Allan Kardec
(Paris, 13 de maio de 1866 – Médium: Sr. Tail...)
Quando alguma coisa é pressentida pelas massas, geralmente
se diz que está no ar. Qual a origem desta expressão?
Resp. – Sua origem, como a de uma porção de coisas
de que não nos damos conta e que o Espiritismo vem explicar, está no sentimento
íntimo e intuitivo da realidade. A expressão é mais verdadeira do que se pensa.
Esse pressentimento
geral à aproximação de algum acontecimento grave tem duas causas: a primeira
vem das massas inumeráveis de Espíritos que incessantemente percorrem o espaço
e que têm conhecimento das coisas que se preparam; em consequência de sua
desmaterialização estão mais aptos a seguir o seu curso e lhe prever o
desfecho. Esses Espíritos roçam
incessantemente a Humanidade, comunicando-lhe os seus pensamentos pelas
correntes fluídicas que ligam o mundo corporal ao mundo espiritual. Embora não
os vejais, seus pensamentos vos chegam como o aroma das flores ocultas na
folhagem, e vós os assimilais sem perceber. O ar está literalmente rasgado por
essas correntes fluídicas, que por toda parte semeiam a ideia, de tal sorte que
a expressão está no ar não só é uma
figura, mas positivamente verdadeira. Certos Espíritos são mais especialmente
encarregados pela Providência de transmitir aos homens o pressentimento das
coisas inevitáveis, com vistas a
lhes dar um secreto aviso, e eles cumprem essa missão espalhando-se entre as
criaturas. São como vozes íntimas, que retinem no seu foro interior.
A segunda causa
deste fenômeno está no desprendimento do Espírito encarnado durante o repouso
do corpo. Nesses momentos de liberdade ele se mistura aos Espíritos
semelhantes, àqueles com os quais tem mais afinidade; penetra-se de seus
pensamentos, vê o que não pode ver com os olhos do corpo, relata a sua intuição
ao despertar, como de uma ideia que lhe é toda pessoal. Isto explica como a
mesma ideia surge ao mesmo tempo em cem lugares diferentes e em milhares de
cérebros.
Como sabeis, certos
indivíduos são mais aptos que outros para receber o influxo espiritual, quer
pela comunicação direta dos Espíritos estranhos, quer pelo desprendimento mais
fácil de seu próprio Espírito. Muitos gozam, em graus diversos, da segunda
vista, ou visão espiritual, faculdade muito mais comum do que pensais, e que se
revela de mil maneiras; outros conservam uma lembrança mais ou menos nítida do
que viram nos momentos de emancipação da alma. Em consequência desta aptidão,
têm noções mais precisas das coisas; não é neles um simples pressentimento
vago, mas a intuição, e nalguns o conhecimento da própria coisa, cuja
realização preveem e anunciam. Se se lhes pergunta como sabem, a maior parte
não saberia explicar; uns dirão que uma voz interior lhes falou, outros que
tiveram uma visão reveladora, e outros, enfim, que o sentem sem saber como. Nos
tempos de ignorância, e aos olhos das pessoas supersticiosas, passam por
adivinhos e feiticeiros, quando são apenas pessoas dotadas de mediunidade
espontânea e inconsciente, faculdade inerente à natureza humana, e que nada tem
de sobrenatural, mas que são incapazes de compreender os que nada admitem fora
da matéria.
Essa faculdade
existiu em todos os tempos, mas é de notar que se desenvolve e se multiplica
sob o império de circunstâncias que incrementam a atividade do espírito, nos
momentos de crise e quando da aproximação dos grandes acontecimentos. As
revoluções, as guerras, as perseguições de partidos e de seitas sempre fizeram
nascer um grande número de videntes e inspirados, que foram qualificados de
iluminados.
Dr.
Demeure
Observação – As relações do mundo corporal com o mundo
espiritual nada têm de surpreendente, se se considerar que esses dois mundos
são formados dos mesmos elementos, isto é, dos mesmos indivíduos, que passam
alternadamente de um ao outro. Tal qual é hoje entre os encarnados da Terra,
será amanhã entre os desencarnados do espaço, e reciprocamente. O mundo dos
Espíritos, portanto, não é um mundo à parte, é a própria Humanidade despojada
de seu invólucro material, e que continua sua existência sob uma nova forma e
com mais liberdade.
As relações desses dois mundos, em contato incessante, fazem
parte, pois, das leis naturais. A ignorância da lei que os rege foi a pedra de
tropeço de todas as filosofias; é por falta de seu conhecimento que tantos
problemas ficaram insolúveis. O Espiritismo, que é a ciência dessas relações,
nos dá a única chave que os pode resolver. Graças a ele, quantas coisas já não
são mistérios!
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