sábado, 30 de outubro de 2021

DUVIDAR, SEMPRE![1]

 

Marcelo Henrique Pereira

 

“Aquele que duvida verdadeiramente, procura, e aquele que procura, encontra”.

Charles Fourier

(Revista Espírita, abril, 1869).

 

Duvidar ou não duvidar, eis a questão!

Infantes, duvidamos de pais e mestres, quando não dos amigos de faixa etária, quando eles nos dizem algo que escapa de nossa compreensão momentânea.

Adolescentes, duvidamos dos conselhos dos mais velhos, diante das situações da vida, imaginando que, conosco, será tudo diferente.

Adultos, duvidamos de muitas de nossas conclusões, sobretudo as que vêm de primeiro impulso e, receosos, repetimos raciocínios que nos levem a resultados diferentes.

Maduros, duvidamos, desconfiados, de certas pessoas que de nós se aproximam, com o receio de sermos iludidos ou enganados.

Idosos, duvidamos do porvir, que é apresentado pelas religiões como algo distante de nossos sentimentos, ao mesmo tempo em que, racionalmente, custamos a crer que o nada seja o nosso destino final. Eis que chegamos, todos, à Doutrina dos Espíritos por uma (ou várias) dúvida(s), persistentemente ecoando em nosso íntimo, para a busca dos porquês da existência. Eis que, encontrando respostas, nos vemos diante de que muitas delas são não-satisfativas, porque nos impeles a outras perguntas, sucessivamente.

Eis que, encontrando respostas, nos vemos diante de que muitas delas são não-satisfativas, porque nos impeles a outras perguntas, sucessivamente.

Então, quando vemos um sem-número de espíritas em “zonas de conforto”, como se soubessem muitas coisas, ou repetindo um “mantra” de que as obras de Kardec já disseram tudo à Humanidade, traduzindo a inteligência e a perspicácia das Almas Invisíveis e Sábias, constatamos que MUITOS ainda não entenderam a real proposta da Filosofia Espírita.

E a opinião de Fourier, registrada por Kardec, no laboratório de sua Revue Spirite, longe de nos apresentar certezas definitivas, para as nossas procuras, apresenta-nos, vez por outra, alguns encontros. E estes encontros nos levarão, indefinidamente, a continuar procurando…

 

 

Fonte: Portal Casa Espírita Nova Era

sexta-feira, 29 de outubro de 2021

A PATERNIDADE AUSENTE SOB A ÓTICA DA DOUTRINA ESPÍRITA[1]

 

Carla Silvério

 

A questão da paternidade, dentro da Doutrina Espírita, é vista como sendo de grande importância e de fundamental relevo para a formação do Espírito reencarnado através dos laços havidos com seus pais no planejamento reencarnatório para a nova existência que passa a vivenciar.

Segundo as lições contidas em O Livro dos Espíritos[2], questão 582, os Espíritos nos dizem claramente que a paternidade é verdadeira missão e, ao mesmo tempo, um dever, que diz respeito, mais do que se imagina, à responsabilidade do ser humano em relação ao futuro.

A mesma Questão ainda afirma que Deus colocou o filho sob a tutela de seus pais para que estes o guiem no bom caminho. Deve, pois, todo aquele que experimenta a graça divina da paternidade, exercê-la com responsabilidade, ciente de que os frutos plantados com os filhos serão colhidos mais adiante, pois, se o filho sucumbir por culpa dos pais, estes é que sofrerão as consequências da queda daquele que ficou sob sua guarda nesta encarnação.

Por outro lado, sendo os pais responsáveis, diligentes e exercendo a paternidade voltada para a formação do bom caráter de seus filhos, então não são responsáveis pela queda de sua prole, conforme questão 583, de O Livro dos Espíritos. Contudo, não podemos nos esquecer de que, como nos é ensinado ainda na mesma questão, quanto mais árdua for a experiência da paternidade vivenciada pelos pais com os filhos, maior será a sua missão em direcionar esse Espírito em sua formação dentro da senda do bem, e tanto maior serão os méritos desses pais vitoriosos em desviar seus filhos do mau caminho.

Os pais, ao exercerem a missão-dever de educar seus filhos com responsabilidade, amor e afeto, proporcionam-lhes a oportunidade de crescimento e desenvolvimento intelecto-moral e, principalmente, Espiritual, e é na infância que se forma a personalidade do Ser recém-reencarnado (questões 383 e 384).

A presença do pai na criação de seu filho é, pois, missão-dever que deve ser cumprida diligentemente (questão 208), uma vez que exercem os pais grande influência sobre seus filhos no desenvolvimento de sua educação.

Sabe-se que o planejamento reencarnatório inclui, dentre outras questões, a escolha da família na qual o Espírito irá reencarnar dentro do que lhe é melhor e mais adequado para as provas e expiações de que necessita para a existência vindoura (questão 258), e é em meio aos laços familiares que a reencarnação acontece.

Mas, então, como entender o abandono paterno sob a ótica da Doutrina Espírita?

Como dito, a família na qual o Espírito irá reencarnar é escolhida de antemão, ainda no plano espiritual, mas nem sempre a reencarnação acontece em núcleo familiar onde há afeto e amor. Por vezes, são os laços familiares criados pela sabedoria infinita de Deus por meio da reencarnação a chance de se expiar desavenças passadas e se criarem novos vínculos afetivos, justamente superando dificuldades no convívio, exercitando o perdão mútuo e, assim, evoluírem.

Assim, a escolha daquele que será o pai em sua existência próxima, e com o qual há graves desavenças a serem superadas, possibilita ao Espírito reencarnante maior chance de se apagar as mágoas passadas com o aprendizado do amor e do perdão pela convivência íntima das relações familiares, resultando em sua maior evolução (haja vista optar por ter uma vivência familiar árdua).

Entretanto, nem sempre é possível tal resiliência no âmbito familiar. Por vezes, aquele escolhido para exercer a missão-dever da paternidade ainda se apresenta equivocado em sua vivência material, não se distanciando de seus maus pendores, mesmo após a vinda ao mundo material de seus filhos, casos em que, infelizmente, são comuns em pais ausentes e/ou omissos em relação aos filhos.

