Carlos Imbassahy
Da obra de Chevreuil colhemos o
seguinte depoimento de notável facultativo; o fato consta de suas memórias:
Minhas faculdades permitiram-me estudar o fenômeno psíquico e
fisiológico da morte à cabeceira de um moribundo. Era uma senhora de uns 60
anos, a quem costumava dar conselhos médicos. Quando chegou a hora da morte, eu
me achava em perfeita saúde, o que me tornava possível exercitar minha
faculdade de vidência. Pus-me então a estudar o mistério da morte. Vi que o seu
organismo já não podia satisfazer às necessidades do princípio espiritual, mas
pareceu-me que vários órgãos opunham resistência à partida da alma. O sistema
muscular tentava reter as forças motrizes; o vascular debatia-se para reter o
princípio vital; o nervoso lutava contra o aniquilamento aos sentidos físicos e
o cerebral procurava reter o princípio intelectual. Corpo e alma, como
cônjuges, resistiam à separação. Esses conflitos pareciam produzir sensações
penosas, de sorte que me alegrei quando percebi que aquelas manifestações
físicas indicavam, não a dor e a enfermidade, senão a separação da alma.
Nos seres voluntariosos, dominadores, materiais, a agonia é às vezes
dolorosa. Há agonizantes que se contraem horrivelmente, que se agarram,
arranham a parede, arrancam com as unhas pedaços de pele.
Pouco depois a cabeça cercou-se de brilhante atmosfera e vi, de
repente, o cérebro e o cerebelo estenderem as suas partes inferiores e ficarem
paralisadas as funções galvânicas. A cabeça ficou como que iluminada e notei
que as extremidades se tornaram frias e escuras, enquanto o cérebro adquiria
especial refulgência.
Em torno da atmosfera fluídica que lhe rodeava a cabeça, formou-se outra
cabeça que cada vez mais se acentuava. Tão brilhante era que mal a podia fixar.
À medida, porém que essa cabeça fluídica se condensava, desaparecia a atmosfera
brilhante. Com surpresa, acompanhei as fases do fenômeno: vi formarem-se
sucessivamente o pescoço, as espáduas, o conjunto do corpo fluídico. Tornou-se
me evidente que as partes intelectuais do ser humano são dotadas de uma
afinidade eletiva quê lhes permite reunirem-se no momento da morte. Os defeitos
físicos tinham desaparecido quase por completo do corpo fluídico.
Para as vistas materiais das pessoas presentes, o corpo da moribunda
parecia apresentar sintoma de angústia: eram, porém fictícios; provinham das
forças que se retiravam do corpo, que se concentram no cérebro e depois no novo
corpo.
O Espírito elevou-se em ângulo reto acima da cabeça do corpo
abandonado; antes, porém da separação vi uma corrente de eletricidade vital
formar-se sobre a cabeça da agonizante e por sob o novo corpo fluídico.
Convenci-me que a morte não é mais do que um renascimento da alma,
elevando-se de um estado inferior, e que o nascimento de uma criança neste
mundo ou a formação de um espírito no outro, são fatos idênticos. Nada falta,
nem mesmo o cordão umbilical, figurado por um laço de eletricidade vital. Este
laço subsistiu por algum tempo entre os organismos. Descobri então que parte do
fluido vital volta ao corpo físico, logo que se rompe o cordão. Esse elemento
fluídico ou elétrico, espalhando-se pelo organismo, lhe impede a rápida
dissolução. "Logo que a alma se soltou dos laços tenazes que a prendiam
verifiquei que o órgão fluídico tinha a aparência terrena. Foi-me impossível
descobrir o que se passava naquela inteligência que revivia; notei-lhe,
entretanto, calma e espanto por ver os outros chorarem. Dir-se-ia ter percebido
a ignorância em que estavam do que realmente se havia passado[2].
Fonte: O que é a Morte - Edicel
[2] Léon Chevreuil. On
ne meurt pas. Paris. Pág. 290. Erny. Le
Psychisme expérimental. Ed. Fiam. Págs. 94-97.
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