terça-feira, 22 de abril de 2025

MONOMANIA[1]

 


Allan Kardec

 

Lemos na Gazette de Mons: “Um indivíduo acometido de monomania religiosa, há sete anos recolhido no estabelecimento do Sr. Stuart e que até aqui se havia mostrado muito submisso, conseguiu enganar a vigilância dos guardas e apoderar-se de uma faca. Não podendo tomar a arma de volta, os guardas informaram o diretor do que se passava.

O Sr. Stuart imediatamente se dirigiu até o furioso e, confiando apenas em sua coragem, quis desarmá-lo; porém, mal havia dado alguns passos em direção ao louco, este se precipitou com a rapidez do relâmpago e o feriu com golpes repetidos. Só com grande dificuldade conseguiram dominar o assassino.

Das sete facadas que atingiram o Sr. Stuart, uma era mortal: a recebida no baixo-ventre; e segunda-feira, às três horas e meia, ele sucumbiu em consequência da hemorragia que se havia originado nessa cavidade.

O que não teriam dito se aquele indivíduo tivesse sido acometido pela monomania espírita ou mesmo se, em sua loucura, houvesse falado dos Espíritos? E, contudo, isso poderia acontecer, visto existirem diversas monomanias religiosas e todas as ciências forneceram seu contingente. O que se poderia concluir, razoavelmente, contra o Espiritismo, a não ser que, em razão da fragilidade de sua organização, pode o homem exaltar-se neste ponto como em tantos outros? O meio de prevenir essa exaltação não é combater a ideia; de outro modo correríamos o risco de ver renovados os prodígios das Cévènes. Se alguma vez organizassem uma cruzada contra o Espiritismo, vê-lo-iam propagar-se cada vez mais. Como, pois, opor-se a um fenômeno que não tem tempo nem lugar de predileção; que pode ser reproduzido em todos os países, em todas as famílias, na intimidade, no mais absoluto segredo, melhor ainda que em público? O meio de prevenir os inconvenientes – já o dissemos em nossa Instrução Prática – é fazer com que se torne de tal forma conhecido que nele só se veja um fenômeno natural, mesmo naquilo que ofereça de mais extraordinário.



[1] REVISTA ESPÍRITA – Dezembro/1858 – Allan Kardec

segunda-feira, 21 de abril de 2025

LANGERTON NEVES DA CUNHA[1]

 


 

Nascido na cidade de Jubaí, Minas Gerais, no dia 6 de janeiro de 1929, era filho de Paulino Domingos da Cunha e Neves Maria dos Santos. Desde os sete anos de idade teve sua mediunidade em pleno desenvolvimento, a ponto de, aos oito anos, iniciar seus trabalhos espirituais na Doutrina Espírita.

Aos dezoito anos, já trabalhava como médium de cura, embora tivesse, ostensivamente, várias outras faculdades mediúnicas. Aos trinta anos, começou a trabalhar como médium receitista fitoterapeuta. Aprendendo, com base em estudos e orientações do espírito Eurípedes Barsanulfo, os princípios ativos das plantas medicinais, e tendo como mentor espiritual Emílio Luz, prescrevia medicamentos aos enfermos. Conseguia ver, com os olhos da alma, as enfermidades atuais e aquelas de possível desenvolvimento futuro e, então, prescrevia. O trabalho era realizado sob os ensinos do Evangelho de Jesus, especialmente o que ele sempre recordava: Dai de graça o que de graça recebeste.

Muitas plantas usadas para os medicamentos eram cultivadas pelo próprio Langerton, em um lugar por ele denominado Vila Cantinho Espírita, localizada em Peirópolis, Uberaba-Minas Gerais, cidade onde residiu e trabalhou.

Casou-se com Ana Santos da Cunha, com quem teve duas filhas, Paula Meneses Santos da Cunha e Emília Andréia Santos da Cunha Gomide, porém, adotou, com o coração, muitas crianças. Homem simples do campo, de poucos estudos quanto à educação formal, era um verdadeiro sábio da vida. Trabalhador, dedicado, perseverante, de poucas palavras e de muita fé, conseguiu estruturar a Vila Cantinho Espírita com vários serviços, todos gratuitos: Albergue Noturno, Internato Dr. Adolfo Bezerra de Menezes, Casa da Sopa Paulino Domingos da Cunha e Lar dos Apóstolos.

Por volta dos quinze anos, Langerton chegou a Peirópolis, para trabalhar na Fazenda Veadinho, na lavoura de café e na indústria de cal. Tornou-se funcionário público federal do Ministério da Agricultura, na área que atualmente corresponde ao Ministério das Minas e Energias.

A partir do achado de um fóssil, passou a trabalhar com paleontologia, ao lado do pesquisador Llewellyn Ivor Price, que se tornou um dos primeiros e principais paleontólogos brasileiros e do qual se constituiu braço direito, pelo profundo conhecimento que adquiriu.

Os dois descobriram fósseis com mais de setenta milhões de anos, transformando a região de Peirópolis na Terra dos Dinossauros, devido à quantidade e excelente qualidade dos fósseis.

Mas o percurso não fora fácil. Em 1959, por exemplo, por um ataque de obsessores a um de seus chefes no local de trabalho, foi declarado que os fósseis da região se haviam extinguido. Isso significava que ele e sua mulher, à época grávida, teriam que mudar de cidade, abandonando o movimento espírita que ele havia iniciado. Apreensivo, porém, firme em sua fé, seguiu cuidando de sua pequena roça.

Certo dia, sentiu o envolvimento de uma entidade suave, que lhe trazia paz. Era Eurípedes Barsanulfo.

Larguei a enxada e corri para casa. Estava possuído por estranho pressentimento. Peguei uma trincha e uma sovela, partindo para a Serra das Paineiras, onde, em oração, comecei a pesquisar. De repente, saiu uma placa das minhas mãos; era uma escama de peixe pré-histórico de oitenta e cinco milhões de anos.

Encontrou ainda um dente de dinossauro que é um dos maiores exemplares da América do Sul, dentre outras peças. Não se esgotaram mais os achados fósseis em Peirópolis, e ele ali permaneceu, dando continuidade ao movimento espírita.

Langerton trabalhou com Chico Xavier durante trinta anos, sem nunca ter faltado uma única vez. Percorria a cavalo semanalmente vinte e dois quilômetros entre Peirópolis e Uberaba. Responsável pela limpeza do Grupo Espírita da Prece, ajudava Chico a organizar as multidões que o procuravam. Muito amigos, com ele Chico partilhava dificuldades, incertezas e alegrias do caminho.

Foi um dos fundadores do Centro Espírita Eurípedes Barsanulfo, na Vila Cantinho Espírita. O Centro desenvolvia várias atividades: reuniões de Evangelho e Cura, evangelização infantil e juvenil, distribuição da sopa D. Neves Maria dos Santos, Departamento de Farmácia Homeopática Frederico Peiró, Albergue Noturno Dr. Bezerra de Menezes e Emílio Luz, Internato Espírita Nosso Lar e outros.

Acolhia os desamparados, os doentes mentais (internando-os sob seus cuidados e de acompanhantes, quando necessário), recebendo gratuitamente (e com muito esforço) todos os que buscavam a cura de suas aflições, para o que criou o Lar dos Apóstolos.

Homem sábio, Langerton sabia que os problemas de saúde são fruto dos desequilíbrios espirituais. Compreendia que a fitoterapia deveria atuar junto com a terapia do Evangelho, responsável por nossa reforma íntima, verdadeira propulsora de mudanças em nosso espírito e, por conseguinte, em nosso corpo material. Por essa razão, denominava carinhosamente as gotas fitoterápicas de gotas evangélicas, pois se constituíam em chamado para o aprendizado e vivência do Evangelho de Jesus.

Foi a partir de 1959 que Langerton assumiu o trabalho, sob a orientação espiritual de Eurípedes e Emílio Luz, aprofundando os conhecimentos sobre as plantas, o preparo, acondicionamento, embalagem, indicação, e transmitindo esses conhecimentos a outras pessoas interessadas. Manteve, com obstinação, o compromisso de oferecer o trabalho gratuitamente.

Durante o período de 1988 a 2003, realizou, com outros trabalhadores, diversas viagens por municípios mineiros e por Estados do Norte, Nordeste e Sudeste, concentrando-se, nos últimos anos, nas duas primeiras regiões. No mês de julho, partiam de Peirópolis, subindo pelo Nordeste até o Pará, no Norte, passando por treze Estados da Federação. As viagens objetivavam o atendimento gratuito, levando medicamentos e consolo aos que lhes procuravam nos Centros Espíritas agendados.

Em 4 de abril de 2003, Langerton desencarnou. Trabalhou até o último instante de sua vida terrena.



