Newton Lemgruber Boechat nasceu
em Apiacá, cidade do Interior do Estado do Espírito Santo, bem próxima à divisa
com o Estado do Rio de Janeiro, em 25 de julho de 1928. Foram seus pais Clodomiro
Lemgruber Boechat e Himbelsa Boechat.
Recebeu as primeira letras em sua terra natal, passando a estudar, a
partir dos 10 anos de idade, em Santo Antônio de Pádua, no Estado do Rio, onde
concluiu o curso secundário.
O Espiritismo, a essa altura, já
fazia parte de sua existência, pois seu avô, Júlio Boechat, tinha fama na
região pelas curas que efetuava, sendo notáveis as reuniões mediúnicas que
dirigia, com comunicações psicofônicas e doutrinação de Espíritos.
Por volta dos 17 anos mudou-se
para Belo Horizonte, quando iniciou estudos na área das línguas neolatinas, em
nível superior, graduando-se quatro anos após. Foram anos árduos e de grandes
dificuldades econômicas, chegando a trabalhar em humilde emprego e a estudar ao
mesmo tempo. Nessa época, fez amizade, em Belo Horizonte, com vários membros
atuantes do Movimento Espírita, tais como César Burnier, de quem se tornou
grande amigo, Rubens
Romanelli, Henrique Rodrigues, Camillo Chaves, iniciando visitas que se
tornaram posteriormente constantes a Pedro Leopoldo, quando conheceu Chico
Xavier e Dr. Rômulo Joviano.
Nessa época, também, passou a
falar constantemente nas reuniões públicas do Centro Espírita Luiz Gonzaga,
enquanto o famoso médium mineiro recebia, por psicografia, inúmeras mensagens.
Revezava-se, nesse mister, com
Henrique Rodrigues, ficando a dupla de oradores e grandes amigos conhecida como
"Cosme e Damião do Espiritismo". Teve vaticinada, nessa ocasião, a
missão de que se investiria, através do médium César Burnier, segundo o próprio
nos narrou, pessoalmente, afiançando que o jovem orador de então seria
conhecido em todo o Brasil e falaria na América do Sul e Europa.
Durante o período de estudos, em
Belo Horizonte, fundou, com grande dificuldade financeira, um jornal, em
parceria com Gustavo Pancrácio, intitulado “A Luz do Mundo". Esse jornal chegou
a ter 7 números. Nele ficou registrada uma entrevista feita pelo Boechat com o
Professor Pietro Ubaldi, por ocasião de sua visita a Belo Horizonte e Pedro Leopoldo,
quando teve um famoso encontro com Chico Xavier, presentes Newton Boechat, Rubens
Romanelli, Clóvis Tavares e César Burnier, além de outros.
Burnier registrou o encontro em
fita cinematográfica, doada posteriormente ao Instituto de Pesquisas
Psicobiofísicas, dirigido por Hernani
Guimarães Andrade, por sinal, grande amigo de Boechat.
Após se formar, passou em concurso
público promovido pelo DASP para o IAPETEC (hoje incorporado ao INPS),
trabalhando em Belo Horizonte, fazendo palestras nas horas disponíveis e
participando ativamente das reuniões com o Chico Xavier em Pedro Leopoldo.
Deste se tornou grande amigo e sempre demonstrou dele ter recebido muitos
ensinamentos notáveis e revelações preciosas, muitas delas nunca divulgadas até
hoje.
Por volta de 1956 pediu e obteve
transferência para o Rio de Janeiro, passando a trabalhar no prédio do INPS na
Avenida Graça Aranha, onde ficou até aposentar-se. Trabalhava também como
tradutor juramentado, traduzindo textos em Francês, que conhecia como poucos.
A partir daí intensificou
conferências por todo o Brasil, fora as inúmeras participações em reuniões mais
íntimas e informais, as chamadas "reuniões do lar", às quais
comparecia, em casa de numerosos amigos, sempre expondo seus pensamentos com palavra
clara e didática impecável, maravilhando os que o ouviam.
Obviamente, destacava-se-lhe a
memória prodigiosa, citando com exatidão, qual computador de última geração, o
versículo, o capítulo, a página, o livro... Conhecia tudo de memória.
