Allan Kardec
(Douay, 8 de março de 1867 – Médium: Sra. M...)
...É preciso, meus filhos, que o
sangue depure a Terra; terrível luta, ainda mais horrível pelo esplendor da
civilização em cujo meio ela rebenta.
Que, Senhor! Quando tudo se
prepara para apertar os laços dos povos de um extremo a outro do mundo! Quando
na aurora da fraternidade material se veem as linhas de demarcação de raças,
costumes e linguagem tenderem para a unidade, chega a guerra com seu cortejo de
ruínas, de incêndios, de profundas divisões, de ódios religiosos. Sim, tudo
isto porque nada em nosso progresso foi segundo o Espírito de Deus; porque
vossos laços não foram apertados nem pela bondade, nem pela lealdade, mas
apenas pelo interesse; porque não é a verdadeira caridade que impõe silêncio
aos ódios religiosos, mas a indiferença; porque as barreiras não foram
diminuídas em vossas fronteiras pelo amor de todos, mas pelos cálculos
mercantis; enfim, porque as vistas são humanas e instintivas, e não espirituais
e caridosas; porque os governantes só buscam os seus proveitos, e cada um,
entre os povos, faz outro tanto.
Sublime desinteresse de Jesus e
de seus apóstolos, onde estás?
– Ficais tristes, meus filhos,
quando algumas vezes pensais na rude missão desses Espíritos sublimes, que vêm
levantar a coragem da Humanidade e morrer na tarefa, depois de ter esvaziado o
cálice amargo das ingratidões humanas. Gemeis por ver que o Senhor, que os
enviou, parece abandoná-los no momento em que sua proteção parece mais
necessária.
Não vos falaram das provas que
sofrem os Espíritos elevados no momento de transpor um degrau mais alto na
iniciativa espiritual? Não vos disseram que cada grau da hierarquia celeste se
compra pelo mérito, pelo devotamento, como entre vós, no exército, pelo sangue
derramado e pelos serviços prestados? Pois bem! É o caso em que se encontram os
Messias nesta terra de dores; são sustentados enquanto dura sua obra humanitária,
enquanto trabalham pelo homem e para Deus, mas, quando só eles estão em jogo,
quando sua prova se torna individual, o socorro visível se afasta, a luta se
mostra áspera e rude quando o homem deve sofrê-la.
Eis a explicação desse aparente
abandono, que vos aflige na vida dos missionários de todos os graus de vossa
Humanidade. Não penseis que Deus abandone jamais a sua criatura por capricho ou
impotência; não, mas no interesse de seu adiantamento ele a deixa às suas
próprias forças, ao completo emprego de seu livre-arbítrio.
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