Andréa Laporte[2]
Muitas pessoas questionam não
somente quando e como ocorre o esquecimento das lembranças das nossas
existências anteriores, mas também a justiça desse esquecimento e o real
objetivo da reencarnação sem o conhecimento evidente desse passado.
Como a doutrina espírita explica
que somos seres imortais, criados simples e ignorantes, e passamos por diversas
experiências nem sempre agradáveis, podemos começar a esclarecer a questão já
partindo da informação trazida em O Livro
dos Espíritos, item 257, sobre o perispírito: “liame que une o Espírito à matéria do corpo, princípio da vida
orgânica, mas não o da vida intelectual”.
Aprende-se também no espiritismo
que “o perispírito é apenas um agente de
transmissão, pois é o Espírito que possui a consciência...”, o que nos
permite perceber que nossas memórias ficam gravadas, portanto, no Espírito,
ainda que nunca se veja separado do seu envoltório fluídico.
Como a sabedoria e a
misericórdia divinas são incontestáveis, Deus em sua perfeição considerou mais
adequado que ao reencarnar o Espírito tivesse o esquecimento do passado, pois
nos seria extremamente constrangedor ter todas as lembranças de nossas
experiências passadas na vida corpórea. Afinal, não podemos esquecer que em
nosso atual grau evolutivo ainda oscilamos entre as boas e as más ações nos
nossos caminhos de tantos aprendizados.
Saber quem fomos, o que fizemos,
a quem prejudicamos e por quem fomos prejudicados certamente nos causaria
desequilíbrios. Longe, porém, de acharmos que fomos “jogados” na roda da vida,
pois o esquecimento, plenamente ao nosso favor, é apenas temporário.
Na erraticidade, de acordo com
seu estágio evolutivo, o Espírito é capaz de verificar sua trajetória, avaliar
suas faltas e conquistas, para poder repensar novas oportunidades que possam
melhor solidificar seu aprendizado, preparando-o para novas tentativas antes do
retorno à vida material.
Na reencarnação, o processo de
ligação entre o Espírito e a matéria propriamente dita se inicia no momento da
concepção com a ligação fluídica entre seu perispírito e o novo corpo, sendo
ele submetido a certa perturbação.
Quando nasce, o ser reencarnante
vai recobrando as suas faculdades, retomando a consciência, mas com o
esquecimento do que se passou. Durante a vida material, enquanto o corpo
descansa, dorme, a alma se desprende. Ao despertar, podem inclusive ocorrer
algumas recordações dessas vivências e certas lembranças surgirem em forma de
intuições, pois “as nossas tendências instintivas
são uma reminiscência do nosso passado” (LE-393). A cada nova experiência
corpórea, o ser também está mais e melhor desenvolvido em seu aspecto
intelectual, o que vai também lhe permitindo maior compreensão do bem e do mal,
para melhor resistir às tendências de suas imperfeições, passando a compreender
e a analisar mais adequadamente a sua situação atual, como um verdadeiro
estímulo para o despertar e aprimoramento de suas virtudes.
Se o Espírito se lembrasse de
todas os acontecimentos de sua trajetória, certamente suas escolhas pretéritas
influenciariam diretamente em suas atitudes no presente, retirando-lhe o mérito
de suas conquistas, pois as vívidas lembranças de seus atos e, principalmente,
de pessoas de sua relação envolvidas em situações conflituosas seriam
obstáculos a serem superados. E é assim que cada nova existência é sempre um
novo recomeçar, com aptidões e capacidades em nós permanecendo de maneira
latente. Vale lembrar que algumas pessoas podem ter fortes lembranças de vidas
anteriores, o que serve para convencimento e reflexão a respeito da pluralidade
das existências. Há também quem tenha apenas ilusões a respeito. Todos nós,
entretanto, somos intuídos pelas lembranças das nossas consciências e, para
saber o que fomos, sugere-se analisar as nossas boas e más tendências na vida
atual.
Pela perfeição de suas leis,
Deus nos concede de forma justa e benevolente o que nos é necessário e
suficiente para o nosso aprimoramento, cabendo a nós aproveitar da melhor
maneira as infinitas oportunidades de recomeço, fortalecidos na determinação de
vencermos a nós mesmos e, também, de aproveitarmos o próprio desafio da nova
experiência para a reparação de questões anteriores, através do reencontro com
aqueles que prejudicamos ou que nos prejudicaram em existências precedentes.
O segredo da certeza do dever
cumprido está justamente em aproveitar da melhor forma essa encarnação,
utilizando-se as conquistas intelectuais para análise de nossos pensamentos,
sentimentos e ações, que visem ao autoconhecimento para que se promova um
esforço contínuo para domar paixões e tendências inferiores, nos adequando à
prática e vivência cristã.
Fonte: Correio.News
[2] Assessora do Departamento de Doutrina da USE Estadual
e secretária da USE Regional de Campinas, SP.
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