quinta-feira, 21 de outubro de 2021

SENTIMENTO DA JUSTIÇA[1]

 

Miramez

 

O sentimento de justiça é natural ou resulta de ideias adquiridas?

‒ É de tal modo natural que vos revoltais ao pensamento de uma injustiça. O progresso moral desenvolve sem dúvida esse sentimento, mas não o dá: Deus o pôs no coração do homem. Eis porque encontrais frequentemente, entre os homens simples e primitivos, noções mais exatas de justiça do que entre pessoas de muito saber.

Questão 873/O Livro dos Espíritos

 

A justiça se encontra nas leis da natureza, onde ela se expressa com maior fulgor, no entanto, pode ser e é copiada pela sensibilidade humana.

Todo o ser humano sente o impulso de revolta ao deparar com uma injustiça, seja com criaturas humanas, com animais, ou mesmo em se agredindo a natureza. Toda e qualquer violência, em qualquer parte, causa revolta. Por que isso ocorre? É que a justiça se encontra irradiando onde se pode colocar a ponta de um alfinete quase invisível aos olhos humanos.

Entrementes, as paixões dos seres pode empanar certos sentimentos de justiça pela força da ignorância, de maneira que ela não flui da consciência para a razão, mas nunca deixa de se esforçar para atender aos urgentes casos do coração e da fé.

Sabemos que o progresso moral desenvolve o sentimento de justiça, entretanto não o dá. Não é ele a sua sublime fonte, no avanço da educação e da disciplina. A lei de justiça está vibrando no centro da sensibilidade da consciência, semente divina, na sua divina expressão, colocada por Deus no energismo da vida.

Entre os animais e os Espíritos primitivos a justiça se manifesta pelo instinto e pela intuição, enquanto, por vezes, ela falha nos doutos, devido a razão e o interesse pessoal invadirem a área do coração, criando distúrbios na personalidade humana.

O trabalho grandioso dos grandes profetas que vieram antes de Jesus, e dos sábios em todo o mundo, foi pregar a justiça, limpando as veredas e ampliando meios para que pudesse descer até nós o amor trazido por Jesus.

O sentimento de justiça não é adquirido no percurso das eras, mas, sim, estimulado pelo progresso e o despertamento dos Espíritos em ascensão para a Vida Maior. Tudo vem de Deus para a Terra e passa pelos processos que Jesus estabeleceu. Ele, o Mestre dos mestres, é, pois, o Pastor do rebanho terrestre, de cujas mãos despertamos para a vida racional. Os nossos olhos deverão ser abertos pelas mãos sábias do Cristo, que devemos encontrar dentro de nós, trabalhando a nossa própria vida.

Busquemos em João mais segurança, no capítulo nove, versículo dez, que diz:

Perguntaram-lhe, pois: Como te foram abertos os olhos?

E aquele que havia sido cego apontou logo o instrumento de Deus no exercício da caridade, para mostrar como convém olhar as coisas, sem deixar de ensinar os preceitos divinos, para estabelecer a harmonia no coração daquele que não enxergava. A Doutrina Espírita vem como o Consolador Prometido, abrir igualmente os olhos dos homens, de modo que eles possam ver com mais clareza a vida e conhecerem a si mesmos, conscientes dos caminhos a percorrer.

Verdadeiramente, a justiça faz parte de todas as virtudes acionadas por Deus, em todos os ângulos da criação.

Justiça é paz,

Justiça é amor,

Justiça é luz,

Justiça é dor.

Devemos ampliar a justiça dentro e fora de nós, não somente entre os seres humanos, pois ela cabe em toda a nossa vida. Não podemos deixar lugar para o egoísmo. Bem sabemos que se trabalharmos só com uma mão, a outra se atrofiará; se andarmos somente com uma perna, a outra esquecerá sua função; se olharmos só com um olho, o outro passará a apagar-se; se fizermos economia de um ouvido, o outro perderá a sua função de trabalho e assim por diante.

A vida é binária, é a expressão da justiça e do desprendimento. Todos trabalham para a grandeza do todo.

A razão aí está também para descobrir essas coisas, e não para impedir a filtragem das leis do Criador.



[1] Filosofia Espírita – Volume 18 – João Nunes Maia

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