Quando se observa cenário prejudicial à boa formação dos filhos pelo mau exemplo daquele destinado à paternidade, melhor será ao Espírito em formação que não conviva com seu pai, para não receber deste orientações e direcionamento errôneos, prejudicando sobremaneira a sua evolução. Desta forma, a paternidade ausente pode ser para alguns um grande alívio, e, para outros, um grande pesar.

Sabe-se que a ausência paterna gera grandes e graves reflexos psicológicos na formação dos filhos, e todos os prejuízos sofridos pelo filho abandonado serão suportados pelo pai ausente, ainda que o filho seja resiliente e não se desvie do bom caminho, apesar de suas mazelas familiares.

Todo mal que é gerado ao próximo será cobrado no futuro, assim é a Lei de Causa e Efeito, não necessariamente da mesma forma e na mesma proporção. É certo que o plantio nos é facultativo, mas a colheita do que foi outrora plantado nos é obrigatória, sendo que o livre arbítrio de todos é sempre respeitado.

A escolha do caminho que se segue em cada uma das encarnações pelas quais se passa é exclusivamente do Espírito reencarnado. Assim, deixar de exercer a missão-dever da paternidade quando lhe é dada é opção íntima pelo plantio amargo de um futuro próximo.

Os débitos já existentes entre pais e filhos, decorrentes de vidas passadas, serão somados às novas dívidas geradas pelo abandono paterno suportado pelos filhos na reencarnação vivenciada por ambos, quando deveriam acertar suas arestas. Todo aquele que se acovarda frente à sua missão paternal responsável e amorosa comete não penas falta moral com a mãe, que se vê obrigada a suportar todos os reflexos da maternidade solo, sem que assim tivesse escolhido, mas, principalmente, falta moral com seu filho, que se desenvolverá sem os laços paternais. A todos os pais ausentes, por quaisquer motivos forem, deve-se exortar sobre as consequências de seus atos sob a luz da Lei de Causa e Efeito, já que Deus é infinitamente justo e bom, e ninguém se furta à justiça divina.

Que todos os pais tenham para si a ciência de suas responsabilidades com o Espírito que lhe foi confiado.

 

 

 

Fonte: Blog Letra Espírita



[2] KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 24ª reimp. Capivari: Editora Eme, 2019.

quinta-feira, 28 de outubro de 2021

RAÇAS REBELDES[1]

 

Miramez

 

Não há raças rebeldes ao progresso por sua própria natureza?

‒ Sim, mas dia a dia elas se aniquilam corporalmente.

Qual será o destino futuro das almas que animam essas raças?

‒ Chegarão à perfeição, como todas as outras, passando por várias existências. Deus não deserda a ninguém.

Então os homens mais civilizados podem ter sido selvagens e antropófagos?

‒ Tu mesmo o foste, mais de uma vez, antes de seres o que és.

Questão 787/O Livro dos Espíritos

 

Existem raças rebeldes ao progresso, isso está à vista para o bom observador. No entanto, torna-se fácil de explicarmos essas anomalias encontradas na raça humana. Bem sabemos que a lei de afinidade espiritual é muito clara em tudo o que existe. É bom notar que a essas raças se reúnem homens iguais, mesmo vindo de outros países. Eles são atraídos para onde encontram ambiente com o qual se afinam.

O progresso, força espiritual de Deus, não respeita barreiras que o possam impedir e faz aniquilar essas raças, formando-as para melhor entendimento, dado ser essa a vontade de Deus. Elas mudarão, como todas as outras raças obedientes à Luz, pelos processos de reencarnação, e as suas ideias vão se firmando ao alcance dos elevados conceitos que as libertarão. Compete ao tempo a sua transformação.

Junto a essas raças, podemos sentir a soma de ideias conservadoras, até mesmo de antigas religiões, entretanto, as que não obedecem ao carro do progresso, ficarão para trás, perdendo o caminho para Cristo; as mais inteligentes mudarão para não desaparecerem. Toda a rebeldia é ignorância, e a ignorância somente dura enquanto não chega o saber, que com o tempo afinizar-se-á com o amor, completando a vida e nos mostrando a grande esperança.

Deus nos pede tolerância com os mais atrasados seres que estagiam na Terra, porque Ele pode nos mostrar o que fomos no passado. Passamos pelos mesmos caminhos, fazendo as mesmas coisas, caindo e levantando em processos de despertamento espiritual. Por que não ajudá-los nos mesmos processos por que já passamos? Onde estão o amor e a justiça?

Nós também já fizemos parte de raças rebeldes em outras épocas. Já matamos e morremos muitas vezes, impulsionados pela ignorância. Depois que conhecemos a verdade, tornamo-nos livres, mas os que estão na retaguarda precisam, assim como precisamos, de mãos amigas e tolerantes para crescerem. Onde estão elas? Elas se encontram espalhadas em toda parte, e os livros estão por todos os cantos, representando o Evangelho de Jesus, para nos indicar o caminho, a verdade e a vida.

É bom que consultemos a Lucas, no capítulo seis, versículo quarenta e sete, que nos anima no impulso de vida:

Todo aquele que vem a mim e ouve as minhas palavras e as pratica, eu vos mostrarei a quem é semelhante.

Se nos reunimos por semelhança, mas atendemos o chamado de Jesus, podemos compreender como nos reunimos por afinidade, porém haveremos de ouvir as palavras do Senhor e praticar Seus conceitos de luz.

Vejamos bem: Allan Kardec, um Espírito de escol, o codificador da Doutrina Espírita, ouve do Espírito comunicante essas palavras, quando ele pergunta indiretamente se já teria sido antropófago:

Tu mesmo o foste mais de uma vez, antes de seres o que és.

Isso é maravilhoso, porque podemos notar que todos passam pelos mesmos caminhos para alcançar a perfeição. Deus não tem predileção por nenhum dos Seus filhos e dá a todos as mesmas oportunidades de crescer, de despertar seus próprios valores espirituais. Como não ter paciência para com os que se encontram na retaguarda? Eles são crianças.

