensejar ideias dessa natureza, agravadas pela possibilidade de estarmos prestigiando o indesejável perfil do “ativista não praticante”, aquele que adere à filosofia mas não assume em si mesmo os compromissos que ela propõe.
“Ser espírita” é algo muito dinâmico e pluridimensional; tentar enquadrar esse conceito em padrões rígidos é repetir velhos procedimentos das práticas exteriores do religiosismo milenar. Nossas vivências nesse setor levaram-nos a adotar, como “critério de validade”, alguns parâmetros muito vagos e dogmáticos para aferir quem seria verdadeiramente seguidor do bem e da mensagem do Cristo.
Parâmetros com os quais, procuramos fugir das responsabilidades através da criação de artifícios para a consciência, gerando facilidades de toda espécie através de rituais e cerimônias que entronizaram o menor esforço nos caminhos da espiritualização humana.
Ser espírita é ser melhor hoje do que ontem, e buscar amanhã ser melhor do que hoje, é errar menos e acertar mais, é esforçar pelo domínio das mas inclinações e transformar-se moralmente, conforme destaca Kardec. Nessa ótica, temos que admitir uma classificação muitíssimo maleável para considerar quem é e quem não é espírita.
Façamos assim algumas reflexões puramente didáticas sobre esse tema, sem qualquer pretensão de concluí-lo, mas com intenção cristalina de “problematizar” nossos debates fraternos. Tornemos por base o tema da transformação íntima, o qual deve sempre ser a referência prioritária na melhor assimilação do que propôs a finalidade do Espiritismo.
Em primeira etapa, a criatura chega à casa espírita. Em uma segunda etapa, o conhecimento doutrinário penetra os meandros da inteligência, e na terceira fase, a mais significativa, o Espiritismo brota de dentro dela para espraiar-se no meio onde atua, gerando crescimento e progresso. São três etapas naturais que obedecem ao espírito de sequência da qual ninguém escapa. Fases para as quais jamais poderemos definir critérios de tempo e expectativa para alguém, a não ser para nós próprios. Fases que geram responsabilidades a cada instante de contato com as verdades imortais, mas que são determinadas, única e exclusivamente, pela consciência individual, não sendo prudente estabelecer o que se espera desse ou daquele coração, porque cada qual enfrentará lutas muito diversificadas nos campos da vida interior.
Portanto, o critério moral deve preponderar a qualquer noção pela qual essa ou aquela pessoa utilize para se considerar espírita. Nessa ótica encontramos “o espírito da ação”, aquele batalhador, tarefeiro, doador de bênçãos, estudioso, que se movimenta em torno das práticas. Temos também o “espírito da reação”, aquele que reage de modo renovado aos testes da vida em razão de estar aplicando-se afanosamente à melhoria de si mesmo sem desejar criar rótulos e limitação indesejáveis, digamos que o primeiro está conectado com o movimento espírita, enquanto o segundo com a mensagem espírita. O movimento é a ação dos homens na comunidade, enquanto a mensagem é a essência daquilo que podemos fazer para a intimidade a partir dessa movimentação com o meio. O ideal é que, através da “escola” da ação do bem, se consolide o aprendizado das reações harmonizadas na formação da personalidade ajustada com a lei natural do amor.
O espírita não é reconhecido somente nos instantes em que encanta a multidão com a sua fala ou quando arrecada gêneros na campanha do quilo, ou ainda por sua lavra inspirada na divulgação, ou mesmo pela tarefa de direção. Essas são ações espíritas salutares e preparatórias para o desenvolvimento de valores na alma, mas o serviço transformador do campo íntimo, que qualifica o perfil moral do autêntico espírita, é medido pelo modo de reagir a circunstâncias da existência pelo qual testemunha a intensidade dos esforços renovadores de progresso e crescimento a que se tem ajustado. Pelas reações mensuramos se estamos ou não assimilando no mundo íntimo as lições preciosas da espiritualização. A ação avalia nossas disposições periféricas da melhoria, todavia somente as reações são resultados das mudanças profundas que, somente em situações adversas ou na convivência com os contrários, temos como aquilatar em que níveis se encontram.
Melhor seria que não aderíssemos à ideia incoerente do espírita não praticante para não estimular as fantasias do menor esforço que ainda são fortes tendências em nossas vivências espirituais. A definição por um posicionamento transparente nessa questão será uma forma de estimular nossa caminhada. Razão pela qual devemos ser claros e sem subterfúgios ao declarar nossa posição frente aos imperativos da vivência espírita. A costumeira expressão: “estou tentando ser espírita” na maioria das ocasiões, é mecanismo psicológico de fuga da responsabilidade, é a criatura que sabe que não está fazendo tanto que deveria, conforme seus ditames conscienciais, se justificando perante si mesmo e aos outros.
Libertemo-nos das capas e máscaras e cultivemos nas agremiações kardequianas o mais límpido diálogo sobre nossas necessidades e qualidades nas lutas pelo aperfeiçoamento. Formaremos assim uma “corrente de autenticidade e luz” que se reverterá em rigorosa fonte de estímulo e consolo às angústias do crescimento espiritual.
Deixemos de lado essa necessidade insensata de definirmos conceitos estreitos e “padrões engessados” que não auxiliam a sermos melhores do que somos.
Aceitemos nossas imperfeições e devotemo-nos com sinceridade e equilíbrio ao processo renovador. Estejamos convictos de um ponto em matéria de melhoria espiritual: só faremos e seremos aquilo que conseguimos, nem mais nem menos. O importante é que sejamos o que somos, sem a necessidade injustificável de ficar criando rótulos para nossos estilos ou formas de ser.
Certamente em razão disso o baluarte dos gentios asseverou em sua carta aos Coríntios, capítulo 15, versículos 9 e 10: “Não sou digno de ser chamado apóstolo, mas pela graça de Deus, já sou o que sou”.




[1] Reforma Íntima sem Martírio – Wanderley S. de Oliveira

quinta-feira, 30 de março de 2017

PARÁBOLA DOS TRABALHADORES DA VINHA[1]

 