Após a desencarnação, nenhum
livro foi encontrado em sua residência. Ele os dava aos amigos, após lê-los. O
de que precisava, gravava no cérebro privilegiado. Mais do que simplesmente a
beleza das imagens expressas, qual verdadeiro "pintor' de palavras, seu
discurso saía impregnado do magnetismo daquele que fala o que realmente vive,
fato que constatamos pessoalmente nos incontáveis atos de caridade praticados,
seja no conselho oportuno, na ajuda econômica discreta e anônima ou na presença
assídua junto a doentes, na aplicação diária de passes.
Jamais ouvimos de sua boca palavras
de crítica a quem quer que fosse, embora constatássemos, por testemunha, que em
inúmeras vezes até que teria motivos fortes para emiti-la. Possuía o hábito de,
ao se deitar e também ao despertar, orar longamente por amigos e necessitados, especialmente
por aqueles que não o compreendiam, e o fazia religiosamente.
A mediunidade mais ostensiva começou
a se lhe manifestar no início da década de 70, com o surgimento de vidência e
audição espirituais. A partir daí, assistimos, por seu intermédio, e damos tal
testemunho, a inúmeras e precisas identificações de Espíritos, muitas delas
narradas em nossos livros em parceria. Por sua mediunidade vieram diversos poetas,
como Azevedo Cruz, Auta
de Souza, Lobo da Costa, Augusto do Anjos etc.
Viajou por diversos países da América
do Sul, tendo feito palestras no Paraguai, Uruguai, Argentina e também na
Europa, em fins da década de 70, quando falou em Portugal, Espanha, Itália e
França. Na Europa, visitou o túmulo de Kardec, em Paris, e o de Bozzano,
na Itália, fazendo pesquisas. Na Espanha falou em Barcelona, no interior de uma
igreja católica, próxima ao local onde, cento e poucos anos antes, se dera a
queima dos livros de Kardec no episódio que ficou conhecido como o "Auto-de-fé
em Barcelona".
Realizou cerca de 7.000
palestras em todo o Brasil, conhecendo e se tornando amigo de espíritas em
diversos municípios brasileiros.
Nada o detinha nessa missão.
Entre suas palestras mais
famosas podemos relacionar: "Prisões sem Grades" (a mais solicitada),
"A Manifestação do Ser na Arte, na Dor e no Amor", " Aspectos da
Crucificação de Jesus", "Além da Fronteira de Cinzas", "O
Apóstolo Paulo Perante Festo e Agripa"; "Rumo à Unidade do
Espírito" , "4 Faixas de Consciência", "Chico Xavier, 50
Anos-Luz de Mediunidade...", "O Auto-de-fé em Barcelona".
Em 1970, foi orador oficial,
junto com Divaldo
Pereira Franco, da inauguração da Seção Brasília da Federação Espírita Brasileira,
quando proferiu magnífica palestra, inspirada por Bittencourt
Sampaio, segundo lhe revelou Divaldo Franco, e acha-se registrado no livro
"Ide e Pregai..." Incentivou,
orientou e desenvolveu diversos jovens talentos da oratória no campo espírita.
Sempre nos incentivou, pessoalmente,
a falar, embora nossas enormes limitações pessoais.
Era sócio da Federação Espírita Brasileira,
adotando integralmente a linha doutrinária da Casa, baseada no estudo do
binômio Kardec-Roustaing. Conhecia profundamente a obra de Kardec e também ade
Roustaing, possuindo estudos e pesquisas aprofundadas sobre a concordância de
concepções envolvendo as duas obras. Admirava profundamente o Professor Pietro
Ubaldi, que conhecera pessoalmente, e fazia diversas conferências baseadas em
conceitos expostos pelo grande médium italiano, colocando-se entre os
estudiosos e conhecedores da obra de Ubaldi no Brasil. Apoiou com entusiasmo a
Fundação Pietro Ubaldi quando do lançamento das obras do Professor no início da
década de 80.
Foi um dos idealizadores do Grupo
dos Oito, juntamente com Abelardo Magalhães e Luciano dos Anjos, dois dos seus
maiores e mais caros amigos, como sempre nos confidenciava. Participava semanalmente
das reuniões do Grupo na residência da Professora e Advogada Leda Rocha, às
quintas-feiras, desde 1976, ano de sua formação.
