Allan Kardec
Um dos nossos correspondentes
nos escreve de Caen:
Ultimamente eu
estava no hotel Saint-Pierre, em Caen; tomava um copo de cerveja enquanto lia
um jornal. A filhinha da casa, creio com cerca de quatro anos, estava sentada
na escada e comia cerejas. Não percebia que eu a via e parecia entregue numa
conversa com seres invisíveis, aos quais oferecia cerejas. Tudo o indicava: sua
fisionomia, seus gestos, as inflexões da voz. Ora se virava bruscamente, dizendo:
Tu, tu não as terás; não és gentil. – Eis para ti, dizia a uma outra. – Então,
o que é que me atiras? Dizia a uma terceira. Dir-se-ia rodeada por outras
crianças; ora se levantava, estendia as mãos, oferecendo o que tinha; ora seus
olhos seguiam objetos invisíveis para mim, que a entristeciam ou a faziam dar
gargalhadas. Esta pequena cena durou mais de meia hora e a conversa só terminou
quando a menina percebeu que eu a observava. Sei que muitas vezes as crianças
se divertem em apartes deste gênero, mas aqui era completamente diferente; a
fisionomia e as maneiras refletiam impressões reais, que não eram as de um jogo
representado. Eu pensava, sem dúvida, que era um médium vidente ainda verde, e
me dizia que se todas as mães de família fossem iniciadas nas leis do
Espiritismo, aí colheriam numerosos casos de observação e se explicariam muitos
fatos que passam despercebidos, e cujo conhecimento lhes seria útil para a
direção de seus filhos.
É lamentável que o nosso
correspondente não tenha tido a ideia de interrogar essa menina sobre as
pessoas com as quais ela conversava. Teria podido assegurar-se se a conversa
realmente tinha ocorrido com seres invisíveis e, neste caso, daí poderia ter
saído uma instrução tanto mais importante porque, sendo o nosso correspondente
um espírita muito esclarecido, poderia dirigir utilmente as perguntas. Seja
como for, muitos outros fatos provam que a mediunidade de vidência é muito
comum, se não mesmo geral, nas crianças, e isto é providencial. Ao sair da vida
espiritual, os guias da criança vêm conduzi-la ao porto de embarque para o
mundo terrestre, como vêm buscá-la em seu retorno. Mostram-se a elas nos
primeiros tempos, a fim de que a transição não seja muito brusca; depois se
apagam pouco a pouco, à medida que a criança cresce e pode agir em virtude de
seu livre-arbítrio. Então a deixam às suas próprias forças, desaparecendo aos
seus olhos, mas sem a perder de vista. A filhinha em questão, em vez de ser,
como pensa o nosso correspondente, um médium vidente ainda verde, bem poderia
estar em seu declínio, e não mais gozar desta faculdade para o resto da vida.
(Vide: Criança afetada de mutismo,
publicada neste blog em 13/08/2019).
Allan
Kardec
Primeira postagem sua que acompanho diretamente do seu blog, abraços fraternos
ResponderExcluirAgradeço seu comentário e a sua participação em meu blog. Aqui você terá condições de pesquisar mais de 1900 artigos já publicados, abordando diversos assuntos da Doutrina Espírita. Seus comentários serão sempre bem vindos.
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