Simara Lugon Cabral
O meu mandamento é
este: Que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei. Ninguém tem maior
amor do que este, de dar alguém a sua vida pelos seus amigos. Vós sereis meus amigos,
se fizerdes o que eu vos mando. Já vos não chamarei servos, porque o servo não
sabe o que faz o seu senhor; mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto
ouvi de meu Pai vos tenho feito conhecer. Não me escolhestes vós a mim, mas eu
vos escolhi a vós, e vos nomeei, para que vades e deis fruto, e o vosso fruto
permaneça; a fim de que tudo quanto em meu nome pedirdes ao Pai ele vo-lo
conceda. Isto vos mando: Que vos ameis uns aos outros[2].
(João 15:12-17).
A doação de órgãos consiste na
remoção dos órgãos ou tecidos de um voluntário com o objetivo de
transplantá-los para auxiliar o tratamento de saúde de outros pacientes. A
doação pode ser de órgãos (rim, fígado, coração, pâncreas e pulmão) ou de
tecidos (córnea, pele, ossos, válvulas cardíacas, cartilagem, medula óssea e
sangue de cordão umbilical).
A doação de alguns órgãos como
rim, parte do fígado ou da medula óssea pode ser feita em vida, enquanto o
restante somente ocorre quando há morte encefálica.
Os órgãos doados são
encaminhados para pacientes que aguardam por um transplante, um procedimento
cirúrgico que consiste na reposição de um órgão de uma pessoa doente pelo de um
doador. No Brasil, são os parentes que autorizam a doação por isso é de suma
importância que a pessoa que tem o desejo de ser um doador expresse sua vontade
ainda em vida aos seus familiares. É importante lembrar que um simples diálogo
realizado com a família ainda em vida a respeito deste assunto pode salvar
vários pacientes.
Especificamente na codificação
da doutrina espírita realizada por Allan Kardec, não há menção a respeito da
doação de órgãos ou realização de transplantes, pois, na época, a medicina
ainda não havia avançado tanto nesta área e apenas na década de 60 ocorreria o
primeiro transplante bem sucedido no mundo. Contudo, como Deus permitiu que a
ciência e a medicina progredissem a ponto de que fossem hoje capazes de
realizar de forma segura a realização de transplantes, trazendo alívio e cura
para tantos pacientes em sofrimento, entende-se que a doação de órgãos ofereça
diversos benefícios ao receptor e ao doador tanto física quanto
espiritualmente.
Algumas pessoas que seguem a
Doutrina Espírita preocupam-se com as repercussões da doação de órgãos no
períspirito. De acordo com O Livro dos
Médiuns, lê-se que
Imaginemos,
primeiramente, o espírito em sua união com o corpo; o espírito é o ser
principal, uma vez que é o ser pensante e sobrevivente; o corpo assim é apenas
um acessório do espírito, um envoltório, uma vestimenta que ele deixa, quando
está gasta. Além desse envoltório material, o espírito tem um segundo,
semimaterial, que o une ao primeiro; na morte, o espírito se despoja do corpo
material, mas não do segundo envoltório, ao que damos o nome de perispírito.
Este envoltório semimaterial, que toma o aspecto humano, constitui um corpo
fluídico, vaporoso, mas que, mesmo sendo invisível para nós em seu estado
normal, não deixa de possuir algumas propriedades da matéria.
Portanto o corpo é apenas um
acessório do espírito, tal como uma roupa o é para o corpo e o períspirito não
reflete o que ocorre no corpo físico ou em seus órgãos. De acordo com André
Luiz na obra “Evolução em Dois Mundos”[3]:
para definirmos, de
alguma sorte, o corpo espiritual, é preciso considerar, antes de tudo, que ele
não é reflexo do corpo físico, porque na realidade, é o corpo físico que o
reflete, tanto quanto ele próprio, o corpo espiritual, retrata em si o corpo
mental que lhe preside a formação.
Logo, o ato de doação de órgãos,
quando decidido pelo próprio doador, é uma forma de praticar a caridade, o
altruísmo e o amor ao próximo e por essa razão ele em nada afeta o perispírito,
apenas beneficia o espírito doador. Caso a decisão de doação dos órgãos tenha
sido tomada por um familiar, ainda assim o espírito é beneficiado pela alegria
e gratidão do receptor e de seus familiares.
Em relação aos receptores de
órgãos, muitos relatam diferentes sensações emocionais e físicas após o
transplante. É perfeitamente natural que após uma cirurgia de grande porte as
pessoas apresentem maior sensibilidade e o emocional afetado principalmente
após um longo período de convalescença, pois estas provações as fazem refletir
a respeito de sua existência e, além disso, a possibilidade de um desencarne
iminente traz consequências psicológicas a todo indivíduo. Os pacientes
transplantados precisam se readaptar a um novo estilo de vida, que exige
precauções e cuidados mesmo após a cirurgia, e poucos serão os que não sentirão
uma mudança profunda em sua vida seja física ou emocionalmente. Após a realização
de um bem sucedido transplante de órgãos, o receptor tem a oportunidade de
realizar uma reforma íntima intensa, exercendo a gratidão por ter recuperada
sua qualidade de vida e a benção de prosseguir sua vida junto aos seus entes
queridos e amigos, tendo em vista que o corpo físico é um instrumento para que
o espírito encarnado tenha a possibilidade de cumprir sua jornada rumo à
evolução.
Quanto às sensações físicas,
existem relatos de pacientes que dizem as sentir, porém uma vez que o órgão é
transplantado, ele passa a receber a influência dos moldes perispirituais do
receptor e não há mais influência do doador. Uma influência espiritual do
doador só seria possível caso o receptor mantivesse uma sintonia mental com
ele, portanto, caso ocorra, esta influência não se manifesta através do órgão
recebido e sim da conexão mental entre os indivíduos assim como ocorre com
quaisquer outros espíritos.
Deste modo, pode-se compreender
que a doação de órgãos ocasiona variados benefícios ao doador seja em vida ou após
o desencarne, assim como ao receptor, que tem prolongada sua vida graças à
misericórdia divina e ao altruísmo do doador ou de seus familiares. Cada pessoa
dispõe de seu livre arbítrio para decidir de que forma cuida e dispõe de seu
corpo físico, todavia é necessário ter em consideração que ele é o instrumento
através do qual o espírito tem a possibilidade de cumprir sua existência
terrena e o meio pelo qual pode evoluir desde que siga sua vida em harmonia com
as leis divinas e com sabedoria ao exercer suas escolhas, pois a existência na
Terra se trata de valiosa oportunidade para o burilamento espiritual. E
conforme orienta o Mestre Jesus: “Que vos ameis uns aos outros”, pois somente
através da caridade e do amor ao próximo pode o homem alcançar a sua salvação.
Fonte: Blog Letra Espírita
Referências
KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo.
Tradução de Matheus Rodrigues de Carvalho. 43ª reimpressão. Capivari, SP:
Editora EME, 2018.
FRANCO, Divaldo Pereira. “Seara
de luz”. Salvador: LEAL.
Transplantes de órgãos: saiba
a importância de conversar com a família e sobre como é o processo de doação.
Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/noticias/2021-1/setembro/transplantes-de-orgaos-saiba-a-importancia-de-conversar-com-a-familia-e-sobre-como-e-o-processo-de-doacao. Acessado em 20 de outubro de 2021.
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