Suas visitas a amigos, como o
Burnier, César Soares, Pepita, Dr. Roberto Silveira, Sra. Ninita Araújo, Sra.
Cinira Novaes, Sra. Teófila Leimig, Sra. Zilah Chaves, Sra. Cídia Paranhos, Coronel
Davi Coutinho e muitos outros acabavam-se transformando em verdadeiras aulas de
alegria, fraternidade e conhecimento doutrinário, tomando-se famosas.
Organizou também, a partir de 1987,
um ciclo de palestras quinzenais, intituladas "Visão Esférica de ...,
realizadas na residência da Sra. Cinira Novaes, em Copacabana, Rio de Janeiro,
contando com a colaboração de inúmeros confrades ilustres, seus amigos pessoais
e que lá compareciam a seu convite (Prof. Newton de Barros, Hermínio
Miranda, César Burnier, Américo Borges, Luciano dos Anjos, Abelardo Magalhães).
Publicou diversos artigos na imprensa
espírita (incluindo "Reformador") e 5 livros. Os dois primeiros,
sozinho, pela Federação Espírita Brasileira, intitulados "Ide e
Pregai" e "O Espinho da Insatisfação"; a seguir, em parceria
conosco, publicou "Do Átomo ao Arcanjo", "Na Madureza dos
Tempos" e "Aquém e Além da Fronteira de Cinzas" , obra recém-lançada.
Cedeu os direitos autorais às respectivas editoras, à FEB no caso dos dois
primeiros livros, e ao Grupo Espírita Aureliano, situado na Rua Indígena nº
155, Niterói, no caso dos 3 últimos. Costumava lançar os livros em palestras, autografando-os,
atendendo a pedidos de vários Centros Espíritas em todo o Brasil.
Partiu, subitamente, em 22 de
agosto de 1990, com muitos planos em mente, livros para escrevermos em parceria
já delineados, no auge do entusiasmo.
Deixou extensa sementeira
luminosa de realizações e amizades e a promessa, manifestada após a
desencarnação, de continuar as tarefas e voltar para cultivar, em espírito, as
sementes que tão bem soube plantar. O corpo foi sepultado no dia 23 de agosto, no
Cemitério São Francisco Xavier, no Caju, tendo comparecido ao local diversos
familiares.
Falaram na despedida ao amigo os
companheiros Luciano dos Anjos, Abelardo Magalhães, José
Salomão Mizrahy, Juvanir
Borges de Souza (Presidente da FEB, em nome da entidade), Américo Borges
(em nome do Instituto de Cultura Espírita), Elmo Queiroz (em nome da Rádio Rio
de Janeiro), Luciano dos Anjos Filho (em nome do Grupo dos Oito), Sra. Cláudia
Bonmartin (representando a União Espírita Francesa e Francófona), Sra. Josefa D’Arriba
(Pepita), Dr. Rinaro Paranhos, Sr. Orlando Sobreira, Jorge Damas Martins, Sra.
Ana Guimarães, Eduardo Guimarães e outros.
Não poderíamos deixar de
registrar as melodias apresentadas pelo Norberto Boechat ao violão, que eram de
tanto agrado do nosso companheiro.
Por ocasião do enterro do corpo deu-se
extraordinário fenômeno mediúnico que tivemos oportunidade de presenciar, ao
lado do Eduardo Guimarães, através da médium Esmeralda, de Niterói, com
comunicação do Newton Boechat a nós dois dirigida, através de processo
psicofônico, deixando sinais característicos de identificação. O relato
completo implica um artigo, que já estamos escrevendo e será publicado em
jornais e no próximo livro que estamos preparando.
Queremos registrar nossos
agradecimentos aos companheiros que gentilmente colaboraram na elaboração
destes singelos dados biográficos (Sra. Vírgula Boechat, Sra. Suely Boechat
Alves, Sra. Sueli Boechat, Sra. Josefa D’Arriba, Sr. Luciano dos Anjos, Sr. Abelardo
Magalhães, Dra. Leda Rocha) e à Diretoria da Federação Espírita Brasileira,
pela oportunidade do convite a homenagear o querido amigo nas páginas luminosas
de "Reformador".
[1] REFORMADOR – novembro/1990 - https://geae1992.com.br/wp-content/Biografias/Newton-Boechat.pdf
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