Sua vida terrena teve início no
dia 27 de março de 1891, na cidade de Teixeira, alto sertão da Paraíba do
Norte. Era sertanejo. Conheceu nos primeiros anos da meninice as dificuldades
dos que vivem afastados das grandes cidades, sem recursos. Começou, assim, a
lutar desde a infância, fortalecendo nos labores da vida o seu espírito
empreendedor.
Enquanto outras crianças
brincavam, despreocupadas, ele limpava com a enxada a plantação, ou roçava para
a semeadura. Quando lhe sobrava tempo, aprendia a ler e a escrever. Já
rapazinho, veio a ser tropeiro, a demandar as serranias do sul do Estado.
Moço feito, rumou para o Recife,
onde exerceu atividade de caixeiro de casa comercial. Ali, porém, não ficou.
Sentia-se atraído para as terras do sul do País, e é assim que se transfere
para Curitiba, capital do Estado do Paraná, onde viveu longa parte de sua
existência, e onde se entregou com todo o ardor ao estudo.
Alistando-se no exército, foi
servir no 3º Regimento de Infantaria (3º R.I.) sediado naquela Capital, formando
no 18º Batalhão. Em pouco tempo, pela sua dedicação e pelo seu esforço,
alcançava o posto de sargento. Iniciou seus estudos superiores matriculando-se,
em 1918, na Escola Superior de Agronomia de Curitiba, onde fez brilhantemente
seu curso de engenheiro agrônomo.
Se os que não precisam pensar
nas despesas vultosas com estudos nem sempre fazem com facilidade a escalada do
monte da sabedoria. Imaginemos os que precisam pensar nos estudos e nos meios
para custeá-los. Outras vezes foi necessário gratificar outros camaradas de
caserna, que não se preocupavam com os livros, para não perder as aulas da
Faculdade.
Mantendo desde moço uma
independência religiosa, embora aceitando desde a infância a ideia da
existência de Deus, Lins de Vasconcellos não se prendeu, nessa etapa da vida, a
um conceito religioso definido.
Só um caminho poderia conduzi-lo
à compreensão do por que da vida, das desigualdades sociais, do desequilíbrio
na organização humana, que provoca a desventura e a infelicidade dos seres;
todas as indagações de seu espírito empreendedor seriam respondidas mais tarde,
quando, pelas mãos carinhosas de Antonio Duarte Veloso – dedicado servidor da
Causa Espírita ‒, conheceu as belezas incomparáveis da Doutrina Espírita, isto
em 1912. Era a base segura que lhe faltava para suportar o gigantesco edifício
de sua formação humanitária e altruística, ansiosa de ver a felicidade de todos
os seus irmãos em Humanidade.
Em 1915, como secretário geral
da Federação Espírita do Paraná, ele participava, com a alma em regozijo, da
inauguração do Albergue Noturno daquela entidade, inauguração que contou com a
presença do então Governador do Estado, Sr. Carlos Cavalcanti de Albuquerque.
Em 1916, trabalhou ativamente no
II Congresso Espírita Paranaense.
Criada a “Revista do Espiritualismo”,
órgão da Sociedade Publicadora Kardecista do Paraná, Lins se tornou um dos seus
diretores.
Em seu último estágio em
Curitiba, Lins de Vasconcellos fora elevado à posição de escrevente juramentado
em certo tabelionato daquela cidade. Exercia com probidade e competência suas
funções, quando inesperadamente, se viu demitido. É que ele, na qualidade de
presidente da Federação Espírita do Paraná, protestara contra ato
inconstitucional do Governo do Estado, que doara terras para a instalação de dois
bispados. O protesto de Lins de Vasconcellos foi secundado pelo do Prof. Dario
Veloso, ilustre homem de letras e presidente do Instituto Néo-Pitagórico de
Curitiba, bem como por outros livres-pensadores.
Lins de Vasconcellos sofre
perseguição e muitos aborrecimentos, inclusive condenação judicial, mais tarde
revogada pelo Tribunal. Embora desequilibrado em suas finanças, não caiu em
desânimo. Possuído de alto tino comercial, lança-se ao comércio madeireiro.
Começa a prosperar e a enriquecer.
Em 1930, resolve mudar-se para o
Rio de Janeiro, e é nessa ocasião eleito presidente honorário da Federação
Espírita do Paraná, pelos assinalados serviços a ela prestados.