Quem dirige o progresso dos Espíritos encarnados e desencarnados é Deus e somente Ele.

Aos homens, não é dado impedir as leis; quem o tentar, pagará caro, por processos que ele mesmo não desconfia.

O Espiritismo é luz que nos mostra o caminho, mesmo que vivamos na escuridão e, nesta certeza, reunimos esforços para vencer as nossas imperfeições aparentes, alcançando a verdade.

[1] Filosofia Espírita – Volume 16 – João Nunes Maia

quarta-feira, 27 de outubro de 2021

PESQUISA DE VISÕES NO LEITO DE MORTE[1]

 

Erlendur Haraldsson

 

O fenômeno de pessoas moribundas tendo visões de parentes falecidos veio a público no início do século XX, com a publicação de observações no leito de morte pela obstetra Florence Elizabeth Barrett. Este artigo descreve pesquisas mais recentes feitas por pesquisadores de psi, em particular Karlis Osis e Erlendur Haraldsson.

 

Introdução: Visões no leito de morte de Barrett

Visões que algumas pessoas tiveram quando morreram há muito intrigam aqueles que estiveram presentes no leito de morte. Deathbed Visions, de Sir William Barrett, professor de física do Royal College of Science, em Dublin, foi o primeiro livro a ser publicado sobre o assunto[2]. Baseou-se principalmente nas observações de sua esposa Florence Elizabeth Barrett, uma obstetra, sobre mulheres que morreram durante o parto: alguns descreveram visões de parentes falecidos que aparentemente chegaram para recebê-las. Aqui está uma dessas contas:

De repente, ela olhou ansiosamente para uma parte da sala, um sorriso radiante iluminando todo o seu semblante.

Oh, lindo, lindo - disse ela. Eu perguntei: O que é adorável? Respondeu ela em tom baixo e intenso: O que vejo. O que você vê? Brilho adorável - seres maravilhosos.

Então ‒ parecendo focar sua atenção mais intensamente em um lugar por um momento ‒ ela exclamou, quase com uma espécie de grito de alegria: Por que é pai! Oh, ele está tão feliz por eu estar vindo; ele está tão feliz.

Outro caso que ocorreu pouco antes da morte desta mulher:

Seu marido estava inclinado sobre ela e falando com ela, quando o empurrou de lado, ela disse: Oh, não esconda isso; é tão bonito. Depois afastando-se dele e voltando-se para mim, eu estando do outro lado da cama, a dona B. disse: Ah, por que há Vida, referindo-se a uma irmã de cuja morte três semanas antes ela não tinha sido informada. Eles cuidadosamente mantiveram esta notícia longe da Sra. B. devido à sua doença grave.

Barrett notou o significado especial dos casos em que o moribundo teve a visão de um amigo ou parente de cuja morte recente não havia sido informado.

Relatos de visões mortais e links para livros e artigos sobre o assunto podem ser encontrados aqui . As principais investigações desde Barrett são descritas abaixo.

 

Investigações de Osis e Haraldsson

O pesquisador Psi Karlis Osis começou a reunir novos casos na década de 1950. Seu interesse surgiu de uma experiência que teve na família quando era jovem na Letônia, sua terra natal. Essas experiências visionárias poderiam nos dizer algo sobre o que estava por vir após a morte do corpo físico? Osis certa vez comentou: Preste atenção especial aos fenômenos no início e no fim da vida. Eles podem nos dizer o que foi antes e o que pode vir a seguir[3].

Osis viu o outro lado da moeda. Poderia haver uma explicação médica? Aqueles que tinham visões no leito de morte estavam recebendo remédios que eram conhecidos por causar alucinações? Seriam alucinações causadas por alta temperatura ou doença? Que efeito a religião teve nessas experiências? Houve mais perguntas desse tipo. Ele conduziu uma pesquisa por questionário de visões no leito de morte relatadas a médicos e enfermeiras e publicou seus resultados em uma monografia em 1961[4].

Então, por volta de 1970, Osis inesperadamente obteve fundos suficientes para fazer um estudo mais amplo das visões no leito de morte e convidou Erlendur Haraldsson para se juntar a ele. Para abordar a questão de saber se as visões no leito de morte ocorrem apenas para aqueles que vivem no mundo cristão, foi decidido fazer o estudo nos Estados Unidos e em um país asiático não cristão. Os pesquisadores consideraram países budistas ou hindus, e acabaram se estabelecendo na Índia, onde se beneficiariam dos contatos com a comunidade médica feitos pelo pesquisador Ian Stevenson .

 

Questionário e procedimentos

Osis e Haraldsson começaram entrando em contato com enfermarias de hospitais onde muitas pessoas morreram. Eles se reuniram com médicos e equipe de enfermagem e distribuíram um questionário, para saber se haviam observado alucinações em pacientes moribundos e seu conteúdo, e se os pacientes haviam mencionado pessoas ou descrito ambientes celestiais. Eles também perguntaram sobre experiências de pacientes que perderam a consciência, quase morreram e voltaram à vida. Eles perguntaram sobre incidentes em que o bem-estar emocional dos pacientes melhorou acentuadamente pouco antes de morrer. Os profissionais de saúde que observaram tais casos foram acompanhados para uma entrevista completa. Ao todo, 435 médicos e equipes de enfermagem foram entrevistados na Índia e 442 nos EUA.

 

Características principais

A maioria das visões pouco antes da morte provaram ser de parentes que já haviam partido e, com menos frequência, de seres religiosos ou celestiais. O moribundo sentiu que esses seres vieram para levá-lo a outro mundo. Frequentemente, o bem-estar do paciente melhorava drasticamente quando isso acontecia. Em muitos casos, os pacientes ficaram preocupados ou com medo de morrer. Depois das visões, eles geralmente ficavam felizes em ir.

