Hugo Lapa
Sabemos que a recordação a vidas
passadas não ocorre apenas durante as sessões regressivas em estados alterados
de consciência. A recordação de vidas passadas é um fenômeno universal e
independe de crença religiosa.
Há uma série bem numerosa de
situações e condições que podem trazer à tona os registros mentais do espírito,
que não se perdem com a reencarnação.
As recordações de vidas passadas
se dividem em duas categorias gerais: Recordação em crianças e recordação em
adultos.
Recordação em
crianças
Esse tipo de recordação é muito
comum e, assim como outros tipos, é frequentemente confundida com a fantasia
infantil. A recordação em crianças é comentada com mais detalhes no último
capítulo do meu livro.
Algumas recordações de vidas
passadas que se iniciaram na infância podem persistir, total ou parcialmente,
com o passar dos anos. Algumas pessoas que tiveram essas lembranças em tenra
idade podem, em alguns casos, manter essa memória até a fase adulta. Embora
casos como esse sejam mais raros, há indivíduos cuja memória das vidas passadas
se prolonga até a fase adulta. Mas, na maioria das vezes, crianças com essas
reminiscências acabam passando dos sete anos de idade e esquecem completamente
de sua vida passada.
Logo que a criança começa a
falar, aos dois anos de idade, ela pode já começar a falar de sua vida passada.
A maior porcentagem destes relatos ocorre entre a idade de dois a quatro anos.
Na maioria dos casos as crianças se lembram de sua última encarnação e alguns
parentes e pessoas próximas podem fazer parte dessas lembranças.
Recordação em adultos
As recordações em adultos
compreendem toda a gama de experiências que serão descritas neste artigo. Sua
fenomenologia é numerosa, abrangente, universal e diversificada. Ela ocorre sob
múltiplas formas, condições e contextos diferenciados.
Recordação pelos
sonhos
A recordação pelos sonhos é uma
das formas mais comuns de lembranças de vidas passadas. Existem alguns fatores
que podem indicar que um sonho talvez seja uma lembrança de vidas passadas. São
eles:
o
Evoca forte conteúdo emocional.
o
Segue uma sequência lógica e coerente de
acontecimentos.
o
Na maioria das vezes, repete-se com frequência e
sempre possui o mesmo início, meio e fim, sem que tenhamos poder de modificar
sua trama.
o
É dotado de muito realismo, como se estivéssemos
revivendo algo que de fato ocorreu.
o
Identificamos pessoas do sonho (que se
apresentam com outra aparência) com pessoas de nossa convivência atual.
o
Apresenta alguns elementos antigos, como roupas
de época, cenários, residências, objetos, tudo aparentando ser tal como era em
épocas pretéritas.
Os sonhos com vidas passadas são
mais comuns do que a maioria das pessoas pensa. Pelas nossas pesquisas, podemos
dizer que a maior parte da população mundial já teve, em algum momento de sua
vida, um sonho de vidas passadas. Porém, a maioria encara essa experiência como
apenas uma fantasia, um devaneio, um conglomerado de reminiscências atuais que
são organizadas por fatores ocultos do nosso inconsciente. Se cada pessoa
prestasse mais atenção a seus sonhos, seria possível descobrir alguns dos
nossos mistérios íntimos. A observação sistemática dos sonhos deveria ser um
pré-requisito para todos aqueles interessados em seu autoconhecimento.
Recordações por
visões sem causa aparente
Algumas recordações de vidas
passadas vêm à tona por motivos desconhecidos. Aparentemente, não há qualquer
fator desencadeante que tenha dado origem à súbita emergência de visões e
sensações. Dizemos “aparentemente”, pois é possível que haja algum fator
ativador desconhecido atuando e trazendo à consciência um conteúdo originário
de um passado remoto.
De qualquer forma, alguns casos
de lembranças parecem surgir sem causa definida, algumas vezes após um
relaxamento profundo, um devaneio, ou quando a pessoa está “sonhando acordada”
e mergulhada em seu universo interior.
Por vezes, a total ausência de
foco, quando tudo parece fluir sem as preocupações dos afazeres diários, parece
que se abre um caminho para nítidas lembranças do passado, que surgem como
visões espontâneas de cenas e imagens, por meio da clarividência.
