Miramez
O sentimento de justiça é natural ou resulta de ideias
adquiridas?
‒ É de tal modo
natural que vos revoltais ao pensamento de uma injustiça. O progresso moral
desenvolve sem dúvida esse sentimento, mas não o dá: Deus o pôs no coração do
homem. Eis porque encontrais frequentemente, entre os homens simples e
primitivos, noções mais exatas de justiça do que entre pessoas de muito saber.
Questão 873/O Livro dos Espíritos
A justiça se encontra nas leis
da natureza, onde ela se expressa com maior fulgor, no entanto, pode ser e é
copiada pela sensibilidade humana.
Todo o ser humano sente o
impulso de revolta ao deparar com uma injustiça, seja com criaturas humanas,
com animais, ou mesmo em se agredindo a natureza. Toda e qualquer violência, em
qualquer parte, causa revolta. Por que isso ocorre? É que a justiça se encontra
irradiando onde se pode colocar a ponta de um alfinete quase invisível aos
olhos humanos.
Entrementes, as paixões dos
seres pode empanar certos sentimentos de justiça pela força da ignorância, de
maneira que ela não flui da consciência para a razão, mas nunca deixa de se
esforçar para atender aos urgentes casos do coração e da fé.
Sabemos que o progresso moral
desenvolve o sentimento de justiça, entretanto não o dá. Não é ele a sua
sublime fonte, no avanço da educação e da disciplina. A lei de justiça está
vibrando no centro da sensibilidade da consciência, semente divina, na sua
divina expressão, colocada por Deus no energismo da vida.
Entre os animais e os Espíritos
primitivos a justiça se manifesta pelo instinto e pela intuição, enquanto, por
vezes, ela falha nos doutos, devido a razão e o interesse pessoal invadirem a
área do coração, criando distúrbios na personalidade humana.
O trabalho grandioso dos grandes
profetas que vieram antes de Jesus, e dos sábios em todo o mundo, foi pregar a
justiça, limpando as veredas e ampliando meios para que pudesse descer até nós
o amor trazido por Jesus.
O sentimento de justiça não é
adquirido no percurso das eras, mas, sim, estimulado pelo progresso e o
despertamento dos Espíritos em ascensão para a Vida Maior. Tudo vem de Deus
para a Terra e passa pelos processos que Jesus estabeleceu. Ele, o Mestre dos
mestres, é, pois, o Pastor do rebanho terrestre, de cujas mãos despertamos para
a vida racional. Os nossos olhos deverão ser abertos pelas mãos sábias do
Cristo, que devemos encontrar dentro de nós, trabalhando a nossa própria vida.
Busquemos em João mais
segurança, no capítulo nove, versículo dez, que diz:
Perguntaram-lhe, pois: Como te foram abertos
os olhos?
E aquele que havia sido cego
apontou logo o instrumento de Deus no exercício da caridade, para mostrar como
convém olhar as coisas, sem deixar de ensinar os preceitos divinos, para
estabelecer a harmonia no coração daquele que não enxergava. A Doutrina
Espírita vem como o Consolador Prometido, abrir igualmente os olhos dos homens,
de modo que eles possam ver com mais clareza a vida e conhecerem a si mesmos,
conscientes dos caminhos a percorrer.
Verdadeiramente, a justiça faz
parte de todas as virtudes acionadas por Deus, em todos os ângulos da criação.
Justiça é paz,
Justiça é amor,
Justiça é luz,
Justiça é dor.
Devemos ampliar a justiça dentro
e fora de nós, não somente entre os seres humanos, pois ela cabe em toda a
nossa vida. Não podemos deixar lugar para o egoísmo. Bem sabemos que se
trabalharmos só com uma mão, a outra se atrofiará; se andarmos somente com uma
perna, a outra esquecerá sua função; se olharmos só com um olho, o outro
passará a apagar-se; se fizermos economia de um ouvido, o outro perderá a sua
função de trabalho e assim por diante.
A vida é binária, é a expressão
da justiça e do desprendimento. Todos trabalham para a grandeza do todo.
A razão aí está também para
descobrir essas coisas, e não para impedir a filtragem das leis do Criador.
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