Carla Silvério
A questão da paternidade, dentro
da Doutrina Espírita, é vista como sendo de grande importância e de fundamental
relevo para a formação do Espírito reencarnado através dos laços havidos com
seus pais no planejamento reencarnatório para a nova existência que passa a
vivenciar.
Segundo as lições contidas em O Livro dos Espíritos[2],
questão 582, os Espíritos nos dizem claramente que a paternidade é verdadeira
missão e, ao mesmo tempo, um dever, que diz respeito, mais do que se imagina, à
responsabilidade do ser humano em relação ao futuro.
A mesma Questão ainda afirma que
Deus colocou o filho sob a tutela de seus pais para que estes o guiem no bom
caminho. Deve, pois, todo aquele que experimenta a graça divina da paternidade,
exercê-la com responsabilidade, ciente de que os frutos plantados com os filhos
serão colhidos mais adiante, pois, se o filho sucumbir por culpa dos pais,
estes é que sofrerão as consequências da queda daquele que ficou sob sua guarda
nesta encarnação.
Por outro lado, sendo os pais
responsáveis, diligentes e exercendo a paternidade voltada para a formação do
bom caráter de seus filhos, então não são responsáveis pela queda de sua prole,
conforme questão 583, de O Livro dos
Espíritos. Contudo, não podemos nos esquecer de que, como nos é ensinado
ainda na mesma questão, quanto mais árdua for a experiência da paternidade
vivenciada pelos pais com os filhos, maior será a sua missão em direcionar esse
Espírito em sua formação dentro da senda do bem, e tanto maior serão os méritos
desses pais vitoriosos em desviar seus filhos do mau caminho.
Os pais, ao exercerem a
missão-dever de educar seus filhos com responsabilidade, amor e afeto,
proporcionam-lhes a oportunidade de crescimento e desenvolvimento
intelecto-moral e, principalmente, Espiritual, e é na infância que se forma a
personalidade do Ser recém-reencarnado (questões 383 e 384).
A presença do pai na criação de
seu filho é, pois, missão-dever que deve ser cumprida diligentemente (questão
208), uma vez que exercem os pais grande influência sobre seus filhos no
desenvolvimento de sua educação.
Sabe-se que o planejamento
reencarnatório inclui, dentre outras questões, a escolha da família na qual o
Espírito irá reencarnar dentro do que lhe é melhor e mais adequado para as
provas e expiações de que necessita para a existência vindoura (questão 258), e
é em meio aos laços familiares que a reencarnação acontece.
Mas, então, como entender o
abandono paterno sob a ótica da Doutrina Espírita?
Como dito, a família na qual o
Espírito irá reencarnar é escolhida de antemão, ainda no plano espiritual, mas
nem sempre a reencarnação acontece em núcleo familiar onde há afeto e amor. Por
vezes, são os laços familiares criados pela sabedoria infinita de Deus por meio
da reencarnação a chance de se expiar desavenças passadas e se criarem novos
vínculos afetivos, justamente superando dificuldades no convívio, exercitando o
perdão mútuo e, assim, evoluírem.
Assim, a escolha daquele que
será o pai em sua existência próxima, e com o qual há graves desavenças a serem
superadas, possibilita ao Espírito reencarnante maior chance de se apagar as
mágoas passadas com o aprendizado do amor e do perdão pela convivência íntima
das relações familiares, resultando em sua maior evolução (haja vista optar por
ter uma vivência familiar árdua).
Entretanto, nem sempre é
possível tal resiliência no âmbito familiar. Por vezes, aquele escolhido para
exercer a missão-dever da paternidade ainda se apresenta equivocado em sua
vivência material, não se distanciando de seus maus pendores, mesmo após a
vinda ao mundo material de seus filhos, casos em que, infelizmente, são comuns
em pais ausentes e/ou omissos em relação aos filhos.
Quando se observa cenário
prejudicial à boa formação dos filhos pelo mau exemplo daquele destinado à
paternidade, melhor será ao Espírito em formação que não conviva com seu pai,
para não receber deste orientações e direcionamento errôneos, prejudicando
sobremaneira a sua evolução. Desta forma, a paternidade ausente pode ser para
alguns um grande alívio, e, para outros, um grande pesar.
Sabe-se que a ausência paterna
gera grandes e graves reflexos psicológicos na formação dos filhos, e todos os
prejuízos sofridos pelo filho abandonado serão suportados pelo pai ausente,
ainda que o filho seja resiliente e não se desvie do bom caminho, apesar de
suas mazelas familiares.
Todo mal que é gerado ao próximo
será cobrado no futuro, assim é a Lei de Causa e Efeito, não necessariamente da
mesma forma e na mesma proporção. É certo que o plantio nos é facultativo, mas
a colheita do que foi outrora plantado nos é obrigatória, sendo que o livre
arbítrio de todos é sempre respeitado.
A escolha do caminho que se
segue em cada uma das encarnações pelas quais se passa é exclusivamente do
Espírito reencarnado. Assim, deixar de exercer a missão-dever da paternidade
quando lhe é dada é opção íntima pelo plantio amargo de um futuro próximo.
Os débitos já existentes entre
pais e filhos, decorrentes de vidas passadas, serão somados às novas dívidas
geradas pelo abandono paterno suportado pelos filhos na reencarnação vivenciada
por ambos, quando deveriam acertar suas arestas. Todo aquele que se acovarda
frente à sua missão paternal responsável e amorosa comete não penas falta moral
com a mãe, que se vê obrigada a suportar todos os reflexos da maternidade solo,
sem que assim tivesse escolhido, mas, principalmente, falta moral com seu
filho, que se desenvolverá sem os laços paternais. A todos os pais ausentes,
por quaisquer motivos forem, deve-se exortar sobre as consequências de seus
atos sob a luz da Lei de Causa e Efeito, já que Deus é infinitamente justo e
bom, e ninguém se furta à justiça divina.
Que todos os pais tenham para si
a ciência de suas responsabilidades com o Espírito que lhe foi confiado.
Fonte: Blog Letra Espírita
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