Déjà vu
A palavra déjà vu significa, literalmente, “já visto”. O termo foi
primeiramente utilizado pelo filósofo e metapsiquista francês Emile Boirac
(1851-1917) no livro L’Avenir des
Sciences Psychique (O Futuro das Ciências Psíquicas). No entanto, essa
palavra tem dois significados principais e isso confunde muitas pessoas que
leem e tomam contato com esse tema. O primeiro significado e o mais comum é a
recordação de que já vivemos uma dada situação (que não tem relação com vidas
passadas). Algumas pessoas passam por alguma circunstância em sua vida
cotidiana e têm a nítida impressão de que já viveram aquilo anteriormente. Isso
pode ocorrer com a passagem por algum lugar, pelo encontro com uma pessoa, por
uma frase que proferimos, pela visão de um objeto ou qualquer outro elemento de
nossa percepção. O processo do déjà vu
consiste na forte impressão de que já passamos por uma determinada
circunstância, mesmo que jamais a tenhamos vivenciado. Há várias explicações
que a Ciência oferece para este fenômeno, mas não vamos entrar aqui nestes
detalhes, pois não é este o objetivo.
O segundo significado está diretamente
ligado a lembranças de vidas passadas. O déjà
vu, neste sentido, é o processo de reconhecimento de que já estivemos num
determinado local ou atravessamos uma dada situação, e esse seria um retorno de
memórias de experiências que já vivemos em vidas passadas. Algum estímulo
externo qualquer, com o qual tivemos abundante experiência numa de nossas vidas
passadas, nos suscita uma clara impressão de já termos passamos por tal lugar,
de já termos vivido ali e vivenciado muitas experiências. Por exemplo, uma
pessoa visita as pirâmides do Egito e sente fortemente que já esteve ali antes,
que já viveu experiências ali.
Essa impressão de “já visto” e
“já vivido” pode trazer outros sentimentos associados, como tristeza, vazio,
raiva, mágoa, decepção, desesperança etc. Pode até mesmo, em algumas
circunstâncias, gerar efeitos físicos, como cansaço, aperto no peito, frio na
barriga, tontura etc. Neste sentido, qualquer estímulo externo que provoque em
nós uma forte sensação ou reconhecimento de que já vimos, já sentimos ou já
passamos por aquilo pode ser considerado um déjà
vu.
Recordação pelo
reconhecimento instantâneo de uma pessoa
O encontro com determinadas
pessoas que convivemos em vidas passadas pode ser igualmente um fator
desencadeante para a emergência de muitas recordações de vidas passadas. Esse
encontro é, na realidade, um reencontro, que pode ter ocorrido não apenas em
uma, mas em muitas vidas passadas. Quando duas almas passaram várias
encarnações juntas, elas podem trazer uma bagagem positiva e negativa de
lembranças. Quando ocorre esse encontro, uma torrente forte de emoções,
sensações e pensamentos frequentemente vem à tona, causando impressões bem
intensas.
Algumas vezes, esse reencontro
pode gerar até certa confusão e angústia nas pessoas, além de algumas
somatizações físicas.
Recordação provocada
pelo contato com lugares
Esse tipo de recordação eclode
após a passagem por lugares determinados em que a pessoa tenha vivido em
encarnações anteriores. Pode ser uma igreja antiga, um templo, uma cidade, uma
floresta, um lago, uma praia, um monumento histórico, uma construção antiga
qualquer, um obelisco, uma estrada, um sítio arqueológico etc. Qualquer local
que alguém tenha vivido em existências pregressas e que se depare agora, no
momento presente. Isso ocorre frequentemente em viagens para locais onde
desejamos ir e já sentimos afinidade.
Recordação provocada
por doenças graves ou traumas intensos
A recordação espontânea também
pode surgir após uma enfermidade séria ou mesmo um intenso trauma psicológico.
No caso das patologias físicas, o indivíduo pode sentir-se vulnerável, com
mal-estar, com dores, angústia, fraquezas, pode ficar acamado por muito tempo e
pode até mesmo entrar em um estado alterado de consciência, provocado pela
grande quantidade de tempo em que sua mente estiver mais livre do organismo
físico. Por exemplo, não é muito raro uma pessoa vivenciar um estado alterado
em graves quadros febris. Alucinações e delírios podem se manifestar em casos
assim, da mesma forma que impressões, sensações, sentimentos ou mesmo visões de
vidas passadas podem correr livremente em nossa consciência. É óbvio que isso
não ocorre em todos os casos. Apenas em algumas situações de enfermidades mais
severas é possível que o inconsciente venha a expressar uma experiência de
vidas passadas.
No caso de traumas intensos,
podemos vivenciar uma sensação de colapso do nosso ego e nossa identidade.
Nesse momento, com a saída momentânea de nossa perspectiva pessoal, memórias
ocultas podem saltar à consciência revelando tramas pretéritas até então
desconhecidas.
