quinta-feira, 22 de junho de 2023

CONFIANÇA NAS REVELAÇÕES[1]

 


Miramez

                                

Qual o grau de confiança que se pode depositar nas revelações dos extáticos?

− O extático pode enganar-se muito frequentemente, sobretudo quando ele quer penetrar aquilo que deve permanecer um mistério para o homem, porque então se abandona às suas próprias ideias ou se torna joguete de Espíritos enganadores, que se aproveitam do seu entusiasmo para o fascinar.

Questão 444/O Livro dos Espíritos

 

Não devemos simplesmente confiar nas revelações que nos trazem os extáticos, mas fazer uma correção naquilo que ouvimos em caráter de revelação. Se tudo na Terra está sujeito ao erro, a razão nos diz para observarmos com critério o que vem ao nosso encontro. A nossa própria consciência tem a capacidade de discernimento bastante para selecionar o que podemos guardar do que ouvimos ou lemos.

O extático pode enganar-se, porque ele fica mais livre no transe, e a sua vontade prevalece em muitos aspectos. Por vezes, ele quer revelar coisas que devem ficar em segredo e, assim, será escondida a verdade. Nesse ínterim, os Espíritos malfazejos entram no espaço criado pela vaidade e fazem revelações espetaculares, por não se importarem com as consequências que advirão dos seus erros.

O médium deve conhecer as leis de Deus, orar, mas vigiar de forma a não passar dos limites no tocante às revelações. É melhor falar de menos do que pretender passar dos limites. A desmoralização de um extático vem pela vaidade, mostrando o que não deve aos que brincam com os acontecimentos, aos curiosos e especuladores dos segredos de Deus.

A parcimônia deve fazer parte da vida do sensitivo, que nunca deve desejar autovalorizar-se. Tudo pertence a Deus e a Ele cabe mostrar o que deve ser revelado. Lembremo-nos que Jesus poderia falar muito mais do que disse sobre o futuro da humanidade, mas, reservou tempo para que o homem pudesse descobrir pelas próprias experimentações e pelo estudo dos efeitos que o dia-a-dia dá testemunho.

A verdade é muito difícil de ser anunciada. Se bem podemos analisar, observemos que, a quantas pessoas, vendo a verdade, lhes falta a capacidade de descrevê-la, e se perdem no emaranhado dos acontecimentos. Se ao apresentarmos os fatos verídicos, sentimos dificuldades em contá-los, muito mais difícil é revelar os fatos por acontecer, vistos no mundo espiritual em estado de transe; uma coisa pode parecer outra.

Quantos profetas existem fazendo revelações por toda parte?! Muitos e muitos, mas, Jesus já advertiu sobre os falsos profetas. Ainda disse que é necessário o escândalo, afirmando adiante que ai daquele que escandalizar. Se tudo tem uma razão de ser, não devemos ficar ansiosos com os acontecimentos, mas analisarmos todos os fatos e deles tirar o melhor para a nossa paz. A confiança é uma ciência divina, porém, devemos aprender como convém confiar. Os caminhos são diversos, entretanto, muitos deles abrigam armadilhas onde os lobos fazem esconderijos.

Não devemos nos ofender com as mentiras que possamos escutar; elas, com o tempo, poderão se transformar em verdade, e debatendo contra elas podemos nos envolver nas suas ondas antes que elas mudem. Vejamos bem o carvão: é um falso diamante, mas, o tempo lhe muda a estrutura, e no porvir, ele pode brilhar como tal.

O extático que não se vigia, pode ser levado pelas suas próprias ideias e misturar as belezas imortais com as escórias humanas. As faculdades são simples, porém, vibrantes, e na sua sensibilidade podem tomar o caráter humano e se apresentar a cegueira. O “daí de graça, pelo que de graça recebeis”, é ponto firme para a nossa segurança espiritual. A persistência no bem é força valorosa, e a caridade nos garante as forças em todos os caminhos a percorrer. Se desejamos saber o melhor, amemo-nos sempre, a tudo e a todos, com a mesma paz que Jesus nos ensinou.



[1] Filosofia Espírita – Volume 9 – João Nunes Maia

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