sexta-feira, 8 de agosto de 2025

O PROGRESSO DO ESPIRITISMO REQUER MÉTODO[1],[2]

 


 Marco Milani

 

 A busca pelo conhecimento, em qualquer campo legítimo do saber, deve ser pautada por critérios racionais, éticos e metodológicos que possibilitem distinguir entre o que possui valor universal e o que expressa apenas opiniões particulares. No contexto do Espiritismo, codificado por Allan Kardec, esse princípio se manifesta de forma particularmente clara no chamado "controle universal do ensino dos Espíritos".

Longe de ser uma limitação dogmática ou uma recusa ao progresso das ideias, esse critério se apresenta como um filtro de segurança doutrinária frente ao caráter subjetivo e por vezes contraditório das comunicações mediúnicas presentes em mensagens e romances de fonte única. Kardec, lúcido quanto à natureza falível dos médiuns e à diversidade moral e intelectual dos Espíritos comunicantes, concebeu esse método como forma de garantir que apenas os ensinamentos oriundos de múltiplas fontes concordantes e independentes, obtidos em diferentes lugares e por médiuns diversos, fossem incorporados à estrutura doutrinária.

É, portanto, um erro epistemológico grave interpretar tal critério como uma negação da evolução ou uma espécie de conservadorismo religioso. Pelo contrário, trata-se de uma exigência de maturidade crítica, um exercício de vigilância racional frente à exaltação e ao entusiasmo acrítico com qualquer novidade que se diga “revelação espiritual” advinda de médiuns e Espíritos de estimação.

Kardec reconhecia plenamente o caráter progressivo do conhecimento, inclusive declarando que o Espiritismo caminharia ao lado da Ciência, ajustando seus postulados caso fossem contrariados por descobertas sólidas e bem comprovadas. No entanto, esse progresso não se dá por meio de afirmações isoladas ou visões pessoais, mas por meio da convergência de inteligências e da crítica livre e metódica, exatamente como ocorre no progresso científico legítimo.

 Na história do movimento espírita, não é raro encontrar adeptos mais exaltados que, em nome de um suposto "Espiritismo ampliado" ou “pós-kardecismo”, promovem a aceitação cega e apaixonada de mensagens mediúnicas oriundas de fonte única, calcados no apelo à autoridade de quem assina ou de quem as intermediam. Trata-se de um desvio metodológico que ignora os fundamentos racionais, substituindo o rigor do controle universal por uma fé cega e personalista, que tende a instaurar novos dogmatismos sob a aparência de atualização doutrinária.

A crítica a esse tipo de prática não configura uma recusa ao novo, mas sim a exigência legítima de critérios confiáveis para que qualquer novo ensinamento se mostre compatível com os princípios do Espiritismo.

Aceitar indiscriminadamente qualquer mensagem apenas por seu conteúdo emotivo ou pela fama atribuída ao Espírito comunicante, sem que ela seja confrontada com a razão, com o bom senso e com a concordância universal, é retornar ao obscurantismo religioso que o Espiritismo veio justamente superar. Não se trata de um conflito entre tradição e inovação, mas entre responsabilidade epistemológica e credulidade.

A Doutrina Espírita, por sua própria natureza, convida ao exame, à reflexão e à constante depuração de seus conteúdos, desde que o método adotado respeite a postura analítica que está na base de sua construção.

Portanto, reconhecer o valor do controle universal do ensino dos Espíritos não é apegar-se a um passado imutável, mas preservar a coerência e a legitimidade do processo evolutivo do conhecimento espírita. Negar esse princípio é abrir as portas à desorganização doutrinária, ao personalismo místico e ao enfraquecimento da autoridade racional que diferencia o Espiritismo das crenças baseadas na fé cega.

Certamente é possível e esperado que novas informações venham enriquecer o patrimônio do Espiritismo, desde que se submetam a critérios metodológicos de validação objetiva. A razão e a comprovação pelos fatos, e não a autoridade isolada, devem ser sempre o maior critério para julgar o que merece ou não ser incorporado ao edifício doutrinário.

quinta-feira, 7 de agosto de 2025

CONHECIMENTO DE CAUSA[1]

 


Miramez

 

Os Espíritos que exercem ação nos fenômenos da Natureza operam com conhecimento de causa, usando do livre-arbítrio, ou por efeito de instintivo ou irrefletido impulso?

Uns sim, outros não. Estabeleçamos uma comparação. Considera essas miríades de animais que, pouco a pouco, fazem emergir do mar ilhas e arquipélagos. Julgas que não há aí um fim providencial e que essa transformação da superfície do globo não seja necessária à harmonia geral? Entretanto, são animais de ínfima ordem que executam essas obras, provendo às suas necessidades e sem suspeitarem de que são instrumentos de Deus. Pois bem, do mesmo modo, os Espíritos mais atrasados oferecem utilidade ao conjunto. Enquanto se ensaiam para a vida, antes que tenham plena consciência de seus atos e estejam no gozo pleno do livre-arbítrio, atuam em certos fenômenos, de que inconscientemente se constituem os agentes. Primeiramente, executam. Mais tarde, quando suas inteligências já houverem alcançado um certo desenvolvimento, ordenarão e dirigirão as coisas do mundo material. Depois, poderão dirigir as do mundo moral. É assim que tudo serve, que tudo se encadeia na Natureza, desde o átomo primitivo até o arcanjo, que também começou por ser átomo. Admirável lei de harmonia, que o vosso acanhado espírito ainda não pode apreender em seu conjunto!

Questão 540 / O Livro dos Espíritos

 

Como já dissemos, nem todos os Espíritos que trabalham nos fenômenos da natureza têm plena consciência do que estão fazendo. Somente a têm os dirigentes dos fenômenos. A massa é composta de operários mais ou menos conscientes do que fazem, sendo que alguns deles se alegram pelos distúrbios da natureza. Mas, Deus usa de todos os Seus filhos, mesmo os mais novos na pauta da vida, lhes dando a tarefa que sua evolução permite realizar. Com isso, e no perpassar do tempo, o seu bastão* se encherá de experiências, do que pode recolher para transformação da sua liberdade no futuro.

Os Espíritos, pelo dizer dos mais abalizados, vieram do átomo primitivo, e se expressam, na sua grandeza, como arcanjos divinos. Para que cheguem a esse ponto, passam por fieiras de milênios incontáveis, e esses bilhões de anos lhes deixam marcas das leis que devem ser respeitadas. Eles atuam com amor e por amor à Suprema Sabedoria do Universo.

Os Espíritos que têm conhecimento de causa são poucos, na direção de todos os acontecimentos, porém, Deus está sempre operando em todas as causas, para que os efeitos estejam ligados a elas pela lei de ação e reação. Se nós viemos da matéria primitiva, saída do Hálito Divino, devemos ter grande respeito por tudo que existe, porque a própria matéria está a caminho para tornar-se Espírito, pelo trabalho em que opera há bilhões de anos.

É nesse entender que os grandes santos beijavam a Terra, as flores, os animais, as águas, os alimentos e o próprio ar, como sendo seus irmãos circulando na criação, dando e esplendendo vida. A Doutrina dos Espíritos, sendo a volta do Mestre dos mestres à Terra, vem por amor e misericórdia nos revelar muitos segredos da natureza, para conscientizar o homem de onde ele veio e para onde vai, mostrando, outrossim, que a humanidade não se encontra só: está rodeada de testemunhas espirituais, que trabalham incentivando a todos a levarem a sua cruz, no aprendizado geral de todas as criaturas.

Não podes viver sozinho. Mãos inumeráveis estão te ajudando; tudo te ajuda a viver e a progredir. Por que não fazes o mesmo? A inteligência que o ser humano possui é força da Divindade para erguer a matéria à luz da razão, e o tempo é o instrumento desta operação maior. Nada se perde, bem o sabes, e nada se cria. Sabemos mais ainda: que tudo cresce por ordem divina, e pode começar pelos processos humanos, por vezes inconscientes. Mas, quem agora está lendo já perdeu a ignorância desses fatos, e pode ajudar na cocriação da luz do conhecimento.

Não temas os acontecimentos que se processam em todas as direções do existir. Eles estão sendo vigiados pelos agentes do Senhor e quando Deus consente, sendo Ele a Inteligência Suprema, não temos de discutir. Quando presencias a um efeito em teus caminhos, procura imediatamente a causa, que logo saberás o porquê dos efeitos e as suas lições.

Os Espíritos a que hoje chamas de inferiores, amanhã serão superiores. Os que hoje obedecem ao comando de seus irmãos maiores, no porvir irão comandar. Os valores são iguais em todos nós, porque Deus é justiça e, mais ainda, é Amor. A Doutrina que abraçamos vem nos revelar o máximo que podemos suportar e a vida dá a cada um, segundo as suas necessidades.



[1] FILOSOFIA ESPÍRITA  - Volume 11 – João Nunes Maia

quarta-feira, 6 de agosto de 2025

FORMAS INCOMUNS DE TESTAR PARA PSI[1]

 


Michael Duggan

 

Métodos experimentais bem conhecidos em parapsicologia incluem adivinhação de cartas, lançamento de dados, ganzfeld e visão remota. Este artigo descreve algumas abordagens recentes e menos comuns.

 

Teste de Seleção de Bolas

A natureza repetitiva de muitos procedimentos de testes psi leva à falta de motivação, resultando em pontuações baixas. Suitbert Ertel, estatístico e psicólogo do Instituto de Psicologia Georg-Elias-Müller, da Universidade de Göttingen, desenvolveu o Teste de Seleção de Bolas como um procedimento experimental de teste psi econômico e facilmente replicável, que manteria o interesse do sujeito. Nele, os sujeitos adivinham qual bola será escolhida de uma bolsa contendo 50 bolas de tênis de mesa numeradas de 1 a 5. Após a bola ser retirada da bolsa, o número é registrado e a bola é recolocada na bolsa, que é então agitada e o processo é repetido.

Testes de laboratório podem ser intimidantes para algumas pessoas, então, inicialmente, Ertel providenciou para que seus alunos se testassem em casa. No período de 1997-2003, suas turmas de calouros de cerca de 50 alunos contribuíram com 94.320 tentativas, alcançando escores z anuais de 5 a 8 (valor de p 10-6 a 10-9)[2]. Esses resultados teriam sido espetaculares se tivessem sido realizados com supervisão rigorosa, na ausência da qual eles não têm valor probatório. No entanto, certas características são dignas de nota a esse respeito. Assinaturas foram observadas nos dados: efeitos de declínio, efeitos de deslocamento (adivinhar corretamente os alvos seguintes na sequência), acertos agrupados em vez de espalhados aleatoriamente e psi ausente (pontuação significativamente abaixo do acaso). Variações de desempenho também se correlacionaram em um grau significativo com fatores de personalidade e ambientais.

Ertel testou os dezessete participantes com as maiores pontuações em laboratório. Sob supervisão rigorosa e dupla verificação dos palpites em relação aos alvos, seis dos 17 participantes não obtiveram mais pontuações significativamente acima do esperado. Isso está de acordo com as previsões de Ertel de que a insegurança e a tensão dos testes de laboratório reduziriam a pontuação em geral. No entanto, três participantes obtiveram pontuações muito acima de seus desempenhos em casa. No geral, 11 continuaram a obter pontuações significativas, com valores de p variando de 0,01 a 10-8 [3].

A metodologia incluiu etapas para mitigar possíveis médias normais. Os ensaios em que os participantes usaram luvas finas de seda, para evitar que sentissem o número impresso ou detectassem o calor de bolas previamente escolhidas, obtiveram índices de pontuação semelhantes aos dos ensaios sem luvas. Para evitar erros de registro, os números das bolas foram registrados após terem sido falados em voz alta e a bola mostrada ao experimentador.