Aqui está um exemplo dos EUA:

Uma paciente com problemas cardíacos, na casa dos cinquenta anos, sabia que estava morrendo e estava desanimada e deprimida. De repente, ela ergueu os braços e seus olhos se arregalaram; seu rosto se iluminou como se ela estivesse vendo alguém que não via há muito tempo. Ela disse: Oh, Katie, Katie. A paciente foi subitamente despertada de um estado de coma, parecia feliz e morreu imediatamente após a alucinação. Havia várias Katies na família desta mulher: uma meia-irmã, uma tia e uma amiga. Todos estavam mortos.

Abaixo está outro exemplo de um americano que sofreu de uma doença mortal e dolorosa. A testemunha relatou o seguinte:

Bem, foi uma experiência de conhecer alguém a quem amava profundamente. Ele sorriu, estendeu a mão e estendeu as mãos. A expressão em seu rosto era de alegria. Eu perguntei a ele o que ele viu. Ele disse que sua esposa estava parada bem ali, esperando por ele. Parecia que havia um rio e ela estava do outro lado, esperando que ele passasse. Ele ficou muito quieto e tranquilo ‒ serenidade de tipo religioso. Ele não estava mais com medo.

Alguns pacientes atingiram um auge emocional pouco antes de morrer, uma grande sensação de bem-estar. Além disso, os dados mostraram que grande parte desses pacientes não estava sob a influência de fatores que sabidamente causavam alucinações. Osis e Haraldsson construíram uma escala ou índice para fatores conhecidos por causar alucinações, descobrindo que essas visões não estavam conectadas à escala. Na verdade, se os pacientes estivessem no alto dessa escala, eles seriam menos propensos a ter visões sobre alguém vindo buscá-los, mas mais propensos a ter alucinações confusas ‒ um achado altamente interessante.

 

Diferenças interculturais

Na América, assim como na Índia, era comum que pacientes moribundos vissem entes queridos que partiram e os convidavam a segui-los para outro mundo. Em um aspecto, havia uma diferença transcultural: na Índia, era mais comum que seres religiosos aparecessem para o paciente do que pessoas. Também era bastante comum aparecerem seres que queriam levá-los para outro mundo, mas eles não queriam ir.

Esses casos possivelmente refletem a crença religiosa hindu de que mensageiros do Senhor Yama (deus da morte) aparecem no leito de morte para levar o moribundo para outro mundo. Esses Yamdoots aparecem em um disfarce que está de acordo com o grau de moralidade da vida da pessoa, algo que lembra o purgatório católico: um Yamdoot aparecendo no final de uma vida cheia de pecado viria de forma feia ou ameaçadora.

Osis e Haraldsson também exploraram a influência da filiação religiosa nas observações dos entrevistados. As observações eram feitas com mais frequência por enfermeiras do que por médicos, simplesmente porque as enfermeiras passam muito mais tempo com os pacientes do que os médicos. Os casos mais completos recebidos de médicos foram aqueles em que o moribundo era um parente.

É importante lembrar que a idade média dos pacientes terminais nessa época era de 62 anos na América e 42 na Índia. Isso pode explicar em parte por que os hindus muitas vezes lutaram quando um ser veio buscá-los para outro mundo: os mais jovens relutam mais em morrer do que os mais velhos. Na Índia, era muito mais comum do que nos EUA morrer de doenças infecciosas e infecções após uma operação.

Em outros aspectos, os resultados dos estudos separados foram semelhantes. A principal razão para a maioria das visões no leito de morte não é encontrada em medicamentos, febre ou outros fatores conhecidos por às vezes causar alucinações. Essa é uma descoberta importante e pode ser considerada, não uma prova, mas um sinal da realidade de outra existência. Os estudos parecem concordar com os resultados da pesquisa sobre a experiência de quase morte ‒ as visões de algumas pessoas que quase morrem ‒ que nos últimos anos foi conduzida em hospitais universitários na América, Inglaterra e Holanda.

Os resultados também foram notavelmente semelhantes aos achados no estudo preliminar de visões no leito de morte realizado por Osis nos EUA vários anos antes[5]. Nesse estudo inicial, 79% das visões diziam respeito a alguém que vinha buscar o moribundo, em comparação com 79% na amostra indiana e 69% nos EUA.

Houve alguns casos em que o paciente sentiu que alguém tinha vindo buscá-lo ‒ contra as expectativas, pois ele não esperava morrer, nem era esperado por médicos ou parentes ‒ e morreu pouco depois. Aqui está um exemplo:

Uma paciente de setenta anos de idade viu seu marido falecido várias vezes e então ela previu sua própria morte. Ela disse que seu marido apareceu na janela e fez sinal para que ela saísse de casa. O motivo de suas visitas era que ela se juntasse a ele. Sua filha e outros parentes estavam presentes quando ela previu sua morte, colocou suas roupas de enterro, deitou-se na cama para tirar uma soneca e morreu cerca de uma hora depois. Ela parecia calma, resignada com a morte e, de fato, queria morrer. Antes de ver o marido, ela não falou sobre a morte iminente. Seu médico ficou tão surpreso com sua morte repentina, para a qual não havia razões médicas suficientes, que verificou se ela havia se envenenado. Ele não encontrou sinais de envenenamento nem quaisquer drogas na casa.

Aqui estão alguns exemplos adicionais sobre pacientes que têm visões antes de morrer:

Uma dona de casa polonesa de 68 anos estava com câncer. Sua mente estava clara. Ela estava resolvendo algumas questões financeiras e pediu sua bolsa. Ela não tinha pensado em morrer. Então ela viu seu marido, que morrera vinte anos antes. Ela estava feliz, com uma espécie de sentimento religioso e, segundo seu médico, perdeu todo o medo da morte. Em vez de temer a morte, ela sentiu que era a coisa lógica e correta. Ela morreu em 5 ou 10 minutos.

