Joanna de Ângelis
Não os abomines. Delinquiram por
invigilância ou insânia. Resvalaram e se demoram no profundo poço de
inomináveis sofrimentos.
Encarcerados, muitos deles
dariam metade da existência, se pudessem, para recomeçar tudo.
Rebolcando-se[2]
na lama, diversos sorvem até as últimas gotas, as lágrimas de fogo que juntaram
na taça do remorso.
São pobres homens e mulheres
sofredoras, nossos irmãos da experiência evolutiva, que jornadeiam em noite de
ansiedade intérmina, que não alcança a madrugada do repouso.
Deixaram se enlear pela serpente
das dissipações e se fizeram escravos de tiranos destruidores.
Abraçam o jogo, a sensualidade,
os estupefacientes, a criminalidade, alguns pela ignorância resultante do
abandono social a que fora relegados desde o berço, outros para fugirem de si
mesmos, mais outros arrastados por forças ultrizes e lá ficaram nos dédalos da
loucura, alheados, insensíveis, mas não todos...
Muitas mulheres que antes
abjuraram a maternidade carpem em angústia solitária o incomparável desespero
do arrependimento. Tudo dariam, se algo tivessem, para reter nos braços da
juventude que fugiu o filho que supunham não desejar...
Inumeráveis áulicos da abjeta
animalidade, que chafurdam no desgaste exaustivo, deixam-se consumir, devorados
pelo tardio despertamento, buscando esquecer...
Incontáveis réprobos dominados
pelas drogas entorpecentes seguem cadaverizados sob vágados decorrentes do medo
e da vergonha de examinarem a si mesmos.
Criminosos, vítimas do momento
insano, converteram o cérebro em lúgubre presídio, e demoram no cárcere do
corpo e da alma, recordando e sofrendo sem paz nem esperança.
Viciados de toda natureza, que
começaram a carreira abominável desde o seio materno, viram muitos outros
possivelmente menos comprometidos com o ontem ou possuidores de têmpera moral
mais resistente, lutando nos braços da disciplina até conseguirem equilíbrio,
enquanto eles descambavam...
Delinquentes, certamente, todos
nós o somos...
Delinquente ‒ que, ou pessoa que
delinquiu.
Delinquir ‒ cometer delitos.
Diante da mulher surpreendida em
adultério, o Mestre somente pensou em ajudar, considerando que o delinquente
conduz o fardo pesado do crime a torturar-lhe a consciência hoje ou mais tarde.
Em face das misérias de que eles
se fizeram fâmulos, analisa a tua posição ante a vida.
Não reclame da sorte.
Examina os teus débitos em
começo e para nos compromissos negativos.
A escada que conduz à queda
moral não tem último degrau; sempre leva para mais baixo.
A ligação como a
irresponsabilidade ou a ambição não se rompe facilmente.
O primeiro engano, quando não
corrigido, é convite a outro engano.
O sabor do ludíbrio ao próximo é
ópio mentiroso.
O delito em planejamento mental
é crime em corporificação.
Submete-te aos fatores cármicos
do teu renascimento e rejubila-te com eles.
Velha fábula narra, sem
necessidade de comentários, a história da rã que desejava possuir o volume de
um corpo bovino, e se arrebentou tentando.
Ausculta o pensamento divino
perpassando em tudo e compreenderás a necessidade de ser feliz com o que tens,
como estás, considerando os que delinquiram; e ama-os, visitando-os no cárcere,
no leito dos sofrimentos reparadores, nas celas corretiva do remorso, aonde
possas ir...
Servindo os humildes e
sofredores da terra, o Mestre sempre foi benigno e piedoso com os delinquentes,
por compreender-lhes a desdita, mesmo quando aparentavam felicidade. E o seu
ministério de amor se fez marcante nos anos juvenis ao debater com os doutores
da Lei, em Jerusalém; foi encerrado numa cruz de punição à delinquência, entre
dois salteadores que se havia deixado arrastar pela rapina. À hora da morte, no
entanto, sua figura excelsa e pura entre eles honrava-os, como assim desejasse
dizer-nos, sem enunciados verbais, sobre a necessidade de usarmos nossa piedade
em relação àqueles que, imprudentes ou enlouquecidos, deliram com os crimes do
presente, amando-os assim mesmo sem qualquer indagação ou acrimônia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário