Jacob Jordaens - "Divine law as the basis for human justice"
Eurípedes Kühl
A História
Sem grande esforço encontramos,
principalmente na história das religiões mais antigas, no Antigo e no Novo
Testamento, fundamentos, citações e sínteses que mostram, naqueles tempos de
então, a madrugada das sombras da moral, ainda distantes da claridade da
iluminadíssima alvorada da Justiça Divina, mas aproximando-se passo a passo
dela, no tempo da Razão. Tempo que não para e que por graça do Supremo Criador
tem o fadário de regenerar a Humanidade, com o resplendor do sol da alvorada do
Amor a Deus e ao próximo.
Fragmentos dessa caminhada,
pouco a pouco iluminando-se:
Das religiões da Índia[2]:
Nessas escrituras encontra-se a
fonte mais antiga sobre crédito ou débito moral, consubstanciados na “Lei do
Karma”.
Karma, em
sânscrito (antiga língua sagrada da Índia), significa “ação”.
Fundamento do karma: todo bem ou
mal que tenhamos feito numa vida irá nos trazer consequências boas ou más, seja
nesta ou em outras existências que estão por vir. A “Lei do Karma” consigna que
boas ações creditam paz e bem, más ações trazem sofrimento e dor, estes só
atenuados por aquelas boas, a bordo de sincero arrependimento.
A Lei do Karma é comumente
conhecida como Justiça Celestial, faz parte do conjunto de escrituras
sagradas de várias religiões da Índia:
§
Os Vedas: segundo as tradições
3.102 a.C.;
§
Bramanismo: do segundo milênio
a.C. até o início da era cristã; persiste de forma modificada, sendo atualmente
chamado de Hinduísmo;
§
Hinduísmo: segundo as tradições,
desde cerca de 2.000 a.C.;
§
Jainismo: desde século VI a.C.;
§
Budismo: desde século V a.C.
De cada religião, quando
possível, registro apenas duas passagens, como exemplo da aproximação à Justiça
Divina.
Do Antigo Testamento:
Porque, segundo a obra do homem, Ele (Deus) lhe paga; e
faz que cada um ache segundo o seu caminho.
Consta do Livro de Jó, 34:11.
Atualmente concorda-se que esse
livro foi escrito entre os séculos VII e IV a.C., com o século VI a.C. despontando
como data mais provável.
A ti também, Senhor, pertence a misericórdia, pois
retribuirás a cada um segundo a sua obra.
(Salmos, 62:12) – Escrito por Davi – c. 1010- c. 970
a.C.
Do Novo Testamento:
Porque o Filho do homem virá na glória de seu Pai, com
os seus anjos; e então dará a cada um segundo as suas obras.
Jesus, em Mateus, 16:27.
E, se invocais por Pai aquele que sem acepção de
pessoas julga segundo a obra de cada um, andai em temor, durante o tempo da
vossa peregrinação.
Apóstolo Pedro, em I Pedro, 1:17.
Cristianismo
Conjunto das religiões
organizadas com base na sublimidade de Jesus Cristo e nos escritos que relatam
suas palavras. Nascido na Judeia e difundido inicialmente no Oriente, o
Cristianismo foi pregado no mundo mediterrâneo pelos Apóstolos, depois da morte
de Jesus.
No Cristianismo encontram-se
normas, princípios, ideias e convicções que constituem o ideário de ética, com
os filósofos gregos, e de forma mais objetiva, por profetas expondo fé e
esperanças, até Jesus consolidar integralmente, com lições e exemplos, o
entendimento da Justiça Divina, praticada sempre pelo Amor de Deus por toda a
Humanidade.
Catolicismo
Religião dos cristãos que
reconhecem o Papa como chefe espiritual. O Catolicismo funda sua unidade sobre
uma comunidade de fé, sacramentos e vida religiosa. Concorda com as outras
Igrejas cristãs, no que concerne à Revelação (Antigo e Novo Testamentos).
Islamismo
O Alcorão vê-se como uma
escritura devotada principalmente a estabelecer os princípios de fé e
justiça. Exige que a justiça seja feita
para todos, e que é um direito inerente de todos os seres humanos sob a Lei
Islâmica.
O Alcorão, a escritura sagrada
do Islã, considera a justiça como uma virtude suprema. É um objetivo básico do Islã (Islamismo) a
ponto de ser a próxima na ordem de prioridade, após a crença no direito
exclusivo de Deus, a adoração (Tawheed = do árabe: “unir”) e na verdade
da missão profética de Muhammad (o Profeta Maomé) - abril de 571 d.C. /
08 de junho de 632 d.C., que fundou o Islamismo, do qual consta no Alcorão:
Deus ordena a justiça e o tratamento justo...
(Alcorão 16:90)
O comprometimento eterno do
Alcorão com os padrões básicos de justiça é encontrado também nesta declaração,
dirigida aos seus adeptos:
A Palavra de teu Senhor cumpriu-se em verdade e
justiça. Ninguém pode mudar Suas palavras.
(Alcorão 6:115)
Espiritismo
O Espiritismo chegou a este
mundo em 18 de Abril de 1857, com Allan Kardec lançando O Livro dos
Espíritos, pedra basilar da Codificação da Doutrina dos Espíritos,
compreendida como portadora dos respectivos fundamentos: Perfectibilidade da
Justiça Divina, consubstanciada nas Leis Divinas, ou Naturais (subdivididas em
Leis Morais), reencarnação e evolução espiritual.
Indevassável nas dobras do
Tempo, segundo a segundo, a Justiça Divina registra, automaticamente, o mérito
ou demérito de cada Espírito: todos os seus procedimentos, bons e maus,
inclusive, até mesmo dos seus pensamentos (Lembrando Jesus, em João: 8-11...).
Esse registro decorre das
citadas Leis de Deus, invioláveis e perfeitas, que estão insertas na
consciência de cada Espírito, desde sempre, conforme a questão 621 de O
Livro dos Espíritos (“O LE”).
Assim, cito alguns detalhes das
Leis Morais, extraídas do conjunto de Leis Divinas que regem a dimensão moral
do ser, sendo parcialmente subsidiárias da Justiça Divina e dos fundamentos do
Espiritismo, agindo quais esplêndidas bússolas comportamentais, segundo
afirmação do Divino Amigo, quando assegurou:
Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de
toda a tua alma, e de todo o teu pensamento.
Este é o primeiro e grande
mandamento. E o segundo, semelhante a este, é:
Amarás o teu próximo
como a ti mesmo.
Mateus 22:37–39
Dessa forma é que, decorrente da
vivência comportamental segundo as Leis Morais, o ápice moral evolutivo do
Espírito será alcançado quando ele praticar apenas o bom emprego delas,
aureolando seus atos com amor a Deus e ao próximo, conforme Jesus ensinou e
exemplificou.
Vários estudiosos espíritas,
encarnados e desencarnados, refletem sobre a Justiça Divina, registrando que
ela é expressão inquestionável da Lei do Amor de Deus, bem como a compaixão do
Supremo Criador para com aqueles que, de ordinário, se comportam em desalinho
com as Leis Divinas. Essa compaixão, no entanto, não poderá prestar essa
sublime ajuda aos faltosos, diante dos endurecidos impedimentos causados por
eles, ante suas sistemáticas rebeldia e recusa, diante dos fundamentos do
merecimento.
Nesses casos é convocada a ação
do Tempo, conjugada com a da pedagogia da dor, eficientíssimas ferramentas para
desate de nós sustentados pelo mal.
O Amor e a Caridade do Pai para
com todos Seus filhos são ofertados a todos eles, inocentes ou culpados,
indistintamente.
Mas a esses últimos, porém, a
Justiça Divina — inviolável, perfeita, soberana, expressão máxima e inigualável
da caridade do Supremo Criador —, apenas poderá ajudá-los a se reerguerem
quando neles brotar o arrependimento sincero[3].
O Amor de Deus jamais nega compaixão ao réprobo.
Ninguém pode alegar que “não
sabia”, pois os alertas e avisos começaram há milênios, pela consciência.
Continuam e serão válidos e ativos para sempre.
Provérbio chinês aconselha:
Podemos escolher o que
plantar, mas somos obrigados a colher o que semeamos.
Os espíritas fazem coro:
A plantação é livre, mas a
colheita é obrigatória...
Para a quitação não bastam
arrependimentos... Indispensável a reconstrução, pelos faltosos diante das Leis
de Deus, do que tenham destruído e então, com resignação, corrigirem suas
faltas, o que poderá acontecer em uma ou mais reencarnações — quantas sejam
necessárias —, concedidas pela Misericórdia do Pai Maior.
Diante da firme decisão do
arrependido em busca da quitação, essa é a hora que a Bondade do Supremo
Criador lhe coloca à disposição os meios necessários, com alternativas
caridosas.
Isso porque nem sempre a
reconstrução poderá ser obtida exatamente como a dívida foi edificada, o que
caracterizaria a “pena de talião, ou “lei de talião”[4].
Com aquelas alternativas o devedor terá incontáveis possibilidades de agir com
amor e caridade para com o próximo. É assim que então, perante a Lei de Deus, o
culpado obterá a quitação plena de suas faltas, segundo lavratura divina no
altar da própria consciência, tendo a paz por companheira.
Exemplo comovente desse Amor do
Pai Maior e da Justiça Divina, e de quitação geral, temos na narrativa de
Pedro, apóstolo de Jesus, comentando sobre as bênçãos da caridade:
Acima de tudo cultivai, com todo o ardor, o amor mútuo,
porque o amor cobre uma multidão de pecados.
I Pedro, 4-8
[1] O CONSOLADOR -
Ano 17 - N° 828 - 18 de Junho de 2023 - http://www.oconsolador.com.br/ano17/828/especial.html
[2] Informações
obtidas na Wikipédia – a enciclopédia livre da internet.
[3] Allan Kardec, em O Livro dos Espíritos, Parte
4ª, cap. II: Expiação e arrependimento — Síntese das questões nº 990 a 1002,
que tratam intensamente do arrependimento e de como ele é visto pela Doutrina
dos Espíritos.
[4] A lei de talião, também dita pena de talião, consiste
na rigorosa reciprocidade do crime e da pena — apropriadamente chamada
retaliação. Na perspectiva da lei de talião, a pessoa que fere outra deve ser
penalizada em grau semelhante, e a punição deve ser aplicada pela parte lesada.
(Nota da Wikipédia, a enciclopédia livre)
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