Um médico indiano em um hospital muçulmano relatou o seguinte caso:

Um paciente do sexo masculino na casa dos cinquenta, com educação universitária e cristão, teria alta no sétimo dia após uma operação em um quadril fraturado. O paciente estava sem febre e não estava recebendo sedação. Aí ele começou a sentir dor no peito e fui chamado para atendê-lo. Quando eu vim, ele me disse que ia morrer. Por que você diz isso? Ter um pouco de dor no peito não significa que você vai morrer. Então, o paciente contou como, imediatamente após o início da dor no peito, ele teve uma alucinação, mas ainda permaneceu [em] plena consciência. Ele disse que sentiu por alguns segundos que não estava neste mundo, mas em outro lugar. Naquela época, ele viu Cristo descendo pelo ar muito lentamente. Cristo não o chamou, em vez disso, acenou com a mão para que ele fosse até ele. Então Cristo desapareceu e ele estava totalmente aqui. O paciente me disse que morreria em poucos minutos. Ele parecia muito feliz e disse que o objetivo de sua vida havia sido alcançado por Cristo chamando-o a ele. “Estou indo”, disse ele, e partiu alguns minutos depois.

No seguinte caso, Yamdoot apareceu a um funcionário religioso hindu educado em uma escola secundária, que foi hospitalizado com uma doença infecciosa. Sua temperatura estava alta, ele estava levemente afetado por drogas, e sua enfermeira considerou sua consciência limpa, quando ele exclamou:

Alguém está parado ali! Ele tem um carrinho com ele, então ele deve ser um Yamdoot! Ele deve estar levando alguém com ele. Ele está me provocando que vai me levar! Mas, Mamie, eu não vou; Eu quero estar com você! Então ele disse que alguém o estava puxando para fora da cama. Ele implorou: Por favor, segure-me; Eu não vou. Sua dor aumentou e ele morreu.

Finalmente, aqui está um exemplo de uma menina de dez anos em um hospital na Pensilvânia se recuperando de uma pneumonia. Sua temperatura havia diminuído e ela parecia ter passado da crise.

A mãe viu que a filha parecia estar afundando e chamou a gente [enfermeiras]. Ela disse que a criança acabara de lhe dizer que vira um anjo que a pegara pela mão ‒ e ela se foi, morreu imediatamente. Isso nos surpreendeu porque não havia nenhum sinal de morte iminente. Ela estava tão calma e serena ‒ e tão perto da morte!

 

Na hora da morte

Uma descrição completa do estudo de Osis e Haraldsson foi publicada pela Avon books sob o título At the Hour of Death[6].  Foi traduzido para o alemão, francês, holandês, italiano, espanhol, português, sueco, norueguês, islandês, japonês, persa e malaiala. Uma edição posterior da Hastings House, com um novo capítulo de Osis, foi reimpressa pela White Crow Books em 2012[7].

A maioria das resenhas do livro foi positiva. Uma exceção foi um artigo de David H. Ingvar, professor de neurofísica clínica da Universidade de Lund, publicado no jornal Sydsvenska Dagbladed . Ingvar afirmava que essas visões eram causadas pela falta de oxigênio e poderiam ser produzidas em pessoas saudáveis ​​reduzindo o fluxo de oxigênio para o cérebro, como aconteceu acidentalmente com pilotos de avião em grandes altitudes. 

Haraldsson escreveu a Ingvar pedindo fontes, e foi informado apenas que em experimentos americanos da Força Aérea dos Estados Unidos sobre os efeitos dos níveis variáveis ​​de oxigênio, alucinações foram observadas na borda do campo visual. Ingvar não pôde fornecer detalhes dos experimentos, mas em correspondência subsequente forneceu o nome de um contato médico sueco, que por sua vez colocou Haraldsson em contato com um amigo, James C Culver, chefe da Escola de Aviação e Medicina Espacial da Força Aérea em San Antonio, Texas.

Culver foi cooperativo e fez com que as pessoas pesquisassem no banco de dados de sua organização por fontes sobre o efeito potencial da falta de oxigênio na alucinação. Sua resposta, datada de 8 de maio de 1981, foi a seguinte:

A Biblioteca Aeromédica da Escola de Medicina Aeroespacial da USAF, Base Aérea de Brooks, Texas, fez uma pesquisa completa para as fontes que você pediu. Lamento informar que nenhuma fonte foi encontrada que relacione a falta de oxigênio, anoxia, a alucinações.

Um artigo de Haraldsson apontando que a crítica de Ingvars era inválida foi publicado no Sydsvenska Dagbladet em 8 de setembro de 1981.

 

Investigações de Peter e Elizabeth Fenwick

Alguns anos depois, em 2008, o próximo livro sobre visões no leito de morte foi publicado. Este foi The Art of Dying, A Journey to Elsewhere, do Dr. Peter Fenwick no Instituto de Psiquiatria de Londres e sua esposa Elizabeth[8]. A dupla entrevistou cerca de quarenta funcionários de enfermagem em hospícios, que muitas vezes ouviam sobre visões em pacientes perto da hora da morte. A equipe de enfermagem acreditava que as experiências de fim de vidaELEs, como os Fenwicks os chamavam - eram um indicador de prognóstico para a aproximação da morte. O Fenwicks concluiu: Os cuidadores com quem falamos em todos os nossos estudos sentiram-se confiantes de que ELEs não são induzidos por drogas[9].  Este importante estudo, mais completo do que qualquer outro publicado até agora, apoia as descobertas de Osis e Haraldsson em At the Hour of Death.

 

Investigações de Una MacConville

Em 2017, Una MacConville realizou um estudo com profissionais de saúde irlandeses. Os cuidadores relataram que 45% de seus pacientes falaram de visões de parentes falecidos, muitas vezes experiências alegres que trazem uma sensação de paz e conforto. MacConville conclui que essas experiências “fornecem uma perspectiva interessante sobre a importância contínua de familiares e amigos falecidos na vida dos vivos” [10].

 

Relatórios anedóticos

Haraldsson deu inúmeras palestras sobre visões no leito de morte em muitos países. Frequentemente, os membros da audiência o abordam depois para descrever ter testemunhado tais visões em parentes ou amigos.