Pode-se objetar que os participantes adotaram estratégias sutis, por exemplo, aprendendo a memorizar a posição das bolas anteriores. No entanto, não houve evidências de efeitos de aprendizagem: os resultados permaneceram estáveis ao longo do tempo.

Outros experimentadores obtiveram sucesso com esse procedimento, mitigando a possibilidade de fraude ou fraqueza metodológica oculta (veja abaixo). Além disso, alunos com pontuação alta foram igualmente bons em tarefas psi, como adivinhação de cartas e lançamento de dados, sugerindo que possuíam genuína habilidade psi completa.

Outros cientistas reproduziram o efeito BST:

§  Lance Storm , um parapsicólogo da Universidade de Adelaide, realizou 4.320 testes que resultaram em um escore z de 3,97 (p = 0,00005)[4].

§  Katarina Hricikova, ex-aluna de Ertel, na Universidade de Göttingen, realizou uma série com crianças e mais de 2.900 testes e obteve uma taxa de pontuação extremamente significativa: pontuação z 13,63 (p = 10-25)[5].

Ertel também relatou uma tentativa de replicação por dois estudantes de pós-graduação da Unidade de Pesquisa em Psicologia Anomalística (APRU) do Goldsmiths College, Universidade de Londres. O teste foi supervisionado por Chris French , um psi-cético. Os estudantes alegaram que os testes não replicavam os resultados anteriores de Ertel, mas não levaram em consideração as altas pontuações obtidas por indivíduos. A reanálise dos dados por Ertel mostrou um resultado altamente significativo em 1.548 ensaios: escore z de 2,99, p = 0,001 [6].

 

Matriz Correlacional

O pilar da pesquisa em psicocinese é o uso de geradores de números aleatórios (GNA) para detectar a influência da consciência. Centenas de experimentos revelaram efeitos persuasivos ao longo de muitas décadas. Walter von Lucadou desenvolveu um experimento para investigar teorias de psi com base em correlações de emaranhamento. Os participantes foram instruídos a influenciar a saída de um GNA, como em um estudo típico de PK, mas o objetivo aqui era ver quais correlações poderiam ser estabelecidas entre variáveis físicas e psicológicas. Von Lucadou encontrou mais que o dobro de correlações durante as sessões experimentais do que nas sessões de controle; o efeito foi enorme, com um sigma de 5,5 (p = 10-6). A metodologia foi aprimorada em experimentos posteriores, onde as variáveis psicológicas foram reduzidas a simples pressionamentos de botões, que incluíam o tempo entre os pressionamentos, o número de repetições para a esquerda ou para a direita, a duração do pressionamento do botão e assim por diante, e variáveis físicas facilmente calibradas, como a frequência de picos de voltagem, a variabilidade da saída do GNA ou os níveis e a variação nos níveis de resistência[7].

A primeira grande replicação independente foi realizada por Harald Walach, que encontrou a mesma preponderância altamente significativa de correlações na condição experimental versus controle. Walach relatou que o efeito persiste com diferentes tipos de GNA e condições mais rigorosas[8]. Ana Borges Flores , uma candidata a doutorado na Unidade de Parapsicologia Koestler de Edimburgo, replicou este experimento cinco vezes, com cada experimento revelando um número excessivo altamente significativo de correlações[9]. Ela descobriu que o efeito se mantém com análises de permutação mais conservadoras. Hartmut Grote[10], um físico do Instituto Max Planck de Física Gravitacional, publicou uma tríade de experimentos mente-matéria, dos quais o mais bem-sucedido usa este paradigma: novas descobertas estão previstas para meados de 2019[11]. 

Em um resumo de 13 experimentos de 2015, Von Lucadou descobriu que quase todos demonstraram correlações significativamente maiores do que o acaso poderia prever. Os primeiros resultados de um consórcio de pesquisa de cerca de 20 pesquisadores financiado pela Fundação Bial são considerados promissores, aumentando as expectativas de que experimentos com Matriz de Correlação possam se tornar mais amplamente difundidos na parapsicologia[12].

 

James Carpenter

PES em Psicoterapia

James Carpenter, psicoterapeuta atuante, elaborou um estudo no qual os participantes de sessões de terapia de grupo não direcionadas eram incentivados a discutir o que quer que lhes viesse à mente, a fim de ajudar a curar traumas passados. Carpenter ou um pesquisador associado escolhia aleatoriamente um entre 100 envelopes, cada um contendo quatro imagens, das quais uma era selecionada aleatoriamente como alvo. Ele argumentou que o ambiente emocional intenso da sessão de terapia de grupo proporcionaria as condições para a manifestação de psi e permitiria que o conteúdo do alvo influenciasse as trocas entre os participantes.

Os participantes então classificaram as imagens em termos de sua correspondência com o conteúdo da sessão, momento em que o alvo real foi revelado. Carpenter observou acertos binários em que o alvo foi colocado em primeiro ou segundo lugar. De 385 palpites individuais, houve 224 acertos, com uma taxa de acerto de 58%, com expectativa de chance de 50%. Isso tem um valor de p de 0,001, ou mil para um. Carpenter encontrou relações significativas entre o impacto das sessões e a taxa de pontuação. Essa relação foi menor quando os participantes iniciaram as sessões ansiosos e céticos, e caiu para o acaso quando as sessões foram intensamente emocionais. Descobriu-se que a atividade geomagnética estava positivamente correlacionada com o sucesso da percepção extra-sensorial (PES)[13].

 

Pontuações de humor e percepção extra-sensorial

Evidências abrangentes revelam a influência do humor no desempenho em percepção extra-sensorial (PES). Carpenter utiliza essa descoberta para melhorar a pontuação. Os participantes foram instruídos a adivinhar alvos binários simples: + e 0 em séries de 24, como em um projeto típico de escolha forçada. No entanto, Carpenter inverteu a suposição do alvo se a pontuação de humor do participante sugerisse um resultado psi negativo. Portanto, se o participante chutasse '+', mas sua pontuação de humor indicasse um desempenho psi ruim, isso era registrado como '0'. Em uma segunda abordagem, ocultada dos participantes, Carpenter codificou uma palavra-alvo em código Morse, onde pontos e traços eram representados por 0s e +s. Usando uma votação majoritária, na qual a seleção de alvo mais popular é indicada como a escolha do grupo, o grupo de Carpenter conseguiu decodificar a palavra oculta: PAZ. Nem todos os experimentos de Carpenter foram tão bem-sucedidos quanto este, mas há indícios de que o uso do humor e de outros indicadores para aprimorar o desempenho em percepção extra-sensorial é promissor[14].

 

Efeito Maharishi

Inúmeros estudos comprovam os benefícios psicológicos e para a saúde da  Meditação Transcendental (MT), que emprega o método de repetição silenciosa de um mantra. A técnica, originária dos tempos védicos antigos, foi popularizada pelo Mahesh Yogi na década de 1950, tornando-se posteriormente um ingrediente-chave da subcultura ocidental. Atualmente, é amplamente utilizada por profissionais para aumentar o desempenho e a produtividade.

Parapsicólogos se interessam pela ideia de que o estado alterado de consciência alcançado pela MT pode levar a efeitos no mundo real. A antiga ideia védica de que a mente pode permear o ambiente foi desenvolvida por Maharishi em seu programa MT-Siddhi, com a alegação de que um grupo suficientemente grande de praticantes de meditação seguindo seus princípios poderia ter uma influência positiva mensurável na população local, em termos de redução das taxas de criminalidade e elevação dos níveis de educação. O tamanho do grupo precisaria ser de pelo menos a raiz quadrada de 1% da população para que isso ocorresse.

Um estudo inicial do Efeito Maharishi consistiu em uma análise retrospectiva das taxas de criminalidade relatadas em 24 cidades dos EUA em 1973, quando 1% ou mais de suas populações praticavam ativamente a MT. Constatou-se que a taxa de criminalidade era 24% menor em comparação com 24 cidades de controle, um efeito extremamente significativo (p = 0,001). Uma correlação marcante (p = 0,001) também foi observada entre o nível de redução da criminalidade e o número de praticantes da MT em cada cidade[15].

Foi realizado um estudo sobre o impacto nas taxas de criminalidade em Nova Déli de um grupo de praticantes de MT e MT-Sidhis que frequentaram um curso local entre o final de 1980 e abril de 1981. O estudo foi baseado em análises que incluíram 304 observações de totais diários de crimes de junho de 1980 a março de 1981. Após o controle de ciclos previsíveis, tendências e mudanças nas políticas governamentais, o impacto foi considerado altamente significativo estatisticamente: uma redução média de 11% na criminalidade em relação ao que seria esperado (p < 0,0001)[16].

Uma influência semelhante foi encontrada na região de Merseyside, no Reino Unido, na década de 1980, período em que o número de praticantes da MT excedia a raiz quadrada de 1% da população local. Observou-se uma queda de 16% na criminalidade em um período de três anos – 170.000 crimes a menos do que o esperado – enquanto um aumento de 20% foi registrado no restante do país (p = 0,00006)[17].

No geral, uma relação altamente significativa foi encontrada em cada um dos 13 estudos que investigaram o Efeito Maharishi, o que é difícil de explicar em termos de artefatos estatísticos ou metodologia deficiente[18]. No entanto, ela não foi adotada pela comunidade de pesquisa psi e continua sendo uma forma incomum de testar efeitos psi.

 

Literatura

§  Broderick, D., & Goertzel, B. (2014). Evidence for Psi: Thirteen Empirical Research Reports. Jefferson, North Carolina, USA: McFarland.

§  Carpenter, J. (1991). Prediction of forced-choice ESP performance: III. Three attempts to retrieve coded information using mood reports and a repeated-guessing technique. Journal of Parapsychology 55/3,

§  Deans, A.J., Cavanaugh, K.L., Hatchard, G.D., & Orme-Johnson, D.W. (1996). The Maharishi Effect: A model for social improvement. Time series analysis of a phase transition to reduced crime in Merseyside metropolitan area. Psychology, Crime & Law 2/3, 165-74.

§  Dillbeck, M.C., Landrith III, G., & Orme-Johnson, D.W. (1981). The Transcendental Meditation program and crime rate change in a sample of forty-eight cities. Journal of Crime and Justice 4, 25-45.

§  Dillbeck, M.C., Banus, C.B., Polanzi, C., & Landrith III, G.S. (1988). Test of a field model of consciousness and social change: The Transcendental Meditation and TM-Sidhi program and decreased urban crime. Journal of Mind and Behavior 9/4, 457-86

§  Ertel, S. (2013).  Psi effect or sensory leakage: Scrutinizing the Ball Selection Test. Journal of Scientific Exploration 27/3, 387-91.

§  Ertel, S. (2010).  Psi in a skeptic's lab a successful replication of Ertel's Ball Selection Test. Journal of Scientific Exploration 24/4, 581-98.

§  Ertel, S., Rock, A.J., & & Storm, L. (2013). Paranormal effects and behavioural characteristics of participants in a forced-choice psi task: Ertel’s Ball Selection Test under scrutiny. Australian Journal of Parapsychology 13, 111-31.

§  Grote, H.  (2017). Multiple-analysis correlation study between human psychological variables and binary random events. Journal of Scientific Exploration 31/2, 231-54.

§  Lucadou, W.V. (1987). A multivariate PK experiment. Part I. An approach combining physical and psychological conditions of the PK process. European Journal of Parapsychology 6/4, 305-45.

