Cezar Braga Said – Julho 2020
Silenciar é diferente de fazer
silêncio.
Fazemos silêncio quando nos
calamos deixando de emitir sons e expressar opiniões. Silenciamos quando temos
momentos de quietude interna no pensar e no sentir, a fim de registrar aquilo
que raciocinando sem parar não percebemos.
Podemos fazer silêncio como
forma de protesto, defesa, implicância, indiferença e mesmo para não nos
comprometer.
Silenciar implica em abrir-nos
para aprender com o outro, com a natureza e com as situações cotidianas. Tal
estado só é possível quando, apesar da idade, do conhecimento e das
experiências acumuladas, temos olhos e alma de aprendiz.
Sendo aprendizes no fundo do
nosso coração, não temos pressa em dizer quem somos, o que temos, por onde
andamos e que saber acumulamos. Não nos move o desejo de competir, contestar,
contrapor ou entrar em qualquer conflito a fim de nos sagrar vencedores em uma
disputa argumentativa.
Neste silenciar, o observar com
atenção e o sentir se tornam mais importantes do que o julgar e qualificar
alguém ou alguma coisa.
Passamos a aceitar o que antes
nos conduzia a um constante litígio com pessoas, instituições e conosco mesmos.
Descobrimos cor, beleza e sentido naquilo que antes nos passava despercebido.
Em Mateus (6:1-7), Jesus nos
recomenda discrição, modéstia e humildade na prática do bem, que podemos
traduzir também por um silenciar quando fizermos boas obras. É permitir que o
coração e a consciência encontrem contentamento, paz e prazer, sem que nenhum
alarde ou propaganda seja necessária.
Este estado íntimo de quietude e
ausência de pressa, gera gratidão e generosidade. Gratidão diante do corpo, das
estações, do trabalho, da família, da grandeza do Universo e até perante as
dificuldades que tanto nos ensinam a desenvolver a perseverança, a esperança e
a fé.
Generosidade, porque a compaixão
nos conduz a um estender braços e recursos a quem precisar, além da gentileza
passar a andar um pouco mais de braços dados conosco.
Aprendemos a aguardar com
lucidez o tempo do outro, respeitando com mais paciência o ritmo alheio, seus
olhares, crenças e limitações.
Silenciar nos confere maior
serenidade, paz, concentração e foco.
Ouça seu coração, ouça o outro,
ouça a vida, torne-se um pouco mais sábio.
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