 

Modelo bipolar de visões no leito de morte

As informações obtidas no estudo piloto de Osis e outras fontes foram usadas por Osis e Haraldsson para formular um modelo ou série de hipóteses sobre as visões no leito de morte[11]. Este modelo é bipolar e contrasta nitidamente dois conceitos mutuamente exclusivos:

(1) a hipótese de sobrevivência - a morte é a transição para outro modo de existência, e

(2) a hipótese de destruição - a morte é a destruição total da personalidade.

Esses conceitos contrastantes foram divididos em dez conjuntos de hipóteses que lidam com as fontes de visões no leito de morte, influência de fatores alucinogenéticos, conteúdo das visões no leito de morte, influência de fatores psicológicos e a variabilidade de conteúdo entre indivíduos e culturas. Os dados de Osis e Haraldsson, reunidos em três pesquisas ao longo de um período de quinze anos na América e na Índia, bem como os estudos de Fenwicks e MacConville, apoiam a hipótese de vida após a morte formulada no modelo bipolar[12].

 

Literatura

§  Barrett, W.F. (1926). “Death-Bed Visions”. London: Methuen. [Reprinted 2011 by White Crow Books, Hove, UK.]

§  Fenwick, P., & Fenwick, E. (2008). “The Art of Dying”. London: Continuum.

§  Haraldsson, E. (1999). “Obituary: Karlis Osis”. Journal of the Society for Psychical Research 63, 127-28.

§  MacConville, U. (2017). “Near-to death experiences: Gatherings of the living and the dead”. Proceedings from the 2013 Archaeology of Gatherings (International Conference at Sligo, Ireland), 12-19. Oxford: Bar Publishing.

§  Osis, K. (1961). “Deathbed Observations by Physicians and Nurses” (Parapsychological Monographs No. 3). New York: Parapsychology Foundation.

§  Osis, K., & Haraldsson, E. (1977). “At the Hour of Death”. New York: Avon Books.

§  Osis, K., & Haraldsson, E. (1997). “At the Hour of Death: A New Look at Evidence for Life after Death” (3rd ed). [Revised ed. of At the Hour of Death, Avon Books, New York, 1977.] Norwalk, Connecticut, USA: Hastings House. [Reprinted 2012 by White Crow Books, Hove, UK.]

§  Osis, K., & Haraldsson, E. (1977b). “Deathbed observations by physicians and nurses: A cross-cultural survey”. Journal of the American Society for Psychical Research 71, 237-59.

 



[1] Ver Psi Encyclopedia/Publicações em https://www.spr.ac.uk/

[2] Barrett (1926).

[3] Comunicação pessoal com Erlendur Haraldsson.

[4] Osis (1961).

[5] Osis (1961).

[6] Osis e Haraldsson (1977a).

[7] Osis e Haraldsson (1997).

[8] Fenwick e Fenwick (2008).

[9] Fenwick e Fenwick (2008), 19.

[10] MacConville (2017), 18.

[11] Osis e Haraldsson (1977a).

[12] Para obter mais detalhes, consulte Osis & Haraldsson (1977a, 1977b).


Traduzido por: Google Tradutor

terça-feira, 26 de outubro de 2021

O MAGNETISMO E O ESPIRITISMO COMPARADOS[1]

 


Allan Kardec

 

(Sociedade de Paris, 17 de maio de 1867 – Médium: Sr. Desliens)

 

Em vida ocupei-me da prática do magnetismo, do ponto de vista exclusivamente material; ao menos assim o cria. Hoje sei que a elevação voluntária ou involuntária da alma, que faz desejar a cura do doente, é uma verdadeira magnetização espiritual.

A cura se deve a causas excessivamente variáveis: Tal doença, tratada de tal maneira, cede ante a força de ação material; tal outra, que é idêntica, mas menos acentuada, não experimenta qualquer melhora, embora os meios curativos empregados talvez sejam ainda mais poderosos. A que se devem, então, essas variações de influências? – A uma causa ignorada pela maioria dos magnetizadores, que não se atacam senão aos princípios mórbidos materiais; elas são consequência da situação moral do indivíduo.

A doença material é um efeito; para destruí-lo não basta atacá-lo, tomá-lo corpo-a-corpo e aniquilá-lo. Como a causa existe sempre, reproduzirá novos efeitos mórbidos quando estiver afastada a ação curativa.

O fluido transmissor da saúde no magnetismo é um intermediário entre a matéria e a parte espiritual do ser, e que poderia comparar-se ao perispírito. Ele une dois corpos um ao outro; é um ponto sobre o qual passam os elementos que devem operar a cura nos órgãos doentes. Sendo um intermediário entre o Espírito e a matéria, por força de sua constituição molecular, esse fluido pode transmitir tão bem uma influência espiritual quanto uma influência puramente animal.

Em última análise, que é o Espiritismo, ou antes, que é a mediunidade, essa faculdade até aqui incompreendida, e cuja extensão considerável estabeleceu sobre bases incontestáveis os princípios fundamentais da nova revelação? É pura e simplesmente uma variedade da ação magnética exercida por um ou vários magnetizadores desencarnados, sobre um paciente humano agindo no estado de vigília ou no estado extático, consciente ou inconscientemente.

Por outro lado, que é o magnetismo? Uma variedade do Espiritismo, na qual Espíritos encarnados agem sobre outros Espíritos encarnados.

Finalmente, existe uma terceira variedade do magnetismo ou do Espiritismo, conforme se tome por ponto de partida a ação dos encarnados sobre os encarnados, ou a dos Espíritos relativamente livres sobre Espíritos aprisionados num corpo; esta terceira variedade, que tem por princípio a ação dos encarnados sobre os Espíritos, revela-se no tratamento e na moralização dos Espíritos obsessores.

Assim, o Espiritismo não é senão magnetismo espiritual, e o magnetismo outra coisa não é senão Espiritismo humano.