“O Reino do céu é como o dono de uma plantação de uvas que saiu de manhã bem cedo para contratar trabalhadores para a sua plantação. Como era o costume, ele combinou com eles o salário de uma moeda de prata por dia e mandou que fossem trabalhar na sua plantação.
Às nove horas, saiu outra vez, foi à praça do mercado e viu ali alguns homens que não estavam fazendo nada. Então disse: Vão vocês também trabalhar na minha plantação de uvas, e eu pagarei o que for justo. E eles foram.
Ao meio-dia e às três horas da tarde fez a mesma coisa com outros trabalhadores. Eram quase cinco horas da tarde quando o dono da plantação voltou à praça. Viu outros homens que ainda estavam ali e perguntou: Por que vocês estão o dia todo aqui sem fazer nada?
É porque ninguém nos contratou, responderam eles.
Então ele disse: Vão vocês também trabalhar na minha plantação.
No fim do dia, ele disse ao administrador: Chame os trabalhadores e faça o pagamento, começando com os que foram contratados por último e terminando pelos primeiros.
Os homens que começaram a trabalhar às cinco horas da tarde receberam uma moeda de prata cada um. Então os que foram contratados primeiros pensaram que iam receber mais, porém eles também receberam uma moeda de prata cada um. Pegaram o dinheiro e começaram a resmungar contra o patrão, dizendo: Estes homens que foram contratados por último trabalharam somente uma hora, mas nós aguentamos o dia todo debaixo deste sol quente. No entanto, o pagamento deles foi igual ao nosso!
Aí o dono disse a um deles: Escute amigo, eu não fui injusto com você. Você não concordou em trabalhar o dia todo por uma moeda de prata? Pegue o seu pagamento e vá embora. Pois eu quero dar a este homem, que foi contratado por último, o mesmo que dei a você. Por acaso não tenho o direito de fazer o que quero com o meu próprio dinheiro? Ou você está com inveja somente porque fui bom para ele?
E Jesus terminou dizendo:
Assim, aqueles que são os primeiros serão os últimos, e os últimos serão os primeiros.
Mateus XX: 1 – 16
 
As condições essenciais para os trabalhadores são: a constância, o desinteresse, a boa vontade e o esforço que fazem no trabalho que assumiram. Os bons trabalhadores se distinguem por estes característicos.
O mercenário trabalha pelo dinheiro; seu único fito, sua única aspiração é receber o salário. O verdadeiro operário, o artista, trabalha por amor à Arte. Assim é em todas as ramificações dos conhecimentos humanos: há os escravos do dinheiro e há o operário do progresso. Na lavoura, na indústria, como nas Artes e Ciências, destacam-se sempre o operário e o mercenário.
O materialismo, a materialidade, a ganância do ouro arranjaram, na época em que nos achamos, mais escravos do que a Vinha arranjou. Por isso, grande é a seara e poucos são os trabalhadores!
Na Parábola, pelo que se depreende, não se faz questão da quantidade do trabalho, mas sim da qualidade, e, ainda mais, da permanência do obreiro até o fim. Os que trabalharam na Vinha, desde a manhã até à noite, não mereceram maior salário que os que trabalharam uma única hora, dada a qualidade do trabalho.
Os que chegaram por último, se tivessem sido chamados à hora terceira teriam feito, sem dúvida, o quádruplo do que fizeram aqueles que a essa hora foram para o serviço. Daí a lembrança do Proprietário da Vinha de pagar primeiramente os que fizeram aparecer melhor o serviço e mais desinteressadamente se prestaram ao trabalho para o qual foram chamados.
Esta Parábola, em parte, dirige-se muito bem aos espíritas. Quantos deles por aí andam, sem estudo, sem prática, sem orientação, fazendo obra contraproducente e ao mesmo tempo abandonando seus interesses pessoais seus deveres de família, seus deveres de sociedade!
Na Seara chega-se a encontrar até os vendilhões que apregoam sua mercadoria pelos jornais como o mercador na praça pública, sempre visando bastardos interesses. Ora são médiuns mistificadores que exploram a saúde pública, ora são “gênios” capazes de abalar os céus para satisfazerem a curiosidade dos ignorantes. Enfim são muitos os que trabalham, mas poucos os que ajuntam, edificam, tratam como deve a Vinha que foi confiada à sua ação.
Há outra ordem de espíritas que nenhum proveito tem dado ao Espiritismo. Encerram-se entre quatro paredes, não estudam, não leem, e passam a vida a doutrinar espíritos.
Não há dúvida de que trabalham estes obreiros; mas, pode-se comparar a sua obra com a dos que se expõem ao ridículo, ao ódio, à injúria, à calúnia, no largo campo da propaganda? Podem-se comparar os enclausurados numa sala, fazendo trabalhos secretos e às mais das vezes improfícuos, com os que sustentam, aqui fora, renhida luta e se batem, a peito descoberto, pelo triunfo da causa que desposaram?
Finalmente, a Parábola conclui com a lição sobre os olhos maus: os invejosos que cuidam mais de si próprios que da coletividade; os personalistas, os egoístas que veem sempre mal as graças de Deus em seus semelhantes, e a querem todas para si.
Na História do Cristianismo realça a Parábola da Vinha com os característicos dos seus obreiros. “O que era é o que é”, diz o Eclesiastes; e o que se passou é o que se está passando agora com a Revelação Complementar do Cristo.
Há os chamados pela madrugada, há os que chegaram à hora terceira, à hora sexta, a nona e a undécima. Na verdade estamos na hora undécima e os que ouvirem o apelo e souberem trabalhar como os da hora undécima de outrora, serão os primeiros a receber o salário, porque agora como então, o pagamento começará pelos últimos.
Ai dos que clamarem contra a vontade do Senhor da Vinha! Ai dos malandros, dos mercenários, dos inscientes!



[1] Parábolas e Ensinos de Jesus - Cairbar Schutel
 

quarta-feira, 29 de março de 2017

Mudança de personalidades em transplantados cardíacos[1]



Ademir Xavier Jr.[2]


“Quero um coração. Pois cérebros não nos fazem felizes e a felicidade é a melhor coisa do mundo”.

