segunda-feira, 8 de janeiro de 2024

FERNANDO NAPOLEÃO AUGUSTO DE ALENCAR[1]

 


 

Fernando Napoleão Augusto de Alencar nasceu em Fortaleza, Ceará, em 31 de março de 1857. Teve o nome dado em virtude da admiração do pai pela França e seu imperador. Filho do clérigo Carlos Peixoto de Alencar, religioso da Capital Cearense, e de Dona Josefa Cavalcanti de Moura, era primo de José de Alencar, que foi seu padrinho de batismo, e parente de Adolfo Bezerra de Menezes Cavalcanti.

Fez com brilhantismo o curso de humanidades em Fortaleza, sendo após mandado para Salvador, na Bahia, em cuja Faculdade de Medicina se matriculou, doutorando-se a 18 de dezembro de 1880, como notável acadêmico. Médico, abolicionista, poeta, escritor, teatrólogo, articulista e orador, Fernando de Alencar militou nas fileiras espiritistas, dando voluntariosa colaboração.

Depois de formado foi acometido de uma doença conhecida como “béri-béri”, indo morar no Rio de Janeiro, juntamente com seu irmão Carlos de Alencar (major do Exército). Por força da moléstia, transferiu-se para Minas Gerais procurando o clima ameno, tentando restabelecer-se. Lá, tornou-se médico da Estrada de Ferro D. Pedro II, tendo sob seus cuidados numerosa turma de trabalhadores do “avançamento” nas proximidades de Carandaí/MG.

Curado, graças ao clima benéfico das montanhas, foi chamado para atender a um doente no perímetro de Carandaí, na “Fazenda da Conquista”, de propriedade de Antônio Augusto da Cunha. Tendo-se enamorado de uma das filhas deste, Emília, com a qual se casou passado algum tempo, deixou então o serviço da Pedro II para entregar-se à clínica particular, indo residir na vila de João Gomes, que seria, alguns anos mais tarde, a cidade de Palmira (hoje Santos Dumont).

Homem moral e intelectualmente bem dotado, teve uma vida cheia de trabalhos, sofrimentos e ilusões desfeitas, em luta constante com um meio atrasado e hostil, que não podia compreendê-lo e tudo negava-lhe.  Não ficou muito tempo em nenhuma das numerosas localidades mineiras onde residiu, entre elas: Barbacena, Ibertioga, Ilhéus (São José de Ilhéus - vila que pertencia à freguesia de Ibertioga), Carandaí, Sabará, Queluz, Cristiano Otoni, Patos, Dores do Indaiá, Henrique Galvão (atual Divinópolis), Carmo da Mata, Itapecerica e Sete Lagoas.

Espírito independente, usava a pena e a fala para deblaterar contra a escravidão nos últimos anos do Império e nos primeiros anos da República, clamando com vigor que não era aquele o governo com que sonhara.

Caráter altivo, incapaz de transigências que maculassem a pureza das suas ideias liberais, foi um inadaptado à vida provinciana e daí a circunstância de não morar, nunca mais de dois ou três anos, em qualquer dos lugares para onde o levava o destino.

Médico extraordinário, somente com a auscultação, sem auxílio de qualquer instrumento, era capaz de fazer diagnósticos seguros (possuía apenas um termômetro e um fórceps). Dedicou-se às doenças infecciosas e à obstetrícia. Talvez tivesse feito fortuna num grande centro, mas no interior de Minas Gerais sempre lutou com a pobreza, clinicando entre gente humilde, contentando-se com o pouco que auferia e ainda ajudando seus pacientes, muitas vezes, com a consulta, o remédio e a dieta.

Falava de improviso, seguindo a inspiração do momento, invariavelmente arrebatada e bela, empolgando o auditório pelas imagens atrevidas e brilhantes que se sucediam. Era orador entusiasta, lírico e romântico, sem ser oco ou vulgar, sempre com idealismo, usando a palavra a serviço da Abolição e da República, sem jamais almejar cargos públicos ou honrarias de qualquer espécie. Falava o que sentia e sentia o que falava, com uma sinceridade absoluta, sem medir as consequências de suas opiniões. Bem cedo se desiludiu dos homens públicos de seu tempo. Participou ativamente da campanha civilista, apoiando Rui Barbosa, mas não chegou a assistir às eleições e ao esbulho sofrido por este que foi rejeitado pelos políticos profissionais.

Era poeta e, desde estudante, começou a versejar. Admirava Castro Alves, Victor Hugo e Euclides da Cunha. Apoiado por Francisco de Castro, seu contemporâneo e amigo na faculdade, prosseguiu como poeta e romancista, publicando mais tarde “Celestina”, em 1885; “Pálidas”, em 1893; “Samuel, o apóstata”, em 1900; “Heroína”, em 1904; e, depois, os cadernos “Brindes” e “Poesias Diversas”, coletâneas de publicações em diversos jornais de Minas. Foi, ainda, teatrólogo, escrevendo as peças: “Tempestades Morais”; “Bolívar”; “O Poeta Louco”; “O Castigo de uma Vaidade” e “O Herói Insurgente”.

 

Crença na Doutrina

Fernando de Alencar tornou-se espírita dedicado quando, por ocasião do óbito de sua mãe, esta apareceu para ele dando-lhe a notícia. Semanas depois, chegou uma carta de Fortaleza, com tarja preta, confirmando a notícia da morte no mesmo dia e horário em que houve a aparição. Antes de abrir a carta, ele afirmara que se tratava da notícia da morte de sua mãe.

Assim, seu espírito inquieto fez com que buscasse informações para explicação do fenômeno e encontrou no Espiritismo as respostas, tornando-se divulgador entusiasta da Doutrina Espírita, publicando artigos e poemas no “Reformador”, em “O Espírita Mineiro” e em diversos jornais de Minas.  Fazia palestras e falou como orador na fundação da Federação Espírita Mineira em 1908, na Assembleia Legislativa, em Belo Horizonte.  Era amigo e correspondente de Leopoldo Cirne e outros espíritas ligados à Federação Espírita Brasileira.

A pedido de Leopoldo, através de correspondência guardada pela família, Fernando de Alencar analisou as obras de Léon Denis, dando parecer favorável à publicação das referidas obras através da FEB. Também era membro da Maçonaria, tendo intensa atividade naquela sociedade.

Longos e fundos foram os seus sofrimentos morais, que bem cedo levaram seu corpo à sepultura. Fernando de Alencar desencarnou em Sete Lagoas/MG (sua última morada terrena), em 13 de janeiro de 1910, aos 53 anos incompletos, onde contou com as vibrações de solidariedade e apreço de maçons e espíritas de seu tempo.

Contudo, desencarnou na miséria por não ter sido nem ambicioso, nem avarento. Era, ao contrário, desprendido e até imprevidente. Tinha cinco filhos e deixou-os, juntamente com a viúva, sem sequer um teto onde pudessem se abrigar e sem o necessário para sobreviverem por um mês. Nada obstante, sua família conseguiu, com trabalho honesto, superar as dificuldades com que se viram a braços subitamente.

Deixaria legado importante a seus descendentes no ideal cristão, sendo seu bisneto, Luciano Alencar da Cunha, figura atuante no Movimento Espírita na cidade de Barbacena/MG.

 

Fontes:

- Gilberto de Alencar (filho do biografado), em Revista da Academia Mineira de Letras, Belo Horizonte;

- Luciano Alencar da Cunha;

- Jornal O Espírita Mineiro (março/abril - 2006).

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