segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

VICTOR-MARIE HUGO[1]

 

 

Victor-Marie Hugo foi um escritor e poeta francês de grande atuação política em seu país. É autor de Les Misérables e de Notre-Dame de Paris, entre diversas outras obras.

Nascido em Besançon, no Doubs, em 26 de fevereiro de 1802, Victor Hugo foi o terceiro filho de Sophie Trébuchet e Joseph Hugo, um major que, mais tarde, se tornaria um general do exército napoleônico.

A infância de Victor Hugo foi marcada por grandes acontecimentos. Napoleão foi proclamado imperador dois anos depois do nascimento de Victor Hugo, e a monarquia dos Bourbons foi restaurada antes de seu décimo oitavo aniversário. Os pontos de vista políticos e religiosos opostos dos pais de Victor Hugo refletiam as forças que lutavam pela supremacia na França ao longo de sua vida: seu pai era um oficial que atingiu uma elevada posição no exército de Napoleão. Era um ateu republicano que considerava Napoleão um herói, enquanto sua mãe era uma radical católica defensora da casa real, sendo que se acredita tenha sido amante do general Victor Lahorie, que foi executado em 1812 por tramar contra Napoleão. Devido à ocupação do pai de Victor Hugo, Joseph, que era um oficial, mudavam-se com frequência e Victor aprendeu muito com essas viagens. Na viagem de sua família a Nápoles, ele viu as grandes passagens dos Alpes e seus picos nevados, o azul do Mediterrâneo e Roma durante suas datas festivas.

Victor Hugo passou a infância entre Paris, onde foi educado por muitos tutores e também em escolas privadas, Nápoles e Madrid. Considerado um menino precoce, ainda jovem tornou-se escritor, tendo em 1817, aos 15 anos, sido premiado pela Academia Francesa por um de seus poemas.

Em 1819 fundou, com os seus irmãos, uma revista, o "Conservateur Littéraire" (Conservador Literário) e no mesmo ano ganhou o concurso da Académie des Jeux Floraux, instituição literária francesa fundada no século 14.

Em 1821, Hugo publicou seu livro de poesias, "Odes et poésies diverses" (Odes e Poesias Diversas), com o qual ganhou uma pensão, concedida por Luís XVIII. Um ano mais tarde publicaria seu primeiro romance, "Han d'Islande" (Hans da Islândia).

Casou-se com sua amiga de infância, Adèle Foucher, em 12 de outubro de 1822, o casamento gerou o desgosto de seu irmão, Eugène, que era apaixonado por Adèle. Em decorrência disso, Eugène enlouquece e é internado em um hospício. No ano seguinte, a morte do primeiro filho e o fracasso literário do livro Hans da Islândia, que não agrada a crítica, interrompem o período de estabilidade vivido até então. Em 1824 nasce sua primeira filha, Leopoldine.

Em 1825, aos 23 anos, recebe o título de Cavaleiro da Legião de Honra. Nesta época, torna-se líder de um grupo de escritores criando o Cenáculo.

A publicação da terceira coletânea de poemas de Victor Hugo, intitulada "Odes et Ballads", em 1826, marcou o início de um período de intensa criatividade.

Em 1827, no prefácio de seu extenso drama histórico, “Cromwell”, Hugo expõe uma chamada à liberação das restrições que impunham as tradições do classicismo. O prefácio é considerado o manifesto do movimento romântico na literatura francesa, nele o escritor fala da necessidade de romper com as amarras e restrições do formalismo clássico para poder então refletir a extensão plena da natureza humana. Ainda neste prefácio, Hugo defende o drama moderno, com a coexistência do sublime e do grotesco. O sucesso do prefácio de “Cromwell” consolidaram a imagem de Hugo como a principal liderança do romantismo na França. Aos 26 anos de idade, o escritor desfrutava de uma situação material confortável e prestígio não apenas entre a juventude rebelde francesa, mas também entre a corte de Carlos X.

Neste período integrou-se ao romantismo transformando-se em um verdadeiro porta-voz desse movimento. A residência de Hugo tornou-se um ponto de encontro de escritores românticos entre os quais Alfred de Vigny e o crítico literário Charles Augustin Sainte-Beuve.