L. Frank Baum, "O mágico de Oz"
 
No livro "Nos Domínios da Mediunidade", André Luiz cita o estranho fenômeno da psicometria, definindo-o como “a faculdade de ler impressões e recordações ao contato de objetos comuns”. Parte da explicação está na impregnação de objetos (que podem ser virtualmente "qualquer coisa") com algum tipo de substância ou fluido que permite a um indivíduo, dotado de faculdade psicométrica, acessar o passado histórico desse objeto. Segundo André Luiz “todos os objetos que você vê emoldurados por substâncias fluídicas acham-se fortemente lembrados ou visitados por aqueles que os possuíram". Exemplos de psicometria também podem ser encontrados na obra de Yvonne Pereira, como é o caso de "Devassando o Invisível". 
Embora o tema tenha sido estudado no alvorecer do Espiritismo, o termo "psicometria" não existe em nenhuma obra de Kardec. Seu grande estudioso foi certamente Ernesto Bozzano, que chegou a escrever uma obra sobre o assunto, "Enigmas da Psicometria". Segundo Bozzano "a psicometria não passa de uma das modalidades da clarividência". Portanto, ainda que Kardec não tenha tratado diretamente do tema, é possível prever sua explicação ao se invocar o conceito Kardequiano de "dupla vista". (Ver O Livro dos Espíritos, 2ª parte, Capítulo 8)
A própria concepção do fluido magnético se presta como ingrediente fundamental para a psicometria. Muitas explicações do fenômeno de psicometria frequentemente não utilizam Espíritos como "agentes intermediários". A razão disso está na influência da "Metapsíquica", um movimento posterior ao Espiritismo que buscou explicar muitos fenômenos psíquicos - em nossa opinião sem sucesso - como instâncias de faculdades inerentes ao "médium" ou "sensitivo", ou seja, sem recorrer aos Espíritos. Mas não é correto afirmar que Espíritos seriam absolutamente prescindíveis na psicometria e o assunto certamente merece novos estudos que apenas o Espiritismo pode contribuir.
Fenômenos os mais estranhos frequentemente ocorrem sob circunstâncias igualmente excepcionais. Tal é o caso de perceptíveis "mudanças de personalidade" em pacientes que passaram por transplantes, em particular, do coração. Em suma: pacientes com coração transplantado são acometidos por uma estranha mudança de hábitos, gostos e até mesmo inclinação sexual. Para restringir os casos apenas àqueles que foram descritos pela literatura científica, recorremos ao artigo de Pearsall e colaboradores, publicado em 2002.
Esse artigo motivou outro como o de Gabriel Filho na revista "Galileu" e até mesmo uma novela televisiva. O caso mais famoso relatado no artigo de Pearsall et al foi o de Claire Sylvia, que publicou um livro sobre sua mudança de personalidade em 1997. Com o transplante, surgiram inesperadamente interesse por alimentos que ela nunca ingeriu (como cerveja, por exemplo, que era consumida pelo doador do órgão desencarnado em um acidente automobilístico). Claire Sylvia afirmou ainda ter sonhado com o doador que lhe revelou seu nome.
No artigo de Pearsall podemos ler dez casos, como, por exemplo, o 5º que descreve uma mulher de 19 anos que faleceu em um acidente automobilístico e a recipiente, uma mulher de 29 anos diagnosticada com cardiomiopatia secundária. A doadora era vegetariana e, segundo a mãe, ia se casar em breve, tendo passado por experiências amorosas com diversos rapazes em poucos meses. A paciente por outro lado se descrevia como lésbica antes do transplante. Estranhamente mudou de hábito, tendo passado também por grande repulsa de carne (afirma que seu coração dispara quando sente cheiro de carne). Também descreveu sentir, por algum mecanismo desconhecido, o impacto do acidente da doadora. A transplantada se casou com um homem depois de receber o novo coração. O caso 9 envolveu um doador de três anos de idade (que caiu de uma janela ao tentar pegar um brinquedo) e o recipiente, um garoto de nove anos. Segundo os pais do recipiente, depois do transplante, sem nenhum conhecimento prévio, o garoto corretamente adivinhou a idade do doador, a causa mortis, e o chamou de "Tim" (seu nome era "Thomas", mas era chamado pelos pais intimamente de "Tim"). Estranhamente também nunca mais brincou com o mesmo brinquedo que tinha sido a causa da morte do doador com quem passou a compartilhar outros hábitos.  
Alguns médicos, pouco afeitos a fenômenos insólitos, por prudência, explicam essas ocorrências como naturais e causadas pelo uso de medicações (um transplantado cardíaco ingere uma grande quantidade de drogas como parte do processo de aceitação do novo órgão, isto é, para evitar rejeição). Entretanto, a variedade e sutileza das experiências observadas tornam difícil explicar tudo como causado por drogas. Seriam tais mudanças causadas por algum fenômeno semelhante ao da psicometria? Obviamente, não esperamos que isso ocorra com frequência. Sabemos que a sensibilidade mediúnica não está igualmente distribuída na população. Assim, qualquer influência desse tipo se manifestaria de forma rara, o que parece ser o caso nos transplantes e está confirmada por Pearsall et al e estudos subsequentes. Além disso, no passado, essas mudanças foram provavelmente escondidas pelos doadores com receio de problemas de aceitação pelos familiares.
O que o Espiritismo teria a dizer a respeito desse fenômeno? Primeiramente, a ideia de que um órgão ou pedaço do corpo fique impregnado por fluidos de seu "dono" parece ser consequência natural da teoria magnética usada por Kardec nas explicações de muitas ocorrências mediúnicas. Também fica explicada a raridade dos casos pela necessidade do doador ter uma sensibilidade mínima, apenas observada em pessoas que sejam mais "influenciáveis" ou, na linguagem do magnetismo animal, mais "magnetizáveis". Entretanto, por que os transplantados de coração apresentam as mudanças mais notáveis? Se transplantes de fígado e rins são os mais realizados, porque as mudanças são maiores com o coração?
A resposta talvez forneça as primeiras pistas para a confirmação da existência de órgãos espirituais. Essa noção é inexistente em Kardec, pois a maior parte dos fenômenos espíritas são processos externos e transitórios, que ocorrem com a influência de Espíritos sobre médiuns, que têm seu comportamento alterado apenas durante o transe mediúnico. A mediunidade é vista de forma geral como uma faculdade do corpo e isso basta para explicar muitos fenômenos. Seria o fenômeno de natureza obsessiva? Não gostamos dessa ideia porque obsessão exigiria um vínculo comportamental pré-existente entre o doador e o recipiente. Obviamente que é possível haver obsessão em algum caso de transplante, mas isso obedeceria a condições usuais de qualquer obsessão e não causada pelo evento de transplante. Além disso, ela seria comum a qualquer tipo de transplante, o que não explica sua maior ocorrência com o coração.
No caso dos transplantados, o recebimento de um órgão vital como o coração, em região conhecida nas tradições orientais como sendo "plexo cardíaco", pode significar uma mudança grande demais para que tais mudanças de personalidade não apareçam. A interação se daria por meio de troca de "fluidos espirituais" sutis entre o coração transplantado e o perispírito do recipiente, já que, do ponto de vista material, são rompidos nesse último quaisquer conexões neurais com o cérebro (o que ocorre com a retirada do coração doente). 
Tais esboços de explicações podem fornecer a base inicial para se apreciar melhor essas mudanças de comportamento, muito difíceis de serem compreendidas pelo materialismo, para o qual as sensações são produzidas no cérebro e o coração é apenas uma bomba de sangue. Portanto, nossa conclusão e sugestão é que tais mudanças de personalidade podem ser explicadas ao se considerar a importância desse centro de fluidos com possíveis órgãos no perispírito do encarnado, a sensibilidade do recipiente e a existência de fluidos espirituais impregnados no órgão doado.
 