Os bens materiais multiplicam-se
rapidamente em suas mãos.
Consolidada a sua posição social
e financeira com a fundação da Companhia Pinheiro Indústria e Comércio, da qual
era diretor-presidente, não tendo dali por diante maiores preocupações de ordem
econômica, mercê de uma independência que conquistara com sua visão de
industrial operoso, dedicou-se inteiramente ao Espiritismo, a este dando tudo
que lhe foi possível dar.
Sua cooperação humanitária,
junto aos companheiros espíritas de vários Estados, foi multiforme: nos
movimentos educativos da criança, no socorro às instituições de amparo à
velhice e à infância abandonada, no empenho para a criação de Lares Infantis,
Sanatórios, Hospitais, Ginásios, Creches, Institutos de Ensino etc., tudo em
benefício do indivíduo e da coletividade, num trabalho contínuo que durou até
aos seus últimos dias de vida terrena. “A maior glória de Lins” - escreveu um
seu biógrafo – “é não ter sido ele corrompido pelo fascínio do ouro”.
Cremos tenha sido a Federação
Espírita do Paraná a primeira entidade a receber sua colaboração doutrinária e
econômica. Quando na sua presidência, traçou um longo programa de realizações
em todos os setores de atividade daquela Instituição Estadual, nela incluindo,
então, o programa de ensino do Espiritismo às crianças, antevendo a necessidade
de prepará-las, para que investidas, no futuro, nas organizações espíritas,
pudessem produzir mais e melhor.
Por volta de 1938, em passeio a
Curitiba e presente à reunião do Conselho da Federação Espírita do Paraná, Lins
de Vasconcellos propôs-se entrar com apreciável soma de recursos para o
reinicio das obras do atual Hospital Espírita de Psiquiatria “Bom Retiro”,
tendo mantido sua colaboração econômica até a inauguração do mesmo.
Participou ativamente da
Coligação Nacional pró Estado Leigo, da qual foi presidente, dedicando-lhe
todos os esforços para que a luta pela laicidade do Estado fosse uma batalha
constante até à conquista da independência da nação na questão do campo
religioso.
Em 1948, quando a “Gráfica Mundo
Espírita” enfrentava uma crise seríssima, sua cooperação espontânea e sincera
veio evitar o desaparecimento dela, e, assumindo a sua direção, enfrentou todas
as dificuldades decorrentes de sua atitude salvadora. Imprimiu nova orientação
doutrinária a “Mundo Espírita”, periódico fundado em 1932, evitando que suas
colunas servissem de veículo de ideias destruidoras e separatistas.
Apesar dos grandes prejuízos
causados pela publicação do jornal e de livros doutrinários, ele sustentou a
luta e esteve à frente de “Mundo Espírita” até aos últimos momentos. Esse
jornal passou a ser o órgão noticioso e doutrinário da Federação Espírita do
Paraná.
Ainda em 1948 empenhou-se na
realização do I Congresso de Mocidades Espíritas do Brasil, apoiando a ideia do
Deputado Campos Vergal, transformada em realidade pela atuação de Leopoldo
Machado. Foi uma de suas principais figuras, contribuindo, ainda, decisivamente
na parte financeira. Por unanimidade, foi proclamado seu presidente de honra e,
na sessão de instalação, na manhã do dia 18 de junho de 1948, proferiu
discurso, fazendo a entrega simbólica do Congresso aos moços espíritas ali
reunidos.
Em fevereiro de 1949, fundou
Lins de Vasconcellos a Ação Social Espírita – sonho maior de sua vida –
instituição que se destinava ao trabalho social do Espiritismo em todos os seus
aspectos e sob todas as formas.
Graças ao seu espírito de
colaboração e boa vontade, realizou-se a Primeira Festa Nacional do Livro
Espírita, de 14 a 18 de abril de 1949.
Quando dos preparativos para a
realização do II Congresso Espírita Pan-Americano, que se reuniu no Rio de
Janeiro, no período de 3 a 12 de outubro de 1949, foi Lins de Vasconcellos
chamado para participar da Comissão Organizadora, sendo-lhe entregue o cargo de
Tesoureiro da Comissão, devendo-se ressaltar que da sua ação coordenadora e
sensata deve-se o êxito alcançado por aquele certame.
