terça-feira, 9 de novembro de 2021

LUTA DOS ESPÍRITOS PARA VOLTAR AO BEM[1]

 

Allan Kardec

 

(Paris, 24 de março de 1867 – Médium: Sr. Rul)

 

Obrigado, caro irmão, por vossa compaixão por aquele que expia pelo sofrimento as faltas cometidas; obrigado por vossas boas preces, inspiradas por vosso amor aos vossos irmãos. Chamai-me algumas vezes; será um encontro a que jamais faltarei, ficai certos. Disse numa comunicação dada na Sociedade que, depois de ter sofrido, me seria permitido vir dar minha opinião sobre algumas questões de que vos ocupais. Deus é tão bom que, depois de me haver imposto a expiação pelo sofrimento, teve piedade de meu arrependimento, porque sabe que se eu fali, foi por fraqueza, e que o orgulho é filho da ignorância. É-me permitido instruir-me, e se não posso, como os Espíritos bons que deixaram a Terra, penetrar os mistérios da Criação, posso estudar os rudimentos da ciência universal, a fim de progredir e ajudar os meus irmãos a progredirem também.

Dir-vos-ei a relação que existe entre o estado da alma e a natureza dos fluidos que a envolvem em cada meio em que momentaneamente ela é colocada. E se, como vos foi dito, a alma pura saneia os fluidos, crede bem que o pensamento impuro os vicia. Julgai que esforços deve fazer o Espírito que se arrepende, para combater a influência desses fluidos de que é envolvido, aumentada ainda pela reunião de todos os maus fluidos que lhe trazem, para o sufocar, os Espíritos perversos. Não creiais que me baste querer melhorar-me, para expulsar os Espíritos orgulhosos que me rodeavam durante minha estada na Terra. Eles estão sempre perto de mim, procurando reter-me em sua atmosfera insalubre. Os Espíritos bons vêm esclarecer-me, trazer-me a força de que necessito para lutar contra a influência dos Espíritos maus, afastando-se depois e me deixando entregue às minhas próprias forças, para lutar contra o mal. É então que eu sinto a influência benfazeja de vossas boas preces, porquanto, sem o saber, continuais a obra dos Espíritos bons de além-túmulo.

Como vedes, caro irmão, tudo se encadeia na imensidade; todos somos solidários uns com os outros, e não há um só pensamento bom que não leve consigo frutos de amor, de melhora e de progresso moral. Sim, tendes razão de dizer de vossos irmãos que sofrem que basta uma palavra para explicar o Criador; que esta palavra deve ser a estrela que guia cada Espírito, seja qual for o grau da escala espírita a que pertença por todos os seus pensamentos, por todos os seus atos, nos mundos inferiores, como nos superiores; que esta palavra, o evangelho de todos os séculos, o alfa e o ômega de toda ciência, a luz da verdade eterna, é amor!

Amor de Deus, amor de seus irmãos. Ditosos os que oram pelos irmãos que sofrem. Suas provações na Terra tornar-se-ão leves, e a recompensa que os espera estará acima de suas expectativas!...

Como vedes, caro irmão, o Senhor é cheio de misericórdia, visto que, a despeito de meus sofrimentos, permite-me vir falar-vos a linguagem de um Espírito bom.

A...



[1] Revista Espírita – Julho/1867 – Allan Kardec

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