Nasceu na cidade do Rio de Janeiro
a 12 de abril de 1829 e retornou à Espiritualidade no dia 31 de março de 1903,
próximo a completar 74 anos de idade.
Pioneiríssimo trabalhador do
Espiritismo no Rio de Janeiro, quiçá do Brasil, foi um dos fundadores do Grupo
dos Humildes, depois Grupo Ismael da Federação Espírita Brasileira, do qual foi
diretor. Sayão tornou-se espírita no ano de 1878 e como autêntico trabalhador e
colaborador de Jesus e Ismael, começou de imediato nas atividades,
destacando-se entre os grandes pioneiros do Espiritismo. Foi o Grupo Ismael,
verdadeira fortaleza moral, que levantou o ânimo dos trabalhadores da FEB e
conseguiu fazê-la a Casa Máter do Espiritismo no Brasil, arregimentando homens
da envergadura moral de Bittencourt Sampaio, Bezerra de Menezes, Ewerton
Quadros, Dias da Cruz e tantos outros baluartes da Boa Nova.
A vida de Sayão foi um exemplo de
amor e trabalho. Escritor, Jornalista, Pregador, dedicado à assistência aos
necessitados e intimorato propagador da Doutrina.
Trabalhador incansável e
extremamente econômico, conseguiu fazer fortuna, poupando e guardando as parcas
economias que lhe sobravam das suas restritas necessidades materiais.
Talento modesto, aliado ao desejo
de bem servir ao Senhor, jamais se deixou atingir pelo orgulho e pela vaidade,
ou pelas sugestões do fausto e da orgia. Seu vestuário sempre foi sério,
simples e decente, sua alimentação sólida, parca e sóbria.
Teve então de travar luta titânica
contra as suas tendências católico-romanas, não compatíveis com os Evangelhos
de Jesus, que acabava de abraçar, e, sobretudo, contra os preconceitos
sociais-religiosos, que naqueles tempos pareciam insuperáveis.
Tomou para seu companheiro e mestre
o seu colega Bittencourt Sampaio, que aqui na Terra tão bem soube orientá-lo e,
no espaço, depois que para lá foi, melhor soube encaminhá-lo com seus conselhos
diários e ampará-lo com a sua ascendência moral.
Em 7 de Fevereiro de 1858, era
eleito membro do Conservatório Dramático do Rio de Janeiro.
Feita a aliança espiritual entre os
dois servos do Senhor, tiveram que lutar heroicamente contra as traiçoeiras
ciladas que lhes armavam a todo o instante os Espíritos das trevas, com o
intuito perverso de separá-los.
A luta foi encarniçada e tantos
foram os estratagemas de que usaram os inimigos do espaço, para romper o laço
que ligava esses dois espíritos aqui na Terra, que narrá-los é impossível. Mais
de uma vez teve Sayão de pôr em prova a sua humildade, para evitar que se
quebrasse um só dos elos da cadeia que o prendia ao seu mestre e amigo.
Seu lar, nos tempos ignominiosos da
escravidão, era o céu dos desgraçados que tinham pedido a prova de serem
escravos.
Nele se acolhiam, para de
escravizados ficarem livres, pois eram tratados pelo “senhor” como irmãos e
amigos e se constituíram membros da sua família. Que o digam os Moisés, os
Celestinos e as Joanas, cujos filhos eram por ele acalentados e muitas vezes
nos seus próprios braços entregavam o Espírito ao Criador.
Pela modéstia do seu viver e porque
não se imiscuía nas lutas egoísticas dos homens, a sociedade que não o
compreendia supunha-o usurário. Ele, usurário! Ele que repartia prodigamente
com os necessitados os seus haveres!
Mas, porque seguia o preceito
evangélico: “a mão direita não deve ver o que dá a esquerda”, Sayão era um
usurário!
Bem fizeste, amigo! Bem soubeste
fazer!
A sua bolsa sempre esteve aberta à
verdadeira necessidade. Jamais irmão algum que lhe pediu pão, ou lhe solicitou
abrigo, passou fome ou se viu privado de teto. Bastava saber onde estava a
miséria, para que Sayão corresse pressuroso a ampará-la.
