Osório de Moraes nasceu na
pequena cidade mineira de Bagagem (atual Estrela do Sul) em 21 de dezembro de
1886. Filho caçula de Irineu Osório de Moraes e Ana Virgínia de Moraes, ficou
órfão de pai com apenas um ano de idade. A morte trágica do genitor,
comerciante itinerante, ocorrida no Estado de Mato Grosso, deixou a família sem
haveres. O amparo foi oferecido pela avó materna, que acolheu em seu próprio
lar a filha viúva e os três netos: Felisminda, Elias e Osório.
As crianças foram cuidadas pela
babá Joana, nascida de ventre escravo, extremamente dedicada e que se tornou
para eles “a mãe preta muito amada”. Certa manhã, revela Osório no opúsculo
autobiográfico “Fragmentos de uma Alma”, Joana levantou-se dizendo:
A alma do ‘sô’ Irineu apareceu para mim esta noite. Eu
o vi como estou vendo vocês. (...) Ele se aproximou de mim e disse: - Joana,
ajuda a criar os meus filhinhos...
Osório concluiu o curso primário
na escola pública. Aos 15 anos, após ter feito cursos particulares de Português
e Matemática, tornou-se mestre-escola dos filhos do mais importante fazendeiro
da região, exercendo posteriormente o mesmo mister em outra fazenda.
Algum tempo depois, o Sr.
Plácido de Paiva − que precisava ausentar-se da cidade por duas semanas −
convidou-o insistentemente a assumir a gerência de sua casa comercial. O
encargo, do qual se desincumbiu com rara eficiência, durou mais de quatro
meses, levando o jovem Osório a descobrir a vocação inata para o comércio. Trabalhou como balconista e guarda-livros em
outras casas comerciais, tornando-se sócio de uma delas, aos 17 anos. Era a
firma “Santos & Moraes”, dissolvida dois anos depois com bom lucro partilhado
entre os dois sócios.
Em 1908, com 22 anos, mercê do
prestígio granjeado pela retidão de caráter, foi eleito vereador em sua terra.
Ao casar-se, em 5 de junho de
1911, com Maria Luíza de Santana, pediu ao Pe. Marcelo, vigário de Estrela do
Sul, que o dispensasse da confissão, tendo o sacerdote anuído após ouvir-lhe os
argumentos. Mudou-se no mesmo ano para Coromandel, onde, em sociedade com o
sogro, transformou parte da casa comercial deste em farmácia, fundando a firma
“Osório & Cia.”, cuja expansão levou à criação de cinco filiais no
município e em cidades vizinhas.
A carreira política iniciada na
cidade natal teve prosseguimento em Coromandel, então distrito de Patrocínio,
onde, em 1920, foi eleito vereador, chegando a ocupar a presidência da Câmara
Municipal dois anos depois. Durante sua gestão conseguiu elevar Coromandel à
categoria de município. Líder inato, dinâmico e empreendedor, promoveu a
criação de escolas e a construção da cadeia pública, da usina hidrelétrica e do
prédio da Câmara de Vereadores do município recém-emancipado.
Também por iniciativa sua foi
construída a estrada ligando Coromandel a Monte Carmelo. A escola que mandou
construir em Coromandel passou a ter o seu nome, em justa homenagem de gratidão
do povo da cidade. Nesse mesmo ano de
1922, levou o primeiro automóvel à região e constituiu, a convite do compadre e
amigo Joaquim Henriques Cardoso, a firma “Cardoso & Moraes”, de produtos
farmacêuticos, a qual, em 1929, por desistência do sócio, que comprara uma
fazenda de café e desejava formar-se em Medicina, passou inteiramente às suas
mãos com a denominação de “Laboratório Osório de Moraes”.
Por ter participado ativamente
da Revolução de 1930, foi convencido pelo Governador Olegário Maciel a aceitar,
mesmo a contragosto, a nomeação para o cargo de Prefeito de Coromandel.
Em 21 de novembro de 1932, preocupado
com a educação dos filhos e dada a necessidade de expandir os negócios da
pequena e promissora indústria farmacêutica, resolve transferir-se para Belo
Horizonte, abandonando definitivamente a vida política. Na Capital Mineira,
adquire o imóvel da Rua Muriaé, 92, aí instalando a atividade industrial e a
própria residência.