De fato, como procede o magnetizador que quer submeter à sua influência um sensitivo sonambúlico? Envolve-o em seu fluido; ele o possui numa certa medida e, notai-o bem, sem jamais conseguir aniquilar seu livre-arbítrio, sem dele poder fazer coisa sua, um instrumento puramente passivo. Muitas vezes o magnetizado resiste à influência do magnetizador e age num sentido quando este desejaria que a ação fosse diametralmente oposta. Embora no geral o sonâmbulo esteja adormecido e o seu próprio Espírito aja enquanto o seu corpo fica mais ou menos inerte, também acontece, porém mais raramente, que o sensitivo, simplesmente fascinado, iluminado, fique em vigília, posto que com maior tensão de espírito e uma inabitual exaltação de suas faculdades.

E agora, como procede o Espírito que deseja comunicar-se? Envolve o médium com o seu fluido; em certa medida o possui, sem jamais dele fazer coisa sua, um instrumento puramente passivo. Talvez me objetareis que nos casos de obsessão, de possessão, o aniquilamento do livre-arbítrio parece ser completo. Muito haveria a dizer sobre esta questão, porque a ação aniquiladora se faz mais sobre as forças vitais materiais do que sobre o Espírito, que pode achar-se paralisado, dominado e impotente para resistir, mas cujo pensamento jamais é nulificado, como foi possível constatar em muitas ocasiões. Encontro no próprio fato da obsessão uma confirmação, uma prova em apoio de minha teoria, lembrando que a obsessão também se exerce de encarnado a encarnado, e que se tem visto magnetizadores aproveitando o domínio que exerciam sobre os seus sonâmbulos, para os levar a cometer ações censuráveis. Como sempre, aqui a exceção confirma a regra.

Embora no geral o sensitivo mediúnico esteja desperto, em certos casos que se tornam cada vez mais frequentes, o sonambulismo espontâneo se instala no médium e este fala por si mesmo, ou por sugestão, absolutamente como o sonâmbulo magnético nas mesmas circunstâncias.

Enfim, como procedeis relativamente aos Espíritos obsessores ou simplesmente inferiores, que desejais moralizar? Agis sobre eles por atração fluídica; magnetizai-os, na maioria das vezes inconscientemente, para os reter em vosso círculo de ação; algumas vezes conscientemente, quando estabeleceis em torno deles uma camada fluídica, que não podem penetrar sem a vossa permissão, e agis sobre eles pela força moral, que não é outra coisa senão uma ação magnética quintessenciada.

Como vos foi dito muitas vezes, não há lacunas na obra da Natureza, nem saltos bruscos, mas transições insensíveis, que fazem que se passe pouco a pouco de um a outro estado, sem que não se perceba a mudança senão pela consciência de uma situação melhor.

O magnetismo é, pois, um grau inferior do Espiritismo, e que insensivelmente se confunde com este último por uma série de variedades, pouco diferindo um do outro, como o animal é um estado superior da planta etc. Num caso, como no outro, são dois degraus da escada infinita, que liga todas as criações, desde o ínfimo átomo até Deus criador! Acima de vós está a luz ofuscante, que os vossos fracos olhos ainda não podem suportar; abaixo estão as trevas profundas, que os vossos mais poderosos instrumentos de óptica ainda não puderam iluminar. Ontem nada sabíeis; hoje vedes o abismo profundo no qual se perde a vossa origem. Pressentis o objetivo infinitamente perfeito, para o qual tendem todas as vossas aspirações. E a quem deveis todos esses conhecimentos? Ao magnetizador! Ao Espiritismo! A todas as revelações que decorrem de uma lei de relação universal entre todos os seres e seu Criador! A uma ciência surgida ontem por vossa concepção, mas cuja existência se perde na noite dos tempos, porque é uma das bases fundamentais da Criação.

De tudo isto concluo que o magnetismo, desenvolvido pelo Espiritismo, é a pedra angular da saúde moral e material da Humanidade futura.

E. Quinemant

 

Observação – A justeza das apreciações e as profundezas do novo ponto de vista, que encerra esta comunicação, a ninguém escaparão. Embora partido há pouco tempo, o Sr. Quinemant se revela, inicialmente e sem a menor hesitação, como um Espírito de incontestável superioridade. Apenas desprendido da matéria, que não parece ter deixado qualquer traço sobre ele, desdobra suas faculdades com uma força notável, que promete aos seus irmãos da Terra mais um bom conselheiro.

Os que pretendiam que o Espiritismo se arrastasse na rotina dos lugares-comuns e das banalidades, podem ver, pelas questões que ele aborda desde algum tempo, se fica estacionário; e o verão ainda melhor à medida que lhe for permitido desenvolver as suas consequências. Entretanto, a bem dizer, ele não ensina nada de novo. Se se estudar cuidadosamente os seus princípios constitutivos fundamentais, ver-se-á que encerram os germes de tudo; mas esses germes não podem desenvolver-se senão gradualmente; se nem todos florescem ao mesmo tempo, é que a extensão do círculo de suas atribuições não depende da vontade dos homens, mas da dos Espíritos, que regulam o grau de seu ensino conforme a oportunidade. É em vão que os homens queriam antecipar-se sobre o tempo; não podem constranger a vontade dos Espíritos, que agem conforme as inspirações superiores e não se deixam levar pela impaciência dos encarnados; se necessário, eles sabem tornar estéril essa impaciência. Deixai-os, pois, agir; fortifiquemo-nos no que eles ensinam, e estejamos certos de que saberão, em tempo útil, fazer que o Espiritismo dê o que deve dar.



[1] Revista Espírita – Junho/1867 – Allan Kardec

segunda-feira, 25 de outubro de 2021

EDGAR EVANS CAYCE[1]

 


Nasceu em Hopkinsville, a 18 de Março de 1877 e desencarnou em Virginia Beach, em 3 de Janeiro de 1945. Foi um clarividente norte-americano que teria canalizado respostas para questões que tratam sobre espiritualidade, imortalidade, reencarnação, saúde, dentre outras.

Cayce teria sido um dos maiores clarividentes da História. Era chamado pela mídia norte-americana como "O Profeta Adormecido", porque predizia eventos futuros e prescrevia medicamentos com os olhos fechados, relaxado sobre um divã e ao lado de uma taquígrafa realizando as anotações, em um suposto estado de "transe".

