Allan Kardec
Comunicação espontânea obtida
pelo Sr. L..., um dos médiuns da Sociedade.
Há uma doutrina, a dos anjos
guardiães, que, pelo seu encanto e doçura, deveria converter os mais
incrédulos. Não vos parece grandemente consoladora a ideia de terdes sempre
junto de vós seres que vos são superiores, prontos sempre a vos aconselhar e
amparar, a vos ajudar na ascensão à abrupta montanha do bem; mais sinceros e
dedicados amigos do que todos os que mais intimamente se vos liguem na Terra?
Eles se acham ao vosso lado por ordem de Deus. Foi Deus quem aí os colocou e,
aí permanecendo por amor de Deus, desempenham bela, porém coragem, ousadia,
segurança de si mesmo e poder sobre os homens pela razão.
Abnegação, doçura e poder
sobre os homens pelo coração penosa missão. Sim, onde quer que estejais,
estarão convosco. Nem nos cárceres, nem nos hospitais, nem nos lugares de
devassidão, nem na solidão, estais separados desses amigos a quem não podeis
ver, mas cujo brando influxo vossa alma sente, ao mesmo tempo que lhes ouve os
ponderados conselhos.
Ah! Se conhecêsseis bem esta
verdade! Quanto vos ajudaria nos momentos de crise! Quanto vos livraria dos
Espíritos maus! Mas, oh! Quantas vezes, no dia solene, não se verá esse anjo
constrangido a vos observar: “Não te aconselhei isto? Entretanto, não o
fizeste. Não te mostrei o abismo? Contudo, nele te precipitaste! Não fiz ecoar
na tua consciência a voz da verdade?
Preferiste, no entanto,
seguir os conselhos da mentira! Oh! Interrogai os vossos anjos guardiães;
estabelecei entre eles e vós essa terna
intimidade que reina entre os melhores amigos. Não penseis em lhes ocultar
nada, pois que eles têm o olhar de Deus e não podeis enganá-los. Pensai no
futuro; procurai adiantar-vos na vida presente. Assim fazendo, encurtareis
vossas provas e mais felizes tornareis vossas existências. Vamos, homens,
coragem! De uma vez por todas, lançai para longe todos os preconceitos e ideias
preconcebidas. Entrai na nova senda que diante dos passos se vos abre.
Caminhai! Tendes guias: segui-os. Que a meta não vos falte, porquanto essa meta
é o próprio Deus.
Aos que considerem impossível
que Espíritos verdadeiramente elevados se consagrem a tarefa tão laboriosa e de
todos os instantes, diremos que não vos influenciamos as almas, estando embora
muitos milhões de léguas distantes de vós. O espaço, para nós, nada é, e, não
obstante viverem noutro mundo, os nossos Espíritos conservam suas ligações com
os vossos. Gozamos de qualidades que não podeis compreender, mas ficai certos
de que Deus não nos impôs tarefa superior às nossas forças e de que não vos
deixou sós na Terra, sem amigos e sem amparo. Cada anjo da guarda tem o seu
protegido, pelo qual vela, como o pai pelo filho.
Alegra-se, quando o vê no bom
caminho; sofre, quando lhe despreza os conselhos.
Não receeis fatigar-nos com
as vossas perguntas. Ao contrário, procurai estar sempre em relação conosco.
Sereis assim mais fortes e mais felizes. São essas comunicações de cada um com
o seu Espírito familiar que fazem sejam médiuns todos os homens, médiuns
ignorados hoje, mas que se manifestarão mais tarde e se espalharão qual oceano
sem margens, levando de roldão a incredulidade e a ignorância. Homens doutos,
instruí os vossos semelhantes; homens de talento, educai os vossos irmãos. Não
imaginais que obras fazeis desse modo: a do Cristo, a que Deus vos impõe. Para
que vos outorgou Deus a inteligência e a ciência, senão para repartirdes com os
vossos irmãos, senão para fazerdes que se adiantem pela senda que conduz à
bem-aventurança, à felicidade eterna?
São Luís, Santo
Agostinho
Observação – Nada tem de surpreendente a doutrina dos
anjos guardiães, a velarem pelos seus protegidos, malgrado a distância que
medeia entre os mundos. É, ao contrário, grandiosa e sublime. Não vemos na
Terra o pai velar pelo filho, ainda que de longe, e auxiliá-lo com seus
conselhos, correspondendo-se com ele? Que motivo de espanto haverá, então, em
que os Espíritos possam, de um outro mundo, guiar os que, habitantes da Terra,
eles tomaram sob sua proteção, uma vez que, para eles, a distância que vai de
um mundo a outro é menor do que a que, neste planeta, separa os continentes?
Nenhum comentário:
Postar um comentário