Victor-Marie Hugo foi um
escritor e poeta francês de grande atuação política em seu país. É autor de Les
Misérables e de Notre-Dame de Paris, entre diversas outras obras.
Nascido em Besançon, no Doubs, em
26 de fevereiro de 1802, Victor Hugo foi o terceiro filho de Sophie Trébuchet e
Joseph Hugo, um major que, mais tarde, se tornaria um general do exército
napoleônico.
A infância de Victor Hugo foi
marcada por grandes acontecimentos. Napoleão foi proclamado imperador dois anos
depois do nascimento de Victor Hugo, e a monarquia dos Bourbons foi restaurada
antes de seu décimo oitavo aniversário. Os pontos de vista políticos e
religiosos opostos dos pais de Victor Hugo refletiam as forças que lutavam pela
supremacia na França ao longo de sua vida: seu pai era um oficial que atingiu
uma elevada posição no exército de Napoleão. Era um ateu republicano que
considerava Napoleão um herói, enquanto sua mãe era uma radical católica
defensora da casa real, sendo que se acredita tenha sido amante do general
Victor Lahorie, que foi executado em 1812 por tramar contra Napoleão. Devido à
ocupação do pai de Victor Hugo, Joseph, que era um oficial, mudavam-se com
frequência e Victor aprendeu muito com essas viagens. Na viagem de sua família
a Nápoles, ele viu as grandes passagens dos Alpes e seus picos nevados, o azul
do Mediterrâneo e Roma durante suas datas festivas.
Victor Hugo passou a infância
entre Paris, onde foi educado por muitos tutores e também em escolas privadas,
Nápoles e Madrid. Considerado um menino precoce, ainda jovem tornou-se
escritor, tendo em 1817, aos 15 anos, sido premiado pela Academia Francesa por
um de seus poemas.
Em 1819 fundou, com os seus
irmãos, uma revista, o "Conservateur Littéraire" (Conservador Literário)
e no mesmo ano ganhou o concurso da Académie des Jeux Floraux, instituição
literária francesa fundada no século 14.
Em 1821, Hugo publicou seu livro
de poesias, "Odes et poésies diverses" (Odes e Poesias Diversas), com
o qual ganhou uma pensão, concedida por Luís XVIII. Um ano mais tarde
publicaria seu primeiro romance, "Han d'Islande" (Hans da Islândia).
Casou-se com sua amiga de
infância, Adèle Foucher, em 12 de outubro de 1822, o casamento gerou o desgosto
de seu irmão, Eugène, que era apaixonado por Adèle. Em decorrência disso,
Eugène enlouquece e é internado em um hospício. No ano seguinte, a morte do
primeiro filho e o fracasso literário do livro Hans da Islândia, que não agrada
a crítica, interrompem o período de estabilidade vivido até então. Em 1824
nasce sua primeira filha, Leopoldine.
Em 1825, aos 23 anos, recebe o
título de Cavaleiro da Legião de Honra. Nesta época, torna-se líder de um grupo
de escritores criando o Cenáculo.
A publicação da terceira
coletânea de poemas de Victor Hugo, intitulada "Odes et Ballads", em
1826, marcou o início de um período de intensa criatividade.
Em 1827, no prefácio de seu
extenso drama histórico, “Cromwell”, Hugo expõe uma chamada à liberação das
restrições que impunham as tradições do classicismo. O prefácio é considerado o
manifesto do movimento romântico na literatura francesa, nele o escritor fala
da necessidade de romper com as amarras e restrições do formalismo clássico
para poder então refletir a extensão plena da natureza humana. Ainda neste
prefácio, Hugo defende o drama moderno, com a coexistência do sublime e do
grotesco. O sucesso do prefácio de “Cromwell” consolidaram a imagem de Hugo
como a principal liderança do romantismo na França. Aos 26 anos de idade, o
escritor desfrutava de uma situação material confortável e prestígio não apenas
entre a juventude rebelde francesa, mas também entre a corte de Carlos X.
Neste período integrou-se ao
romantismo transformando-se em um verdadeiro porta-voz desse movimento. A
residência de Hugo tornou-se um ponto de encontro de escritores românticos
entre os quais Alfred de Vigny e o crítico literário Charles Augustin
Sainte-Beuve.
A censura recai sobre sua obra, “Marion
do Lorme”, em 1829, peça teatral apoiada na vida de uma cortesã francesa do
século XVII, isso aconteceu porque a obra foi considerada muito liberal, e
também devido ao fato dos censores terem interpretado a peça como uma crítica à
Carlos X, o que fez com que a produção daquela que seria sua primeira peça a
ser interpretada fosse cancelada.