§  Walach, H., & Horan, M. (2014). Capturing PSI: Replicating von Lucadou’s 'Correlation Matrix Experiment' using a REG Micro-PK. Presentation at the BIAL Conference, Porto, March.

 

 

Traduzido com Google Tradutor



[3] Ertel (2013).

[4] Ertel e outros (2013).

[5] Ertel (2014) em Broderick & Goertzel (2014).

[6] Ertel (2010).

[7] Lucadou (1987).

[8] Walach e Horan (2014).

[9] Flores (julho de 2018). Comunicação pessoal.

[10] Grote (2017).

[11] Grote (setembro de 2018). Comunicação pessoal.

[13] Carpenter (1991).

[15] Dillbeck e outros (1981).

[16] Dillbeck e outros (1988).

[17] Deans e outros (1996).

terça-feira, 5 de agosto de 2025

CONVERSAS FAMILIARES DE ALÉM TÚMULO - Sra. Reynaud[1]

 


Allan Kardec

 

Sonâmbula, falecida em Annonay há cerca de um ano. Embora iletrada em seu estado natural, sua lucidez era notável, sobretudo em questões médicas.

Um de nossos correspondentes que a conhecera, pensando que pudesse obter ensinamentos úteis, dirigiu-nos algumas perguntas para lhe serem feitas, caso julgássemos conveniente interrogá-la, o que fizemos na sessão da Sociedade do dia 28 de janeiro de 1859. Às perguntas de nosso correspondente acrescentamos as que nos pareceram interessantes.

 

1. Evocação.

– Eis-me aqui. O que desejais de mim?

2. Tendes uma lembrança exata de vossa existência corporal?

– Sim, muito precisa.

3. Podeis descrever-nos vossa atual situação?

– É a mesma dos demais Espíritos que habitam a Terra: geralmente possuem a intuição do bem e, entretanto, não podem conseguir a felicidade completa, reservada somente aos mais elevados em perfeição.

4. Quando viva, éreis sonâmbula lúcida. Poderíeis dizer-nos se vossa lucidez de então era análoga à que tendes agora, como Espírito?

– Não; era diferente por não ter a prontidão nem a justeza que meu Espírito possui agora.

5. A lucidez sonambúlica é uma antecipação da vida espírita, isto é, um isolamento do Espírito em relação à matéria?

– É uma das fases da vida terrena; mas a vida terrena é a mesma que a vida celeste.

6. Que quereis dizer, afirmando que a vida terrestre é a mesma que a vida celeste?

– Que a cadeia das existências é formada de anéis seguidos e contínuos: nenhuma interrupção lhe detém o curso.

Pode-se, pois, dizer que a vida terrestre é a continuação da vida precedente e o prelúdio da vida celeste futura, e assim por diante, para todas as encarnações que o Espírito venha a ter. Daí resulta que entre essas duas existências não há uma separação tão absoluta quanto pensais.

 

Observação – Durante a vida terrestre o Espírito ou alma pode agir independentemente da matéria, e em certos momentos o homem desfruta da vida espírita, seja durante o sono, seja mesmo no estado de vigília. As faculdades do Espírito se exercem malgrado a presença do corpo, havendo, entre a vida terrestre e a de além-túmulo, uma constante correlação, que levou a Sra. Reynaud a dizer que era a mesma; a resposta subsequente definiu claramente o seu pensamento.

 

7. Por que, então, nem todos são sonâmbulos?

– É que ainda ignorais que todos vós o sois, mesmo durante o sono e em vigília, embora em graus diferentes.

8. Compreendemos que todos o sejamos mais ou menos durante o sono, pois que o estado de sonho é uma espécie de sonambulismo imperfeito. Mas o que quereis significar dizendo que o somos, mesmo em estado de vigília?

– Não tendes intuições que não percebeis, e que nada mais são que uma faculdade do Espírito? O poeta é um médium, um sonâmbulo.

9. Vossa faculdade sonambúlica contribuiu para o desenvolvimento do vosso Espírito depois da morte?

– Pouco.

10. No momento da morte estivestes perturbada muito tempo?

– Não; reconheci-me imediatamente: estava cercada de amigos.

11. Atribuís à lucidez sonambúlica o vosso pronto desprendimento?

– Sim, um pouco. Já conhecia previamente a sorte dos agonizantes. Contudo, isso de nada me teria valido se eu não houvesse possuído uma alma capaz de encontrar uma vida melhor por outros meios que não fossem apenas ter boas faculdades.

12. É possível ser bom sonâmbulo sem que se possua um Espírito de ordem elevada?

– Sim. As faculdades estão sempre em relação; apenas vos enganais quando pensais que elas requeiram boas disposições. Não; o que julgais ser um bem muitas vezes é um mal.

Como não compreendeis, irei desenvolver este assunto: Há sonâmbulos que conhecem o futuro, contam fatos passados dos quais nenhum conhecimento possuem em seu estado normal; outros sabem descrever perfeitamente os caracteres daqueles que os interrogam; sabem dizer a idade com exatidão, assim como o montante de dinheiro que carregam consigo etc. Isso não demanda nenhuma superioridade real; é simplesmente o exercício da faculdade que possui o Espírito e que se manifesta nos sonâmbulos adormecidos. O que requer uma real superioridade é o uso que dela podem fazer para o bem; é a consciência do bem e do mal; é conhecer Deus melhor que os homens; é poder dar conselhos aptos a fazê-los progredir na senda do bem e da felicidade.

13. O uso que o sonâmbulo faz de sua faculdade influi sobre o seu estado de espírito após a morte?

– Sim, e muito, assim como a boa ou má utilização de todas as faculdades que Deus nos concedeu.

14. Podeis explicar-nos como tínheis conhecimentos médicos, sem haverdes realizado nenhum estudo?

– É sempre uma faculdade espiritual: outros Espíritos me aconselhavam; eu era médium: é o estado de todos os sonâmbulos.

15. Os medicamentos prescritos por um sonâmbulo são sempre indicados por outros Espíritos ou também são dados instintivamente, como ocorre entre os animais, que vão procurar a erva que lhes é salutar?

– São-lhes indicados, caso o sonâmbulo peça conselho ou quando sua experiência não lhe seja suficiente. Ele os conhece por suas qualidades.

16. O fluido magnético é o agente da lucidez dos sonâmbulos, como a luz o é para nós?

– Não; é o agente do sono.

17. O fluido magnético é o agente da visão, no estado de Espírito?

– Não.

18. Vedes-nos aqui tão claramente como nos veríeis caso estivésseis viva com o vosso corpo?

– Melhor agora; o que vejo a mais é o homem interior.

19. Ver-nos-íeis igualmente se estivéssemos na obscuridade?

– Do mesmo modo.

20. Vede-nos tão bem, melhor ou pior do que nos veríeis quando viva, mas em estado sonambúlico?

– Melhor ainda.

21. Qual o agente ou intermediário que vos faz ver?

– Meu Espírito. Não tenho olhos nem pupilas, nem retina, nem cílios e, entretanto, vejo melhor do que vedes os vossos vizinhos; vedes através dos olhos, mas na verdade quem vê é o vosso Espírito.

22. Tendes consciência da obscuridade?

– Sei que ela existe para vós; não para mim.

 

Observação – Isso confirma o que sempre nos foi dito: a faculdade de ver é uma propriedade inerente à própria natureza do Espírito, residindo em todo o seu ser, enquanto no corpo é localizada.

 

23. A dupla vista pode ser comparada ao estado sonambúlico?

– Sim; trata-se de uma faculdade que não procede do corpo.

24. O fluido magnético emana do sistema nervoso ou está espalhado na atmosfera?

– Do sistema nervoso; mas o sistema nervoso o extrai da atmosfera, sua fonte principal. A atmosfera não o possui em si; ele vem dos seres que povoam o Universo: o nada não o produz. É, ao contrário, um acúmulo de vida e de eletricidade, liberada dessa multidão de existências.

25. O fluido nervoso é um fluido próprio ou resultaria da combinação de todos os outros fluidos imponderáveis que penetram nos corpos, tal como o calórico, a luz, a eletricidade?

– Sim e não. Não conheceis bastante esses fenômenos para falardes assim; vossos termos não exprimem aquilo que quereis dizer.

26. De onde provém o entorpecimento causado pela ação magnética?

– Agitação produzida pela sobrecarga do fluido que o magnetizado concentra.

27. O poder magnético do magnetizador depende de sua constituição física?

– Sim, mas muito mais de seu caráter; numa palavra: de si mesmo.

28. Quais as qualidades morais que no sonâmbulo podem auxiliá-lo a desenvolver a sua faculdade?

– As boas. Perguntastes as que podem auxiliar.

29. Quais os defeitos que mais o prejudicam?

– A má-fé.

30. Quais são as qualidades mais essenciais para o magnetizador?

– As do coração; as boas intenções sempre firmes; o desinteresse.

31. Quais os defeitos que mais o prejudicam?

– As más inclinações, ou melhor, o desejo de prejudicar.

32. Quando viva e no estado sonambúlico víeis os Espíritos?

– Sim.

33. Por que nem todos os sonâmbulos os veem?

– Todos os veem por momentos e em diversos graus de clareza.

34. De onde vem a certas pessoas que não são sonâmbulas a faculdade de ver os Espíritos no estado de vigília?

– Isso é dom de Deus, como para outros o são a inteligência e a bondade.

35. Essa faculdade procede de uma organização física especial?

– Não.

36. Pode-se perder essa faculdade?

– Sim, como pode ser adquirida.

37. Quais são as causas que podem determinar a sua perda?

– Já o dissemos: as más intenções. Como primeira condição, é necessário que se proponha a fazer bom uso dela; isso posto, deve-se julgar se tal favor é merecido, porquanto ele não é dado inutilmente. O que prejudica os que a possuem é que ela se mescla quase sempre a essa infeliz paixão humana que tão bem conheceis – o orgulho – mesmo quando desejam levar a melhores resultados. Vangloriam-se daquilo que não é senão obra de Deus e, muitas vezes, querem tirar proveito. Adeus.

38. Deixando-nos agora ireis a que lugar?

– Às minhas ocupações.

39. Poderíeis dizer-nos quais são essas ocupações?

– Como vós, tenho algumas. Primeiro procuro instruir-me e, para isso, frequento a sociedade dos que são melhores do que eu; como entretenimento faço o bem e minha vida se passa na esperança de alcançar uma felicidade maior. Não temos nenhuma necessidade material a satisfazer e, consequentemente, toda a nossa atividade se volta para o nosso progresso moral.



[1] REVISTA ESPÍRITA – março/1859 – Allan Kardec

segunda-feira, 4 de agosto de 2025

MARIA REGINA PERUZZO[1]

 


 

Natural de Espumoso, Rio Grande do Sul, nasceu em 29 de abril de 1960.

Foi no Paraná, na cidade de Francisco Beltrão, no Centro Espírita Mensageiros da Paz que conheceu a Doutrina Espírita, no ano de 1987.

Breve, abraçou a tarefa espírita. Foi coordenadora de grupo de estudos, palestrante, priorizando, no entanto, a Evangelização, junto à Infância e Juventude.

Transferindo residência para Balneário Camboriú, Santa Catarina, de 1996 a 2002, esteve à frente da coordenação do Departamento de Infância e Juventude - DIJ do Centro Espírita Bezerra de Menezes.

A partir de 1999, assumiu igualmente a coordenação do DIJ da 13ª União Regional Espírita, com sede nessa cidade.