Referências:
​Sylvia, C. (1997). A Change of heart: a memoir. New York; Warner Books.
Pearsall, P., Schwartz, G. E., & Russek, L. G. (2002). Changes in heart transplant recipients that parallel the personalities of their donors.   Journal of Near-Death Studies, 20(3), 191-206.
Manzano Filho, G. (2002) "Estranhas memórias do coração". Revista Galileu. http://galileu.globo.com/edic/102/con_transp1.htm

terça-feira, 28 de março de 2017

Dissertação de Além-Túmulo: A INFÂNCIA[1]


 
Comunicação espontânea do Sr. Nélo, Médium, lida na Sociedade em 14 de janeiro de 1859.
Não conheceis o segredo que, na sua ignorância, escondem as crianças. Não sabeis o que são, nem o que foram, nem em que se tornarão. E, contudo, as amais e as prezais como se fossem uma parte de vós mesmos, de tal sorte que o amor de uma mãe pelos filhos é reputado como o maior amor que um ser possa ter por outro ser. De onde vem essa doce afeição, essa terna benevolência que os próprios estranhos sentem por uma criança?
Vós o sabeis? Não. É isso que vos quero explicar.
As crianças são seres que Deus envia em novas existências; e, para que elas não possam queixar-se de sua grande severidade, dá-lhes toda a aparência da inocência; mesmo numa criança de natureza má seus defeitos são cobertos pela inconsciência de seus atos. Essa inocência não é uma superioridade real sobre aquilo que foram antes; não, é a imagem do que deveriam ser; e, se não o são, unicamente sobre elas recairá a culpa.
Mas não foi apenas por elas que Deus lhes deu esse aspecto; foi também e sobretudo por seus pais, cujo amor é necessário à sua fraqueza; e esse amor seria singularmente enfraquecido à vista de um caráter intolerante e impertinente, ao passo que, supondo os filhos bons e meigos, dão-lhes toda a sua afeição e os cercam das mais delicadas atenções. Mas quando as crianças não mais necessitam dessa proteção, dessa assistência que lhes foi prodigalizada durante quinze ou vinte anos, seu caráter real e individual reaparece em toda a sua nudez: permanece bom, se for fundamentalmente bom, mas se irisa sempre de matizes que se ocultavam na primeira infância.
Vedes que os caminhos de Deus são sempre os melhores e que, quando se tem puro o coração, fácil é conceber a explicação.
Com efeito, imaginai que o Espírito das crianças que nascem entre vós pode vir de um mundo onde adquiriu hábitos completamente diferentes. Como quereríeis que estivesse em vosso meio esse novo ser, que vem com paixões completamente diversas das que possuís, com inclinações e gostos inteiramente opostos aos vossos? Como quereríeis que se incorporassem em vossas fileiras de modo diferente do que Deus o quis, isto é, pelo crivo da infância? Aí se vêm confundir todos os pensamentos, todos os caracteres, todas as verdades de seres engendrados por essa multidão de esferas onde se desenvolvem as criaturas. Vós mesmos, ao morrer, vos encontrais numa espécie de infância, em meio a novos irmãos. E, em nova existência fora da Terra, ignorais os hábitos, os costumes e as relações desse mundo tão novo para vós; manejareis com dificuldade uma língua que não estais habituados a falar, língua mais viva do que o vosso pensamento atual.
A infância tem ainda outra utilidade. Os Espíritos não entram na vida corporal senão para se aperfeiçoarem, para se melhorarem. A fraqueza da tenra idade os torna flexíveis, acessíveis aos conselhos da experiência e daqueles que devem fazê-los progredir. É então que podemos reformar o seu caráter e reprimir seus maus pendores. Tal é o dever que Deus confiou aos pais, missão sagrada pela qual hão de responder.
Assim, não somente a infância é útil, necessária e indispensável, mas, ainda, é a consequência natural das leis que Deus estabeleceu e que regem o Universo.
Observação – Chamamos a atenção de nossos leitores para esta notável dissertação, cujo elevado alcance filosófico é facilmente compreensível.
Que há de mais belo, de mais grandioso que essa solidariedade que existe entre todos os mundos? Que de mais apropriado para nos dar uma ideia da bondade e da majestade de Deus? A Humanidade cresce por tais pensamentos, ao passo que se avilta se a reduzimos às mesquinhas proporções de nossa vida efêmera e de nosso imperceptível mundo entre os demais mundos.




[1] Revista Espírita – Fevereiro/1859 – Allan Kardec

segunda-feira, 27 de março de 2017

Carlos Juliano Torres Pastorino[1]



 Nascido no Rio de Janeiro, em 4 de novembro de 1910, e desencarnado em Brasília (DF), em 13 de junho de 1980, Carlos Torres Pastorino, mais conhecido como professor Pastorino, foi filho de José Pastorino e Eugênia Torres Pastorino.
Desde criança demonstrou inusitada inteligência e vocação para a vida eclesiástica. Com apenas 14 anos de idade, em 1924, recebeu os diplomas de Geografia, Corografia e Cosmografia, do Colégio D. Pedro II e, logo em seguida, ainda no mesmo ano, o diploma de Bacharel em Português, no mesmo colégio. Viajou para Roma a fim de cursar o Seminário, onde em 1929 foi diplomado, pelo Cardeal Basílio Pompili, para a Ordem Menor de Tonsura. Formou-se em Filosofia e Teologia em 1932, sendo ordenado sacerdote em 1934. Abandonou a vida eclesiástica da Igreja Católica Romana quando, em 1937, aguardava promoção para diácono. Surpreendeu-se com a recusa do papa Pio XII em receber o Mahatma Gandhi em seu tradicional traje branco. O colégio cardinalício exigia que o grande líder da Índia vestisse casaca, para não quebrar a tradição das entrevistas com os chefes de Estado. Pastorino, diante dessa recusa, imaginou que se Jesus visitasse o Vaticano não se entrevistaria com o papa, pois vestia-se de forma similar a Gandhi, e jamais se sujeitaria ao rigor exigido pela Igreja.
 Regressou de imediato ao Brasil e desenvolveu intensa atividade pedagógica. Ingressou no Instituto Ítalo-Brasileiro de Alta Cultura, como professor de Latim e Grego, cargo que exerceu de 1937 a 1941. Em 1938, recebeu o registro de professor de Psicologia, Lógica e História da Filosofia do Ensino Secundário. Foi também professor de espanhol, além de contribuir como correspondente em jornais.
Ex-padre que se dedicou ao estudo da Doutrina Espírita e da fenomenologia mediúnica, é autor do maior best-seller de autoajuda publicado no Brasil: Minutos de Sabedoria. Grande inteligência, poliglota, Pastorino ainda traduziu livros em diversos idiomas. Foi também radialista, sendo sua obra Minutos de Sabedoria uma coleção das mensagens propaladas no rádio. Foi também historiador, autor de peças de teatro e de composições musicais.
Em paralelo com o magistério, exerceu atividades jornalísticas, como correspondente dos Diários Associados. Foi adido cultural e jornalístico da Academia Brasileira de Belas Artes. Adepto do Esperanto converteu-se ao Espiritismo em 1950. Delegado especializado (Faka Delegito) da Universidade Esperanto Asocio, com sede na Holanda, foi fundador da Sociedade Brasileira de Esperanto no Rio de Janeiro. Sua bibliografia é extensa, com mais de 50 livros publicados e outros tantos inéditos.
 No dia 31 de maio, de 1950, terminara a leitura de O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, que recebera por empréstimo de um seu colega do Colégio D. Pedro II, o que fez em apenas dois dias. Nesse dia, declarou-se espírita e, a partir daí, desenvolveu atividades doutrinárias muito intensas. No bairro do Grajaú, começou a frequentar o Centro Espírita Júlio César; fundando mais tarde em sua própria residência, na Rua Sete de Setembro, 223, o Grupo Espírita da Boa Vontade, que mais tarde passaria a denominar-se Grupo de Estudos Spiritus. Desse Grupo surgiram, depois, com ajuda de Jaime Rolemberg de Lima, o Lar Fabiano de Cristo, a CAPEMI e o SEI − Serviço Espírita de Informações. Fundou a Livraria e Editora Sabedoria e a revista com o mesmo nome, prestando relevantes serviços à Doutrina, no terreno cultural.
 O professor Carlos Torres Pastorino realizou muitas palestras no Rio de Janeiro e em vários outros Estados. Participou ativamente de Congressos, Semanas Espíritas, Simpósios, Cursos e tantos outros eventos. Fez-se sócio de inúmeras instituições espíritas e colaborou com a imprensa espírita nacional e do exterior. De sua vasta bibliografia espírita, destacam-se Minutos de Sabedoria, que bateu todos os recordes de vendagem, em inúmeras edições, Sabedoria do Evangelho, publicado em fascículos na revista Sabedoria e Técnicas da Mediunidade. Mais tarde, em 1971, o Conselho Federal de Educação aprovou-o como titular de Língua e Literatura Latina, Língua e Literatura Grega (1972) e de Linguística (1974) para a Universidade Federal de Brasília. Já havia sido aprovado tradutor público de francês, italiano e espanhol. Falava fluentemente vários idiomas e, graças a esse talento, traduziu obras de vários autores ingleses, franceses, espanhóis, italianos, clássicos latinos e gregos.
Seu grande sonho, porém, era a criação de uma Universidade Livre, para ensinar Sabedoria. Em 1973 recebeu, por doação, do Dr. Miguel Luz, famoso médico paulista, já desencarnado, magnífico terreno numa área suburbana de Brasília, denominada Park Way, onde iniciou as obras da Universidade. Já com algumas dependências construídas, passou a residir no local para administrá-la. Chegou a realizar vários cursos, estando a sua Biblioteca em pleno funcionamento, com o respeitável número de 8.000 volumes, adquiridos ao longo de sua existência, toda voltada para a cultura geral e o bem-estar da Humanidade. Mas faleceu antes de ver concretizado esse monumental sonho.
 Autor de 28 obras publicadas, incluindo-se a Sabedoria do Evangelho, da qual somente oito volumes foram editados, traduziu obras de Pietro Ubaldi, de quem foi amigo, compôs trinta e uma peças musicais para piano, orquestra, quarteto de cordas e polifonia a três e quatro vozes. Homem de ação, infatigável, Pastorino, após sua desencarnação, não silenciou; prosseguiu mandando-nos páginas belíssimas do Além, mensagens psicografadas. Eis aí, e aqui, Carlos Pastorino mais vivo que nunca, ensinando, pregando, escrevendo: a morte é vida, tal como podemos ver no excelente Impermanência e Imortalidade, psicografado por Divaldo P. Franco, publicado em 2004 pela Editora da FEB.
 
