Alencar de Paula Braga nasceu no
antigo distrito de Rio Pomba (atual Guarani, pequena cidade da Zona da Mata,
Minas Gerais) no ano de 1901. Foi o quinto filho, de uma prole de dez, do casal
João Evangelista Braga e Jovita de Paula Braga.
Seu pai, proprietário do Hotel
Guarani e escrivão da Coletoria Estadual, coadjuvado por sua esposa,
proporcionou aos filhos sólida formação moral, alicerçada nos valores da ética,
do trabalho e do respeito ao próximo.
Dessa forma, tão logo concluiu o
curso primário, o menino Alencar iniciou-se na atividade mercantil,
transportando em seu cavalo, para propriedades vizinhas, pães frescos
encomendados por várias famílias, e de lá trazendo, ao retornar, ovos e frangos
para atender à sua sempre crescente clientela na cidade.
Em 1920, com os recursos que
conseguiu amealhar, instalou, com apenas 19 anos, o estabelecimento comercial
denominado “Lojas Brasileiras”, que alcançaria grande progresso, alinhando-se
entre os mais conceituados da região.
Foi nessa época que Alencar teve
os primeiros contatos com a Doutrina Espírita. Sua mãe, Dona Jovita, apresentou
sintomas de influenciação espiritual, que só puderam ser explicados e
solucionados por três adeptos do Espiritismo: Sr. Josué, pequeno comerciante,
Sr. Nicola, imigrante italiano, e o Sr. Moisés Silva, guarda-livros.
A partir daí, passou a ler O
Livro dos Espíritos e O Evangelho Segundo o Espiritismo, que foram
sua primeira fonte de estudos doutrinários.
Em 1923, casou-se com a jovem
Martha de Campos Alvim, natural da localidade vizinha de Descoberto. Da união
nasceram os filhos: Adalberto, Maria
Aparecida, Terezinha de Jesus, George e Jandir, espíritas desde o berço. Por
volta de 1932, a família muda-se para a Capital Mineira, a fim de terem melhor
qualidade de vida e perspectivas mais amplas aos filhos. Em Belo Horizonte,
estabelecem-se no ramo de armarinho com as lojas “A Principal”, localizadas na
Rua Rio de Janeiro e na Avenida Afonso Pena.
Neste período, Alencar Braga
aproximou-se ainda mais da Doutrina Espírita, passando a frequentar
assiduamente reuniões na União Espírita Mineira e no Centro Espírita Oriente.
Além de dedicar-se ao estudo de obras espíritas, realizava, semanalmente, em sua
residência na Rua Eurita, 37, bairro Santa Tereza, o Culto do Evangelho no Lar
congregando toda a família.
Numa dessas reuniões domésticas,
após a leitura da mensagem “A Beneficência”, ditada por Adolfo, bispo de Argel,
inserta no item 11 do capítulo XIII de O Evangelho Segundo o Espiritismo, ele e
a esposa Martha muito se emocionaram, nascendo ali a inspiração de criarem uma
instituição destinada a amparar as “pobres criancinhas sem família”. A ideia
que lhes fecundara os corações fê-los procurar companheiros idealistas com quem
pudessem irmanar-se para a concretização do objetivo acalentado.
Os primeiros a serem procurados
foram seus vizinhos espíritas da rua em que moravam, Leonardo e Delmitina
Baumgratz, que acolheram com entusiasmo o convite. Era o dia 31 de janeiro de
1937.
Procurados por Alencar e
Leonardo, dirigentes e colaboradores da União Espírita Mineira, entre os quais
Rodrigo Agnelo Antunes, Oscar Coelho dos Santos, Geraldo Benício Rocha,
Noraldino de Mello Castro, Rubens Costa Romanelli, Cícero Pereira, Osório de Moraes,
Francisco Cândido Xavier e Antônio Loreto Flores, mostraram-se receptivos à
ideia de criação de um abrigo para acolher, em nome de Jesus, crianças órfãs de
amparo.
A União Espírita Mineira serviu
de útero abençoado àquele embrião fecundado pelo legítimo amor ao próximo e
realizou-se, a 7 de fevereiro de 1937, a escolha do nome – Abrigo Jesus
– e da diretoria provisória da futura entidade, cujo nascimento se deu no dia
25 de julho do mesmo ano, quando foi realizada a Assembleia Geral de
Constituição. Elaborado por Noraldino de Mello Castro, o Estatuto Social
somente dois meses depois, em 22 de setembro de 1937, sob nº 249, obteve
registro no Cartório das Pessoas Jurídicas. Era a certidão de nascimento
ansiosamente esperada.
A primeira diretoria, à época, da
novel instituição, teve a presidência confiada a Rodrigo Agnelo Antunes, então
presidente da UEM, ficando Alencar Braga e Leonardo Baumgratz como tesoureiro e
secretário.
Alencar acompanhou, atento e
diligente, as etapas que marcaram a vida do Abrigo Jesus – hoje,
modelar instituição de amparo à criança
e ao adolescente, – como a compra do terreno em janeiro de 1940, o lançamento
da pedra fundamental em 7 de fevereiro de 1940, a inauguração do prédio em 23
de junho de 1944 e o acolhimento das primeiras crianças em 31 de março de 1946.
Embora residindo em Belo
Horizonte, Alencar nunca perdeu o contato com a terra natal. Em uma de suas
visitas a Guarani, fundou, com amigos espíritas que lá deixara, o Centro
Espírita João de Freitas, nome escolhido para homenagear o benfeitor espiritual
que orientava as atividades mediúnicas de sua querida mãe, Dona Jovita de Paula
Braga. O Abrigo Jesus tornou-se, além da família, a razão de ser de sua
existência de espírita consciente e dedicado ao serviço do Cristo.
Alencar Braga desencarnou em 18
de novembro de 1972 em Belo Horizonte. Compareceram ao sepultamento de seu
corpo, no cemitério do Bonfim, os amigos que soube granjear com sua honradez,
trabalho e amor ao semelhante, no que se constituiu exemplo vivo de ação cristã
“sem que a mão esquerda saiba o que faz a direita”. Até sua desencarnação, participou de todas as
diretorias do Abrigo Jesus, mas não chegou a completar seu primeiro mandato
como presidente da Casa que tanto amou.
Fonte: Jornal “O
Espírita Mineiro”, nº 297.
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