Em 2002, por questões profissionais, passou a residir em Brasília/DF. Na Federação Espírita Brasileira - FEB foi recebida, de braços abertos, por Cecília Rocha e Rute Ribeiro.

Integrando a equipe do DIJ/FEB, auxiliou na elaboração da 4ª Coleção das Apostilas DIJ/FEB e de Recursos Didáticos.

De 2007 a 2012, coordenou o Material Didático na FEB, que tem a função principal de planejar/elaborar os recursos didáticos para os evangelizadores.

Em 2009, com a implantação do Núcleo Espírita Guillon Ribeiro/NEGR, obra socioeducacional da FEB, situada em Santo Antônio do Descoberto, Goiás, fez parte do grupo de evangelizadores, que se deslocavam aos sábados para levar o auxílio material e espiritual para as famílias em situação de vulnerabilidade social. Contribuiu, ainda, na coordenação do DIJ/NEGR, ombreando Rute Ribeiro.

A partir de 2012 e até 2014 coordenou esse departamento.

Em 2018, retornou a Balneário Camboriú, Santa Catarina.

Desde 2020 coordena a AFIJ - Área da Família Infância e Juventude da 13ª URE.

Como participante do Centro Espírita Bezerra de Menezes, é evangelizadora na ONG Grupo Amigo, obra socioeducacional, na mesma cidade.

Formada em Arquitetura e Urbanismo, em 1985, pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos, localizada em São Leopoldo, Rio Grande do Sul, concluiu Mestrado, em 2008, na Universidade Federal de Santa Catarina, no Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil – PPGEC.

O tema da sua dissertação foi “Avaliação Pós-ocupacional em Habitação de Interesse Social: Comportamento da Satisfação do Usuário Após Médio Período de Permanência”.

Como arquiteta, atuou em Francisco Beltrão, Paraná, Balneário Camboriú, Santa Catarina, concluindo sua carreira em Brasília, Distrito Federal, na Caixa Econômica Federal, na Gerência de Desenvolvimento Urbano de Brasília e na Gerência de Desenvolvimento Urbano de Florianópolis, Santa Catarina.

Aposentou-se em março de 2018.



[1] FEDERAÇÃO ESPÍRITA DO PARANÁ - https://www.feparana.com.br/topico/?topico=3354

sexta-feira, 1 de agosto de 2025

AS DISCIPLINAS ESPIRITUAIS: GRATIDÃO[1]

 


Brett e Kate McKay

 

Bem-vindo de volta à nossa série sobre as disciplinas espirituais, que explora exercícios que podem ser usados para treinar a alma. Os propósitos e práticas dessas disciplinas são abordados de tal forma que podem ser adaptados através dos sistemas de crenças.

 

[A gratidão] não é apenas a maior das virtudes, mas a mãe de todas as outras.

Cícero

 

A gratidão é indiscutivelmente a disciplina espiritual que achamos que entendemos melhor.

Tem sido o mais estudado cientificamente. Tem sido a forragem de muitos livros e artigos, apresentados como uma ferramenta de bem-estar para o desenvolvimento pessoal e a felicidade, um método para alcançar sua melhor vida agora. Muitas vezes é exibido no Dia de Ação de Graças como um interesse sazonal e depois guardado por mais um ano.

Como resultado dessa familiaridade, a gratidão carece do fascínio misterioso de uma disciplina como a solidão, ou mesmo o ascetismo do jejum, que evoca a aventura interior.

Mas e se a gratidão foi barateada em algo comum − o que tem sido chamado de "gratidão light" − que obscurece sua verdadeira natureza?

E se a gratidão fosse realmente uma disciplina e não um sentimento, uma virtude moral e não um intensificador de humor?

E se não fosse feito do sentimentalismo suave dos cartões comemorativos, mas do material mais severo do estoicismo, da crueza da sucção de medula, da gravidade até da própria morte?

Nesta parte final de nossa série sobre as disciplinas espirituais, gostaríamos de apresentar a você esse lado esquecido da gratidão. Continue lendo − você ficará grato por ter feito isso.

 

Qual é a definição e o propósito da disciplina espiritual da gratidão?

O principal especialista científico em gratidão, Dr. Robert A. Emmons, define gratidão como tendo duas partes:

§  afirmar a bondade na vida de alguém e

§  reconhecer que as fontes dessa bondade estão, pelo menos parcialmente, fora do eu.

No momento mais básico, a gratidão é algo que quase todo mundo experimenta (particularmente no primeiro estágio), e essa experiência pode ser praticamente involuntária. Ou seja, a maioria das pessoas reconhecerá e se sentirá aquecida por coisas boas que acontecem em suas vidas, mesmo sem tentar fazê-lo intencionalmente.

De fato, a gratidão básica é mais automática e "bem-estar" do que os estados básicos de todas as outras práticas sobre as quais falamos nesta série. Mesmo quando você não está estudando ou tentando passar algum tempo sozinho para fins espirituais, ou está jejuando apenas por motivos de saúde, esses exercícios ainda exigem muito esforço para iniciar e muitas vezes permanecem difíceis e desconfortáveis o tempo todo. Por outro lado, todos experimentam toques de gratidão sem realmente pensar nisso e desfrutam do aperto de elevação que isso empresta ao coração.

No entanto, quando elevada e praticada como disciplina espiritual, a gratidão pode de fato ser tão extenuante e exigente quanto as outras que discutimos.

Enquanto a gratidão básica é passivamente evocada por eventos externos, da variedade exclusivamente positiva, a disciplina espiritual da gratidão é intencionalmente escolhida, deliberadamente treinada e exercida em todas as circunstâncias. Não depende de mudanças nas condições, mas de mentalidade. Não é esperado, mas perseguido.

Enquanto a gratidão básica é um conjunto de sentimentos fugazes e flutuantes, a disciplina espiritual da gratidão é uma ação. Não é apenas experimentado, mas expresso. A disciplina espiritual da gratidão é praticada não apenas porque se sente bem, mas porque é a coisa certa a fazer – não apenas para o próprio bem, mas para o bem da família, da comunidade e da sociedade. A disciplina da gratidão não é, de fato, um sentimento, mas uma virtude moral.

Em suma, a disciplina espiritual da gratidão abandona o reino da emoção simples e, em vez disso, torna-se uma atitude, uma postura, um caminho. Um que requer grande esforço para desenvolver e manter − a oferta de um sacrifício de ação de graças no altar da vida.

 

Qual é o propósito da disciplina espiritual da gratidão?

 

A gratidão é uma virtude que comumente tem lucro anexado a ela. E onde está a virtude que não tem? Mas ainda assim a virtude deve ser valorizada por si mesma, e não pelo lucro que a acompanha.

Epicuro

 

A prática da gratidão gera uma miríade de benefícios muito práticos e tangíveis para o corpo e a mente. A pesquisa mostrou que praticar a gratidão estimula o sistema imunológico, aumenta a resiliência ao estresse, reduz a depressão, aumenta a sensação de energia, determinação e força e até ajuda a dormir melhor à noite. Na verdade, poucas coisas foram examinadas de forma mais repetida e empírica do que a conexão entre gratidão e felicidade e bem-estar geral.

Tal como acontece com o jejum, é impossível desvendar os benefícios mentais e físicos da gratidão de seus efeitos espirituais; o que é bom para o corpo e a mente, é bom para a alma e vice-versa. Ao mesmo tempo, as razões para praticar intencionalmente a disciplina espiritual da gratidão irradiam além desses efeitos mais corpóreos, para aqueles que tocam mais centralmente a vida interior, o caráter moral e até mesmo a comunidade mais ampla.

 

Abre seus olhos

 

Um dos elementos mais importantes - e mais negligenciados - nos primórdios da vida interior é a capacidade de responder à realidade, de ver o valor e a beleza das coisas comuns, de ganhar vida com o esplendor que está ao nosso redor.

Thomas Merton

 

Um dos principais objetivos de todas as práticas espirituais é obter uma nova perspectiva sobre a vida − descobrir novas dimensões que não podem ser acessadas quando a mente é consumida por distrações materiais e simples ocupações.

Nisso, a gratidão serve como um portal singularmente eficaz.

Tornar-se mais grato não envolve uma negação da realidade das arestas duras e tristezas agudas da vida. Em vez disso, embora a gratidão reconheça os cantos escuros da existência que prontamente atraem nossa atenção, ela também percebe toda a Beleza, Alegria, Bondade e Verdade que normalmente são negligenciadas. Nisso, a gratidão de fato abre os olhos para uma visão mais ampla da realidade. É como colocar um par de óculos há muito necessários pela primeira vez: "Oh, uau, aqui está o que eu estava perdendo". Através das lentes da gratidão, você passa a reconhecer melhor o bem, a ver os muitos dons, benefícios e misericórdias que estão presentes em sua vida que, de outra forma, poderiam permanecer ocultos e ignorados.

A disciplina da gratidão é aquela que busca maior atenção plena e consciência, que o chama a estar mais presente no momento, a aguçar seus poderes de observação, a perceber o que os outros perdem e, assim, a descobrir mais camadas na vida "comum". É um convite não apenas para roer o osso da existência, mas para sugar sua medula. É uma porta de entrada para maior admiração, admiração e magia, e para viver a vida mais plenamente.

 

Desenvolve o caráter e a vida virtuosa

 

Aquele que recebe um benefício com gratidão paga a primeira parcela de sua dívida.

Sêneca

 

Uma mente humilde é o solo do qual os agradecimentos crescem naturalmente.

Henry Ward Beecher

 

A gratidão é indiscutivelmente a base do bom caráter, ou como Cícero coloca, a gratidão é o "pai" de todas as outras virtudes. Por outro lado, a ingratidão é a raiz de todo vício; Santo Inácio chamou a ingratidão de "o mais abominável dos pecados", pois é "a causa, o começo e a origem de todos os pecados e infortúnios".

Por que os dois lados da gratidão funcionam como as respectivas fontes do bem e do mal?

Primeiro, porque a presença da gratidão neutraliza os vícios negativos − inveja, ressentimento e ganância − que sua ausência gera. Quando você é grato pelo que tem, gasta menos tempo se comparando com os outros e menos tempo tomando decisões ruins e infrutíferas com base nessas comparações.

Em segundo lugar, reconhecer que o bem na vida de alguém vem, pelo menos parcialmente, de fora de si desenvolve um senso vital de humildade, bem como a motivação para retribuir esses dons e retribuir bondade por bondade, praticando as virtudes positivas. Esforçar-se para fazer a coisa certa por simples dever pode ser louvável, mas o dever é, na melhor das hipóteses, uma mera motivação de apoio a uma fonte superior e mais espontânea: alegria e gratidão. Você pode se esforçar vivendo as virtudes, mas esse serviço parecerá seco e insatisfatório para você, e seco, se não amargurado, para os outros. A gratidão é a graxa nas engrenagens do bem-fazer; um combustível que desperta e anima a coragem, a generosidade, a indústria e a honra de alguém.

 

Coloca-nos em um relacionamento correto com os outros

A gratidão volta nosso olhar para fora em vez de para dentro, ajudando-nos a reconhecer realidades fora de nós mesmos. Reconhecemos que não somos completamente autossuficientes e independentes e, em vez disso, existimos em uma teia de relacionamentos interconectados. Reconhecemos a ajuda (humana e divina) que nos levou até onde estamos hoje e a ajuda em que continuamos a confiar para sustentar nossas vidas. Nisso, a gratidão nos permite apreciar e afirmar o valor das pessoas, estruturas e poderes sobrenaturais ao nosso redor, em vez de tomá-los como garantidos.