Os dados acima foram, em grande parte, extraídos do livro Personagens do Espiritismo, de Antônio de Souza Lucena e Paulo Alves Godoy, Ed. FEESP, 1ª ed., 1982, SP, Brasil.




sábado, 25 de março de 2017

EDUCAÇÃO PARA O AUTOAMOR[1]


 

Ermance Dufaux

 
“O amor é de essência divina e todos vós, do primeiro ao último, tendes, no fundo do coração, a centelha do fogo sagrado”.

Fénelon. (Bordéus, 1861)

O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO – capítulo XI – item 9

 
O mais ingênuo ato de amor a si consiste na laboriosa tarefa de fazer brilhar a luz que há em nós. Permitir o fulgor da criatura cósmica que se encontra nos bastidores das máscaras e ilusões. Somente assim, escutando a voz de nosso guia interior, nos esquivaremos das falácias do ego que nos inclina para as atitudes insanas da arrogância.
Quando não nos amamos, queremos agradar mais aos outros que a nós, mendigamos o amor alheio, já que nos julgamos insuficientes ou incapazes de nos querer bem.
Neste momento de perspectivas alvissareiras com a chegada do século XXI, a esperança acena com horizontes iluminados para a caminhada de ascensão espiritual da humanidade. O resgate de si mesmo há de se tornar meta prioritária das sociedades sintonizadas com o progresso. O bem‐estar do homem, no seu mais amplo sentido, se tornará o centro das cogitações da ciência, da religião e de todas as organizações humanas.
Perante esse desafio social, sejamos honestos acerca do quanto ainda temos por laborar para erguer a comunidade espírita ao patamar de “escola capacitadora de virtudes” em favor das conquistas interiores.
Quantos se encontrem investidos da responsabilidade de dirigir e cooperar com os grupamentos do Espiritismo, priorize como compromisso essencial de suas vinhas o ato corajoso de trabalhar pela formação de ambientes educativos, motivadores da confiança espontânea e do comprometimento pelo coração.
Trabalhar pela felicidade do homem deve ser o objetivo maior das agremiações doutrinárias orientadas pela mensagem de amor do Evangelho. Os modelos e conceitos inspirados nos princípios espíritas que não se adequarem à condição de instrumentos facilitadores para a alegria e a liberdade haverão de ser repensados.
Não podemos ignorar fatores de ordem educacional e social que estimulam vivências íntimas da criatura em sua caminhada de aprendizado. As últimas duas gerações que sofreram de modo mais acentuado os processos históricos e coletivos da repressão atingem a meia idade na atualidade. Renasceram ao longo das décadas de cinquenta e sessenta e se encontram em plena fase de vida produtiva, sofridas pelas sequelas psicológicas marcantes de autodesamor.
Outro fator, mais grave ainda, são as crenças alicerçadas em sucessivas vidas reencarnatórias que constituem sólida argamassa psicológica e emocional, agindo e reagindo, continuamente, contra os anseios de crescimento íntimo. O complexo de inferioridade é a condição cármica criada pelo homem em seu próprio desfavor.
Nada, porém, é capaz de bloquear ou diminuir o fluxo de sentimentos naturais e divinos que emanam da alma como apelos de bondade, serenidade e elevação. Nem a formação educacional rígida ou os velhos condicionamentos são suficientes para tolher a escolha do homem por novos aprendizados. O self emite, incessantemente, energias sublimadas, a despeito dos fatores sociais e reencarnatórios que agrilhoam a mente aos cadinhos regenerativos do conflito e da dor.
Paulo, o apóstolo de Tarso, asseverou: “Porque não faço o bem que quero, mas o mal que não quero esse faço”. (Romanos, 7:19).
Contra os objetivos da vida profunda, temos forças viva em nós mesmos como efeitos de nossos desatinos nas experiências pretéritas. Considerando essa manifestação celeste do “ser profundo”, compete‐nos talhar condições favoráveis para o aprendizado das mensagens da alma. Aprender a ouvir nossos sentimentos verdadeiros, os reclames do Espírito que somos nós mesmos.
A palavra educação vem do latim educare ou educere. Provérbio: e Verbo: ducare, ducere. Seu significado é trazer à luz uma ideia, levar para fora, fazer sair, extrair.
Essa a tarefa dos centros espíritas: oferecer condições para que o homem extraia de si mesmo seu valor divino na Obra da Criação.
Em nossos projetos de religiosidade no centro espírita, o autoamor deve constituir lição primordial. Espiritualidade significa grandeza de sentimentos para viver.
Essa é a visão do centro espírita em sintonia com a alma do Espiritismo, uma verdadeira noção de imortalidade sentida e aplicada.
O autoamor é um aprendizado de longa duração. Conectar seu conceito a fórmulas comportamentais para aquisição de felicidade instantânea é uma atitude própria de quantos se exasperam com a procura do imediatismo. Amar é uma lição para a eternidade.
Que habilidades emocionais temos que desenvolver para o autoamor? Que cuidados adotar para aprendermos uma relação de amorosidade conosco? Como alcançar a condição de núcleos avançados para desenvolvimento dos valores da alma?
Que iniciativas tomar para que as casas espíritas sejam redutos de aprimoramento de nossos sentimentos e escolas eficientes de criatividade para superação de nossas dores?
Que técnicas e métodos nos serão úteis para incentivar a alegria e a espontaneidade afetiva? Como implementar escolas do sentimento em nossos grupos doutrinários de estudo sistematizados? Que temas enfocar na melhor compreensão das manifestações profundas da alma?