Em 1830 estreia “Hernani” sua
primeira obra teatral, que representa o fim do classicismo e expressa novas
aspirações da juventude. A peça, que exalta o herói romântico em luta contra a
sociedade, divide opiniões, agradando os jovens e desagradando os mais velhos,
o que desencadeia uma disputa de público que contribui para a consagração de
Hugo como líder romântico. A peça obteve grande sucesso, lotando o teatro em
todas as suas exibições. A disputa entre opiniões gerada por Hernan obteve
proporções além do teatro, apoiadores e opositores travavam brigas e discussões
por toda a França.
Após o nascimento de mais uma
filha, também no ano de 1830, que recebeu o nome da mãe, sua esposa recusa-se a
ter mais filhos e concede ao marido liberdade para transitar por Paris, desde
que não a aborrecesse. Tal fato, faz com que Hugo se entregue à libertinagem,
ligando-se indistintamente à atrizes, aristocratas e humildes costureiras, mas
contudo, ele não se separara de Adèle. Neste mesmo período, Adèle inicia um
relacionamento amoroso com o amigo da família, Saint-Beauve.
Seu romance, “Notre-Dame de
Paris”, é lançado em 1831, considerado o maior romance histórico de Victor
Hugo, o livro definiu a forma de exploração ficcional do passado que marcaram o
romantismo francês. O livro narra a história do amor altruísta do deformado
sineiro da catedral de Notre-Dame, Quasímodo, pela bailarina cigana Esmeralda.
Com um estilo realista, especialmente nas descrições de Paris medieval e seu
submundo, o enredo é melodramático, com muitas reviravoltas irônicas. O livro
foi um sucesso instantâneo e logo fez de Hugo o mais famoso escritor que vivia
na Europa, tendo o livro se propagado e traduzido por todo o continente.
No ano de 1832, Hugo mudou-se
para um apartamento instalado na Praça de Vosges, no bairro Le Marais, onde
morou até 1848, tendo sido visitado por escritores como Honoré de Balzac,
Alfred de Musset, Alexandre Dumas e o compositor Franz Liszt.
Em novembro de 1832 Victor Hugo
apresentava em Paris “Le Roi S’Amuse”, uma peça baseada na vida amorosa do rei
Francisco I da França. Desde 1827 até o ano da estreia de “Le Roi S’Amuse”,
Hugo passara de uma postura inicialmente conservadora para um liberalismo
reformista que se refletia em suas posições públicas e em sua obra. “Le Roi
S'Amuse” também sofreria censura, acusada de expor a figura régia ao ridículo.
Victor Hugo muito se agigantou
pela inteligência; poeta genial, escritor primoroso e fecundo. Sustentou, sem
esmorecimentos, tremendas lutas em prol da liberdade, enfrentando a ira dos reacionários
de todos os tempos, desses que não vacilam em sacrificar as coisas mais
sagradas e nobres para que seus interesses fiquem incólumes.
Por ter sido grande demais,
deixou de ser cidadão francês para se tornar cidadão do mundo, porque, como foi
dito, sua obra literária, suas palavras, no campo político, suas ideias e
pensamentos influíram e beneficiaram os povos do mundo inteiro! Ele próprio
sentia, não obstante seu entranhado amor ao país de seu nascimento, que
pertencia a todos os povos que sofriam e se viam cerceados da liberdade de
pensar, e que a ele cabia o dever de trabalhar, lutar infatigavelmente para que
a luz da verdade espiritual reinasse nas almas de todos os seus irmãos, fossem
eles desta ou daquela pátria. E para que essa luz pudesse brilhar era condição,
sine qua non, que aos homens fosse adjudicado o sagrado direito de
liberdade, liberdade de sentir Deus e a sua justiça, dentro das possibilidades
intelectuais de cada um, dessa liberdade, enfim, que é uma condição essencial
do homem.
Eis por que em pleno Congresso
da Paz, em Lausanne, afirmou:
Sou
cidadão de todo homem que pensa!
Victor Hugo teve uma vida por
demais extensa, pois que em tudo ele foi exímio, seja como poeta, pensador,
dramaturgo, romancista, historiador, panfletista, orador, jornalista e
espírita!