A censura recai sobre sua obra, “Marion do Lorme”, em 1829, peça teatral apoiada na vida de uma cortesã francesa do século XVII, isso aconteceu porque a obra foi considerada muito liberal, e também devido ao fato dos censores terem interpretado a peça como uma crítica à Carlos X, o que fez com que a produção daquela que seria sua primeira peça a ser interpretada fosse cancelada.

Em 1830 estreia “Hernani” sua primeira obra teatral, que representa o fim do classicismo e expressa novas aspirações da juventude. A peça, que exalta o herói romântico em luta contra a sociedade, divide opiniões, agradando os jovens e desagradando os mais velhos, o que desencadeia uma disputa de público que contribui para a consagração de Hugo como líder romântico. A peça obteve grande sucesso, lotando o teatro em todas as suas exibições. A disputa entre opiniões gerada por Hernan obteve proporções além do teatro, apoiadores e opositores travavam brigas e discussões por toda a França.

Após o nascimento de mais uma filha, também no ano de 1830, que recebeu o nome da mãe, sua esposa recusa-se a ter mais filhos e concede ao marido liberdade para transitar por Paris, desde que não a aborrecesse. Tal fato, faz com que Hugo se entregue à libertinagem, ligando-se indistintamente à atrizes, aristocratas e humildes costureiras, mas contudo, ele não se separara de Adèle. Neste mesmo período, Adèle inicia um relacionamento amoroso com o amigo da família, Saint-Beauve.

Seu romance, “Notre-Dame de Paris”, é lançado em 1831, considerado o maior romance histórico de Victor Hugo, o livro definiu a forma de exploração ficcional do passado que marcaram o romantismo francês. O livro narra a história do amor altruísta do deformado sineiro da catedral de Notre-Dame, Quasímodo, pela bailarina cigana Esmeralda. Com um estilo realista, especialmente nas descrições de Paris medieval e seu submundo, o enredo é melodramático, com muitas reviravoltas irônicas. O livro foi um sucesso instantâneo e logo fez de Hugo o mais famoso escritor que vivia na Europa, tendo o livro se propagado e traduzido por todo o continente.

No ano de 1832, Hugo mudou-se para um apartamento instalado na Praça de Vosges, no bairro Le Marais, onde morou até 1848, tendo sido visitado por escritores como Honoré de Balzac, Alfred de Musset, Alexandre Dumas e o compositor Franz Liszt.

Em novembro de 1832 Victor Hugo apresentava em Paris “Le Roi S’Amuse”, uma peça baseada na vida amorosa do rei Francisco I da França. Desde 1827 até o ano da estreia de “Le Roi S’Amuse”, Hugo passara de uma postura inicialmente conservadora para um liberalismo reformista que se refletia em suas posições públicas e em sua obra. “Le Roi S'Amuse” também sofreria censura, acusada de expor a figura régia ao ridículo.

Victor Hugo muito se agigantou pela inteligência; poeta genial, escritor primoroso e fecundo. Sustentou, sem esmorecimentos, tremendas lutas em prol da liberdade, enfrentando a ira dos reacionários de todos os tempos, desses que não vacilam em sacrificar as coisas mais sagradas e nobres para que seus interesses fiquem incólumes.

Por ter sido grande demais, deixou de ser cidadão francês para se tornar cidadão do mundo, porque, como foi dito, sua obra literária, suas palavras, no campo político, suas ideias e pensamentos influíram e beneficiaram os povos do mundo inteiro! Ele próprio sentia, não obstante seu entranhado amor ao país de seu nascimento, que pertencia a todos os povos que sofriam e se viam cerceados da liberdade de pensar, e que a ele cabia o dever de trabalhar, lutar infatigavelmente para que a luz da verdade espiritual reinasse nas almas de todos os seus irmãos, fossem eles desta ou daquela pátria. E para que essa luz pudesse brilhar era condição, sine qua non, que aos homens fosse adjudicado o sagrado direito de liberdade, liberdade de sentir Deus e a sua justiça, dentro das possibilidades intelectuais de cada um, dessa liberdade, enfim, que é uma condição essencial do homem.

Eis por que em pleno Congresso da Paz, em Lausanne, afirmou:

Sou cidadão de todo homem que pensa!

Victor Hugo teve uma vida por demais extensa, pois que em tudo ele foi exímio, seja como poeta, pensador, dramaturgo, romancista, historiador, panfletista, orador, jornalista e espírita!