[1] FEDERAÇÃO ESPÍRITA DO PARANÁ - https://www.feparana.com.br/topico/?topico=750

sexta-feira, 18 de abril de 2025

QUAL É O SENTIDO DA PÁSCOA NA VISÃO DE ALGUMAS RELIGIÕES?[1],[2]

 


 

Trata-se de uma das principais festas cristãs, estabelecida pelo Concílio de Nicéia em 325, para ser comemorada no primeiro domingo após o equinócio do inverno no hemisfério norte (entre 22 de março e 25 de abril). A ideia era coincidir a data com o início da primavera, estação que simboliza o renascer. "É o maior fundamento do Cristianismo, porque mostra Jesus vitorioso. No meio de aparente fracasso da morte a vida falou mais alto", afirma a teóloga e historiadora Maria Cecília Domezi das Faculdades Claretianas de "São Paulo” Representa, portanto, um momento de reflexão sobre a vida e a morte, a culpa e o perdão, a solidariedade e a liberdade. "Se tudo tivesse terminado no sepulcro, não haveria Cristianismo, apenas uma bela filosofia de vida”, diz o padre Gregório Teodoro da Catedral Ortodoxa de São Paulo.

 

Quem testemunhou a aparição de Jesus?

De acordo com a Bíblia foram as mulheres que acompanharam Jesus em suas pregações as primeiras a constatar que o sepulcro estava vazio. Depois, apesar da divergência entre os evangelhos quanto ao número de testemunhas, o próprio Cristo Ressuscitado teria aparecido a Maria Madalena, aos discípulos que seguiam para o povoado de Emaús e aos 11 apóstolos (o décimo segundo, Judas, enforcou se depois de trair o Mestre). Nenhum dos quatro textos canônicos revela como, de fato, teria ocorrido ressurreição. As narrativas concentram-se em mostrar que Cristo teria mesmo vencido a morte, como havia previsto (Lucas 9, 22, entre outras citações). Segundo os estudiosos, as diferenças entre os relatos se devem à visão teológica de cada evangelista. Segundo o texto de Marcos, Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago, e Salomé foram avisadas por um jovem de que Jesus não estava mais lá. Mateus também menciona as mulheres mas Salomé desta vez não aparece. O anúncio da ressurreição, neste caso teria vindo de um anjo. “Como os destinatários de seu evangelho são os judeus convertidos, Ele se preocupa com o tato de que, a mensagem seja contada aos sacerdotes", afirma o teólogo e padre Antonio Bogaz, de São Paulo. "E destaca a importância das mulheres, para valorizar a tradição judaica da presença feminina na vida da comunidade." No Evangelho de João, Madalena aparece como a testemunha primordial seguida por Pedro, como o primeiro dos apóstolos, embora "o discípulo que Jesus amava" (João, na interpretação dos especialistas) tenha chegado antes ao túmulo. “Lucas, por sua vez, tinha uma teologia mais voltada para o núcleo familiar e, por isso, traz mais detalhes nas descrições", diz o padre Bogaz. Os apócrifos confirmam essas testemunhas: depois de ressuscitado, Jesus teria continuado a aparecer aos apóstolos e às mulheres durante mais doze anos.

 

O que é o Pessach judaico?

Páscoa judaica ou Pessach (significa passagem da escravidão para a liberdade ou passar por cima) celebra a libertação dos filhos de Israel após dois séculos de cativeiro no Egito. Segundo o costume da época, cada família hebreia deveria sacrificar um cordeiro é pintar as portas das casa com o sangue. Era um sinal de proteção contra a praga divina. Na celebração atual, comem-se carne de carneiro, pão ervas amargas como recordação do sofrimento do cativeiro. A libertação é contada no livro Êxodo e tornou-se o ponto central da história judaica, marcando o surgimento dos Judeus como povo livre. É comemorada sempre no mês de abril e tem a duração de oito dias. Nas duas primeiras noites, é realizado o jantar festivo (Seder) para recordar o sacrifício judeu. A comida típica e o matzá (o pão da aflição ou dos pobres), uma bolacha não fermentada feita apenas de trigo e água, que tem a função de relembrar a luta dos antepassados. “Os judeus expulsos não tiveram tempo de fermentar o pão e o levaram antes que pudesse ser preparado”, conta o rabino Henry Sobel, da Congregação Israelita de São Paulo.

 

Qual é o simbolismo do coelho e dos ovos de chocolate?

Oferecer ovos como presente é uma tradição do Cristianismo. Na Babilônia e no Egito antigo, estavam associados ao culto da fertilidade. A tradição vem do Oriente, onde eram embrulhados com cascas de cebola e cozidos com beterraba para ficar coloridos e serem oferecidos na festa da Primavera. Os cristãos se inspiraram neste costume e o consagraram como lembrança da ressurreição de Jesus. “Anda adotamos, esta tradição antiga de distribuir ovos pintados para simbolizar a nova vida”, diz o padre Gregório Teodoro, da Catedral Metropolitana Ortodoxa de São Paulo. O ovo de chocolate, oferecido na, Páscoa, porém, aparece; pela primeira vez no século dezoito, com o desenvolvimento da indústria alimentícia na Europa onde teria nascido também a tradição do coelho, associado à criação devido à sua grande prole. Os anglo-saxões contavam às crianças que os coelhos levavam os ovos e os escondiam entre as plantas. Na manhã do dia de "Páscoa, elas tinham de procurá-los nas ruas e nos jardins.

 

Como a data é celebrada?

 

Católicos

Um dos principais rituais é a missa do Sábado Santo ou do Fogo Novo. Os fiéis reúnem-se, no início da celebração, ao redor de uma pequena fogueira, na entrada da igreja, e proclamam a luz do Cristo Ressuscitado. É aceso o círio pascal (vela grande e benta), que traz as letras alfa e ômega simbolizando que Cristo é o princípio e o fim do Universo. Todos acendem a vela no círio para renovar o compromisso com Deus. São feitas diversas leituras bíblicas e, finalmente, a proclamação do Evangelho com o anúncio da ressurreição, acompanhado por sinos.

 Jesus teria previsto a própria morte e ressurreição:

Este Homem será entregue em mãos homens que o matarão. Ao terceiro dia ressuscitará.

Mateus 17.23

 

Ortodoxos

Seguem o calendário Juliano, com 13 dias a mais no ano, de forma que a Páscoa cristã sempre seja celebrada depois da Judaica, já que Jesus participou dela. Celebram o ofício da ressurreição com cânticos antes da missa. Com todas as luzes da igreja apagadas; o celebrante acende uma vela no altar na qual todos os fiéis acendem suas próprias velas, representando a luz que sai do sepulcro vazio. O padre vai até a entrada do templo, bate na porta e anuncia a presença do Rei da Glória. Depois da missa, distribuem-se ovos cozidos pintados.

 

Protestantes

Enfatizam a relação entre a Páscoa do antigo Testamento (judeus) e a do Novo Testamento (cristãos). Na Páscoa judaica, um cordeiro era sacrificado em nome de Deus e seu sangue era pintado na porta das casas. "Ressaltamos que, na cultura Jesus tornou-se o cordeiro pascal” afirma o teólogo Valtair Miranda, do Rio de Janeiro. Não há imagens nem símbolos Jesus crucificado. Preferem exaltar suas mensagens e sua vitória sobre a morte. Algumas igrejas celebram culto às 6 horas da manhã; hora da ressurreição.

 

Evangélicos

Muitos celebram a ressurreição assistindo ao nascer do sol no domingo de Páscoa, às 5 horas da manhã, normalmente em lugares altos ao ar livre (como os antigos faziam para estar mais próximos de Deus) ou no próprio templo. Em geral, há cultos especiais nesse dia. "Exaltamos com mais força a ressurreição que a morte", diz o pastor Ariovaldo Ramos, da Igreja Batista Água Branca, em São Paulo. Por isso, dão mais ênfase ao domingo que à sexta-feira da Paixão. Para recordar a última ceia de Cristo, antes da crucificação, comem ervas amargas.