Fala‐se, em nossos ambientes de educação espiritual, que não somos bons ouvintes. De fato, uma das habilidades que carecemos aperfeiçoar nas relações interpessoais é a arte de ouvir. Mas, da mesma forma que guardamos limitações para ouvir o outro, também não sabemos ouvir a nós mesmos. Que técnicas adotar para estimular nossa habilidade de ser um bom ouvinte?
Ouvir a alma é aprender a discernir entre sentimentos e o conjunto variado de manifestações íntimas do ser, sedimentadas na longa trajetória evolutiva, tais como instintos, tendências, hábitos, complexos, traumas, crenças, desejos, interesses e emoções. Escutar a alma é aprender a discernir o que queremos da vida, nossa intenção básica.
A intenção do Espírito é a força que impulsiona o progresso através do leque dos sentimentos. A intenção genuína da alma reflete na experiência da afetividade humana, construindo a vastidão das vivências do coração — a metamorfose da sensibilidade. A conquista de si mesmo consiste em saber interpretar com fidelidade o que buscamos no ato de existir, a intenção magnânima que brota das profundezas da alma em profusão de sentimentos.
Os discípulos sinceros do Espiritismo reflitam na importância do autoamor como condição indispensável ao bom aproveitamento da reencarnação. Estar em paz consigo é recurso elementar na boa aplicação dos Talentos Divinos a nós confiados.
Amar‐se não significa laborar por privilégios e vantagens pessoais, mas o modo como convivemos conosco. Resume‐se, basicamente, como tratamos a nós próprios. A relação que estabelecemos como nosso mundo íntimo. Sobretudo, o respeito que exercemos àquilo que sentimos. A autoestima surge quando temos atitude cristã com nossos sentimentos. O amor a si não se confunde com o egoísmo, porque quem tem atitude amorosa consigo está centrado no self. Deslocou o foco de seus sentimentos para a fonte de sabedoria e elevação, criando ressonância com o ritmo de Deus. Amar‐se é ir ao encontro do Si Mesmo como denominava Jung.
Alinhavemos alguns tópicos sugestivos que poderão constar no programa de debates para reeducação da vida emocional e psicológica à luz dos fundamentos do Espiritismo. Tomemos por base a análise educacional de Allan Kardec que diz na questão número 917 de O Livro dos Espíritos: “A educação convenientemente entendida, constitui a chave do progresso moral. Quando se conhecer a arte de manejar os caracteres, como se conhece a de manejar as inteligências, conseguir‐se‐á corrigi‐los, do mesmo modo que se aprumam plantas novas. Essa arte, porém, exige muito tato, muita experiência e profunda observação. É grave erro pensar‐se que, para exercê‐la com proveito, baste o conhecimento da Ciência”.
a    Responsabilidade — Somos os únicos responsáveis pelos nossos sentimentos.
a    Consciência — O sentimento é o espelho da vida profunda do ser e expressa os recados da consciência. Nossos sentimentos são a porta que se abre para esse mundo glorioso que se encontra “oculto”, desconhecido.
a    Ética para conosco — Somos tratados como nos tratamos. Como sermos merecedores de amor do outro, se não recebemos nem o nosso próprio?
a    Juízo de valor — Não existem sentimentos certos ou errados.
a    Automatismos e complexos — O sentimento pode ser sustentado por mecanismos alheios à vontade e à intenção.
a    Autoamor é um aprendizado — Construir um novo olhar sobre si, desenvolver sentimentos elevados em relação a nós, constitui um longo caminho de experiências nas fieiras da educação.
a    Domínio de si — Educar sentimentos é tomar posse de nós próprios.
a    Aceitação — Só existe amor a si através de uma relação pacífica com a sombra.
a    Renovação do sistema de crenças — Superar os preconceitos. Julgamentos formulados a partir do sistema de crenças desenvolvidas com base na opinião alheia desde a infância.
a    Ação no bem — Integração em projetos solidários. A aquisição de valor pessoal e convivência com a dor alheia trazem gratidão, estima pelas vivências pessoais. Cuidando bem de nós próprios, somos, simultaneamente, levados a estender ao próximo o tratamento que aplicamos a nós, independente de sermos amados, passamos a experimentar mais alegria em amar. A ética de amor a si deve estar afinada com o amor ao próximo.
a    Assertividade — Diálogo interno. Uma negociação íntima para zelar pelos limites do interesse pessoal.
a    Florescer a singularidade — O maior sinal de maturidade. Estamos muito afastados do que verdadeiramente somos.
a    Ter as rédeas de si mesmo — Para muitos o personalismo surge nesse ato de gerir a vida pessoal com independência. Pelo simples fato de não saberem como manifestar seus desejos e suas intenções, abdicam do controle íntimo e submetem‐se ao controle externo de pessoas e normas.
a    Construção da autonomia — Autonomia é capacidade de sustentar sentimentos nobres acerca de nós próprios.
a    Identificação das intenções — aprender a reconhecer o que queremos, qual nossa busca na vida. Quase sempre somos treinados a saber o que não queremos.
Sentir‐se bem consigo é sinônimo de felicidade, acesso à liberdade. É permitir que a centelha sagrada de Deus se acenda em nós. Conhecer a arte de manejar caracteres. Portanto, a feliz colocação de Fénelon merece a nossa mais ardorosa atenção: O amor é essência divina e todos vós, do primeiro ao último, tendes, no fundo do coração, a centelha desse fogo sagrado.
Não esqueçamos a recomendação de Lázaro: “O Espírito precisa ser cultivado, como um campo. Toda a riqueza futura depende do labor atual, que vos granjeará muito mais do que bens terrenos: a elevação gloriosa”. (O Evangelho Segundo o Espiritismo – capítulo XI – item 8).
 