Por outro lado, vale a pena ressaltar novamente que o outro lado é igualmente verdadeiro; a gratidão leva à amargura, inveja e negatividade – vícios que destroem absolutamente nossos laços com os outros.

Não é de surpreender que a pesquisa tenha descoberto que a gratidão tem um efeito enorme na melhoria dos relacionamentos. Estudos mostram que pessoas gratas experimentam maiores sentimentos de conexão e proximidade com os outros e com Deus, e são mais compassivas, perdoadoras, generosas e solidárias do que as ingratas.

Enquanto pesquisava seu livro sobre gratidão, o Dr. Brent Atkinson, professor de casamento e terapia familiar, disse a Janice Kaplan que "Quando as pessoas compartilham emoções positivas [como gratidão] umas com as outras, os exames mostram que seus cérebros se sincronizam e mostram atividade semelhante. Você aumenta sua capacidade natural de amar". Parece meio legal, mas, novamente, a gratidão atua como a graxa nas engrenagens da bondade, de modo que servir um ao outro se torna mais natural e espontâneo e menos cansativo. Estudos mostram que quando você agradece a alguém por fazer algo por você, é mais provável que ele o ajude novamente; em vez de bajular e exigir que amigos, entes queridos e colegas de trabalho façam o que você quer, a gratidão faz com que as coisas que você aprecia naturalmente continuem acontecendo. Isso é bom para você, obviamente, mas também bom para seus relacionamentos.

 

Leva ao serviço e a uma corrente de bondade

Como já foi dito, quando você percebe o que lhe foi dado, você está motivado a retribuir: quanto mais você reconhece o que os outros fizeram por você, mais você quer fazer por eles; quanto mais você aprecia o mundo, mais você quer torná-lo melhor. Mas o efeito virtuoso da gratidão se espalha ainda mais.

Pesquisas mostram que quando você agradece a alguém pelo que eles fizeram por você, eles não apenas estão mais propensos a ajudá-lo novamente, mas também a ajudar outras pessoas, ponto final. Cultivar e depois expressar gratidão inicia uma teia de virtude; espalha a bondade como um contágio muito positivo que pode literalmente transformar famílias, locais de trabalho, comunidades e o mundo em geral. Essa é uma ideia baseada não em um chavão hippie woo-woo, mas em um efeito concreto e empiricamente comprovado.

O potencial de "pagar adiante" é real e começa com um simples "obrigado".

 

Quais são os obstáculos para praticar a gratidão?

 

A gratidão é uma virtude mais deificada e, ao mesmo tempo, mais deserta: é o ornamento da retórica e a difamação da vida prática.

J.W. Forney

 

Dados os benefícios muito reais e os efeitos positivos da prática da gratidão tanto em geral quanto como disciplina espiritual, por que tantas vezes lutamos para desenvolver e expressar essa virtude? A saber: em uma pesquisa feita pela Kaplan, ela descobriu que, embora "mais de 90% das pessoas pensem que a gratidão o torna mais feliz e lhe dá uma vida mais plena. . . menos da metade expressa gratidão regularmente". O que explica então essa lacuna entre o que sabemos que é bom para nós (e para o mundo) e como realmente nos comportamos?

Existem vários obstáculos para entrar em uma mentalidade movida pela gratidão; Embora talvez possam ser inferidos a partir dos propósitos descritos acima, é instrutivo chamá-los para um exame mais explícito.

O primeiro obstáculo para uma maior gratidão é a simples ocupação e distração. Podemos sentir um sentimento de gratidão por alguém ou algo, mas isso evapora rapidamente quando nosso telefone toca, nosso filho chora ou outro pensamento simplesmente se intromete no momento. Podemos sentir o impulso de agradecer, mas ele fica enterrado sob um monte de outras tarefas.

O segundo obstáculo à gratidão é uma propensão arraigada para perceber o negativo sobre o positivo. Este fenômeno é provavelmente o resultado de uma adaptação evolutiva; nos tempos primitivos, as pessoas tinham que prestar atenção a quaisquer ameaças potenciais no meio ambiente para sobreviver. Nos tempos modernos, isso significa que se dez coisas derem muito certo no seu dia, mas uma coisa der errado, você esquecerá todas as coisas positivas e gastará todo o seu tempo ruminando sobre isso.

Um terceiro obstáculo é o fenômeno da adaptação. Embora os novos prazeres nos deem uma onda de satisfação e gratidão, logo nos habituamos a eles. Depois de um tempo, seu outrora novo amor / carro / casa / trabalho para de fazer seu coração inchar espontaneamente de gratidão; você para de registrar todas as maneiras pelas quais as coisas que já estão em sua vida acrescentam a ela e para de perceber todas as qualidades que admira e valoriza em sua família e amigos.

O quarto obstáculo é a inveja. É difícil ser feliz com o que você tem, quando parece que outras pessoas têm coisas melhores. A inveja destrói a gratidão, e é mais difícil do que nunca evitar quando todos podem mostrar o destaque de suas vidas nas mídias sociais.

Embora todos esses obstáculos possam ser obstáculos significativos para a disciplina da gratidão, se essa virtude se baseia na humildade, então a maior barreira à sua prática deve ser óbvia: o orgulho.

Esse orgulho está enraizado na incapacidade de admitir a dependência de qualquer coisa ou pessoa. Fazer isso fere, bem, nosso orgulho. Até mesmo a própria palavra "dependência" nos faz estremecer visceralmente, enquanto nossos corações incham com palavras como "autonomia", "independência" e "autossuficiência". E, de fato, todas essas são coisas boas pelas quais se deve lutar  na medida do possível. Mas a autossuficiência tem seus limites. Você não criou a si mesmo ou se criou, não pavimentou as estradas em que dirige, cultivou a comida que come ou fez as roupas que veste e, mesmo que seja o mais extremo dos introvertidos, provavelmente enlouqueceria se fosse forçado a viver para sempre sozinho. Até mesmo o último eremita verdadeiro do mundo teve que roubar de outras pessoas para viver. A verdade é que todos nós dependemos dos outros para atender às nossas necessidades físicas e emocionais.

Os humanos são interdependentes; às vezes damos e às vezes recebemos. Você não pode desejar conhecer completamente a si mesmo e ainda se concentrar em um papel com a exclusão do outro; um homem deve se esforçar para ser autônomo. . . e um realista franco. Ser menos grato não o torna menos dependente, apenas o torna mais delirante – enquanto rouba os benefícios que a gratidão traz.

Dos diferentes "sabores" que o orgulho que bloqueia a gratidão assume, um senso de direito é inegavelmente o mais significativo. Esse senso de direito diz: "Tudo o que eu tenho, eu ganhei. Eu mereço isso. E tinha que vir".

Assim como todos nós gostaríamos de acreditar que somos 100% autossuficientes, todos nós gostaríamos de pensar que chegamos onde estamos hoje inteiramente por conta própria − que ganhamos tudo o que temos sozinhos. No entanto, não ganhamos a tecnologia e a miríade de invenções que usamos no dia a dia, não ganhamos a democracia sob a qual vivemos, não ganhamos uma chance de existência em primeiro lugar.

Embora certamente devamos ter uma satisfação saudável nas coisas que conquistamos por conta própria, também devemos reconhecer que a própria possibilidade de alcançar essas coisas foi fundamentalmente baseada em uma série de fatores fora de nós mesmos e de nosso controle.

O fato de sua vida existir é porque seus ancestrais navegaram para cá do Velho Mundo, e começaram fazendas, ranchos e negócios, e lutaram no Big One, e trabalharam, e criaram famílias, e se mantiveram vivos para que você pudesse respirar no século 21. Todos nós estamos sobre um edifício construído por aqueles que vieram antes.

Muito do que temos foi colocado em nosso colo por pura força de nascer em um determinado tempo e lugar. Muito do que temos se deve à simples sorte e acaso. Nós não fizemos, não podíamos, fazer nada para merecer isso.

Pesquisas mostram que a surpresa é um ingrediente-chave para experimentar a gratidão, e você não pode se surpreender, se espera perenemente, quase perto da demanda, que coisas boas aconteçam com você. Isso explica o fato de que, embora nosso padrão de vida esteja mais alto do que nunca, estamos aparentemente mais descontentes e deprimidos; nossas expectativas simplesmente aumentaram de acordo com nossas conveniências. Temos mais, mas nos sentimos com direito a uma vida ainda melhor e, portanto, vemos mais coisas negativas do que positivas no mundo e reclamamos mais do que apreciamos.

As expectativas não são ruins em si mesmas (se você as mantiver modestas e razoáveis). Não é errado esperar que um cônjuge ou amigo o trate de uma determinada maneira; em virtude do fato de você ter um relacionamento mutuamente investido, você deve esperar certas coisas um do outro. Também não é errado esperar que, ao pagar por um bem ou serviço, você receba algo proporcional em troca. Mas ter essas expectativas não significa que você tem direito à realização delas, nem impede que você sinta cócegas de prazer quando elas estiverem satisfeitas.

Certamente, não se tem obrigação de agradecer por atos e serviços que ficam aquém do que normalmente seria esperado. Mas mesmo quando uma expectativa é cumprida de uma maneira básica e mediana − mesmo quando não vai além − ainda devemos sentir gratidão pelo ato e, de fato, experimentá-lo como um presente.

Digamos que você e sua esposa compartilhem as tarefas domésticas e cada um faça o mesmo número de tarefas. Você ainda deve agradecê-la por fazer o jantar, mesmo que isso aconteça rotineiramente todas as noites, e seja apenas parte das responsabilidades de administrar uma casa que vocês dois concordaram mutuamente em assumir? A resposta é sim: a virtude da gratidão obriga você a fazê-lo.

Não importa o quão rotineiro e esperado seja seu esforço, ainda é um presente: não apenas sua esposa poderia ter jogado fora a ideia de contribuir assim que você se casasse, mas também não receberia nenhuma recompensa direta em troca de seu serviço. Você pode ter feito anteriormente o mesmo número de tarefas e oferecido amplo apoio emocional / financeiro, mas simplesmente não há trocas diretas, nem olho por olho estrito nos relacionamentos; por exemplo, cortar a grama é exatamente igual a fazer um número X de refeições? Todo esforço feito em um casamento é um presente para o parceiro que não pode ser enumerado com precisão nem correspondido.

Além disso, o jantar é um presente, pois é feito com as mãos de uma mulher que você não merece totalmente. Claro, você a cortejou, conquistou seu amor, continua a tratá-la bem. Mas você não tinha nada a ver com as forças que trouxeram um menino de Tallahassee e uma menina de Oakland para ir para a mesma faculdade, para fazer a mesma aula de inglês, para sentar na mesma fileira. Você não a criou. Ela é uma realidade à qual você não tem todo direito. Sem mencionar que, mesmo desde que vocês dois se casaram, ela poderia ter morrido em um trágico acidente ou sido abatida por uma doença terrível. E, no entanto, aqui está ela na cozinha, cortando cenouras.

Quando você diz: "Obrigado pelo jantar", a frase simples encapsula todos os significados e dimensões da gratidão − todas as maneiras pelas quais o ato de sua esposa pode ser simultaneamente esperado rotineiramente e um presente maravilhoso, surpreendente e imerecido.