 

Espíritas

No Espiritismo não há qualquer tipo de ritual nem simbolismos, portanto a data da Páscoa serve, apenas, para favorecer a reflexão sobre a realidade espiritual em que vivemos. Os espíritas acreditam na reencarnação e não na ressurreição. "Conforme atestado pela ciência é impossível voltar para o mesmo corpo depois de um processo de decomposição orgânica", diz Marco Milani, da União das Sociedades Espíritas de São Paulo. Não existem milagres, apenas situações naturais regidas por leis imutáveis e que ainda estão sendo descobertas pela humanidade. Para o Espiritismo, uma hipótese para o aparecimento de Jesus é que os apóstolos o tenham visto por um fenômeno mediúnico de vidência, mas apenas em espírito e com a mesma aparência que o conheceram. Outra hipótese decorre do fenômeno da materialização, que permite ao Espírito tornar-se visível e até tangível às pessoas em geral, mesmo que não sejam médiuns videntes Os espíritas consideram, no entanto, que o fato de não ter havido a ressurreição não tira o mérito da missão de Jesus. “Ele é considerado o espírito de conduta moral mais elevada que habitou o planeta, por isso seguimos seus ensinamentos”, afirma Marco. “Atingiu um grau de evolução que todos nós conseguiremos um dia por meio das várias encarnações (a volta do mesmo Espírito para outro corpo).” Não há necessidade de celebrações especiais porque, acreditam, todos os dias representam novas oportunidades para o aprimoramento moral, o grande objetivo de todo ser humano.

quinta-feira, 17 de abril de 2025

TROCA DE CORPOS[1]

 

O Mito da Sexualidade na Grécia Antiga


Miramez

 

Em nossa existência, pode o Espírito que animou o corpo de um homem animar o de uma mulher e vice-versa?

Decerto; são os mesmos os Espíritos que animam os homens e as mulheres.

Questão 201 / O Livro dos Espíritos

 

Os Espíritos trocam de posições quantas vezes lhes forem necessárias, no que tange ao corpo físico, de homem ou de mulher. Um Espírito que animou muitas vezes um corpo de homem pode, perfeitamente, animar, em outras oportunidades, corpos de mulher.

Espírito, na profundidade do termo, não tem sexo; o sexo se apresenta no perispírito diferenciando e, ao mesmo tempo, ajustando a matriz da carne como homem ou mulher. No entanto, mesmo no perispírito ele pode desaparecer pela sublimação do Espírito.

O pensamento é tudo no mundo espiritual; ele pode criar e desfazer instantaneamente o que quiser no seu corpo perispiritual. No mundo espiritual não há reprodução de corpos pelos processos da Terra, pois os corpos são criados pelo pensamento, de acordo com a elevação da alma.

Alma não reproduz alma; somente Deus a cria. Essa receita divina se encontra dentro do Seu coração de amor. Os corpos materiais de todos os reinos geram outros corpos; mesmo assim, o material para esse espetáculo maravilhoso só Deus o pode criar; somente Ele dá vida a tudo o que existe, é o que podemos dizer. O Espírito é como uma chama, e a sua forma, para que se possa ter uma ideia, mesmo pálida, é como a água que toma a forma da vasilha onde é depositada. Ele é uma luz, cuja qualidade ainda não se pode saber, por escapar às mais elevadas deduções do saber humano.

Sexo, como se pensa ainda, é para corpos inferiores, servindo ao Espírito nas mesmas condições. O Espírito, na medida da sua elevação espiritual, vai abandonando todos os instintos inferiores e, quando não os abandona compreende o modo pelo qual deve usá-los. Uma faca tem uma missão muito importante nas mãos hábeis de um açougueiro; no entanto, quando portada por uma criatura ignorante, pode provocar desastres inúmeros. Assim o avião, a bomba, o carro etc. O homem sem educação espiritual distorce as suas próprias possibilidades de elevar-se, às vezes, com o seu próprio corpo.

Um Espírito pode perfeitamente renascer em corpos de homem, depois retornar, quantas vezes forem necessárias, em corpos de mulher, se precisar das experiências que advêm dessas trocas. Isso ocorre também com os animais, com as árvores, enfim, em todos os reinos da natureza se processam essas permutas na multiplicidade da vida.

Precisamos estudar mais, e a quem deseja se instruir, sempre apresentam em seu caminho os meios. No mundo espiritual, continuamos a estudar todos os assuntos, porém, a diferença é que as anotações espirituais são sinceras, e nunca nascem de interesses mesquinhos. Não vivemos à procura de ouro nem de prata para nos sustentar, nem vestir. O único dinheiro em nosso plano é o ouro do amor; esse é o alimento da alma em todas as faixas das nossas necessidades. Por isso que Jesus nos disse: eu Sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ele nos ensinou a viver na Terra, dando início à vida espiritual. De outra feita afirmou:

Eu sou o pão que desceu do céu, e frente à Samaritana afirmou: “Se beberes da água que Eu te der, nunca mais terás sede”.

Se queremos ser livres, libertemo-nos pelo amor. Aí encontraremos a felicidade, pelas pegadas do Mestre dos mestres.



[1] FILOSOFIA ESPÍRITA – Volume 4 – João Nunes Maia

quarta-feira, 16 de abril de 2025

MISTICISMO CIENTÍFICO[1]

 


John Poynton

 

'Misticismo Científico' é um termo cunhado por Michael Whiteman, um matemático e místico sul-africano nascido na Grã-Bretanha. (Este artigo pode ser lido junto com o artigo sobre a vida e o pensamento de Whiteman.)

 

Introdução

O termo 'misticismo científico' apareceu como um título na trilogia, Old and New Evidence on the Meaning of Life2,3,4, de Michael Whiteman. O Volume Um foi intitulado An Introduction to Scientific Mysticism2. Whiteman tinha como objetivo trazer o misticismo para o campo da ciência como uma entidade que é 'mente aberta, rigorosamente testada, racionalmente coerente e iluminadora2.'

'Misticismo' aqui é definido como:

o estudo de tudo o que não é físico, incluindo os outros mundos e sua governança arquetípica, bem como nossos corpos espirituais, sendo os fatos e suas relações conhecidos pela autoevidência da observação direta e não pelo raciocínio ou especulação5.

Isso indica ciência empírica, compartilhando território com pesquisa psíquica. No entanto, Whiteman fez uma distinção entre experiência 'psíquica' e 'mística'. A primeira inclui o estudo de eventos supostamente não físicos, a última se estende a estados que têm um senso de significância e ultimatos mais elevados, abertura à orientação, ser transformado e orientação à fonte percebida do Certo e do Bem.

Whiteman estava familiarizado com o védico, o sânscrito, o páli, o grego e o hebraico bíblico, e citava extensivamente textos antigos. Ele considerava a maioria das traduções atuais inadequadas porque os autores não tinham experiência psíquica e mística. Seu comentário revolucionário, também sua tradução de 'The Yoga Sutras of Patanjali6' combinados com textos budistas canônicos2,3,4,5, mostram paralelos marcantes com refinamentos do pensamento moderno.

A ocupação de Whiteman como professor de matemática aplicada forneceu uma base em física para seu misticismo científico. Outra base foi uma vasta experiência pessoal em estados psíquicos e místicos. Seus métodos baseavam-se na observação, análise conceitual e insight, em sintonia com a fenomenologia de Edmund Husserl7. Isso visa obter autoevidência face a face e precisão detalhada, desfazendo-se do usual "manto de ideias". Ciência no uso de Whiteman não é um exercício de teorização.

 

Potencialidade e Atualização

Uma chave para o misticismo científico de Whiteman é a ideia de potencialidade e atualização. Isso foi desenvolvido pelo físico Werner Heisenberg8, que viu que um "acontecimento" físico acontece por meio de uma ocasião de observação, e que esse "acontecimento" está aberto à descrição física. Mas o que governa o acontecimento não está aberto à observação física; na melhor das hipóteses, pode receber expressão matemática. Então, por trás de um evento físico, é preciso reconhecer o que Heisenberg chamou de "uma tendência ou possibilidade objetiva, uma "potentia" no sentido da filosofia aristotélica". E a potentia governante, a "razão" para algo acontecer, é abstrata em um sentido físico; você não pode colocá-la em um tubo de ensaio.

Whiteman concordou que apenas subestruturas lógicas transcendentes, potencialidades, merecem o termo 'realidade', em oposição às aparências. As aparências vêm à existência apenas em uma ocasião de observação, e serão atualizadas de forma diferente para pessoas diferentes.

Whiteman escreveu, 'nada específico pode ser atualizado sem a integração de fatores “subjetivos” e “objetivos”, não em sucessão, mas no instante da atualização2.' Um observador que é libertado de alguma forma do estado físico atualizará para si mesmo coisas que estão além do alcance da sensação física comum. Este é o começo da percepção psíquica e mística.

Whiteman escreveu:

'A diferença entre um “mundo” e outro depende então do estado de vida em que o observador está estabelecido4.' A percepção de um indivíduo resulta da integração de potencialidades objetivas juntamente com suas próprias potencialidades subjetivas, incluindo elementos subconscientes. Whiteman acreditava que o princípio de potencialidade-atualização opera na esfera mental de cada indivíduo: pensamento e imagens são atualizações na consciência da 'esfera de pensamento-imagem' de um indivíduo, como ele a chamava, que inclui memória e imaginação2.

 

Atualização de fenômenos psi

Whiteman viu a telepatia resultante da interação ou ressonância entre as esferas de pensamento-imagem dos indivíduos. A interação não é atualizada no nível físico, e assim a transferência de informações ocorre independentemente do espaço e tempo físicos. Clarividência é ressonância entre a esfera de potencialidade de um objeto ou evento físico e a esfera de pensamento-imagem de um indivíduo, resultando na atualização de impressões na esfera de pensamento-imagem do indivíduo. Mais uma vez, ressonância ou interação acontece independentemente do espaço e tempo físicos, não sendo fisicamente atualizada. A psicocinese pode ser considerada uma interação clarividente reversa; potencialidades geralmente ligadas de alguma forma a um indivíduo resultam em atualizações físicas.

As relações potencialidade-atualização não devem ser vistas como estáticas; campos de potencialidade mudam ou se desenvolvem continuamente, e têm ciclos de feedback, embora não em tempo físico. Isso afetará o resultado de eventos físicos futuros, o que ajuda a explicar como a precognição acontece. Whiteman viu a precognição como atualização na esfera de pensamento-imagem de um indivíduo de desenvolver campos de potencialidade que podem afetar eventos físicos futuros. O indivíduo pode até mesmo intervir na atualização física desses eventos alterando os campos de potencialidade, permitindo assim a prevenção de um evento precognizado de acontecer2. Mesmo que os campos de potencialidade sejam ordenados pelo tempo, resultando em uma sucessão de eventos atualizados no mundo físico, a ordenação não é fixa da maneira como um mapa rodoviário é fixado. Eles são acessíveis em estados de distanciamento físico e, portanto, permitem alteração limitada e o exercício do livre arbítrio.

 

Experiência fora do corpo

Whiteman definiu misticismo como 'o estudo de tudo o que não é físico, incluindo os outros mundos...' Como acabamos de discutir, campos de potencialidade têm a capacidade de entregar diferentes espaços ou mundos de realidade física e não física, dependendo do estado do observador. Sem esse entendimento, o misticismo não pode começar a fazer sentido. A experiência direta dos 'outros mundos' ocorre principalmente na experiência fora do corpo, que Whiteman preferiu chamar de experiência 'separativa', já que geralmente há consciência de um corpo de algum tipo.

O tipo mais comum que ele chamou de 'separação primária', em que não há consciência no corpo físico, mesmo que o que parece ser o corpo físico possa ser visto. Na 'separação secundária', o corpo físico está sob algum grau de controle consciente, mas a consciência principal está em outro organismo aparentemente não localizado no espaço do corpo físico, e os dois corpos são bastante independentes. Na 'separação terciária', o corpo físico está normalmente sob controle completo, mas há plena consciência de estar em uma forma corporal diferente, apesar das localizações dos dois corpos parecerem ser as mesmas. A diferença entre os dois corpos pode ser radical, como um ser masculino e o outro feminino. Para Whiteman, as experiências místicas mais elevadas eram geralmente desse tipo.

Whiteman observou que tal experiência não física, em termos de impressão de realidade e intensidade, pode variar de parecer fraca a parecer ainda mais real e significativa do que na vida física. Em seu estado mais poderoso, denominado por ele de místico, 'Tudo em tais estados, características espaciais incluídas, é conhecido como se estivesse em forma arquetípica imutável e, portanto, é surpreendentemente mais real (racionalmente objetivo, sempre presente) do que as formas derivadas e mutáveis ​​do mundo físico2'. Ele viu a necessidade de 'distinguir entre o que é enganoso ou ilusório e o que tem a qualidade de objetividade e verdade face a face que descrevemos ao dizer que uma coisa é real2'. Isso requer a criação de uma escala numérica, que ele chamou de Índice Geral da Realidade.

 

Índice da Realidade

Este índice abrange uma gama de sonhos comuns (classificação zero) ao que é experimentado como espiritualmente liberador com um alto grau de realidade, ou seja, experiência mística (classificação alta). O Índice se relaciona adequadamente com a experiência separativa. As características pontuadas no Índice incluem continuidade de memória entre experiência física e não física, observação livre, capacidade de comparar com precisão com estados físicos e não físicos, consciência de substância e tangibilidade, comunicação de pensamento com outros e um sentimento de transcendência da vida física.

O Índice Geral não inclui relatos de observação de coisas físicas durante uma experiência separativa. Consideradas pela maioria das pessoas como verídicas (correspondentes à realidade), essas observações podem ter sido feitas por clarividência ou visualização remota, e não significam necessariamente que algo de alguma forma se separou do corpo físico para fazer a observação. Como Whiteman afirmou, qualquer evidência física de apoio reivindicada tem apenas 'principalmente valor de propaganda para os desinformados ou céticos, que não percebem que a separação não é estabelecida por eles, mas que podem, portanto, ser induzidos a aceitar o testemunho "interior" como tendo alguma relação com "fato científico2".

O Índice de Whiteman pode parecer de valor limitado para a parapsicologia padrão, onde um sistema de pontuação útil deve identificar experiências que são mais bem avaliadas do que sonhos, alucinações ou alguma forma de patologia. No Índice de Whiteman, a direção da classificação é em direção à experiência mística, que dificilmente é procurada na parapsicologia, até mesmo evitada. A ordem de classificação é: subdesenvolvida, limítrofe, psíquica, pré-mística, mística. De um possível dezesseis pontos, experiências que alcançam de seis a oito pontos são classificadas como "separações psíquicas", pontuando nos critérios listados dois parágrafos acima. Outros requisitos de classificação "mística" foram observados na Introdução e demarcam "místico" de "psíquico". No entanto, aos olhos de um investigador fisicamente fixado, os requisitos místicos indicariam uma classificação de realidade reduzida, uma vez que "realidade" significa "experiência física semelhante". Para Whiteman, isso foi um erro fundamental; realidade superior só pode significar "experiência física diferente".

 

Outros Espaços

Toda experiência separativa, física ou transformadora, foi considerada por Whiteman como ocorrendo em espaços diferentes do físico, embora frequentemente tão similar ao que é apresentado fisicamente a ponto de ser confundido com ele. Ele chamou isso de espaço 'físico duplicado'. Ele escreveu:

Se alguém for levado a um espaço "psíquico" quando não estiver familiarizado com tais estados, ou com ideias fixas sobre eles, e se os fenômenos se assemelharem muito aos físicos... pode haver uma forte persuasão para pensar que os objetos estão sendo observados fisicamente; e isso se aplica até mesmo a possíveis apresentações duplicadas do corpo físico do observador em sua situação real2.

'Ideias fixas' assumem que há apenas um espaço 'real' que pode ser manifestado, a saber, o mundo físico. Uma ideia fixa contribuirá para as potencialidades que governam uma experiência separativa e levará à atualização de uma cena 'duplicada' física. No entanto, como alguém livre das restrições do pensamento de um nível, Whiteman escreveu sobre uma 'variedade inesgotável' de aparência em outros espaços. O condicionamento naturalista ainda pode resultar em 'influências de fantasia' em estados não desenvolvidos, mas o desenvolvimento mais elevado leva a 'formas perfeitamente aceitáveis ​​de beleza unificada transcendente', onde 'os arredores, correspondentemente, são distinguidos pela qualidade da luz e ganham em caráter inteligível, perfeição de beleza, profundidade de qualidade de coração brilhante, liberdade unitiva e senso de mistura com outras mentes, à medida que a condição mais elevada, que é a da Libertação da Forma Mística, é abordada'. Nessas descrições, Whiteman afirma,

'Eu' e 'mim' não representam a consciência familiar do self na personalidade física, ou, de fato, qualquer coisa que possa ser conhecida em um estado físico comum da mente. Para entender o que se quer dizer, as características do self comum fundido devem ser descartadas5.

Alguém pode questionar como 'outros espaços' estão relacionados ao físico e, se houver, entre si. Em estados classificados por Whiteman como separação terciária, o corpo não físico detém muito do foco de atenção, mas não parece estar espacialmente separado do corpo físico; 'as localizações dos dois corpos parecem as mesmas, apesar das diferenças em sua forma e/ou tamanho e possivelmente também em seus arredores2'. Isso parece coincidir com uma visão disseminada em círculos espíritas de que diferentes 'níveis' de experiência e existência coincidem espacialmente, mas têm diferentes 'frequências de vibração', então não há contato ou comunicação entre os vários estados, exceto por meio de condições especiais de mediação. Whiteman incluiu 'espaços interpenetrantes' em um conjunto particular de 'fatos da experiência2', mas ele não apresentou a ideia de espaços interpenetrantes como algum tipo de sistema cosmológico; ele estava disposto a manter sistemas de fatos, não construções de teoria.

