Rafaela Paes de Campos
A vida e a morte são os dois
grandes movimentos da existência. O primeiro sempre vem acompanhado de imensa
alegria por aqueles que esperam a chegada do novo ente e, o último, sempre
carrega o fardo da tristeza pela separação. A vida não nos assusta, mas a morte,
via de regra, sim, e muito se pensa a respeito da forma pela qual esse processo
de partida se dá. Para isso, socorre-nos a sabedoria de O Livro dos Espíritos.
Primeiramente há que se
mencionar que a separação da alma e do corpo se dá pelo rompimento dos laços
que prendem uma à outra e, com isso, a alma então se desprende. Esse processo
não se dá de forma abrupta, mas gradual, eis que “o Espírito se desprende pouco
a pouco dos laços que o prendiam: eles se desatam, não se rompem[2]”.
Para os que estão iniciando os
estudos nas sendas Espíritas, cabe informar o que traz Kardec em nota à questão
155a:
Durante a vida, o
Espírito está unido ao corpo por seu envoltório semimaterial ou perispírito. A
morte é a destruição apenas do corpo, e não desse segundo envoltório, que se
separa do corpo quando nele cessa a vida orgânica. A observação prova que, no
instante da morte, o desprendimento do perispírito não se completa subitamente;
opera-se gradualmente, com uma lentidão muito variável, conforme os indivíduos.
Em alguns, é bem rápido, e pode-se dizer que o momento da morte é o mesmo da
libertação, algumas horas depois. Mas em outros, sobretudo aqueles cuja vida
toda foi exageradamente material e sensual, o desprendimento é muito mais lento
e algumas vezes pode durar dias, semanas e até meses, o que não implica que
haja nos corpos a menor vitalidade, nem a possibilidade de um retorno à vida,
mas uma simples afinidade entre o Espírito e o corpo, que se deve sempre à
importância que o Espírito deu à matéria durante a vida. De fato, é racional
conceber que quanto mais o Espírito estiver identificado com a matéria, mais
ele sofrerá para separar-se dela, ao passo que a atividade intelectual e moral,
a elevação dos pensamentos, operam um início de desprendimento, mesmo durante a
vida do corpo, e quando chega a morte, o desprendimento é quase instantâneo.
Este é o resultado de estudos feitos sobre todos os indivíduos observados no
momento da morte. Essas observações provam ainda que a afinidade que em certos
indivíduos persiste entre a alma e o corpo é, às vezes, muito penosa, pois o
Espírito pode experimentar o horror da decomposição. Esse caso é excepcional e
peculiar a certos gêneros de vida e a certos gêneros de mortes; mostra-se em
alguns casos de suicidas.
Uma informação bastante
importante é trazida neste trecho, eis que a velocidade do desprendimento da
alma e do corpo será ditada pela forma com que a alma viveu na materialidade.
Sabemos o quanto é importante que entendamos que os bens materiais são
empréstimos transitórios para a vida terrena, ou seja, não os levaremos. É no
aperfeiçoamento moral que mora a riqueza que nos permitirão levar no retorno à
vida Espírita e, por isso, quanto mais nos apegamos à matéria, mais lento será
o processo de desprendimento, eis que o Espírito dá demasiada importância
aquilo que, pelas leis que regem a vida, é perecível.
Seguindo, esse desprendimento
não é doloroso, pois a alma nada sente e pode até sentir certo prazer, uma vez
que é o momento da libertação da prisão na qual se configura o corpo material.
Outro questionamento importante
está contido na questão 156[3]:
‒ A separação definitiva da alma e do corpo pode ocorrer
antes que a vida orgânica cesse completamente?
Na agonia, a alma às
vezes já deixou o corpo: há somente a vida orgânica. O homem não tem mais
consciência de si mesmo e, no entanto, ainda lhe resta um sopro de vida. O
corpo é uma máquina movida pelo coração; existe enquanto ao coração fizer
circular o sangue nas veias, e não necessita da alma para isso.
O que se leciona é que, quando o
corpo se encontra em agonia, por vezes o Espírito já o abandonou, restando
apenas a vida orgânica da qual não depende a presença da alma. Um breve
parêntese para explicar que, na época da escrita de O Livro dos Espíritos, a morte era considerada com a cessação da
atividade do coração[4],
mas já sabemos que hoje a ciência considera a morte encefálica como aquela que
dita o fim da vida orgânica.
Adiante, aprendemos que a alma,
ao sentir romperem-se os laços que a prende ao corpo, esforça-se para rompê-los
de forma total e, já parcialmente desprendida, consegue visualizar, em parte, o
estado de Espírito no qual adentrará[5].
Quando se vê no mundo dos Espíritos, finalmente, experimentará sensação
condizente com a vida que levou na matéria, sentindo vergonha caso tenha feito
o mal com o desejo de assim fazer ou sentirá alívio do peso da matéria, tendo
sido justa durante a sua vida[6].
Por fim, cabe mencionar que, com
o desprendimento, o Espírito reencontrará aqueles por quem possui afeição, pois
estes, via de regra, vêm recebê-lo em seu retorno ao mundo Espírita e o
auxiliam no desligamento da alma e do corpo[7].
Diante de todo o exposto,
portanto, compreende-se que o processo de desligamento da alma e do corpo se dá
de forma gradual, sem que haja dor física. Entretanto, este processo guardará
semelhanças com a vida vivida pelo Espírito e sua velocidade será ditada pelo
apego ou não à matéria.
Por isso, que nos lembremos
sempre de que o que é importante para o Espírito não é o que a vida material
nos faz perseguir, mas sim aquilo que aprendemos ao longo dos caminhos, as
lições ultrapassadas, os resgates bem-sucedidos e a moralidade desenvolvida, de
forma a elevar o Espírito nas escalas espirituais.
Fonte: Blog Letra Espírita
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