terça-feira, 7 de fevereiro de 2023

DIFERENTES MODOS DE COMUNICAÇÃO[1]

 

Allan Kardec

 

As comunicações inteligentes entre os Espíritos e os homens podem ocorrer por meio de sinais, pela escrita e pela palavra.

Os sinais consistem no movimento significativo de certos objetos e, mais frequentemente, nos ruídos ou golpes desferidos. Quando os fenômenos comportam um sentido, não deixam dúvida quanto à intervenção de uma inteligência oculta, porquanto, se todo efeito tem uma causa, todo efeito inteligente deve ter uma causa inteligente.

Sob a influência de certas pessoas, designadas pelo nome de médiuns, e algumas vezes espontaneamente, um objeto qualquer pode executar movimentos convencionados, bater um número determinado de golpes e transmitir, assim, respostas pelo sim e pelo não, ou pela designação das letras do alfabeto.

Os golpes também podem ser ouvidos sem nenhum movimento aparente e sem causa ostensiva, quer na superfície, quer nos próprios tecidos dos corpos inertes, em uma parede, numa pedra, em um móvel ou em outro objeto qualquer. De todos esses objetos, por serem os mais cômodos, pela mobilidade e facilidade com que nos colocamos à sua volta, as mesas são os mais frequentemente utilizados: daí a designação do fenômeno em geral pelas expressões bastante triviais de mesas falantes e de dança das mesas, expressões que convém banir, primeiro porque se prestam ao ridículo, depois porque podem induzir em erro, fazendo crer, neste particular, que elas tenham uma influência especial.

A este modo de comunicação daremos o nome de sematologia espírita, expressão que dá uma perfeita ideia e compreende todas as variedades de comunicações por meio de sinais, movimentos dos corpos ou pancadas. Um de nossos correspondentes chegou mesmo a propor-nos que se designasse especialmente este último meio, o das pancadas, pela palavra tiptologia.

O segundo modo de comunicação é a escrita. Designá-lo-emos sob o nome de psicografia, igualmente empregado por um correspondente.

Para se comunicarem pela escrita, os Espíritos empregam, como intermediários, certas pessoas, dotadas da faculdade de escrever sob a influência da força oculta que as dirige e que obedecem a um poder evidentemente fora de seu controle, já que não podem parar nem prosseguir à vontade e, no mais das vezes, não têm consciência do que escrevem. Sua mão é agitada por um movimento involuntário, quase febril; tomam o lápis, malgrado seu, e o deixam do mesmo modo; nem a vontade, nem o desejo podem fazê-la prosseguir, caso não o deva fazer. É a psicografia direta.

A escrita é obtida também pela só imposição das mãos sobre um objeto disposto de modo conveniente e munido de um lápis ou qualquer outro instrumento apropriado a escrever.

Geralmente, os objetos mais empregados são as pranchetas ou as cestas, dispostas convenientemente para esse efeito. A força oculta que age sobre a pessoa transmite-se ao objeto, que se torna, assim, um apêndice da mão, imprimindo-lhe o movimento necessário para traçar os caracteres. É a psicografia indireta.

As comunicações transmitidas pela psicografia são mais ou menos extensas, conforme o grau da faculdade mediadora.

Alguns não obtêm senão palavras; em outros, a faculdade se desenvolve pelo exercício, escrevem frases completas e, frequentemente, dissertações desenvolvidas sobre assuntos propostos ou tratados espontaneamente pelos Espíritos, sem que se lhes tenha feito qualquer pergunta.

Às vezes a escrita é clara e legível; em outras, só é decifrável por quem a escreveu e que a lê por uma espécie de intuição ou dupla vista.

Sob a mão da mesma pessoa, a escrita muda, em geral, de maneira completa, com a inteligência oculta que se manifesta, e o mesmo tipo de letra se reproduz cada vez que a mesma inteligência se manifesta. Esse fato, entretanto, nada tem de absoluto.

Os Espíritos transmitem, por vezes, certas comunicações escritas sem intermediário direto. Os caracteres, neste caso, são traçados espontaneamente por um poder extra-humano, visível ou invisível. Como é útil que cada coisa tenha um nome, a fim de nos podermos entender, daremos a esse modo de comunicação escrita o de espiritografia, para distingui-la de psicografia, ou escrita obtida por um médium. A diferença entre esses dois vocábulos é fácil de apreender. Na psicografia a alma do médium desempenha, necessariamente, um certo papel, pelo menos como intermediário, ao passo que na espiritografia é o Espírito que age diretamente, por si mesmo.

O terceiro modo de comunicação é a palavra. Certas pessoas sofrem nos órgãos vocais a influência de um poder oculto que se faz sentir na mão daqueles que escrevem. Transmitem, pela palavra, o que outras transmitem pela escrita.

As comunicações verbais, como as escritas, ocorrem algumas vezes sem intermediário corpóreo. Palavras e frases podem ressoar aos nossos ouvidos ou em nosso cérebro, sem causa física aparente. Os Espíritos podem, igualmente, aparecer-nos em sonho ou em estado de vigília, e dirigir-nos a palavra para nos dar avisos ou instruções.

Para seguir o mesmo sistema de nomenclatura que adotamos para as comunicações escritas, deveríamos chamar a palavra transmitida pelo médium, de psicologia, e a originada diretamente do Espírito, de espiritologia. Porém, a palavra psicologia já tem uma acepção conhecida e não a podemos distorcer. Designaremos, pois, todas as comunicações verbais sob o nome de espiritologia: as primeiras pelas palavras espiritologia mediata, e as segundas pelas de espiritologia direta.

Dos diferentes modos de comunicação a sematologia é o mais incompleto; é muito lento e não se presta senão com dificuldade a desenvolvimentos de uma certa extensão. Os Espíritos superiores dela não se servem voluntariamente, seja por causa da lentidão, seja porque as respostas, por sim e por não, são incompletas e sujeitas a erro. Para o ensino preferem os meios mais rápidos: a escrita e a palavra.

Com efeito, a escrita e a palavra são os meios mais completos para a transmissão do pensamento dos Espíritos, quer pela precisão das respostas, quer pela extensão dos desenvolvimentos que comportam. A escrita tem a vantagem de deixar traços materiais e de ser um dos meios mais adequados para combater a dúvida. De resto, não se é livre para escolher; os Espíritos comunicam-se pelos meios que julgam apropriados: isso depende das aptidões.



[1] Revista Espírita – Janeiro/1858 – Allan Kardec

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