 

Habilidades, Ciclos

Whiteman estava confiante sobre a descoberta da lógica subjacente nos fenômenos, estando convencido de que por trás de qualquer observação particular há uma estrutura inteligível 'operante e analisável fora da experiência total9'. Ele não aceitou a ideia de Kant da incognoscibilidade das coisas-em-si9. Em vez disso, há 'conhecimento intelectual ou perceptivo que transcende de uma certa maneira clara e inconfundível o impulso progressivo do tempo, a rígida separação dos objetos espaciais e o aparente isolamento da mente individual em seu estado de fixação em impressões corporais. É um estado de liberação. A fixação sendo superada, a mente se abre para a universalidade9'. Não podemos atingir esse estado, ele acreditava 'sem faculdades psicológicas e espirituais de atenção, julgamento, propósito e autodisciplina', com base em três 'habilidades fundamentais' chamadas Recordação Ativa, Recordação Contínua e Fé + Obediência2. (A origem dessas habilidades em sua própria vida é relatada em Michael Whiteman)

A Recordação Ativa visa relembrar ou recuperar a essência no que é percebido, 'e assim a obtenção de insight objetivo e liberação2'. Husserl a chamou de epoché fenomenológica ou parada, 'a operação necessária que torna a consciência pura acessível a nós2'. É chamada de samādhi ou sati na literatura indiana6. A Recordação Contínua é 'o terreno livremente estabilizado de liberação no qual a Recordação Ativa tem mirado2.' A obediência não é um estado de subserviência, mas orientação para 'a Fonte transcendente do Certo e do Bem2.' Ela opera em conjunto com a Fé nesta transcendência.

As três habilidades fundamentais foram estruturadas em um sistema de quatro partes conhecido desde os tempos antigos e aparecendo em contextos modernos na teoria da aprendizagem, Freud e Jung. Descritas como as quatro funções criativas, estas são ' impulso proposital, decisão sobre meios, colocação em prática e um amadurecimento virtualmente secreto das habilidades de alguém em consequência4'. Em textos antigos, elas são representadas como quatro estágios na passagem do Sol, nascendo no leste, zênite no sul, descendo para a terra no oeste e subterrâneo no norte14. Isso corresponde à aspiração (E), avaliação (S), ação ou manifestação (W), realização ou desapego (N); também corresponde respectivamente à Fé, Obediência, Recordação Ativa, Recordação Contínua2.

Whiteman deu grande importância a esse ciclo ter seus opostos ou 'falsificações' de autodeterminação, autossatisfação, automaticidade, complacência, o que pode levar a um ciclo correspondente de 'estresses' de sentimento de morte, vergonha, dor, medo. Isso, por sua vez, pode levar a 'disputas internas2,3,4', que, esperançosamente, superam essas deficiências espirituais.

 

Física e Psicologia

Em sua busca por lógica subjacente e por universalidade, Whiteman converteu seu ciclo "psicológico" em um sistema numérico de dezesseis vezes, com o objetivo de integrá-lo a um sistema numérico "físico" de dezesseis vezes derivado de três dimensões de espaço e três de tempo. Ele observou que três das funções criativas — impulso, meios e amadurecimento — são compostas, contendo dois "primeiros princípios" de essência e existência, equivalentes à potencialidade e à atualização. Por sua vez, essência e existência têm cada uma três constituintes, denominados por ele "hipóstases", significando causas subjacentes e irredutíveis. As três hipóstases da essência eram vistas como propósito, meio, fim. As hipóstases da existência eram atuação, tornar-se, manifestação, a estrutura de três estágios da criação chamada na filosofia upanishádica de Grande Passo de Vishnu2.  Então, por exemplo, "decidir sobre meios" combina "meios" (essência) primeiramente com "atuação" (existência), depois com "tornar-se" (existência) e, por último, com manifestação (existência). O terceiro quarto, Oeste, traz causas anteriores à manifestação puramente como "existência" e, portanto, carece de uma hipóstase de "essência".

Esta análise permite o desenvolvimento de um sistema numérico em psicologia, e assim a perspectiva de comparação com um sistema numérico em física2,3,4.  A partir destes sistemas numéricos Whiteman pretendia fornecer 'um sistema explicativo claro... como, por exemplo, as leis básicas da mecânica são exibidas antes de quaisquer problemas serem enfrentados3'. As hipóstases da essência foram numeradas 1 = propósito, 2 = meios, 3 = fim. As hipóstases da existência foram numeradas 6 = atuação, 5 = tornar-se, 4 = manifestação/fundamentação. Então, por exemplo, 'Leste' pode ser expresso como a combinação 16 (entusiasmo), 15 (inspiração), 14 (intenção). Combinar os números de 1 a 6 resulta em 16 subfunções, de acordo com '15 + 1 kalās, estágios em qualquer ato criativo, como reconhecido nos Upanishads4'.

O sistema numérico físico foi derivado das três dimensões de espaço e três de tempo. Uma dimensão de tempo está em campos de potencialidade com um aspecto de espaço ordenado no tempo, observado acima em conexão com a precognição. Outra dimensão ou função de tempo envolve os processos que levam à atualização física da potencialidade estruturada no tempo. Finalmente, há o tempo do relógio físico; é a única dimensão de tempo que é mensurável. A combinação das seis dimensões produz um sistema numérico de 16 vezes como as subfunções psicológicas, 'em correspondência tão próxima com as formulações da teoria quântica que há um convite óbvio para exibir os dois como aspectos de uma compreensão integrada do mundo10'.

O espaço não permite uma tabulação das correspondências física/psicologia, ou como elas foram derivadas. As correspondências, no entanto, satisfizeram a visão de Whiteman de que explicar o que experimentamos é

admitem um ciclo subjetivo, como místicos, muitos teólogos e alguns psicólogos admitiram. Este ciclo, em sua forma mais completa, é dezesseis vezes maior e é paralelo exatamente ao que pode ser chamado de 'ciclo mundial' (como aparece na Teoria Quântica de Campos) em todos os sentidos, enquanto se manifesta em todo tipo de experiência humana. Esta é uma forma de potencialidade que é discernível e, de fato, pode ser vivida pelo indivíduo em uma enorme variedade de 'estados alterados de consciência4'...

O Misticismo Científico de Whiteman foi uma tentativa revolucionária de discernir e caracterizar essa potencialidade.

 

Literatura

§  2. Whiteman, J.H.M. (1986). Old and New Evidence on the Meaning of Life: the mystical world-view and inner contest. Volume 1, An Introduction to Scientific Mysticism.  Gerrards Cross: Colin Smythe.

§  3. Whiteman, J.H.M. (2000). Old and New Evidence on the Meaning of Life: the mystical world-view and inner contest. Volume 2, Dynamics of Spiritual Development. Gerrards Cross: Colin Smythe.

§  4. Whiteman, J.H.M. (2006). Old and New Evidence on the Meaning of Life: the mystical world-view and inner contest. Volume 3, Universal Theology and Life in other Worlds. Gerrards Cross: Colin Smythe.

§  5. Whiteman, J.H.M. (1961). The Mystical Life. London: Faber and Faber.

§  6. Whiteman, J.H.M. (1993). Aphorisms on Spiritual Method: the ‘Yoga Sutras of Patanjali’ in the light of mystical experience. Gerrards Cross: Colin Smythe.

§  7. Husserl, E. (1931). Ideas: General Introduction to Pure Phenomenology (trans. W.R. Boyce Gibson). London: Allen & Unwin.

§  8. Heisenberg, W. (1959). Physics and Philosophy: the revolution in modern science. London: Allen and Unwin.

§  9. Whiteman, J.H.M. (1967). Philosophy of Space and Time and the Inner Constitution of Nature: a phenomenological study. London: Allen and Unwin.

§  10. Whiteman, J.H.M. (1977). Parapsychology and physics. In Wolman, B.B. (ed.) Handbook of Parapsychology. New York: Van Nostrand Reinhold.

 

Traduzido com Google Tradutor

terça-feira, 15 de abril de 2025

BELA CORDOEIRA[1]

 


Allan Kardec

 

Notícia – Louise Charly, chamada Labé, cognominada “A Bela Cordoeira”, nasceu em Lyon durante o reinado de Francisco I. Era de uma beleza perfeita e recebeu uma educação muito cuidadosa. Sabia grego e latim, falava espanhol e italiano com perfeição e, nessas línguas, fazia poesias que não seriam desaprovadas pelos escritores nacionais. Treinada em todos os exercícios corporais, conhecia a equitação, a ginástica e o manejo de armas. Dotada de um caráter muito enérgico, ela se distinguiu, ao lado de seu pai, entre os mais valentes combatentes do cerco de Perpignan, em 1542, travestida como capitão Loys. Havendo o cerco fracassado, renunciou à carreira das armas e retornou a Lyon com seu pai. Casou-se com um rico fabricante de cordas, chamado Ennemond Perrin, e logo só seria conhecida como a “Bela Cordoeira”, nome que permaneceu na rua em que morava e no local em que ficavam as oficinas do marido. Instituiu em sua casa reuniões literárias a que eram convidados os espíritos mais esclarecidos da província. Tem-se dela uma coletânea de poesias. Sua reputação de beleza e de mulher de espírito, atraindo à sua casa os homens mais qualificados, excitou o ciúme das senhoras lionesas, que procuravam vingar-se pela calúnia; sua conduta, porém, foi sempre irrepreensível.

