Miramez
Como o Espírito considera o corpo que acabou de deixar?
− Como uma veste imprópria, que o incomodava, e da qual
se sente feliz por se ter desembaraçado.
Questão 309/O Livro dos Espíritos
O Espírito sendo evoluído,
diante do corpo que deixa no ato do desencarnação, curva-se a ele com profunda
gratidão pelo aparelho que lhe serviu para o desempenho da sua programação na
Terra. Nunca fica pensando nele com saudade, por saber que ele já não lhe
pertence, devolvendo à natureza o que lhe foi emprestado por misericórdia
divina e que, terminando a sua tarefa, é veste imprestável.
Assim a carne em decomposição
volta a seu primitivo estado de energia, desagregando-se em busca de novas
atividades, sob a orientação dos benfeitores da eternidade.
O Espírito elevado considera a
roupa física que deixou como uma dádiva de Deus, para o seu despertar
espiritual, e nunca sente repugnância pelo estado da roupagem que acaba de
devolver ao celeiro maior, que é a natureza, pois ela se encontra em plena
transformação dos elementos de vida, pela vontade do Criador.
De certo modo, a alma sente-se
feliz de livrar-se da carne, quando a compreensão domina os sentimentos. Ela
sabe, e a certeza ocupa a sua mente, de que está avançando cada vez mais para a
sua libertação espiritual. A lei da reencarnação nos mostra que as vestes
carnais são instrumentos de ascensão do ser pensante, e que são inúmeras, por
vezes incontáveis, por mudarem de feição nos muitos mundos em que deve habitar.
Na Terra, ela é mais física,
pelo estado de atraso da humanidade que a habita, em relação aos mundos
superiores. Comparamos o corpo com as vestes que o homem usa para se cobrir,
quando elas caem em desuso. Os conhecimentos espirituais que já se adquiriram
vão ficando envoltos nos rotos panos e, por isso, alegrar-se-á o Espírito
quando tiver que devolver seu corpo ao lugar que pode aproveitá-lo pelas mãos
do agente universal, que poderá transformá-lo em utilidade comum a animais,
plantas e departamentos diversos que assistem à natureza.
Nada se perde na criação de
Deus; o que parece estar se acabando aos olhos humanos, aparece aos olhos
espirituais renovado para melhor servir. Mas há Espíritos envolvidos de tal
forma na ignorância, obstinados nas rotas vestes de carne, encontrando-se
agarrados nos restos mortais, como dizes, vivendo dramas indescritíveis no
próprio campo-santo, perdendo tempo, porém, armazenando lições para o porvir,
qual o mendigo nas ruas, cuja mente se encontra quase paralisada em duras
provações, e que as suas vestes, como quilangos[2],
desintegram-se no seu corpo, que parece querer libertar-se, por direito, da
escravidão imposta pela incapacidade espiritual de quem a veste.
O corpo, de certa forma, empana
as qualidades da alma, mas também a educa em vários sentidos. E, pois, uma
troca onde a matéria serve ao homem e o homem fornece um influxo à matéria.
Devemos estudar mais a vida,
meditar mais em Deus, viver mais com Jesus, para compreendermos com mais
eficiência a ciência de viver.
Depois que se liberta do corpo,
o Espírito, com a devida gratidão, passa a não se interessar mais por ele,
porque dali em diante tem que saber cuidar de sua veste, como se fora sua
filha, na santificação do amor, no reino que ele passa a pertencer.
Olhar para trás é petrificar a
esperança. Enquanto estagias na carne, é preciso que tenhas zelo por ela; que
cuides dela como instrumento que Deus te concedeu, para a tua própria
felicidade; que a ames na faixa em que ela se encontra, porque o amor é vida em
todas as dimensões do viver.
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