Entre algumas predições que teria realizado, estão a previsão do início e do fim dos conflitos da I e II Guerras Mundiais, o surgimento do Nazismo, os conflitos raciais dos EUA desde o início dos anos 20, as datas dos falecimentos de dois dos Presidentes dos EUA à época, a extinção da Liga das Nações (organização que antecedeu a ONU em princípios e objetivos), a Grande Depressão Econômica (1929-1934) dos EUA, o fim do comunismo na Rússia e o surgimento da China como grande potência econômica e cultural.

Entre as predições que não se realizaram, está a III Guerra Mundial, que surgiria do conflito entre a Líbia, Egito, na Síria e em regiões remotas na Indonésia, Golfo Pérsico e Austrália. Outros eventos como transformações do clima, geologia e geografia da Terra, como o aumento do nível dos oceanos, a volta à atividade de falhas sísmico-geológicas e vulcões, a submersão da Califórnia, o desaparecimento de Nova York, a destruição do arquipélago japonês, dentre outros, ainda estão por se confirmar parcial ou inteiramente.

Edgar Evans Cayce era filho de agricultores e suas habilidades psíquicas começaram a aparecer em sua infância. É alegado que Edgar Cayce poderia ver e falar com o espírito de seu avô, dentre outros espíritos e ainda criança podia memorizar livros dormindo sobre eles.

Na área da saúde, teria predito o aparecimento de doenças modernas, como stress, tensão arterial alterada e o aumento de doenças cardíacas.

Além das profecias, realizou também um detalhado relato sobre o mítico continente da Atlântida.

sábado, 23 de outubro de 2021

DELIQUENTES[1]

 


Joanna de Ângelis

 

Não os abomines. Delinquiram por invigilância ou insânia. Resvalaram e se demoram no profundo poço de inomináveis sofrimentos.

Encarcerados, muitos deles dariam metade da existência, se pudessem, para recomeçar tudo.

Rebolcando-se[2] na lama, diversos sorvem até as últimas gotas, as lágrimas de fogo que juntaram na taça do remorso.

São pobres homens e mulheres sofredoras, nossos irmãos da experiência evolutiva, que jornadeiam em noite de ansiedade intérmina, que não alcança a madrugada do repouso.

Deixaram se enlear pela serpente das dissipações e se fizeram escravos de tiranos destruidores.

Abraçam o jogo, a sensualidade, os estupefacientes, a criminalidade, alguns pela ignorância resultante do abandono social a que fora relegados desde o berço, outros para fugirem de si mesmos, mais outros arrastados por forças ultrizes e lá ficaram nos dédalos da loucura, alheados, insensíveis, mas não todos...

Muitas mulheres que antes abjuraram a maternidade carpem em angústia solitária o incomparável desespero do arrependimento. Tudo dariam, se algo tivessem, para reter nos braços da juventude que fugiu o filho que supunham não desejar...

Inumeráveis áulicos da abjeta animalidade, que chafurdam no desgaste exaustivo, deixam-se consumir, devorados pelo tardio despertamento, buscando esquecer...

Incontáveis réprobos dominados pelas drogas entorpecentes seguem cadaverizados sob vágados decorrentes do medo e da vergonha de examinarem a si mesmos.

Criminosos, vítimas do momento insano, converteram o cérebro em lúgubre presídio, e demoram no cárcere do corpo e da alma, recordando e sofrendo sem paz nem esperança.

Viciados de toda natureza, que começaram a carreira abominável desde o seio materno, viram muitos outros possivelmente menos comprometidos com o ontem ou possuidores de têmpera moral mais resistente, lutando nos braços da disciplina até conseguirem equilíbrio, enquanto eles descambavam...

Delinquentes, certamente, todos nós o somos...

 

Delinquente ‒ que, ou pessoa que delinquiu.

Delinquir ‒ cometer delitos.

Diante da mulher surpreendida em adultério, o Mestre somente pensou em ajudar, considerando que o delinquente conduz o fardo pesado do crime a torturar-lhe a consciência hoje ou mais tarde.

Em face das misérias de que eles se fizeram fâmulos, analisa a tua posição ante a vida.

Não reclame da sorte.

Examina os teus débitos em começo e para nos compromissos negativos.

A escada que conduz à queda moral não tem último degrau; sempre leva para mais baixo.

A ligação como a irresponsabilidade ou a ambição não se rompe facilmente.

O primeiro engano, quando não corrigido, é convite a outro engano.

O sabor do ludíbrio ao próximo é ópio mentiroso.

O delito em planejamento mental é crime em corporificação.

Submete-te aos fatores cármicos do teu renascimento e rejubila-te com eles.

Velha fábula narra, sem necessidade de comentários, a história da rã que desejava possuir o volume de um corpo bovino, e se arrebentou tentando.

Ausculta o pensamento divino perpassando em tudo e compreenderás a necessidade de ser feliz com o que tens, como estás, considerando os que delinquiram; e ama-os, visitando-os no cárcere, no leito dos sofrimentos reparadores, nas celas corretiva do remorso, aonde possas ir...

 

Servindo os humildes e sofredores da terra, o Mestre sempre foi benigno e piedoso com os delinquentes, por compreender-lhes a desdita, mesmo quando aparentavam felicidade. E o seu ministério de amor se fez marcante nos anos juvenis ao debater com os doutores da Lei, em Jerusalém; foi encerrado numa cruz de punição à delinquência, entre dois salteadores que se havia deixado arrastar pela rapina. À hora da morte, no entanto, sua figura excelsa e pura entre eles honrava-os, como assim desejasse dizer-nos, sem enunciados verbais, sobre a necessidade de usarmos nossa piedade em relação àqueles que, imprudentes ou enlouquecidos, deliram com os crimes do presente, amando-os assim mesmo sem qualquer indagação ou acrimônia.

 



[1] Dimensões da Verdade – 40 - Psicografia de Divaldo Pereira Franco

[2] Rebolando-se.