A mesma dinâmica permeia todos os relacionamentos e trocas, não importa quão superficiais ou financeiramente premissas. Quando o cara do caixa do supermercado passa e embala suas compras com um nível médio de eficácia e simpatia, você diz "Obrigado": Obrigado por não me confrontar com grosseria de olhos mortos quando você poderia; obrigado por não trabalhar a passo de caracol; obrigado por fazer seu trabalho de acordo com o padrão quando tantos não o fazem. Graças aos nossos ancestrais que limparam esta terra e montaram armazéns gerais, que se tornaram lojas gigantes onde você trabalha e eu faço compras, e onde posso obter Pumpkin Spice Oreos, e executá-los por esta pequena esteira rolante, e pagar com esta útil máquina de leitura de chips. Graças às forças do universo que nos uniram neste momento para esta pequena troca em que ambos conseguimos algo de que precisamos. Obrigado por abrir mão do seu tempo, e talvez até um pouco da sua alma, para trabalhar neste trabalho que ajuda a fazer o mundo girar.

Uma vez que você começa a praticar a disciplina espiritual da gratidão, você percebe que, embora possa esperar coisas das pessoas com quem entra em um relacionamento ou troca, nunca tem direito total aos bens materiais e emocionais que elas produzem; cada interação representa uma oportunidade que você nunca pode ganhar ou merecer inteiramente.

Uma vez que você percebe que a vida não lhe deve nada, tudo nela se torna um presente.

 

Como você pratica a disciplina espiritual da gratidão?

Para algumas pessoas, somado aos obstáculos universais para uma maior gratidão descritos acima, há ainda outro conjunto: parece que uma disposição de gratidão é parcialmente genética, que algumas pessoas são naturalmente mais ou menos gratas do que outras. Ao mesmo tempo, como você foi criado também desempenha um papel; se você foi criado por um ou mais pais que são do tipo centrado na reclamação, copo meio vazio, isso também diminuirá sua própria orientação para a gratidão.

Que existem muitos obstáculos, tanto universais quanto particulares, contra a prática da gratidão é a má notícia. A boa notícia, felizmente, é que, apesar dessas barreiras, qualquer pessoa pode cultivar intencionalmente a gratidão como uma disciplina espiritual. Mesmo que você seja alguém que não costuma se sentir espontaneamente grato, é uma habilidade que pode ser treinada; você pode deliberadamente se tornar, como diz Emmons, "bom em gratidão".

Os exercícios abaixo são divididos em maneiras de experimentar mais gratidão e maneiras de expressar mais gratidão aos outros, e ambos os conjuntos podem ajudá-lo a superar os obstáculos comuns para praticar essa virtude. Os exercícios são apoiados por pesquisas e antigos; práticas recomendadas pela primeira vez por filósofos há milhares de anos e refinadas para máxima eficácia nos dias modernos. Ao treinar regularmente seu "músculo" de gratidão com eles, você pode tornar a gratidão uma questão de disciplina constante, em vez de flutuar o humor e mudar as circunstâncias.

Ao embarcar neste programa de treinamento de gratidão, aqui está outra boa notícia: embora se tornar mais grato exija um esforço intencional significativo no início, com o tempo ficará mais fácil; O que começa como um comportamento escolhido conscientemente acabará se tornando uma atitude arraigada − sua resposta padrão ao mundo. Um ciclo maravilhosamente positivo se desenvolverá: quanto mais coisas boas em sua vida você reconhecer para ser grato, mais seu humor, saúde, trabalho e relacionamentos mudarão para melhor, e mais coisas boas acontecerão com você para agradecer!

 

Como Sentir Maior Gratidão

 

Não há neutralidade entre gratidão e ingratidão. Aqueles que não são gratos logo começam a reclamar de tudo. Quem não ama, odeia. Na vida espiritual não existe indiferença ao amor ou ao ódio. É por isso que a tibieza (que parece ser indiferente) é tão detestável. É ódio disfarçado de amor.

Thomas Merton

 

Nos corações nobres, o sentimento de gratidão tem todo o ardor de uma paixão.

Aquiles Poincelot

 

A gratidão é a memória do coração.

Provérbio francês

 

Um coração grato é o epicentro da virtude, e você pode manter seu fogo aceso envolvendo-se em práticas que aumentam seus poderes de consciência e observação − sua capacidade de ver as mesmas coisas antigas de uma maneira nova e reconhecer a abundância que você tem, em vez de sempre se concentrar no que lhe falta.

Um fio condutor que percorre todas essas práticas é a memória. A ingratidão é uma questão de esquecimento – esquecemos o que os outros fizeram por nós dias, semanas, anos e séculos atrás; esquecemos o momento de alegria que experimentamos apenas um minuto atrás; esquecemos tudo de bom que temos em nossas vidas e como não temos direito a isso. Esquecemos que a memória é moral.

"Você quer ser uma pessoa grata?" Emmons, portanto, pergunta: "Então lembre-se de lembrar".

 

Saboreie o bem

 

A felicidade não consiste nas coisas em si, mas no prazer que temos delas.

François de La Rochefoucauld

 

O psicólogo Rick Hanson compara a propensão universal da humanidade de se concentrar no negativo sobre o positivo (que pode ser ainda mais agudo para aqueles que nascem com genes sombrios) ao Velcro e ao Teflon: o mal fica conosco, enquanto o bem apenas desliza direto por nossa consciência. Mas se não podemos reconhecer e apreciar totalmente o que há de bom em nossas vidas, não podemos ser totalmente gratos por isso.

Para evitar que as coisas boas que acontecem no seu dia a dia passem pela sua mente, você precisa colocar uma espécie de rede para pegá-las. Você faz isso apreciando e saboreando intencionalmente momentos positivos. Quando algo de bom acontece com você, seja grande ou pequeno − um abraço de seu filho, uma refeição saborosa, um belo pôr do sol − em vez de deixá-lo entrar e sair rapidamente de sua consciência, reserve cerca de dez segundos para realmente mergulhar no prazer / beleza / alegria disso.

À medida que você deixa o bem penetrar mais profundamente, seus sentimentos de gratidão aumentarão e seu cérebro será literalmente reconectado − criando sulcos pegajosos que se prendem às coisas positivas que estão acontecendo com você todos os dias.

 

Reformular

 

Você não pode controlar o que acontece com você na vida, mas sempre pode controlar o que sentirá e fará sobre o que acontece com você.

Viktor Frankl

 

Os homens são perturbados, não pelas coisas, mas pelas visões que têm delas.

Epicteto

 

Outra maneira de lidar com nosso foco natural no negativo é tentar examinar uma situação menos do que ideal de outra perspectiva – para reformulá-la sob uma luz melhor.

Reformular não significa ignorar completamente as desvantagens das situações ou ser ingenuamente Pollyanna em busca de forros de prata que não existem; não requer uma negação da realidade. Em vez disso, é um reconhecimento de que a realidade é, de fato, um tanto subjetiva. As coisas realmente acontecem objetivamente, mas o significado dessas coisas está aberto à interpretação, e essa interpretação muda a forma como você as experimenta, o que muda sua realidade.

Você pode ficar arrasado quando é demitido do trabalho ou grato pela chance de um novo começo em sua carreira. Você pode ficar amargurado por sua namorada ter te traído, ou grato por não ter que perder mais tempo acreditando que ela é alguém que não é. Você pode ficar frustrado por seu voo ter sido cancelado ou grato por passar mais um dia com velhos amigos. Você pode ficar irritado por estar participando de uma reunião chata ou grato pela chance de recalibrar sua capacidade de atenção e deixar sua mente vagar.

Ambos os lados dessas moedas são tão "reais" quanto o outro. O lado que você escolhe focar depende de você. Você pode se concentrar no que deu errado ou colocar sua atenção no que ainda está certo. Você pode ver apenas o obstáculo ou ver como o obstáculo é de fato o caminho.

Mesmo em tempos de dificuldades agudas, embora seja improvável que você se sinta grato pelo sofrimento, você ainda pode se sentir grato pelo sofrimento. Ou seja, você ainda pode encontrar pequenas misericórdias e pontos de luz mesmo em sua hora mais sombria. Se você vai andar pelo inferno de qualquer maneira, por que fazê-lo sem gratidão e tornar o julgamento ainda mais difícil do que deveria ser?

Mais tarde, do ponto de vista distante proporcionado pela passagem do tempo, você pode de fato se tornar grato pelo sofrimento; pela maneira como isso o refinou, ou mudou o caminho de sua vida, ou o aproximou dos amigos. A pesquisa mostra que escrever sobre uma experiência difícil a partir do quadro de gratidão pode, de fato, ajudá-lo a ver o bem que veio dela e encontrar um maior senso de significado, esperança e propósito na dor do passado.

A gratidão, em última análise, não depende de circunstâncias que você não pode controlar, mas da perspectiva e atitude que você decide tomar; você nem sempre pode escolher o que acontece com você, mas sempre pode escolher como responder.

 

Mantenha um diário de gratidão

 

Se alguém me der um prato de areia e me disser que há partículas de ferro nele, posso procurá-los com meus dedos desajeitados e ser incapaz de detectá-los; mas deixe-me pegar um ímã e varrê-lo, e como ele atrairia para si as partículas quase invisíveis pelo mero poder da atração, mas deixe o coração agradecido varrer o dia, e como o ímã encontra o ferro, ele encontrará, a cada hora, algumas bênçãos celestiais.

 

Manter um diário de gratidão é a mais famosa das práticas de gratidão, e com razão. É muito simples e altamente eficaz. Foi demonstrado que produz os benefícios para o corpo e a mente mencionados acima, e tudo o que você precisa fazer é anotar regularmente algumas coisas pelas quais você é grato.

Existem várias maneiras de aumentar especialmente a eficácia e o significado dessa prática:

Escreva no diário apenas duas vezes por semana, em vez de todos os dias. Embora você possa pensar que quanto mais vezes você escrevesse em um diário de gratidão, melhor seria o efeito, a pesquisa mostrou que a prática realmente tem um ponto de retornos decrescentes. Escrever no diário apenas duas vezes por semana pode, de fato, ser mais eficaz do que fazê-lo todos os dias. Por que? Porque fazer anotações diárias parece induzir o que Emmons chama de "fadiga da gratidão" − torna-se muito rotineiro e, portanto, não provoca uma resposta tão estimulante.

Boas notícias para nós: quem não tem tempo para escrever em um diário apenas duas vezes por semana?

Seja o mais específico e detalhado possível. O diário de gratidão funciona porque escrever os pensamentos amorfos que passam pela sua mente os torna mais concretos e reais. Segue-se naturalmente que quanto mais detalhados você fizer suas entradas, mais esse efeito será amplificado. Então, em vez de escrever: Sou grato por 1) minha esposa, 2) meus filhos, 3) jantar hoje à noite, escreva Sou grato pela maneira como os olhos de minha esposa brilham quando ela ri, 2) a suavidade da bochecha da minha filha quando eu lhe dou um beijo de boa noite, 3) hambúrguer de hoje à noite − a suculência e o sabor da carne, a crocância da alface, e o sabor do molho. Realmente reviva as coisas pelas quais você é grato em sua imaginação; quanto mais você os trouxer à vida, mais profunda será sua reação visceral e mais profundamente você sentirá gratidão.

Pense não apenas em coisas grandes e óbvias, mas em coisas pequenas e surpreendentes. Limitar-se apenas a coisas grandes / óbvias / família / trabalho / casa / saúde, induzirá rapidamente a fadiga da gratidão e tornará difícil manter suas entradas o mais atualizadas possível (embora seja bom duplicar as coisas, quanto mais diversidade você puder ser para suas entradas, melhor).