A unificação da família espírita
brasileira viria, mais cedo ou mais tarde, se essa era a vontade superior. Mas,
talvez não viesse tão depressa, não fosse a ação e a atividade conciliatória e
aproximativa de Lins de Vasconcellos. Ninguém, como ele, almejava reunir os
seus irmãos em ideal para um trabalho em comum. Esse foi sempre seu grande
sonho. Vivia para concretizar esse desejo e os mentores espirituais fizeram-no
o instrumento sensato e prudente para que essa aproximação se desse.
Contribuiu largamente para a
expansão do Espiritismo no Brasil. Levantou e apoiou inúmeras obras de caridade
e beneficência, nas quais até hoje lhe abençoam o nome, devendo-se-lhe o prédio
onde se acha instalada a Federação Espírita Paraibana. Desenvolveu obra de assistência
social, sem paralelo no meio espírita nacional. Pacificador por excelência,
padrão do verdadeiro homem de bem, tolerante em todos os sentidos, foi alçado à
posição de líder pelos próprios espíritas brasileiros.
Sua existência foi um
impressionante libelo contra a ociosidade e o desânimo.
Em 5 de outubro de 1949 foi,
talvez o dia mais feliz da sua vida. Foi o dia do “Pacto Áureo”, o dia áureo da
confraternização. Se nada mais houvesse feito em prol da Causa –e foram tantos
os benefícios que prestou ao Espiritismo – sua ação para a união da família
espírita brasileira, em torno da Casa de Ismael, lhe teria valido como uma
certeza de que não fora vazia e inexpressiva sua vida no mundo.
Era ainda o Dr. Lins, no campo
das atividades doutrinárias, representante da Federação Espírita do Paraná, no
Conselho Federativo Nacional, membro efetivo da Assembleia Deliberativa da
Federação Espírita Brasileira, vice-presidente da Liga Espírita do Estado da
Guanabara, 1º Secretário da Sociedade de Medicina e Espiritismo do Rio de
Janeiro e seu presidente de honra.
Não se pode dispensar a
colaboração da mulher nas grandes Causas. Todos os grandes homens tiveram em
suas vidas a influência da mulher. Lins de Vasconcellos não foi uma exceção à
regra. Nada realizava sem que ouvisse sua esposa. Fazia questão que em tudo
aparecesse aquela que partilhava de sua vida e conhecia as suas aspirações e
desejos. E a esposa dedicada que foi Dona Hercília César de Vasconcellos Lopes
retribuía-lhe essa justa consideração com o seu carinho e a sua afeição.
Compreendia ele o papel da mulher na reforma do mundo e, sempre que se lhe
oferecia oportunidade, concitava os homens ao amparo e proteção à mulher e à
criança.
E a Companheira de longos anos
de luta e realizações soube enfrentar o momento da partida do ente amado,
demonstrando, na serenidade a resignação, que estava bem à altura do querido
ausente.
Toda a família espírita sentiu o
seu desaparecimento da vida física, em 21 de março de 1952, ficando a Seara do
Senhor, no campo terreno, desfalcada de um de seus mais denodados e dedicados
servidores, sendo o seu corpo sepultado, conforme seus desejos, no jardim do
Sanatório “Bom Retiro”, em Curitiba, cidade que muito amou.
Respeitáveis nomes do
Espiritismo no Brasil teceram longos e justos elogios à obra do benfeitor e do
homem de ação, ouvindo-se, ainda, a palavra do grande médium brasileiro,
Francisco Cândido Xavier, nessa afirmativa: “Era ele uma coluna firme da
doutrina em nosso País e um companheiro abnegado de nosso movimento de unificação”.
Mais tarde, a Federação Espírita
do Paraná, que tantos benefícios recebeu de Lins de Vasconcellos, inclusive
através de testamento, prestou-lhe significativa homenagem, dando-lhe o
inesquecível nome ao educandário por ela criado – “Instituto Lins de Vasconcellos”,
– hoje, Colégio “Lins de Vasconcellos”.
Para mais detalhes consultar o
livro "Lins de Vasconcellos ‒ o diplomata da unificação e o paladino do
Estado leigo" de autoria de Ney Lobo, editado pela Federação Espírita do
Paraná.
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