quinta-feira, 10 de novembro de 2022

SUICÍDIO POR APEGO[1]

 

Édouard Manet - Le Suicidé (1877)


Miramez

 

Os que, não podendo suportar a perda de pessoas queridas, se matam na esperança de se juntarem a elas, atingem o seu objetivo?

O resultado para elas é bastante diverso do que esperam, pois em vez de se unirem ao objeto de sua afeição, dele se afastam por mais tempo, porque Deus não pode recompensar um ato de covardia e o insulto que lhe é lançado com a dúvida quanto à sua providência. Eles pagarão esse instante de loucura com aflições ainda maiores do que aquelas que quiseram abreviar, e não terão para os compensar a satisfação que esperavam.

Questão 956/O Livro dos Espíritos

 

O suicídio por apego é um tanto ou quanto possível por obsessão, sendo praticado às vezes por sugestão. Deus não pode aceitar determinação do homem; Ele, o Todo Poderoso, é que faz as leis e não pede aos Espíritos opiniões sobre os destinos dos seres.

Matar-se por querer unir-se a outrem, por apego ou ciúme, é ignorância que não corresponde à lei, que nos ordena esperar até o dia em que a bondade divina queira. Tirar a vida em busca de companhias espirituais é violentar o modo de atingir os destinos. A culpa é bem grande e o castigo também, sendo que, em vez de nos juntarmos aos ser que pretendíamos encontrar, podemos passar maior tempo distanciado dele, corrigenda essa que nos educa para o futuro, visto que ficará na nossa consciência a lembrança e nunca mais praticaremos essa invigilância.

Muito diverso do que se espera, é, pois, o resultado que se colhe, quando praticamos esse ato indigno. Iremos em sentido diverso ao que almejávamos; em vez de nos reunirmos com o objetivo amado, passamos para o outro extremo, dificultando ainda mais a união.

É justo e meritório que soframos a perda do ente querido com paciência, trabalhando e amando, entendendo a caridade e fazendo-a aos nossos semelhantes, perdoando os companheiros, esquecendo suas faltas e procurando, com isso, ir aparando as nossas próprias arestas, para que no dia em que formos chamados para o mundo espiritual possamos, se não nos juntarmos ao ente querido, pelo menos auxiliarmos com as nossas possibilidades, que ganhamos pela educação e respeito às leis de Deus.

Já falamos alhures muitas vezes que ninguém engana a Deus. Ele, o Supremo Mandatário do universo, está presente em todos os lugares, por poderes que por vezes duvidamos.

Porém, muitos primeiros serão últimos, e os últimos, primeiros.

Mateus, 19:30

Os que buscam por meios ilícitos fugir da vida para encontrar os que lhe são caros no mundo espiritual, como primeiros serão os últimos, e o últimos, por terem tido paciência de esperar, serão os primeiros a reencontrarem aqueles que partiram para o mundo espiritual.

Não deves romper a divisa entre os dois mundos pela violência; esperar o dia marcado por Deus é o mais acertado, se queres paz na consciência. O que podes ou queres fazer sem a ajuda de Deus? Nada, pois para tanto Ele faz leis, no sentido de lhes obedecermos e o obediente é sempre feliz. A criatura que não pode se conformar com a perda do companheiro ou companheira, filhos ou parentes, e pratica o suicídio, passa a ser covarde e a covardia assinala ignorância, sendo o resultado drástico para quem o pratica.

Cuida da tua vida na Terra, observando as leis naturais que regem o corpo físico; pois ele é um tesouro que Deus te deu, capaz de te mostrar o caminho certo para a paz de consciência. Não percas a paciência com possíveis acontecimentos; resiste a tudo com ponderação, trabalhando sempre no bem comum, de modo que o amor seja a tua baliza, na vida e mesmo na morte.



[1] Filosofia Espírita – Volume 19 – João Nunes Maia

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