Portanto, pense em tudo e qualquer coisa que lhe traga prazer, acrescente algo à sua vida, mesmo da menor maneira, e não deva ser dado como certo: tecnologia (a internet, seu telefone, recursos como FaceTime, aplicativos como Uber); comida (a existência de Oreos, que você pode obter morangos no meio do inverno, que existem restaurantes que servem a culinária nativa de 30 países diferentes em sua cidade); conveniências / ajudas / ferramentas modernas (barras de sabão, contatos, halteres); qualquer coisa que faça cócegas em seus sentidos (o cheiro depois da chuva, a suavidade de seus lençóis, o som de sua música favorita).

"Não escreva apenas sobre pessoas que o ajudaram, mas também sobre aqueles que ajudaram pessoas que você ama".  Este é um ótimo conselho de Emmons, que observa que "Podemos ignorar essas fontes de gratidão". Seja grato pela professora de seu filho, a enfermeira que cuida de seu pai doente, o padrasto sempre leal e amoroso de sua namorada.

"Comece onde quer que esteja".  Outra recomendação de Emmons, que diz que você ainda pode começar um diário de gratidão, mesmo se estiver em um lugar negativo na vida, e "mesmo que o único item da sua lista seja 'nada de ruim aconteceu hoje'".

 

Aproveite o efeito George Bailey

 

Não é a felicidade que nos torna gratos. É a gratidão que nos faz felizes.

Irmão David Steindl-Rast, monge beneditino

 

Embora o poder dos diários de gratidão tenha recebido muita atenção, eles não funcionam para todos. Parte do problema é que, mesmo quando você reconhece e registra as coisas boas em sua vida, provavelmente já se acostumou com essas coisas "cotidianas", de modo que o ato não evoca o elemento de incerteza e surpresa tão central para experimentar a gratidão em um nível mais profundo e emocionalmente transformador.

Para injetar um pouco mais de "surpresa" em seu diário de gratidão, tente aproveitar seu George Bailey interior. Em It's a Wonderful Life, Bailey tem que experimentar um mundo no qual ele nunca nasceu para realmente entender o quão rica e abençoada sua vida realmente era. Você pode se beneficiar de evocar um universo alternativo, sem necessidade de anjo da guarda: em vez de escrever sobre algo pelo qual você é grato, escreva como essa coisa pode não ter acontecido. Como você e sua esposa nunca se conheceram? Como você pode nunca ter conseguido o ótimo emprego em que está atualmente? Como seria sua vida se você e seu melhor amigo nunca tivessem se cruzado?

Pesquisas mostram que este exercício, ao desafiar seu senso seguro e complacente de que algo bom em sua vida sempre estava prestes a acontecer, aumenta seu sentimento de gratidão além de simplesmente escrever sobre essa bênção. Quando você reflete sobre como algo pode nunca ter ocorrido, afinal, você para de dar como certo e seu sentimento de gratidão outrora entorpecido retorna.

 

Pratique o exame

Discutimos o Exame − uma oração diária de cinco partes desenvolvida por Santo Inácio de Loyola − em nossa exploração da disciplina espiritual do autoexame. Mas também é uma prática que pode fornecer um tremendo apoio à disciplina da gratidão, pois o primeiro passo da oração é refletir sobre as coisas que aconteceram naquele dia pelas quais você é grato e, em seguida, expressar gratidão por elas.

 

Rápido

Se a gratidão é sabotada pelo fato de nos adaptarmos às coisas boas que estão consistentemente em nossas vidas, de modo que elas se tornam rotineiras indutoras de bocejos, então uma maneira natural de neutralizar esse efeito é remover temporariamente essa coisa boa, ou seja, jejuar dela.

Passe um dia sem comer ou usar a tecnologia, e você terá menos probabilidade de considerar esses benefícios garantidos. As escamas da "cegueira da bênção" caem de seus olhos, e você percebe como é afortunado por ter uma geladeira cheia e como seu telefone realmente é mágico.

A escassez aguça a gratidão e, em uma época em que estamos saturados de todos os prazeres e conveniências, às vezes devemos criar essa escassez nós mesmos.

 

Memento Mori

 

Que homem você pode me mostrar que valoriza seu tempo, que calcula o valor de cada dia, que entende que está morrendo diariamente?

Sêneca

 

Pesquisas mostram que, quando as pessoas são lembradas de que uma experiência logo terminará, elas se sentem mais gratas pelo tempo que lhes resta e tomam mais medidas para aproveitá-lo ao máximo.

Quando se trata de situações que têm uma data de validade definida – faculdade, férias, implantações – lembrar-se de que elas não vão durar pode estimulá-lo a se envolver mais plenamente com a experiência – para permanecer presente e realmente saborear e se sentir grato por cada momento que lhe resta. Por exemplo, Kate e eu costumamos dizer um ao outro em relação aos nossos filhos: "Eles nunca serão tão jovens / pequenos quanto são agora". É um lembrete de que eles estão em uma fase especial da vida que passará mais cedo do que podemos imaginar − que, embora possam nos deixar loucos às vezes, um dia seus pequenos passos desaparecerão e deixarão nossa casa vazia e silenciosa. Isso nos ajuda a saborear e valorizar nosso tempo verdadeiramente precioso com eles.

Embora essa técnica funcione quando aplicada a situações específicas de "tempo limitado", ela também pode ser aplicada à vida em geral, que, embora sua data de validade seja incerta, definitivamente terminará um dia. Esse fim pode ser daqui a cinquenta anos, ou pode ser amanhã. A prática do memento mori − de lembrar que você vai morrer, de refletir, como Marco Aurélio fez, que "Você pode deixar a vida agora" − pode torná-lo mais grato por cada dia e momento adicional que você tiver.

 

Como expressar maior gratidão

 

A gratidão é um dever do qual ninguém pode ser dispensado, porque está sempre à nossa disposição.

Pierre Charron

 

Envolver-se em práticas como diário e reflexão é ótimo. Mas a gratidão não é principalmente um exercício individual, mas relacional. Não é apenas um sentimento privado, mas uma ação pública. Assim, no cerne da gratidão não está a experiência da gratidão, mas sua expressão; uma vez que cultivamos a gratidão em nossos corações, devemos compartilhá-la com os outros.

Reconhecer externamente os dons que recebemos verifica nosso orgulho, humilha nossa alma e forja um elo que se expandirá além de nós mesmos para se tornar uma cadeia cada vez maior de serviço e virtude.

 

Agradeça a quase todos, por quase tudo

 

Você santifica tudo o que você é grato.

Anthony de Mello

 

Expressar gratidão é tão simples quanto dizer "Obrigado".

Mesmo que essas duas palavras sejam tão fáceis de dizer, a maioria das pessoas não as expressa com frequência suficiente. Na pesquisa de Kaplan sobre gratidão, por exemplo, ela descobriu que, no local de trabalho, apenas "7% das pessoas agradeciam regularmente a seus chefes e 10% aos colegas". Entramos nesse modo em que não sentimos que devemos ser gratos pelas pessoas que apenas fazem o que se espera delas – apenas fazendo seu trabalho. Esquecemos que a vida não nos deve nada, que nada é garantido, que não temos todo o direito às coisas boas que recebemos. Esquecemos que tudo é um presente. Mas é.

Portanto, agradeça a todos, por quase tudo. Não apenas quando alguém foi além, mas quando alguém simplesmente fez o que "deveria" − Deus sabe que mesmo quando algo "deveria" acontecer de uma certa maneira, muitas vezes não acontece! Seja grato a qualquer um que mantenha até mesmo a ponta básica do acordo, que não siga o caminho de menor resistência. Seja grato por alguém estar disposto a atender às suas necessidades, assim como eles são gratos pela oportunidade de atender a essas necessidades.

Se ainda não estiver, comece a fazer de um simples "obrigado" uma parte frequente e fundamental de sua linguagem diária. Agradeça à sua esposa, caixa, médico, farmacêutico, mecânico de automóveis, carteiro, garçom − todos que se esforçam em seu nome. Não se esqueça de agradecer às pessoas que servem àqueles que você ama também.

E enquanto você está nisso, agradeça ao piloto e aos comissários de bordo quando sair do avião. Não importa o quão rotineiro o voo aéreo tenha se tornado, não há nada verdadeiramente rotineiro em pastorear um pedaço de metal pelo céu e trazê-lo com segurança para a terra. É realmente uma conquista impressionante e gratificante.

Existem muitos dons maravilhosos como esse "escondido" na vida cotidiana. Deixe o "obrigado" servir como um encantamento mágico que materializa sua realidade bem diante de seus olhos.

 

Escreva notas de agradecimento com antecedência e frequência

 

Aquele que reconhece uma bondade ainda a tem, e aquele que tem um senso de gratidão a retribuiu.

Cícero

 

Dizer obrigado é um gesto digno, mas às vezes quando alguém vai além de você (e quando você tem expectativas modestas e humildes, isso acontece bastante!), um reconhecimento verbal de sua gratidão simplesmente não é suficiente. Você deve colocar sua gratidão por escrito.

Escrever notas de agradecimento aumenta o poder da gratidão tanto para o escritor quanto para o destinatário; o primeiro se beneficia do efeito de colocar pensamentos nebulosos no papel, enquanto o segundo desfruta de um gesto de apreciação, que, por exigir mais esforço do que um oral "Obrigado!", carrega mais significado. De fato, as notas de agradecimento são incrivelmente impactantes, porque são relativamente raras.

Um quarto de século atrás, um pastor e escritor de meia-idade chamado William Stidger estava refletindo sobre sua gratidão por um professor que teve em sua juventude, que o apresentou à grande literatura e despertou um amor pela palavra escrita que ajudou a prepará-lo para suas futuras vocações. Percebendo que nunca havia agradecido a ela pela maneira como ela havia tocado sua vida, ele decidiu "expiar" essa omissão e, naquela mesma noite, escreveu-lhe uma carta manuscrita de agradecimento.

Apenas alguns dias depois, ele recebeu uma resposta; escrito em rabiscos trêmulos, dizia:

Meu caro Willie,

Agora sou uma senhora idosa na casa dos 80 anos, morando sozinha em um pequeno quarto, cozinhando minhas próprias refeições, solitária e aparentemente como a última folha de outono deixada para trás. Você ficará interessado em saber, Willie, que lecionei na escola por 50 anos e, em todo esse tempo, a sua é a primeira nota de agradecimento que recebi. Veio em uma manhã azul e fria, e alegrou meu velho coração solitário como nada me animou em muitos anos.

Notas de agradecimento devem ser escritas sempre que alguém faz algo que aquece especialmente seu coração. Eles podem ser escritos para reconhecer gentilezas grandes e pequenas. Eles podem ser escritos em resposta ao ato específico e significativo de alguém, ou ao perceber como um acúmulo de seus pequenos gestos influenciou sua vida para sempre. Escreva-os para seus familiares e amigos, para supervisores e subordinados, para pessoas de serviço que ficarão surpresas com o fato de você reconhecer o trabalho deles. Escreva-os para pessoas que você conhece bem e para estranhos – autores, músicos, atletas, políticos, pastores – que você não conhece pessoalmente, mas que impactaram sua vida. Escreva-os para qualquer pessoa que já tornou sua vida mais fácil, segura, saudável, interessante, alegre.

Da mesma forma, escreva notas de agradecimento não apenas na forma de uma resposta imediata a um serviço ou presente, mas como um acompanhamento meses ou anos depois; por exemplo, "Eu estava pensando hoje em como nossa viagem foi incrível no verão passado e queria agradecer novamente por me mostrar um tempo tão bom". "Três anos depois que você me deu esse conselho, quero que saiba o impacto que ele continuou a ter na minha vida."

Lembre-se de lembrar.

 

Servir

 

O serviço que prestamos aos outros é realmente o aluguel que pagamos pelo nosso quarto nesta terra. É óbvio que o próprio homem é um viajante; que o propósito deste mundo não é 'ter e manter', mas 'dar e servir'. Não pode haver outro significado.