Evocada na sessão da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, de 26 de outubro de 1858, foi-nos dito que ela ainda não podia vir, por motivos que não nos foram explicados. No dia 9 de novembro atendeu ao nosso apelo, e eis a descrição que dela fez o Sr. Adrien, nosso médium vidente:

Cabeça oval; tez pálido-mate; olhos negros, belos e notáveis; sobrancelhas arqueadas; fronte desenvolvida e inteligente; nariz grego, fino; boca média, lábios refletindo a bondade de espírito; dentes muito belos, pequenos, bem-dispostos; cabelos negros de azeviche, ligeiramente crespos; belo porte da cabeça; talhe grande e elegante. Roupas confeccionadas em tecidos brancos.

 

Observação – Sem dúvida nada prova que essa descrição, tanto quanto a precedente, não passem de produto da imaginação do médium, considerando-se que não temos controle; mas quando ele o faz assim com detalhes tão precisos, de pessoas contemporâneas que jamais viu e que são reconhecidas por parentes ou amigos, não podemos duvidar de sua realidade. Daí podemos concluir: desde que vê a uns com uma verdade incontestável, poderá ver os outros. Outra circunstância que deve ser levada em consideração é que sempre vê o mesmo Espírito sob a mesma forma e, ainda que se passassem diversos meses de intervalo, a descrição não sofreria qualquer alteração. Seria preciso nele supor uma memória fenomenal para imaginarmos que se lembrasse dos mínimos detalhes de todos os Espíritos cuja descrição tenha feito, e que se contam às centenas.

 

1. Evocação.

– Estou aqui.

2. Poderíeis ter a bondade de responder a algumas perguntas que gostaríamos de fazer?

– Com prazer.

3. Lembrai-vos da época em que éreis conhecida como “A Bela Cordoeira”?

– Sim.

4. De onde poderiam provir as qualidades viris que vos fizeram abraçar a profissão das armas que, de preferência, segundo as leis da Natureza, é atribuição dos homens?

– Isso alegrava meu Espírito, ávido de grandes coisas; mais tarde voltou-se para outra ordem de idéias mais sérias. As idéias com as quais nascemos por certo provêm de existências anteriores, de que são os reflexos; entretanto, elas se modificam bastante, seja por novas resoluções, seja pela vontade de Deus.

5. Por que esses gostos militares não persistiram, e como puderam, com tanta rapidez, dar lugar aos gostos femininos?

– Vi coisas que não desejo que vejais.

6. Éreis contemporânea de Francisco I e de Carlos V. Poderíeis dar vossa opinião sobre esses dois homens, fazendo um paralelo entre eles?

– Não quero julgar. Eles tiveram defeitos, vós o sabeis; suas virtudes são pouco numerosas: alguns traços de generosidade e eis tudo. Deixai esse assunto de lado; seus corações poderiam sangrar ainda: eles sofrem bastante!

7. Qual era a fonte dessa alta inteligência que vos tornou apta a receber educação tão superior à das mulheres de vosso tempo?

Penosas existências e a vontade de Deus.

8. Havia, pois, em vós, um progresso anterior?

– Não poderia ser de outra maneira.

9. Essa instrução vos fez progredir como Espírito?

– Sim.

10. Parece que fostes feliz na Terra: sois mais ainda agora?

– Que pergunta! Por mais feliz que se seja na Terra, a felicidade do Céu é bem diferente! Quantos tesouros, e quantas riquezas, que um dia conhecereis, e dos quais não suspeitais ou ignorais completamente!

11. Que entendeis por Céu?

– Entendo por Céu os outros mundos.

12. No momento, que mundo habitais?

– Habito um mundo que não conheceis; mas a ele estou pouco vinculada: a matéria prende-nos pouco.

13. É Júpiter?

– Júpiter é um mundo feliz; mas pensais que, dentre todos somente ele seja favorecido por Deus? São tão numerosos quanto os grãos de areia do oceano.

14. Conservastes a verve poética que possuíeis aqui?

– Responderei com prazer, mas receio chocar outros Espíritos ou me colocar abaixo do que realmente sou. Isso faria com que minha resposta vos parecesse inútil, induzindo-vos em erro.

15. Poderíeis dizer-nos em que posição poderíamos colocar-vos entre os Espíritos?

– Não há resposta.

[A São Luís]: Poderia São Luís responder a isso?

– Ela aí está; não posso dizer aquilo que ela não quer dizer. Não vedes que, entre os Espíritos que evocais ordinariamente, ela é um dos mais elevados? Aliás, nossos Espíritos não podem apreciar exatamente as distâncias que os separam; para vós elas são incompreensíveis e, todavia, são imensas!

16. [A Louise-Charly]: Sob que aparência vos achais entre os Espíritos?

– Adrien acaba de me descrever.

17. Por que essa forma, em vez de outra? Por que, enfim, no mundo em que vos encontrais não sois tal qual éreis na Terra?

– Fui evocada como poetisa; assim vim.

18. Poderíeis ditar-nos algumas poesias ou um trecho literário qualquer? Ficaríamos felizes em ter algo vosso.

– Procurai os meus escritos antigos. Não gostamos dessas provas, principalmente em público: fá-lo-ei, contudo, de outra vez.

 

Observação – Sabe-se que os Espíritos não gostam de ser testados, e as perguntas dessa natureza têm sempre, mais ou menos, esse caráter. É sem dúvida por isso que quase nunca aquiescem. Espontaneamente, e quando menos esperamos, dão-nos por vezes as coisas mais surpreendentes, aquelas provas que em vão lhes teríamos solicitado; mas, quase sempre, basta que se lhes peça uma coisa para que se não a obtenha, sobretudo se percebe um sentimento de curiosidade. Os Espíritos, principalmente os elevados, querem, assim, provar-nos que não estão às nossas ordens.

No dia seguinte, “A Bela Cordoeira” ditou espontaneamente, através do médium escrevente que lhe servia de intérprete:

Vou ditar o que te prometi; não são versos, pois não os quero fazer; aliás, não mais recordo os que fiz e não os apreciaríeis: será a prosa mais modesta.

Na Terra exaltei o amor, a doçura e os bons sentimentos: falava um pouco do que não sabia. Aqui, não é do amor que me ocupo, é de uma caridade ampla, austera, esclarecida; de uma caridade constante, que não tem senão um exemplo na Terra.

Homens! Pensai que depende de vós ser felizes e fazer do vosso mundo um dos mais avançados do céu: tereis de fazer calar os ódios e as inimizades, esquecer os rancores e as cóleras, perder o orgulho e a vaidade. Deixai tudo isso de lado, semelhante a um fardo que, cedo ou tarde, precisais abandonar. Esse fardo, bem o sei, para vós é um tesouro na Terra; por isso tendes mérito em o abandonar e em perdê-lo; mas no céu ele se torna um obstáculo à vossa felicidade. Crede, pois, em mim: apressai vosso progresso; a verdadeira felicidade é aquela que vem de Deus. Onde encontraríeis prazeres que valham as alegrias que ele dá a seus eleitos, a seus anjos?

Deus ama os homens que procuram avançar em seu caminho; contai, pois, com seu apoio. Não tendes confiança nele? Julgais que seja perjuro, que não vos deveis entregar a ele completamente, sem restrição? Infelizmente, não quereis entender ou poucos dentre vós entendem; preferis o hoje ao amanhã; vossa visão restrita limita vossos sentimentos, vosso coração e vossa alma, fazendo com que sofrais para progredir, em vez de avançar, natural e facilmente, pelo caminho do bem, por vossa própria vontade, porquanto o sofrimento é o meio que Deus emprega para vos moralizar. Não eviteis, pois, essa via segura, embora terrível para o viajante. Terminarei por vos exortar a não mais encarardes a morte como um flagelo, mas como o portal da verdadeira vida e da verdadeira felicidade.

Louise Charly



[1] REVISTA ESPÍRITA – dezembro/1858 – Allan Kardec

segunda-feira, 14 de abril de 2025

MICHAEL WHITEMAN[1]

 


John Poynton

 

Joseph Hilary Michael Whiteman (1906–2007) foi um matemático e místico britânico que viveu e trabalhou durante a maior parte de sua longa vida na África do Sul. Em livros e artigos inspirados por suas muitas experiências psíquicas e místicas, ele explorou campos tão variados quanto física matemática, filosofia, misticismo, literatura antiga, pesquisa psíquica, psicologia, psicopatologia e música. Esses interesses variados foram integrados na ideia unificadora do que ele chamou de "Misticismo Científico", o assunto do primeiro volume de uma trilogia intitulada Old and New Evidence on the Meaning of Life: The Mystical World-View and Inner Contest[2].