Os seus atos de caridade são
inúmeros. Citá-los é impossível; descrevê-los, ocioso. Apenas nos limitaremos a
contar um. Ei-lo:
Uma vez em
que o médium Guimarães foi a um miserável quarto de certa casa, numa das ruas
desta Capital, levar a uma pobre enferma os recursos mediúnicos que reclamava o
seu estado de saúde, viu, ao entrar, que alguém se ocultara atrás da porta;
instigado pela curiosidade, procurou ver quem era e pôde então lobrigar a
cabeça do velho Sayão, que ali fora repartir com a desgraçada a moeda material
e levar-lhe ao mesmo tempo o conforto espiritual que com tanta dedicação soube
haurir nos Evangelhos.
A sua vida espírita foi cheia de
episódios e lutas impossíveis de descrever num modestíssimo escrito de jornal.
Contudo, esforçar-me-ei por contar alguns.
Sayão e
Bittencourt Sampaio pertenceram à Sociedade “Deus, Cristo e Caridade” até o dia
em que uma divergência determinou a saída dos membros que não se deixaram
arrastar pelo orgulho da ciência. Foi então quando resolveram fazer, no dia 6
de Junho de 1880, uma reunião em sua casa, a fim de concertarem a respeito do
destino que deveriam tomar, e o resultado foi a fundação do “Grupo dos
Humildes”, vulgarmente conhecido por “Grupo Sayão”, dirigido espiritualmente
pelo anjo Ismael e materialmente por ele, Sayão.
O que se passou na primeira fase
desse Grupo está minuciosamente descrito no seu livro inicial, intitulado
“Trabalhos Espíritas”. Foi tempestuosa e, por isso, muitas lágrimas custou ao
pobre do Sayão.
A segunda fase foi mais calma e
deu-lhe ensejo a que publicasse o seu segundo livro, que denominou “Estudos
Evangélicos”, livro que tantos e tão relevantes serviços tem prestado aos que
se entregam ao estudo da Doutrina Espírita. Foi quando desencarnou o bom
Bittencourt Sampaio.
Desde essa data entrou o Grupo na
sua terceira fase, que não foi para Sayão tão tempestuosa quanto a primeira,
mas que se caracterizou pela luta que ele teve de sustentar com os Espíritos
das trevas, quando o Grupo sucessivamente recebeu os livros “Jesus perante a
Cristandade” e “De Jesus para as Crianças”, ditados pelo Espírito de
Bittencourt Sampaio e publicados por Sayão, e iniciou o “Do Calvário ao
Apocalipse”.
Ele pressentiu o termo da sua
jornada sobre a Terra poucos dias antes da sua partida para as regiões
espirituais.
Isto vos posso afirmar, leitor,
pela sua seguinte previsão:
Tendo-se
esgotado a edição dos “Estudos Evangélicos”, ele os reeditou com o título de
“Elucidações Evangélicas”, e enriqueceu-o com muitas e belíssimas comunicações
recebidas no Grupo, que vieram trazer aos diversos pontos evangélicos, por ele
estudados, muita luz de intenso clarão.
Este livro
saiu do prelo, e, apresentando um exemplar a um confrade, disse-lhe ele: “Este
é o último canto do cisne.”
E o foi, de fato. Dias depois,
deixava o fardo pesado da matéria e voava para a verdadeira pátria, onde foi
receber do nosso Divino Mestre o prêmio de tanta luta e de tantos sacrifícios
sofridos sem revolta nem queixume.
Se a sua vida foi um exemplo
perene, digno de ser por nós imitado, a sua desencarnação não o é menos.
Durante a enfermidade que o
acometeu, se acusava grandes sofrimentos, não se queixava jamais; ao contrário,
dizia sempre que se fizesse a vontade de Deus! O seu desprendimento foi calmo e
mesmo sem contrações. Desencarnou como um justo, balbuciando uma Ave Maria.
Assim vivem e assim desencarnam os
verdadeiros de Nosso Senhor Jesus-Cristo.
Fonte: Anuário Espírita - 1979