segunda-feira, 16 de outubro de 2023

LEOPOLDO CIRNE[1]

 


 

Leopoldo Cirne nasceu em 31 de Abril de 1870, na Paraíba do Norte, criando-se, porém, na cidade do Recife. Desde cedo, nele se revelou acentuado pendor pelos estudos e, favorecido por viva inteligência, avançava, com real proveito, em seu curso de humanidades.

Dificuldades financeiras obrigaram-no a abandonar os estudos e a ingressar no comércio, quando contava onze anos de idade. Os comerciários atualmente desfrutam regalias e liberdades que aos de seu tempo não eram concedidas. Mal despontava a aurora, até às caladas da noite, estava o empregado no serviço ativo. Só uma pequena parte do domingo podia o comerciário de então respirar mais livremente e dispor da sua vontade.

Quis, porém, o destino que o nosso biografado, apenas de ter a alma cheia de belos sonhos, se visse na contingência de enfrentar, ainda menino, as lutas e a rude disciplina comercial, sacrificando, assim, seus mais caros ideais de formação intelectual!

Ignoramos se em aqui chegando, pelo ano de 1891, trazia já sua crença firmada na Terceira Revelação. O certo, porém, é que em pleno desabrochar da sua juventude, pois contava mais ou menos vinte e dois anos de idade, já ao lado do inolvidável Bezerra de Menezes trabalhava tão sincera e entusiasticamente a prol do Espiritismo, que desde logo granjeou a confiança de seus confrades que lhe sufragaram, em 1895, o nome para Vice-Presidente da Federação Espírita Brasileira.

Despontava o dia 11 de Abril de 1900 e a família espírita brasileira, os pobres, os pequeninos, os ignorados que o espírito de Adolfo Bezerra de Menezes, o grande Presidente da Federação Espírita Brasileira, partira para as regiões sublimes do Além!

Foi, pois, a uma personalidade dessas que coube a Leopoldo Cirne substituir na suprema direção da Casa de Ismael. Exerceu o cargo de Presidente da Federação Espírita Brasileira durante o período de 1900 a 1914. E a sua atuação nesse alto posto foi tão marcante que, por cerca de catorze anos, o exerceu com verdadeiro amor evangélico e dentro daquele espírito de sincera humildade de que o Cristo nos deu edificante exemplo. Em começo dissemos que se vira ele obrigado a interromper seu curso de humanidades; todavia, com esforço próprio conseguiu Leopoldo Cirne ser um dos mais puros vernaculistas, deixando-nos artigos e obras que até hoje merecem a nossa admiração.

A sua perseverante força de vontade e de confiança na misericórdia do Alto, deve a Federação Espírita Brasileira a sede na Avenida Passos, inaugurada no dia 10 de Dezembro de 1911.

Consagrou-se no campo da literatura filosófico-religiosa como um dos grandes pensadores do Movimento Espírita do País, sendo mesmo cognominado o Léon Denis brasileiro.

Conhecia profundamente a Bíblia e tinha de cor muitos trechos da Imitação do Cristo. As melhores obras de religião, filosofia, ciência, arte e literatura em geral lhe eram familiares.

Traduziu vários livros para o nosso idioma, entre eles “No Invisível” e “Cristianismo e Espiritismo“, ambos de Léon Denis, e organizou, em 1904, o opúsculo “Memória Histórica do Espiritismo“.

Desencarnou no Rio de Janeiro, na manhã de 31 de Julho de 1941.

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