As experiências interiores de Whiteman — seus diários contêm mais de sete mil entradas — o tornaram crítico do que ele considerava ser materialismo convencional e amplamente irrefletido, com sua resultante incapacidade de entender a experiência não física. Seus métodos se baseavam na observação, análise conceitual e insight, em linha com a fenomenologia de Edmund Husserl[3]. 'Ciência' no uso de Whiteman não era um exercício de teorização; ele era um empirista radical.

 

Biografia

O pai de Whiteman era um empresário australiano bem conhecido no mundo dos teatros de Londres sob o nome de Sydney Carroll; Whiteman era o filho mais novo do primeiro casamento de Carroll. Ele foi educado na Highgate School, em Londres, e entrou na Universidade de Cambridge em 1926, onde recebeu o diploma de primeira classe no tripos de matemática no Gonville and Caius College três anos depois. Em 1933, ele se tornou diretor escolar da Staffords School em Harrow Wealds, em Londres, onde conheceu sua esposa musicista, Dorothy Eavestaff, conhecida como Sona.

O casal emigrou para a África do Sul em 1937, onde ele foi nomeado para o Diocesan College (Bishops) na Cidade do Cabo. Em 1939, ele foi nomeado professor júnior no Departamento de Matemática Pura da Universidade da Cidade do Cabo. Ele era ativo na música e, em 1941, assumiu a editoria do The South African Music Teacher, cargo que ocupou por 55 anos. Ele recebeu diplomas do Trinity College em composição, também um BMus[4] na Universidade da África do Sul em 1943. No mesmo ano, ele recebeu um PhD pela Universidade da Cidade do Cabo por uma tese sobre os fundamentos da matemática.

Em 1944, ele se mudou com sua esposa e sua filha pequena Sibyl para a Rhodes University, Grahamstown, no Cabo Oriental, onde foi nomeado professor de música. Sua esposa era a principal professora de piano na universidade.

Em sua nomeação como professor no Departamento de Matemática Aplicada da Universidade da Cidade do Cabo, eles retornaram para lá em 1946. Ele continuou ativo na música, conduzindo seu próprio concerto para piano na Prefeitura com sua esposa como solista. Em 1947, ele foi premiado com um MMus[5] pela Universidade da Cidade do Cabo.

Em 1962, foi nomeado Professor Associado de Matemática Aplicada na Universidade da Cidade do Cabo, e em sua aposentadoria em 1972 recebeu o título de Professor Associado Emérito. Ele deu um conjunto de nove palestras sobre misticismo na Escola de Verão da Universidade da Cidade do Cabo em 1970, e conduziu vários grupos de estudo sobre misticismo, sânscrito e assuntos relacionados. Sua pesquisa e ensino foram possibilitados pela proficiência em védico, sânscrito, páli, hebraico bíblico, grego e latim.

A primeira publicação de Whiteman no campo da experiência psíquica foi sobre coros angélicos no The Hibbert Journal de 1954 (reimpresso no volume 3 de Old and New Evidence on the Meaning of Life[6]). O artigo foi um relato abrangente de estados não físicos nos quais a música, principalmente canções ou cânticos, foi relatada. Os relatos variam de Platão a textos indianos clássicos, iluminados por sua própria experiência. A importância estava em 'apontar para a fonte única da qual toda sabedoria e bondade brotam’. Em 1956, ele publicou seu primeiro artigo no Journal of the Society for Psychical Research sobre experiência fora do corpo.

Whiteman chamou a atenção da recém-formada Sociedade Sul-Africana de Pesquisa Psíquica, centralizada na Universidade de Witwatersrand em Joanesburgo, e foi convidado para dar palestras lá. Ele também participou da conferência Parapsicologia na África do Sul, realizada na universidade em 1973. Ele foi premiado com a prestigiosa Medalha Marius Valkhoff pela Sociedade. Ele se juntou à Sociedade de Pesquisa Psíquica (SPR) sediada em Londres em 1953, e foi eleito membro honorário vitalício em 1999. Ele também tinha conexões próximas com a Sociedade Americana de Pesquisa Psíquica .

Amplamente conhecido nos círculos musicais sul-africanos, na Cidade do Cabo ele tinha um grande círculo de colegas, amigos e estudantes de diversos e amplos campos de interesse. Ele desenvolveu uma preocupação particular pelo que via como o erro judiciário decorrente da falha do judiciário em entender aspectos da psicopatologia conectados com o desenvolvimento espiritual. Dois casos em particular, de meninas adolescentes acusadas de assassinato, levaram a um envolvimento com processos legais e à escrita do volume 2 de seu Old and New Evidence on the Meaning of Life[7].

 

Experiências psíquicas e místicas

Whiteman fez uma distinção entre experiência 'psíquica' e 'mística'. 'Psíquica' inclui o estudo de eventos supostamente não físicos. 'Mística' se estende a estados que têm um senso de significância e ultimatos mais elevados, abertura à orientação, ser transformado e orientação à fonte percebida do Certo e do Bem.

Como observado acima, a visão de mundo de Whiteman não era o resultado de teorização especulativa, mas de observação direta combinada com análise conceitual. Isso é evidente em sua definição de misticismo em uma obra inicial, The Mystical Life: 'o estudo de tudo o que não é físico, incluindo os outros mundos e sua governança arquetípica, bem como nossos corpos espirituais, os fatos e seu relacionamento sendo conhecidos pela autoevidência da observação direta e não pelo raciocínio ou especulação[8]'.

Whiteman registrou que à noite, já entre os cinco e os seis anos de idade, "eu costumava ficar deitado, quieto e vigilante, enquanto as paredes do quarto recuavam e se dissolviam... incipientemente separadas em outro tipo de espaço[9]". Ele não ficou alarmado, pois "percebeu e entendeu intuitivamente o caráter da situação e dos fenômenos[10]". Uma "grande habilidade espiritual" de recordação se desenvolveu por volta dos vinte anos de idade; uma "grande descoberta" ocorreu "quando, ao seguir alguma música na partitura, de repente percebi que havia uma maneira de manter voluntariamente algum som escolhido conceitualmente em mente, de modo que uma essência mais profunda, precisamente caracterizada e libertadora fosse revelada nele[11]". Após essa descoberta de "insight essencial", "meu principal objetivo tornou-se imediatamente libertar todo tipo de sensação dessa forma[12]". O ​​estudo e a prática da música foram extremamente influentes em seu pensamento.

O desenvolvimento do insight foi auxiliado nessa época por um curso de Pelmanismo, um sistema de treinamento mental que ensina o aluno a "parar o tempo" na observação e reproduzir cada detalhe de um evento na memória "com seu caráter conceitual-perceptivo atemporal[13]". Como resultado, ele desenvolveu um "poder de recordação atemporal de sensações particulares", que ele passou a chamar de Lembrança.

A faculdade adormecida da Reminiscência tendo sido despertada, tudo o que até então estava envolto em confusão desapareceu instantaneamente, e um novo espaço irrompeu em presença vívida e realidade absoluta, com percepção livre e precisa como nunca antes; a própria escuridão parecia viva. O pensamento que então me ocorreu com convicção inescapável foi este: 'Eu nunca estive acordado antes[14]'.

Esses primeiros eventos na vida de Whiteman sugerem que seu futuro desenvolvimento místico não foi baseado em imaginação confusa e pensamento vago e indisciplinado — um equívoco comum sobre o misticismo.

Whiteman começou a experimentar espontaneamente 'separações de estado duplicado', seu termo para o que parecia ser experiências fora do corpo semelhantes às físicas. Nessa época, ele continuou a empregar a prática de 'Recolhimento Ativo', em uma tentativa de tornar o estado sem esforço e contínuo. Então veio a descoberta 'importante' - que ele considerou essencial para o desenvolvimento espiritual posterior - de que um Recolhimento contínuo e sem esforço poderia ser voluntariamente induzido. Ele chamou isso de Recolhimento Contínuo.

[A descoberta] expandiu-se para a consciência de um todo ilimitado cujos detalhes eram conhecidos simultaneamente, estando aberto à exploração como em um mapa sem perder a contemplação primária do todo. O tempo tornou-se como o espaço[15].

Tendo consolidado duas das 'habilidades espirituais', Recolhimento Ativo e Contínuo, ele agora adquiriu uma terceira, a habilidade da Obediência. Isso foi consolidado com a descoberta do que ele chamou de 'a Fonte Divina'. Enquanto caminhava,

algo me induziu a olhar para o sol... e de repente, mas sem brusquidão, vi nele o Único Princípio da Sabedoria Amorosa, a Fonte de Tudo. Num piscar de olhos, eu soube que dali em diante eu só tinha que obedecer àquele Poder Amoroso, e eu não poderia errar[16].

Considerando como a revelação interior e a vida física exterior poderiam ser reconciliadas, ele concluiu que "uma Obediência completa e absoluta carregava consigo a fé — ou melhor, a convicção de conhecimento garantido — de que tudo o que acontecesse seria certo e bom[17]". Ele considerava a fé como a quarta habilidade.

Com essa revolução interna acontecendo, Whiteman pode ter se beneficiado de seguir a prática de videntes indianos e alguns místicos cristãos, retirando-se para uma floresta ou deserto[18]. Como era, em uma vida ocupada, houve um breve período em uma instituição mental 'em um estado profundamente dissociado ou [fora do corpo], lidando com espíritos ou recebendo instruções[19].' Ele deu um relato detalhado do que pode ser visto como iniciação xamânica. No entanto, ele não viu necessidade de orientação de um iniciador ou guru; ele acreditava que 'a “voz interior” dará toda a orientação de que alguém precisa, como os ensinamentos místicos clássicos declaram[20]'.

Durante o resto de sua vida, ele estava ciente de estar "no mundo, mas não dele", enquanto externamente continuava a mostrar comportamento e competência normais. Ele não cultivava habilidade psíquica, mas teve várias experiências precognitivas espontâneas, que tiveram uma influência importante em seu reconhecimento de diferentes "dimensões de tempo" (veja abaixo). Ele também teve inúmeras e variadas experiências fora do corpo que lhe deram familiaridade com estados não físicos. Ele preferia o termo "separativo" a experiência "fora do corpo", já que a experiência geralmente é em um corpo, mas não em um físico. "O corpo [não físico] em que nos encontramos", ele escreveu, "é obviamente determinado conjuntamente por nosso caráter motivacional estabelecido ou necessidades no momento, e os arredores (nível espiritual e cena particular)[21]". O caráter estabelecido de um indivíduo em um alto nível espiritual tenderá a se manifestar não "como uma cópia da personalidade física na aparência ... Mas a convicção será que tal forma corporal realmente representa a identidade central duradoura[22]". Pode ser do sexo oposto ao do corpo físico. Este foi o caso de Whiteman. Desde cedo, ele relatou estar ciente de uma feminilidade interior, que se estabeleceu em estados separativos.

Não era que eu observasse uma feminilidade, mas simplesmente que eu e a feminilidade fomos revelados como a mesma coisa, enquanto a masculinidade era algo que eu podia pensar e até sentir, mas que não pertencia à mesma maneira absoluta e perpétua[23].

Na vida física, ele era inconfundível e exclusivamente masculino; considerá-lo bissexual ou transgênero em um nível físico seria uma confusão radicalmente equivocada: o que ele descreveu foi a existência em mundos de ser e função totalmente diferentes. Ele enfatizou repetidamente que uma aparência em separação como identidade central não se assemelha de forma alguma à aparência de uma personalidade física.

 

Misticismo Científico

Whiteman pretendia estabelecer o misticismo como científico – um campo capaz de ser incorporado à ciência. Sua ênfase estava na observação desobstruída, não em teorizar sobre o que ele chamava de "a constituição interna da natureza". Seu misticismo visava fornecer um tratamento "de mente aberta, rigorosamente testado, racionalmente coerente e esclarecedor" de estados e acontecimentos não físicos[24]. Ele viu um "erro de cãibra" na ciência padrão, que adere à ideia de que todas as coisas, eventos e suas causas acontecem apenas no nível de um mundo físico. Ele seguiu a sugestão da mecânica quântica[25] para desenvolver um conceito multinível no qual eventos físicos são vistos como atualizações de potencialidades causais que não são localizáveis ​​no mundo físico. Fenômenos mentais e psíquicos eram considerados multicamadas, e fenômenos psíquicos eram explicáveis ​​apenas nesses termos. Isso foi demonstrado como apoiado pelo pensamento indiano dos Vedas, passando pelo budismo até os Yoga Sutras[26].

Em um nível mais profundo, isso atingiu a espiritualidade e a religião. Para Whiteman, teologia significava simplesmente 'a aplicação do método fenomenológico à nossa consciência do Divino'. Então, 'a palavra “Deus” (Theos) deve ser tomada para representar a Razão Arquetípica em tudo[27].' Isso vincula a experiência religiosa e o pensamento à exploração científica. Ele criticava a maioria das traduções e interpretações padrão das escrituras orientais e ocidentais, já que os autores, ele pensava, careciam de experiência mística ou psíquica direta – essencial para que o significado mais profundo dos textos fosse compreendido.

Whiteman demonstrou essas preocupações em um estudo importante dos 'Yoga Sutras de Patanjali[28]'. Sua exploração das raízes dos Sutras em textos originais védicos, upanishádicos e budistas primitivos, combinada com sua própria experiência mística, lançou uma luz inteiramente nova sobre os Sutras. Além de se tornar profundamente absorvido pela literatura indiana clássica, ele foi atraído pelo conteúdo místico da cultura minoica, os Salmos, o pensamento de Isaías, São Paulo e São João[29].  Em tudo isso, ele viu percepção e pensamento rigorosos, adequados para um misticismo científico. No entanto, isso não se estendeu aos Evangelhos, que ele considerava amplamente míticos.

Whiteman também enfatizou a importância dos números serem sistematizados em grupos e ciclos, como é frequentemente encontrado sendo feito no pensamento antigo e na física moderna. Ele reconheceu três dimensões de tempo, uma das quais opera como potencialidade e é semelhante ao espaço[30]. Combinado com as três dimensões espaciais, um sistema de dezesseis dobras foi alcançado, o qual corresponde aos dezesseis kalās ('partes operacionais na criação[31]') dos Upanishads. A partir disso, ele desenvolveu um sistema que integra a física com a psicologia[32],[33]. Ele também desenvolveu o que chamou de 'a derivação mística da teoria quântica e das leis físicas em geral[34]' do cálculo tensorial, álgebra de sedenion e outros procedimentos matemáticos.

Ele foi publicado e altamente considerado pelas Sociedades Britânica, Americana e Sul-Africana de Pesquisa Psíquica. O pensamento ocidentalizado convencional tem dificuldade com sua ideia de consciência e existência no espaço não físico; consequentemente, seu trabalho pode parecer incompreensível na ciência padrão, e até mesmo na parapsicologia, onde seu trabalho tende a ser negligenciado ou ignorado.

 

Literatura

§  Husserl, E. (1931). Ideas: General Introduction to Pure Phenomenology (trans. W.R. Boyce Gibson). London: Allen & Unwin.

§  Heisenberg, W. (1959). Physics and Philosophy: The Revolution in Modern Science. London: Allen and Unwin.

§  Whiteman, J.H.M (1961). The Mystical Life. London: Faber and Faber.

§  Whiteman, J.M.H. (1986). Old and New Evidence on the Meaning of Life: The Mystical World-View and Inner Contest. Vol. 1: An Introduction to Scientific Mysticism. Gerrards Cross, UK: Colin Smythe.

§  Whiteman, J.H.M. (1993). Aphorisms on Spiritual Method. The ‘Yoga Sutras of Patanjali’ in the light of Mystical Experience. Gerrards Cross, UK: Colin Smythe.

§  Whiteman, J.H.M (2000). Old and New Evidence on the Meaning of Life: The Mystical World-View and Inner Contest. Vol. 2: The Dynamics of Spiritual Development. Gerrards Cross, UK: Colin Smythe.

§  Whiteman, J.H.M. (2006). Old and New Evidence on the Meaning of Life: The Mystical World-View and Inner Contest. Vol 3: .Universal Theology and Life in other Worlds. Gerrards Cross, UK: Colin Smythe.

 

Traduzido com Google Tradutor



[2] Whiteman (1986).

[3] Husserl (1931).

[4] Bachelor of Music

[5] Master of Music

[6] Whiteman (2006).

[7] Whiteman (2000).

[8] Whiteman (1961).

[9] Whiteman (1961).

[10] Whiteman (1961).

[11] Whiteman (2000).

[12] Whiteman (2000).

[13] Whiteman (2000).

[14] Whiteman (1961).

[15] Whiteman (2000).

[16] Whiteman (2000). Also in Whiteman (1961).

[17] Whiteman (2000).

[18] Whiteman (2000).

[19] Whiteman (2000).

[20] Whiteman (2000).

[21] Whiteman (2006).

[22] Whiteman (2006).

[23] Whiteman (2000).

[24] Whiteman (1986).

[25] E.g., Heisenberg (1959).

[26] Whiteman (2006).

[27] Whiteman (2006).

[28] Whiteman (1993).

[29] Whiteman (2006).

[30] Whiteman (1986).

[31] Whiteman (1986).

[32] Whiteman (1986).

[33] Whiteman (2006).

[34] Whiteman (2006).Formulário de busca