terça-feira, 31 de janeiro de 2023

UM CASTELO MAL-ASSOMBRADO[1]

 


Allan Kardec

 

O relato do fato que segue nos foi enviado por um dos nossos correspondentes de São Petersburgo.

 

Um velho general húngaro, muito conhecido por sua coragem, recebeu uma grande herança, pediu demissão e escreveu ao seu intendente que lhe comprasse uma propriedade que estava à venda e que lhe designou.

O intendente responde imediatamente, aconselhando ao general que não comprasse a dita propriedade, pois era mal-assombrada pelos Espíritos.

O velho valente insiste, dizendo ser uma razão a mais para fazer a compra, e lhe ordenando que a faça imediatamente.

A propriedade é então comprada e o novo dono põe-se a caminho para aí se instalar. Chega às onze horas da noite à casa de seu intendente, não longe do castelo, para onde quer ir imediatamente.

Por favor, lhe diz o velho servidor, esperai até amanhã cedo e me dai a honra de passar a noite em minha casa.

Não, diz o amo, quero passá-la em meu castelo.

Então o intendente é obrigado a acompanhá-lo com vários camponeses, levando tochas; mas não querem entrar e se retiram, deixando só o novo senhor.

Este tinha consigo um velho soldado, que jamais o havia deixado, e um enorme cão, capaz de estrangular um homem com um só golpe.

O velho general instala-se na biblioteca do castelo, manda acender velas, põe um par de pistolas sobre a mesa, pega um livro e estende-se num canapé esperando os fantasmas, porque está seguro de que, se realmente os há no castelo, não são mortos, mas bem vivos. Era também por isto que havia carregado as pistolas e feito o seu cão deitar-se debaixo do canapé. Quanto ao velho soldado, já roncava num quarto contíguo à biblioteca.

Pouco tempo se passa; o general julga ouvir ruído no salão, escuta atentamente e o ruído redobra. Seguro de si, toma uma vela numa das mãos e a pistola na outra e entra no salão, onde não vê ninguém; rebusca em toda parte, até levantando as cortinas: não há nada, absolutamente nada.

Então volta à biblioteca, retoma o livro e, mal havia lido algumas linhas o ruído se faz ouvir com muito mais força que da primeira vez. Retoma a vela e a pistola, entra de novo no salão e vê que abriram a gaveta de uma cômoda. Convencido desta vez de que se tratava de ladrões, mas não vendo ninguém, chama seu cachorro e lhe diz: Procure! O cachorro põe-se a tremer em todos os membros e volta para se esconder debaixo do canapé. O próprio general começa a tremer, entra na biblioteca, deita-se no canapé mas não consegue fechar os olhos a noite inteira. Contando-nos o fato, disse-nos o general:

Eu não tive medo senão duas vezes: no campo de batalha, há dezoito anos, quando uma bomba estourou aos meus pés; e, depois, quando vi o medo apoderar-se de meu cão.

Abster-nos-emos de qualquer comentário sobre o fato perguntar aos adversários do Espiritismo como o sistema nervoso do cão foi abalado.

Perguntaremos, além disso, como a superexcitação nervosa de um médium, por mais forte que seja, pode produzir a escrita direta, isto é, pode forçar um lápis a escrever por si mesmo.

Outra questão:

Cremos que o fluido nervoso retido e concentrado num recipiente poderia igualar e mesmo superar a força do vapor; mas, estando livre o dito fluido, poderia levantar e deslocar móveis pesados, como tantas vezes acontece?



[1] Revista Espírita – Outubro/1868 – Allan Kardec

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