Na tarde de 4 de abril de 1936,
fenômenos mediúnicos incomuns ocorrem em sua residência. Torrões, tijolos e vários objetos eram
jogados no interior da casa, levando pânico à sua esposa e aos dez filhos:
Stela, Mário, Irineu, Pérola, Walda, Vanda, Osório, Roberto, Helena e Gláucia –
conforme noticiado com destaque no então vespertino Diário da Tarde.
No dia seguinte, domingo, às 13
horas, Osório, que já era simpatizante do Espiritismo, dirige-se à União
Espírita Mineira em busca de ajuda. Recebe-a através do Presidente Rodrigo
Agnelo Antunes que, acompanhado de alguns amigos, entre os quais o médium vidente
Geraldo Benício Rocha, realiza naquele mesmo dia reunião na residência de
Osório, quando fica esclarecido serem os fenômenos produzidos com a
intermediação da menina Cenira, de 10 anos, acolhida naquele lar. Os fenômenos
de transporte cessaram com a retirada de Cenira do local para a casa de
Laudemiro Alves Ferreira e, posteriormente, para a de Geraldo Rocha, Oscar
Coelho dos Santos e outros espíritas, sendo finalmente levada por Leopoldo
Machado para Nova Iguaçu, onde se submeteu a tratamento desobsessivo.
Depois desse “despertamento”,
Osório adquiriu para estudo todos os livros de Allan Kardec. Frequentando
assiduamente a União Espírita Mineira, começou a ter suas dúvidas dissipadas,
colhendo da sabedoria do Prof. Cícero
Pereira ensinamentos profundos sobre o Evangelho de Jesus.
Foi também na União Espírita
Mineira, então localizada na Rua Curitiba, 626, que conheceu Alencar
Braga, Leonardo Baumgratz, Rubens Romanelli, Noraldino de Mello Castro,
Oscar Coelho dos Santos, Francisco
Cândido Xavier, Luiz Ziviani, Salvador Schembri e outros amigos. Buscavam
arregimentar, naquele início de 1937, companheiros para criar uma instituição
de amparo à criança desvalida.
Era o “embrião” do Abrigo Jesus
que, oficialmente criado em 25 de julho de 1937, teve a sede própria inaugurada
em 31 de março de 1946. Osório de
Moraes, que na assembleia de fundação havia sido eleito 2º Tesoureiro, foi
unanimemente escolhido, no mandato seguinte, mercê de sua simpatia, habilidade,
competência e espírito de liderança, para ocupar o cargo de Presidente, que
exerceria durante 30 anos em sucessivas reeleições.
Para dedicar-se “de corpo e
alma” ao Abrigo Jesus, o “paizinho Osório”, como era chamado pelas crianças ali
acolhidas, confiou a gestão do laboratório farmacêutico aos filhos Mário e
Irineu. Escreve ele no opúsculo citado:
Em minha vida tive duas fases em que me entreguei de
corpo e alma a coisas de interesse público: a primeira, como político em
Coromandel, onde morei 21 anos, tornando-me obsecado pelas coisas daquela
terra; na segunda, com o Abrigo Jesus, fui tomado da mesma paixão,
entregando-me inteiramente aos misteres da Instituição, (...) envolvido em doce
enlevo de encantamento e ternura pelas crianças.
Após 52 anos de vida conjugal,
em que se destacaram suas virtudes de esposo dedicado e pai exemplar, a
companheira Maria Luíza desencarna em 3 de setembro de 1963. Não suportando a
solidão, contraiu novas núpcias em 7 de maio de 1966 com Leonides Urbano Conde,
criatura boníssima e que dele cuidou até a morte.
Aos 94 anos, Osório de Morais
desencarnou em Belo Horizonte no dia 24 de janeiro de 1980, no coroamento de
experiência reencarnatória desse autêntico cristão, marcada pelo amor à família
e devotamento ao próximo.
Fonte: “O Espírita
Mineiro”, nº. 285 (maio/junho – 2005)
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