[1] Escutando Sentimentos – psicografado por Wanderley S. de Oliveira

sexta-feira, 24 de março de 2017

Arrependimento tardio[1]



Ermance Dufaux


“Aliás, o esquecimento ocorre apenas durante a vida corporal. Voltando à vida espiritual, readquire o Espírito a lembrança do passado”.

O Evangelho Segundo o Espiritismo – Cap. V, Item 11

 
Na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas recebemos variadas comunicações de almas arrependidas que foram, algumas delas, enfeixadas pelo senhor Allan Kardec, na obra O Céu e o Inferno, sob o título “Criminosos Arrependidos” – um incomparável estudo sobre os efeitos do arrependimento depois da desencarnação.
O tema arrependimento é muito valorizado entre nós na erraticidade, porque raramente, sob as ilusões da matéria, a alma tem encontrado suficiente coragem para enfrentar a força dos sutis mecanismos de defesa criados pelo orgulho, deixando sempre para amanhã – um amanhã incerto, diga-se de passagem – a análise madura e sincera de suas faltas, o que traria muito alívio, saúde e paz interior.
Era manhã no Hospital Esperança. Após os afazeres da rotina, deixamos nossa casa em bairro próximo e rumamos para as atividades do dia. A madrugada havia sido de muito trabalho junto às esferas da crosta terrena. Após breve refazimento, nossa tarefa naquele dia que recomeçava era visitar a ala específica de espíritas em recuperação com o drama do arrependimento tardio.
Descemos aos pavilhões inferiores do hospital e chegando na ala para a qual nos destinávamos, fomos passando pelos corredores de maior sofrimento. Alas de confinamento, salas de atendimento e monitoramento, mais adiante alguns padioleiros com novas internações. No alto de uma porta larga, à semelhança daquelas nos blocos cirúrgicos dos hospitais terrenos, havia uma inscrição que dizia “entrada restrita”. Aí se encontravam os pacientes com estágios mentais agudos de arrependimento tardio.
Logo nas primeiras acomodações rende à entrada, deparamo-nos com Maria Severiana. Sua fisionomia não apresentava as mesmas disposições do dia anterior. Cabisbaixa, sua face denotava ter chorado bastante durante a noite. Com todo cuidado que devemos à dor alheia, aproximamos carinhosamente:
Bom dia Severiana!
— Bom dia nada, Ermance, estou péssima.
— O que houve, minha amiga? Ontem você se encontrava tão disposta...
— Muito difícil dizer, não sei se posso.
— Se preferir, conversaremos logo mais.
— Não, não saia daqui, preciso de alguém velando comigo. Sou todo arrependimento e perturbação.
Quando segurava a mão de Severiana e ensaiava um envolvimento mais cuidadoso, Raul, assistente da ala, fez um sinal solicitando-nos a presença em pequeno posto alguns metros adiante.
Que houve, Raul? Severiana ontem estava... — ele nem permitiu que continuássemos e disse:
Sim, ela teve autorização para acessar a sua ficha reencarnatória. Foi uma noite tumultuada para ela, mas bem melhor que a maioria dos quadros costumeiros. A orientação é no sentido de que lhe falei abertamente sobre o assunto para não criar as defesas inoportunas à sua recuperação. Graças a Deus, ela será acentuadamente no clima do arrependimento.
Sim, Raul, grata pela informação.
Regressaremos então ao diálogo com a paciente, conduzindo-o com fins terapêuticos:
Amiga querida, gostaria de expor seus dramas para nosso aprendizado?
Ermance... é muito difícil a desilusão! A sensação de perda é enorme e sinto-me envergonhada. Sei que não fui uma mulher cruel, mas joguei fora enormes chances de vencer a mim mesmo e ajudar muitas pessoas.
— Qual de nós, Severiana, tem sido exemplar na escola da reencarnação?
Sabe, porventura, quantos espíritas chegam em quadros muito mais graves que os teus?
— Tenho pouca noção, no entanto, sinto-me como a mais derrotada das mulheres espíritas.
Isso vai passar brevemente. O clima do arrependimento, embora doloroso a princípio, é a porta de acesso a indispensáveis posturas de reequilíbrios em relação ao futuro. Sem arrependimento não existe desilusão, e sem desilusão não podemos contar com a mais vantajosa das esperanças: o desejo de melhoras enriquecido pela bênção das expectativas de recomeço. O exercício da desilusão é o antídoto capaz de atenuar os reflexos das enfermidades ou faltas que ainda transportamos para além-túmulo.
Existe uma frase que considero sempre oportuna pelo seu poder consolador, a qual gostaria de ler para você, ela se encontra em O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo V, item 5, e diz: “Os sofrimentos que decorrem do pecado são lhe uma advertência de que procedeu mal. Dão-lhe experiência, fazem-lhe sentir a diferença existente entre o bem e o mal e a necessidade de se melhorar para, de futuro, evitar o que lhe originou uma fonte de amarguras”.
— Eu lhe agradeço, amiga querida. Tenho fé que meu arrependimento será impulso, embora ainda não me sinta com forças suficientes para isso. Por agora parece que estou presa em mim mesma.
— Temporariamente será assim. Logo, você perceberá que é exatamente o oposto. Digamos que o arrependimento é uma chave que liberta a consciência dos grilhões do orgulho. Enquanto peregrinamos no erro sem querer admiti-lo, temos o orgulho a nos “defender” através da criação de inúmeros mecanismos para “aliviar” nossas falhas. Chega, porém, o instante divino em que, estando demasiadamente represadas as energias da culpa, em casos como o seu, a misericórdia atua de maneira a ensejar o reajuste e a corrigenda. Sem arrepender-se, o homem é um ser que foge de si mesmo em direção aos pântanos da ilusão, por onde pode permanecer milênios e milênios. Essa não é a sua situação. Em verdade, apesar da dor, você redime-se nesse momento de um episódio recente, sem vínculos com outras quedas de seu passado mais distante. Agradeça a Deus pela ocasião e supere sua expiação. Descartando quaisquer fins de curiosidades vãs, tenho orientações para auxiliá-la a tratar o assunto em seu favor, portanto, tenho coragem.
— Farei isso amiga, farei, custe-me quanto custar! Não quero mais viver sob os auspícios desse monstro do orgulho que trago em mim. Chega de ilusão!
Enchendo o peito de ar, como quem iria enfrentar árdua batalha, começou a contar seu drama, nesses termos:
— Como sabes, fui espírita atuante nessa precedente romagem carnal. Adquiri larga bagagem doutrinária estando na direção de uma casa espírita. Conduzia com facilidade a organização despertando simpatia e boa vontade.
