Rogério Miguez
Há, entre outras incontáveis
citações na literatura espírita, firme opinião sobre a inexistência do acaso:
Usar com prudência ou substituir
toda expressão verbal que indique costumes, práticas, ideias políticas, sociais
ou religiosas, contrárias ao pensamento espírita, quais sejam: sorte, acaso,
sobrenatural, milagre e outras, preferindo-se, em qualquer circunstância, o uso
da terminologia doutrinária pura[2].
(negritamos)
ou,
Libertar-se das cadeias mentais
oriundas do uso de talismãs e votos, pactos e apostas, artifícios e jogos de
qualquer natureza, enganosos e prescindíveis.
O espírita está informado de que
o acaso não existe[3].
(negritamos)
Esta ajuizada compreensão desta
lei da vida é fundamental, pois sem este entendimento, pode-se facilmente crer
que, quando a chamada bala perdida atinge um transeunte, esta pessoa não
deveria ter sido atingida, naquele momento, por aquele projétil, e mais, se ela
vier a desencarnar, então, conclui-se: desencarnou fora da hora prevista.
Não é possível aceitar que Deus,
enfatizamos: onisciente, onipresente e todo poderoso, permita que um filho seu
morra sem uma justificativa plausível. Alguns, talvez, imaginem que naquele
exato momento estaria a Divindade distraída e, por conta desta distração,
uma de suas criaturas teve um fim de vida material inesperado, entretanto, este
raciocínio é um completo contrassenso, não é mesmo!?
E mais, a possibilidade de haver
situações fora do conhecimento e permissão do Criador, nos levaria também a
crer que após Deus ter criado o Universo, com seus literalmente incontáveis
orbes e seres vivos, estes ganharam absoluta autonomia e, agora, não são mais
passíveis de controle, ficariam ao sabor do nada, ou seja, do acaso,
o sábio e poderoso concorrente das imutáveis e perfeitas leis divinas.
A propósito, os Espíritos
registraram em O Livro dos Espíritos[4]:
Que homem de bom senso pode considerar o acaso como um
ser inteligente? E, além disso, que é o acaso? Nada!
A Doutrina espírita é uma
filosofia espiritualista baseada no bom senso, na razão, sendo assim, jamais
podemos acreditar que fatos importantes da vida se deem de forma errática, fora
de qualquer coordenação ou governo. Precisamos aceitar e, principalmente,
entender: há sempre um encadeamento prévio de situações, que, no seu conjunto,
provocam um determinado desfecho, o resultado esperado e necessário destas
conjunções anteriores. Isto é a essência da lei de causa e efeito.
Caso contrário, esta lei que nos
traz muita tranquilidade, pacifica os nossos corações e mentes, nos dando
condições de acolher os fatos mais contundentes da vida, com paciência e
resignação, pois sempre haverá justificativas para os mais inesperados
acontecimentos, não se aplicaria, invalidando um dos princípios basilares do
Espiritismo e, consequentemente, das leis divinas, ou seja, a vida seria uma
eterna caixa de surpresas, como se diz popularmente.
Entretanto, não se creia que
todas as minúcias do cotidiano foram previamente delineadas, senão, por qual
razão existiria o livre-arbítrio?
Há incontáveis pequenos
ocorridos que não podem estar previstos, apenas os mais significativos foram
acertados anteriormente, contudo, mesmo estes grandes marcos de nossas
existências podem ser alterados, tudo depende da conduta que tenhamos diante
deles, durante o desenrolar destes combinados acontecimentos.
Tomemos mais um exemplo no caso
de doenças físicas.
Antes de reencarnar, o Espírito
é informado de que há previsão de uma doença grave vinculada ao seu fígado, por
razões baseadas em más atitudes passadas, devendo eclodir com certa pujança por
volta dos trinta anos. Se esta alma, se conduzir corriqueiramente voltada à prática
do bem, se empenhando em aprender e ajudar ao próximo, aproveitando as
oportunidades de aprendizado oferecidas regularmente pelas leis divinas, esta
disfunção poderá ser atenuada e, em casos excepcionais, se o indivíduo se
superar em suas condutas positivas, ela pode mesmo não acontecer. Por outro
lado, se esta pessoa vivenciar uma conduta retrógrada, expressando preconceitos
contra tudo e contra todos, agindo com violência e muito descontrole em sua
área emocional, se entregando a vícios de variada ordem, sempre se colocando
pessimista em relação a tudo e a todos, poderá ter a doença visitando-a
antecipadamente, bem antes dos seus trinta anos de existência e, até com força
maior, do que aquela prevista durante o período da erraticidade.
O espírita deve ter consciência
de que o acaso não existe.
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