Recordação provocada
por surtos psicóticos ou transtornos diversos
No caso de surtos psicóticos, é
bem mais difícil identificar uma recordação espontânea, pois tudo o que passa
na mente da pessoa nessa condição tende a ser rotulado pelos especialistas como
fantasias, criações, invenções, delírios, quimeras, extravagâncias, devaneios
etc. No entanto, algumas imagens e sensações podem ser tão somente uma memória
emergente de uma vida passada, mas são encaradas pelos psicólogos e psiquiatras
como simples imagens aleatórias condensadas e criadas pelo indivíduo.
Psicóticos podem até mesmo incorporar personalidades suas de uma vida passada e
expressá-las na reencarnação atual.
Outros transtornos de
personalidade e humor também podem irromper uma lembrança de vidas passadas.
Recordação por
ativação de faculdades paranormais
Algumas pessoas cuja
paranormalidade ou sensibilidade psíquica está aflorando podem, por meio dessa
abertura, ter percepções de suas vidas passadas. Médiuns e sensitivos em geral
têm mais facilidade de perceberem suas vidas passadas do que pessoas “comuns”.
Quando ocorre um despertar abrupto dessas faculdades psíquicas, as visões de
nossas vidas passadas podem brotar naturalmente. Sensitivos, videntes e médiuns
podem também captar informações a respeito das encarnações de outras pessoas.
Recordação pelo uso
de substâncias psicoativas
Muito usado pelos povos tribais
antigos, em especial no Xamanismo, o uso de substâncias pode ser um fator
desencadeante do despertar de nossas memórias de vidas passadas. Essas
substâncias sempre foram usadas em ritualísticas diversas e ainda são
utilizadas para abrir caminho a uma visita mais direta aos espaços interiores
do homem.
Recordação por
obsessão espiritual
Em casos mais profundos de
obsessão espiritual, o próprio laço obsessivo pode precipitar o surgimento de
uma impressão, sensação ou uma lembrança mais nítida de uma vida passada em que
convivemos com esse espírito. Obviamente isso não é muito comum de ocorrer, mas
há alguns poucos casos em que a simples aproximação de uma entidade do nosso
passado, seja parente ou não, pode estimular determinadas recordações.
O encarnado e o desencarnado
podem ter convivido em diversas vidas, e a presença do espírito é tão forte que
causa uma impressão profunda no encarnado, que começa a se recordar e, algumas
vezes, a reproduzir experiências e comportamentos de uma ou mais vidas
passadas. O contato com encarnados e com desencarnados de outras vidas pode
trazer à tona as circunstâncias mais intensas do nosso passado com esses
espíritos.
Recordação por
experiência fora do corpo
Este tipo de recordação se torna
possível graças a uma “experiência fora do corpo”, ou seja, experiência de
projeção do nosso perispírito para fora do nosso corpo físico. Neste estado de
consciência, onde nos distanciamos do nosso corpo físico, é possível ter
lembranças de nossas vidas passadas, embora isso não seja muito comum.
Recordação por
meditação ou experiências místicas
Essa forma de recordação ocorre
mais comumente em meditadores que já atingiram estágios um pouco mais avançados
em suas práticas. A princípio, qualquer abordagem de meditação pode levar uma
pessoa a recordações, desde que levada a estágios mais profundos. Um exemplo
dessa prática ocorreu com Sidarta Gautama, o Buda, que, segundo a tradição, por
meio da meditação atingiu a lembrança de milhares de vidas anteriores.
As experiências espirituais de
várias épocas e tradições podem ser o gatilho para a recordação de uma ou mais
vidas passadas. Isso é particularmente comum no Xamanismo, em estados de transe
diversos, em ritos de passagem, em iniciações de fraternidades místicas e
esotéricas, em alguns rituais arcaicos etc.
Para quem quiser
pesquisar mais o assunto
Um dos pesquisadores que estudou as várias facetas das
recordações de vidas passadas foi o espírita brasileiro Hernani Guimarães
Andrade. Hernani era um investigador nato e mergulhou com eficácia em casos
envolvendo crianças, os quais sugeriam se tratar de lembranças de vidas
passadas. Foi o coordenador da tradução da obra Vinte Casos Sugestivos de Reencarnação, de Ian Stevenson, para
língua portuguesa. Sua vasta obra abraça muitos temas, como: reencarnação,
fenômenos paranormais e mediúnicos, morte, obsessão espiritual, perispírito, a
transcomunicação instrumental, dentre outros.
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