Fui vencida pelo velho golpe do personalismo, sentia-me muito grandiosa espiritualmente face aos compromissos que desincumbia. Como sempre, é o assalto da vaidade que, com nossa invigilância, faz uma limpa em nosso coração roubando-nos qualquer chance de lucidez e abnegação. Passei a vida com um grave problema no lar. Minha filha Cidália é uma moça extremamente rancorosa e magoada comigo sem motivos para isso. Alegava nas minhas avaliações, que éramos antigas inimigas do passado e, diante das atitudes cruéis que ela cometeu contra mim em plena adolescência, cheguei a estimular a piedade de muita gente no centro espírita em relação à minha dor. Alguns chegavam a me dizer que iria direto para sublimes esferas depois dessa prova. Ao invés de encontrar alternativas cristãs para resolver nossas desarmonias, distraí-me com o fato de criar teoremas espíritas para explicar minha infelicidade, mas jamais me perguntei, com a sinceridade necessária, como solucionar esse drama. Guardava o desejo de pacificação, todavia, nada fazia por isso que fosse realmente satisfatório. Fantasias e mais fantasias rondavam minha experiência, inúmeras orientações consideradas como mediúnicas falavam em obsessores perseguindo minha filha e a mim. E agora, quando fui ler minha ficha, iniciei um ciclo novo e percebi que fui vítima da mentira que me agradou. Teorizei muito sobre o que me ocorria, e amei pouco. Entretanto, Ermance, o mais grave você não sabe e estava lá anotado na ficha que ainda ontem tive acesso nos arquivos, aqui no Hospital Esperança. Algo que escondi de todos e jamais mencionei a ninguém, em tempo algum. Não poderia imaginar um caso como o meu. Nem sequer, apesar do conhecimento espírita, poderia supor uma historia tão incomum como a minha.
A essa altura da explanação, Severiana ruborizou-se e perdeu o fôlego.
Suspirou sofregamente e continuou:
— Fui levada ao Espiritismo depois de uma tentativa frustrada de abortar uma filha com quatro semanas de gravidez. Tomada de uma depressão e debaixo das cobranças por ser mãe solteira, cheguei a desequilibrar-me emocionalmente. O tempo passava e não tinha coragem para o ato nefando; por várias circunstâncias não cheguei a executá-lo. A filha nasceu, é Cidália a quem me referi, minha única filha.
Guardei comigo o segredo e parti da Terra com ele sem que ninguém jamais pudesse imaginar que um dia estive disposta a esse crime. As leis divinas, no entanto, são perfeitas. Minha desilusão começou ontem. Em princípio amaldiçoei essa ficha e achei impiedoso que permitissem acessá-la.
Agora, com muita luta começa a compreender melhor.
— E que revelação tão dura trouxe-te seus informes reencarnatórios?
— Cidália renasceu com propósitos de ser uma companheira valorosa e companhia enriquecedora para minha solidão na vida. As informações me deram notícia de que é uma alma enormemente frustrada nos roteiros do aborto e que, após quedas sucessivas, estava reiniciando uma caminhada de recuperação nas duas últimas existências corporais para cá. Contudo, o meu ato, impensado de expulsá-la do ventre, em plena gestação inicial, traumatizou-a sensivelmente face às lutas conscienciais que ela já carrega com o assunto. O registro emocional foi ameaçador ao psiquismo da reencarnante. Seu rancor e sua mágoa contra mim nasceram ali e nada tinham com ausência de afinidade ou carmas do pretérito. Ao substituir a culpa da tentativa de aborto pelas ideias de um passado suspeito e não confirmado, nada mais fiz que tamponar minhas más intenções. As anotações finais da ficha davam nota de que, se tivesse sido sincera com Cidália e rogado perdão, desarticularia em seu campo psíquico um mecanismo defensivo, próprio de corações que faliram nos despenhadeiros do repugnante infanticídio. Fico aqui nas minhas amarguras me cobrando severamente, mas como poderia saber disso. Ermance? Não supunha que a simples intenção poderia ser tão nociva. Você não acha que estou sendo muito rigorosa?
Claro que sim, Severiana. Contudo, não abdique da oportunidade. É sua chance de refazer os caminhos e futuramente amparar Cidália. De fato, não tinha como saber disso, o que não isenta da responsabilidade do ato. Faltou-te o auto-perdão e o desejo sincero do encontro com tuas culpas. Essa tem sido a opção da maioria esmagadora da humanidade. Preferem a fuga a ter que fazerem o doloroso encontro com a sombra. Sua experiência poderá ser muito útil aos amigos na carne, caso me autorize a conta-la.
Certamente lhes ampliará um pouco a visão sobre as infinitas possibilidades que a vida apresenta, nos roteiros da nossa redenção espiritual. Nem reencarnações passadas, nem obsessões, nem carmas, puramente um episódio aparentemente fortuito da existência que lhe rendeu os frutos amargos dessa hora. Um conjunto de situações reunidas talhando a realidade de cada um.
Nada por acaso, nada sem razões explicáveis, conquanto nem sempre conhecidas.
— Oportunamente, quando estiver melhor, gostaria de lhe narrar alguns detalhes para que a minha queda seja alerta e orientação a outras pessoas. Por agora, peço sua ajuda e a de Deus para que consiga me auto perdoar.
— Severiana, hoje você é a mãe caída e frustrada, entretanto a vida convida-te para se tornar o exemplo a muitas almas.
— Você tem razão, Ermance. A ficha — que fichinha dolorosa, exclamou melancólico — mencionava que caso tivesse adotado a postura de me perdoar, poderia ter contado a inúmeras criaturas a minha intenção irrefletida, a inconveniência do ato abortista ou o mal que pode causar sua simples intenção.
Ainda que desconhecendo os detalhes que agora conheço, poderia falar do que significa em dor para uma mãe trazer na lembrança, diante da excelsitude de uma criança que nasceu de seu ventre, as ideias enfermiças de que um dia teria pensado em surrupiar-lhe a vida. Enfim, aprendi que a simples intenção nos códigos da eterna justiça, dependendo dos compromissos de cada qual, é quase a mesma coisa que agir...
Severiana recuperou-se rapidamente e prepara-se para retornar como neta de Cidália. São passados pouco mais de dois decênios de sua queda e sua alma espera a remissão nos braços da avó.
Todavia, quem arrepende precisa de muito trabalho reparativo e luz nos raciocínios. Foi o que fez a nossa amiga. Não cessou de amparar e servir. Enquanto aguardava sua oportunidade, integrou as equipes de serviço aos abortistas no Hospital Esperança e aprendeu lições preciosas de consolo pra seu próprio drama.
Se não existisse melhor redentor na vida espiritual, as almas teriam que reencarnar com brevidade porque não suportariam o nível mental das recordações e perturbações do arrependimento.
O serviço em nosso plano é uma preliminar para as provas futuras na reencarnação.
Como sempre, o livro-luz traz em suas páginas incomparáveis uma questão que resume com perfeição o caso que narramos. Eis a pergunta:
“Qual a consciência do arrependimento no estado espiritual?”
“Desejar o arrependido uma nova reencarnação para se purificar. O Espírito compreende as imperfeições que o privam de ser feliz e por isso aspira a uma nova existência em que possa expiar suas faltas[2]”.
 


[1] Reforma Íntima sem Martírio – Wanderley S. de Oliveira
[2] O Livro dos Espíritos – Questão 991.