Mostrou-se sempre inimigo intransigente da pena de morte:

A cabeça do homem do povo está cheia de princípios úteis... cultivai, decifrai, regai, esclarecei, moralizai, utilizai essa cabeça e não tereis necessidade de cortá-la!

Nosso propósito, porém, acerca da personalidade de Victor Hugo, é o de focalizá-lo como espírita, o que procuraremos fazer sucintamente.

Em 1852, em face de suas atitudes políticas, viu-se ele na contingência de refugiar-se em Jersey, na vivenda Marine-Terrace. Logo após chamou para junto de si a mulher e os filhos, aos quais se reuniram alguns amigos, e entre eles Vacquerie e Julieta Drouet.

Em setembro de 1853 chegava a Jersey, de visita, a Sra. De Girardin, levando a grande novidade: o Espiritismo.

Neste ponto, transcreveremos o que sobre esse assunto escreveu Raymond Escholier, em seu livro intitulado "A Vida Gloriosa de Victor Hugo":

As suas crenças religiosas, que a certas almas frívolas parecem tão simples, tão restritas, por vezes tão extravagantes, são a verdadeira herança transmitida pelos seus ancestrais rústicos.

A bem dizer, essas ideias são mais velhas do que o Cristianismo: fé na sobrevivência e na presença permanente dos mortos, no poder do sortilégio e da magia. Hugo não se limita a introduzir na poesia francesa as expressões do povo, a linguagem popular, tão cheia de imagens, tão colorida, tão expressiva; deu igualmente o direito de cidadania às crenças do homem primitivo, que sempre existiu no velho solo da França.

Para encontrar aquela que ficou em França, aquela a quem Victor Hugo cantou a mãe dolorosa, consultou ele à sua velha amiga, a Sra. Girardin; interrogando, por intermédio das mesas falantes, o túmulo coberto de ervas e de sombras. Com a Sra. Hugo, com Carlos, maravilhoso médium, com Augusto Vacquerie e o General Le Flô, Victor crê penetrar o segredo das forças obscuras.

O primeiro Espírito que se apresentou em Marine-Terrace foi o de Leopoldina.

- Onde estás? Pergunta o poeta.

- Luz.

- Que é preciso fazer para ir ter contigo?

- Amar.

Então na pequenina casa, tão triste, todos choraram, todos acreditaram.

Nas revelações das mesas, Hugo vê a deslumbrante confirmação das suas ideias religiosas. E é nessa convicção que escreve, a 19 de setembro de 1854:

Tenho uma pergunta grave a fazer. Os seres, que povoam o Invisível e que leem os nossos pensamentos, sabem que há vinte e cinco anos me ocupo dos assuntos que a mesa suscita e aprofunda. Mais duma vez a mesa me tem falado desse trabalho; a Sombra do Sepulcro incitou-me a terminá-lo. Nesse trabalho, evidentemente conhecido no além, nesse trabalho de vinte e cinco anos, encontrara, apenas pela meditação, muitos resultados que compõem hoje a revelação da mesa; vira distintamente confirmados alguns desses resultados sublimes; entrevira outros que viviam no meu espírito num estado de embrião confuso. Os seres misteriosos e grandes que me escutam, veem, quando querem, no meu pensamento, como se vê numa gruta com um archote; conhecem a minha consciência e sabem quanto tudo o que eu acabo de dizer é rigorosamente exato, que fiquei por momentos contrariado, no meu miserável amor-próprio humano, pela revelação atual, que veio lançar à volta da minha lampadazinha de mineiro o clarão dum raio ou dum meteoro. Hoje, tudo o que eu vira por inteiro é confirmado pela mesa: e as meias revelações a mesa as completa. Neste estado de alma escrevi:

O ser que se chama Sombra do Sepulcro aconselhou-me a terminar  a obra começada; o ser que se chama Ideia foi mais longe ainda e ‘ordenou-me’ que fizesse versos atraindo a piedade para os seres cativos e punidos, que compõem o que parece aos não videntes a Natureza morta; obedeci. Fiz versos que Ideia me impôs.

Em 22 de maio de 1885 desencarnou o Espírito de Victor Hugo, em Paris. Eis as suas últimas vontades consignadas em testamento confiado a AugustoVacquerie:

Deixo 50.000 francos aos pobres. Desejo que me levem ao cemitério na carreta dos pobres. Recuso as orações de todas as igrejas. Creio em Deus.

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