Allan Kardec
Várias vezes já nos perguntaram
por que não respondemos, em nosso jornal, aos ataques de certas folhas,
dirigidos contra o Espiritismo em geral, contra seus partidários e, por vezes,
contra nós. Acreditamos que o silêncio, em certos casos, é a melhor resposta.
Aliás, há um gênero de polêmica do qual tomamos por norma nos abstermos: é
aquela que pode degenerar em personalismo; não somente ela nos repugna, como
nos tomaria um tempo que podemos empregar mais utilmente, o que seria muito
pouco interessante para os nossos leitores, que assinam a revista para se
instruírem, e não para ouvirem diatribes mais ou menos espirituosas.
Ora, uma vez engajado nesse
caminho, difícil seria dele sair, razão por que preferimos nele não entrar, com
o que o Espiritismo só tem a ganhar em dignidade. Até agora só temos que
aplaudir a nossa moderação, da qual não nos desviaremos, e jamais daremos
satisfação aos amantes do escândalo.
Entretanto, há polêmica e
polêmica; uma há, diante da qual jamais recuaremos: é a discussão séria dos
princípios que professamos. Todavia, mesmo aqui há uma importante distinção a
fazer; se se trata apenas de ataques gerais, dirigidos contra a Doutrina, sem
um fim determinado, além do de criticar, e se partem de pessoas que rejeitam de
antemão tudo quanto não compreendem, não merecem maior atenção; o terreno ganho
diariamente pelo Espiritismo é uma resposta suficientemente peremptória e que
lhes deve provar que seus sarcasmos não têm produzido grande efeito; também
notamos que os gracejos intermináveis de que até pouco tempo eram vítimas os
partidários da doutrina pouco a pouco se extinguem. Perguntamos se há motivos
para rir quando vemos as ideias novas adotadas por tantas pessoas eminentes;
alguns não riem senão com desprezo e pela força do hábito, enquanto muitos
outros absolutamente não riem mais e esperam.
Notemos ainda que, entre os
críticos, há muitas pessoas que falam sem conhecimento de causa, sem se darem
ao trabalho de a aprofundar. Para lhes responder seria necessário recomeçar
incessantemente as mais elementares explicações e repetir aquilo que já escrevemos,
providência que julgamos inútil. Já o mesmo não acontece com os que estudaram e
nem tudo compreenderam, com os que querem seriamente esclarecer-se e com os que
levantam objeções de boa-fé e com conhecimento de causa; nesse terreno
aceitamos a controvérsia, sem nos gabarmos de resolver todas as dificuldades, o
que seria muita presunção de nossa parte. A ciência espírita dá os seus
primeiros passos e ainda não nos revelou todos os seus segredos, por maiores
sejam as maravilhas que nos tenha desvendado. Qual a ciência que não tem ainda
fatos misteriosos e inexplicados? Confessamos, pois, sem nos envergonharmos,
nossa insuficiência sobre todos os pontos que ainda não nos é possível
explicar. Assim, longe de repelir as objeções e os questionamentos, nós os
solicitamos, contanto que não sejam ociosos, nem nos façam perder o tempo com
futilidade, pois que representam um meio de nos esclarecermos.
É a isso que chamamos polêmica
útil, e o será sempre quando ocorrer entre pessoas sérias que se respeitam
bastante para não se afastarem das conveniências. Podemos pensar de modo
diverso sem, por isso, deixar de nos estimarmos. Afinal de contas, o que buscamos
todos nessa tão palpitante e fecunda questão do Espiritismo? O nosso
esclarecimento. Antes de mais, buscamos a luz, venha de onde vier; e, se
externamos a nossa maneira de ver, trata-se apenas da nossa maneira de ver, e
não de uma opinião pessoal que pretendamos impor aos outros; entregamo-la à
discussão, estando prontos para a ela renunciar se demonstrarem que laboramos
em erro. Essa polêmica nós a sustentamos todos os dias em nossa Revista,
através das respostas ou das refutações coletivas que tivemos ocasião de
apresentar, a propósito desse ou daquele artigo, e aqueles que nos honram com
as suas cartas encontrarão sempre a resposta ao que nos perguntam, quando não a
podemos dar individualmente por escrito, uma vez que nosso tempo material nem
sempre o permite. Suas perguntas e objeções igualmente são objeto de estudos,
de que nos servimos pessoalmente, sentindo-nos felizes por fazer com que nossos
leitores os aproveitem, tratando-os à medida que as circunstâncias apresentam
os fatos que possam ter relação com eles. Também sentimos prazer em dar
explicações verbais às pessoas que nos honram com a sua visita e nas
conferências assinaladas por recíproca benevolência, nas quais nos esclarecemos
mutuamente.
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