Sir Wilfred Grenfell

 

Podemos ser gratos a um amigo por alguns acres ou um pouco de dinheiro; e, no entanto, pela liberdade e comando de toda a terra, e pelos grandes benefícios de nosso ser, nossa vida, saúde e razão, nos consideramos como se não tivéssemos nenhuma obrigação.

 

Uma das melhores maneiras de expressar gratidão é não apenas agradecer aos outros pelo que eles deram a você, mas tentar retribuir esforçando-se para retribuir ao mundo. O serviço é, de fato, uma disciplina espiritual em si mesma, e brota da convicção de que, à luz de tudo com o que você foi abençoado, de que outra forma você poderia responder? Você tirou do pote do universo e, portanto, sente-se movido a colocar algo de volta.

Serviço é a tentativa de atender às necessidades físicas, emocionais, relacionais e/ou financeiras de outras pessoas. Ou, como diz Adele A. Calhoun: "O serviço é uma forma de oferecer recursos, tempo, tesouro, influência e experiência para o cuidado, proteção, justiça e nutrição dos outros".

O serviço pode assumir formas maiores e mais estruturadas: voluntariar-se para ser um Big Brother, ou para trabalhar em um refeitório, ou para construir casas, mas também é necessário em doses menores e mais esporádicas: fornecer carona para alguém para a igreja ou consultas médicas, limpar o quintal de uma mulher idosa, remover neve para um vizinho deficiente, consertar a torneira de alguém.

O serviço pode assumir formas mais óbvias, bem como se manifestar em atos que podemos não pensar como atos de serviço, mas decididamente somos. Em Celebração da Disciplina, Richard Foster lista vários exemplos nesse sentido:

Proteger a reputação dos outros é um serviço profundo e duradouro.

Existe o serviço de ser servido.

Existe o serviço de cortesia comum.

Existe o serviço da hospitalidade.

Existe o serviço de ouvir.

Para encontrar o serviço para o qual fostes chamados, procurai combinar os vossos dons pessoais com as necessidades do mundo; Na verdade, você pode mostrar melhor gratidão pelos dons que recebeu, usando-os não apenas para beneficiar sua própria vida, mas a vida de outras pessoas. Os talentos de todos são necessários de alguma forma; como Paulo diz no Novo Testamento, as comunidades são como corpos físicos, e cada parte tem um papel a desempenhar. Se você tem um dom mais "vistoso" para, digamos, cantar, ensinar ou falar, isso é ótimo. Mas se você é adepto da administração, do orçamento ou da organização − em trabalhar nos bastidores − seu serviço é igualmente valioso. Todos têm um importante ministério pessoal a cumprir.

Se você não tem certeza do que é esse ministério, basta entrar em qualquer lugar e experimentar oferecer sua ajuda em diferentes áreas. Como observa Donald S. Whitney, "a melhor maneira de descobrir e confirmar qual dom espiritual é seu é servindo".

Lembre-se de que, mesmo quando seu serviço está alinhado com seus dons, nem sempre será fácil e muitas vezes será difícil. É chamado de disciplina por um motivo.

Ironicamente, uma das partes mais difíceis de se envolver em um serviço movido pela gratidão é não se sentir apreciado por seus esforços! Mesmo que você procure levar uma vida de gratidão, isso não significa que todos retribuirão o favor. O ego naturalmente clama contra o trabalho na ausência de afirmação, reconhecimento, status. Você tem que ter a coragem de enfrentar a ingratidão e servir não por nenhum crédito, mas simplesmente porque é a coisa certa a fazer. Como diz Sêneca: "É culpa de outro se ele for ingrato, mas é minha se eu não dou".

Uma maneira de se manter motivado para realizar atos de serviço não anunciados é lembrar que, como observa Foster, seu ato não é "apenas para o bem da pessoa servida":

Ministérios ocultos e anônimos afetam até mesmo pessoas que nada sabem sobre eles. Eles sentem um amor e compaixão mais profundos entre as pessoas, embora não possam explicar o sentimento. Se um serviço secreto é feito em seu nome, eles são inspirados a uma devoção mais profunda, pois sabem que o poço do serviço é muito mais profundo do que eles podem ver. É um ministério que pode ser realizado com frequência por todas as pessoas. Ele envia ondas de alegria e celebração através de qualquer comunidade de pessoas.

O serviço também é difícil porque pode ser tão enfadonho, tão humilde; insulta nosso senso de nós mesmos como feitos apenas para trabalhos interessantes e importantes. Como Foster observa:

De certa forma, preferimos ouvir o chamado de Jesus para negar pai e mãe, casas e terras por causa do evangelho do que sua palavra para lavar os pés. A abnegação radical dá a sensação de aventura. . . . Mas no serviço devemos experimentar as muitas pequenas mortes de ir além de nós mesmos. O serviço nos bane para o mundano, o comum, o trivial.

Apesar desses obstáculos para viver a disciplina espiritual do serviço, sua busca vale incrivelmente a pena. Enquanto as outras disciplinas podem voltar nosso olhar para dentro, o serviço derrota nossa "autoconsciência mórbida" e nos leva a olhar além de nós mesmos. Nada mais "amadurece" a alma da mesma maneira. Como Foster argumenta:

De todas as Disciplinas Espirituais clássicas, o serviço é o mais propício ao crescimento da humildade. Quando nos lançamos em um curso de ação conscientemente escolhido que acentua o bem dos outros e é, em sua maior parte, um trabalho oculto, ocorre uma profunda mudança em nossos espíritos.

Ao perder sua vida a serviço dos outros, você realmente a encontra.

 

Conclusão da série

 

É precisamente em tempos de imunidade de cuidados que a alma deve se endurecer de antemão para ocasiões de maior estresse, e é enquanto a Fortuna é gentil que ela deve se fortalecer contra sua violência. Em dias de paz, o soldado realiza manobras, levanta terraplenagem sem inimigo à vista e se cansa de trabalho gratuito, a fim de estar à altura do trabalho inevitável. Se você não quer que um homem recue quando a crise chegar, treine-o antes que ela chegue.

 

"Foi somente a partir do Iluminismo do século XVIII que o Ocidente cristão fez da 'crença' - a aceitação de certas proposições de credo - 'o primeiro postulado' da vida religiosa. No Ocidente, desenvolvemos uma cultura racional, científica e pragmática; Sentimo-nos obrigados a nos convencer de que uma proposição é verdadeira antes de basearmos nossas vidas nela e a estabelecer um princípio para nossa satisfação antes de aplicá-la. No período pré-moderno, no entanto, em todas as principais religiões do mundo, a ênfase principal não estava na crença, mas no comportamento. Primeiro, você mudou seu estilo de vida e só então você poderia experimentar Deus, Nirvana, Brahman ou o Tao como uma realidade viva.

 

Começamos esta série explorando a maneira como treinar a alma é muito semelhante ao treinamento do corpo. Assim como o corpo físico, os músculos espirituais atrofiarão se não forem exercitados regularmente e propositalmente, e esse exercício requer esforço, dor e disciplina. Assim como construir força física melhora sua vida cotidiana, ao mesmo tempo em que o prepara para emergências, desenvolver força espiritual expande as possibilidades da existência comum, ao mesmo tempo em que garante que você esteja pronto para lidar com sérias questões morais e tentações.

Assim como o treinamento físico também, com suas bibliotecas de diferentes exercícios e o compromisso necessário para realizá-los, você pode se sentir intimidado pela ideia de iniciar um programa de treinamento espiritual. Cobrimos oito disciplinas nesta série, e isso é apenas uma parte de todas as que existem. Mesmo apenas incorporar esses oito sozinhos em sua vida diária pode parecer uma perspectiva assustadora.

Mas há muitas boas notícias a esse respeito para tranquilizá-lo.

Primeiro, várias disciplinas atuam como "recipientes" para outras, e várias podem ser feitas ao mesmo tempo. Por exemplo, enquanto você experimenta um espaço de solidão e silêncio, você também pode jejuar e usar o tempo para estudar ou praticar o autoexame (que inclui gratidão); em outras palavras, em apenas 10 a 20 minutos por dia, você pode praticar legitimamente 4 ou 5 disciplinas espirituais ao mesmo tempo. As disciplinas também podem ser praticadas sem alterar sua programação; desligue o som do carro e seu trajeto para o trabalho se torna um momento de solidão e silêncio, no qual você pode refletir sobre o que é grato ou passar pelo exame. Treinar a alma é tão simples e acessível quanto utilizar as muitas possibilidades nos momentos livres.

Lembre-se também de que disciplinas como gratidão e simplicidade nem sempre precisam ser treinadas em sessões especialmente reservadas, mas podem ser exercitadas nas pequenas decisões que você toma ao longo do dia.

Além disso, embora cada disciplina espiritual deva ser incluída em sua vida de alguma forma, nem todas precisam receber o mesmo tempo e atenção. Provavelmente há alguns que vêm mais naturalmente para você, e alguns que são mais difíceis e que precisam de mais trabalho. Talvez você seja uma pessoa naturalmente grata, que adora servir aos outros, mas luta para arranjar tempo para ficar sozinho. Talvez você seja diligente em estudar as escrituras, mas nunca vire essa lente para si mesmo. Talvez você seja bom em trabalhar em quase todas as disciplinas ao mesmo tempo – mas lute com a simplicidade!

Preste atenção não apenas às disciplinas que você sente falta em sua vida, mas também àquelas pelas quais você se sente magneticamente atraído. Esses desejos podem ser sinais importantes. Envolver-se nessas disciplinas mais profundamente pode desbloquear algo vital sobre seus dons e potencial e ajudar a cristalizar o propósito de sua vida.

Saiba que é melhor não ficar muito empolgado com uma disciplina, mergulhar nela hardcore por uma semana e depois abandonar tudo junto, então é apontar para um progresso lento e constante. Embora seja bom abordar as disciplinas com paixão e entusiasmo, perceba que o entusiasmo que você sente vai desaparecer e diminuir e fluir. Assim como há dias em que você está mais ou menos entusiasmado em ir à academia, às vezes você estará mais ou menos ansioso para praticar as disciplinas espirituais. Assim como existem exercícios físicos que parecem mais difíceis e fáceis de passar, espere descobrir que algumas sessões com as disciplinas espirituais são profundamente envolventes e nutritivas, enquanto outras parecem secas e infrutíferas. Em vez de sentir que a resistência significa que você está no caminho errado ou é apenas uma pessoa indisciplinada que não foi feita para essas práticas, lembre-se de que o atrito é natural e saudável; esteja você levantando pesos tangíveis ou metafóricos, é durante a "rotina" que você fica mais forte. Faça do seu compromisso com a prática das disciplinas espirituais algo que seja claro tanto na cabeça quanto no coração, e baseado mais no hábito regular do que no humor.

Finalmente, quando sua motivação diminuir, lembre-se de que a libertação vem através da disciplina. Existem dois tipos de liberdade neste mundo: liberdade de e liberdade para. Quando você faz coisas difíceis – e viver vigorosamente se aplica a atividades físicas, mentais e espirituais – você perde a liberdade de seguir o status quo, seguir cegamente seus desejos e viver uma vida fácil e sem sentido; Mas você ganha a liberdade de dominar seus impulsos inferiores, alcançar ideais mais elevados, navegar agilmente pelos desafios e acessar dimensões da existência que estão ocultas da visão do homem comum.

Treine para a força: Força no corpo. Força na mente, Força na alma.

 

Traduzido com Google Tradutor