Mostrou-se sempre inimigo
intransigente da pena de morte:
A cabeça do homem do povo está cheia de princípios
úteis... cultivai, decifrai, regai, esclarecei, moralizai, utilizai essa cabeça
e não tereis necessidade de cortá-la!
Nosso propósito, porém, acerca
da personalidade de Victor Hugo, é o de focalizá-lo como espírita, o que
procuraremos fazer sucintamente.
Em 1852, em face de suas
atitudes políticas, viu-se ele na contingência de refugiar-se em Jersey, na
vivenda Marine-Terrace. Logo após chamou para junto de si a mulher e os filhos,
aos quais se reuniram alguns amigos, e entre eles Vacquerie e Julieta Drouet.
Em setembro de 1853 chegava a
Jersey, de visita, a Sra. De Girardin,
levando a grande novidade: o Espiritismo.
Neste ponto, transcreveremos o
que sobre esse assunto escreveu Raymond Escholier, em seu livro intitulado
"A Vida Gloriosa de Victor Hugo":
As suas crenças religiosas, que a certas almas frívolas
parecem tão simples, tão restritas, por vezes tão extravagantes, são a
verdadeira herança transmitida pelos seus ancestrais rústicos.
A bem dizer, essas ideias são
mais velhas do que o Cristianismo: fé na sobrevivência e na presença permanente
dos mortos, no poder do sortilégio e da magia. Hugo não se limita a introduzir
na poesia francesa as expressões do povo, a linguagem popular, tão cheia de
imagens, tão colorida, tão expressiva; deu igualmente o direito de cidadania às
crenças do homem primitivo, que sempre existiu no velho solo da França.
Para encontrar aquela que ficou
em França, aquela a quem Victor Hugo cantou a mãe dolorosa, consultou ele à sua
velha amiga, a Sra. Girardin; interrogando, por intermédio das mesas falantes,
o túmulo coberto de ervas e de sombras. Com a Sra. Hugo, com Carlos,
maravilhoso médium, com Augusto Vacquerie e o General Le Flô, Victor crê
penetrar o segredo das forças obscuras.
O primeiro Espírito que se apresentou
em Marine-Terrace foi o de Leopoldina.
- Onde estás? Pergunta o
poeta.
- Luz.
- Que é preciso fazer para ir
ter contigo?
- Amar.
Então na pequenina casa, tão
triste, todos choraram, todos acreditaram.
Nas revelações das mesas, Hugo
vê a deslumbrante confirmação das suas ideias religiosas. E é nessa convicção
que escreve, a 19 de setembro de 1854:
Tenho uma pergunta grave a fazer. Os seres, que povoam
o Invisível e que leem os nossos pensamentos, sabem que há vinte e cinco anos
me ocupo dos assuntos que a mesa suscita e aprofunda. Mais duma vez a mesa me
tem falado desse trabalho; a Sombra do Sepulcro incitou-me a terminá-lo. Nesse
trabalho, evidentemente conhecido no além, nesse trabalho de vinte e cinco
anos, encontrara, apenas pela meditação, muitos resultados que compõem hoje a
revelação da mesa; vira distintamente confirmados alguns desses resultados
sublimes; entrevira outros que viviam no meu espírito num estado de embrião
confuso. Os seres misteriosos e grandes que me escutam, veem, quando querem, no
meu pensamento, como se vê numa gruta com um archote; conhecem a minha
consciência e sabem quanto tudo o que eu acabo de dizer é rigorosamente exato,
que fiquei por momentos contrariado, no meu miserável amor-próprio humano, pela
revelação atual, que veio lançar à volta da minha lampadazinha de mineiro o
clarão dum raio ou dum meteoro. Hoje, tudo o que eu vira por inteiro é
confirmado pela mesa: e as meias revelações a mesa as completa. Neste estado de
alma escrevi:
O ser que se chama Sombra do Sepulcro aconselhou-me
a terminar a obra começada; o ser que se
chama Ideia foi mais longe ainda e ‘ordenou-me’ que fizesse versos atraindo a
piedade para os seres cativos e punidos, que compõem o que parece aos não
videntes a Natureza morta; obedeci. Fiz versos que Ideia me impôs.
Em 22 de maio de 1885
desencarnou o Espírito de Victor Hugo, em Paris. Eis as suas últimas vontades
consignadas em testamento confiado a AugustoVacquerie:
Deixo 50.000 francos aos pobres. Desejo que me levem ao
cemitério na carreta dos pobres. Recuso as orações de todas as igrejas. Creio
em Deus.
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