Raymond Moody Jr.[2]
O que é talvez o mais incrível
elemento comum dos relatos que estudei, e é certamente o elemento que tem o
mais profundo efeito sobre o indivíduo, é o encontro com uma luz muito
brilhante.
Tipicamente, em sua primeira
aparição, a luz é tênue, mas rapidamente fica cada vez mais brilhante, até que
alcança um brilho extraterreno. Contudo, ainda que essa luz ‒ dita branca ou
"clara" ‒ seja de um brilho indescritível, muitos fizeram questão de
acrescentar que de modo algum dói nos olhos ou ofusca, nem impede de ver outras
coisas ao redor ‒ talvez porque a essa altura não tenham "olhos"
físicos para ser ofuscados.
Apesar da manifestação inusitada
da luz, ninguém expressou qualquer dúvida de que se tratasse de um ser, um ser
de luz. Não apenas isso, é um ser pessoal. Tem uma personalidade bem
estabelecida. O amor e calor que emanam desse ser para as pessoas que estão
morrendo estão completamente além das palavras, e elas se sentem completamente
rodeadas por eles, completamente à vontade e aceitas na presença desse ser.
Sentem uma atração magnética irresistível para essa luz. Uma atração
inelutável.
É interessante que, enquanto a
descrição acima, do ser de luz, é totalmente invariável, a identificação do ser
varia de indivíduo a indivíduo e parece estar muito em função dos antecedentes
religiosos, da educação ou das crenças da pessoa em questão.
Assim, a maioria dos que foram
educados como cristãos, ou que têm essa crença, identificam a luz com Cristo, e
algumas vezes traçam paralelos bíblicos em defesa de sua interpretação. Um
homem e uma mulher judeus identificaram a luz com um "anjo".
Estava claro, entretanto, em
ambos os casos, que as pessoas não queriam com isso significar que o ser
tivesse asas, tocasse uma harpa, ou mesmo que tivesse aparência ou forma
humana. Havia apenas a luz. O que cada qual estava tentando comunicar era que
tomavam o ser como um emissário, ou um guia. Um homem que não tinha qualquer
crença ou educação religiosa anterior à experiência simplesmente classificou o
que viu como "um ser de luz". O mesmo rótulo foi usado por uma
senhora de fé cristã, que aparentemente não sentia nenhuma compulsão em chamar
a luz de "Cristo".
Pouco depois da sua aparição, o
ser começa a se comunicar com a pessoa que está morrendo. Notadamente, essa
comunicação é da mesma espécie direta que já encontramos em descrições
anteriores, de como a pessoa no corpo espiritual pode "apreender os pensamentos"
daqueles que estão em volta. Pois, aqui também, as pessoas declaram que não
ouviram nenhum som ou voz física vindos do ser, nem responderam a ele usando
sons audíveis. Em vez disso, relatam que ocorre uma transferência direta e
desimpedida de pensamentos, e de modo tão claro que não há qualquer
possibilidade quer de desentendimento, quer de mentir para a luz.
Além disso, essa troca
desimpedida nem mesmo ocorre na linguagem nativa da pessoa. No entanto, ela a
entende perfeitamente e fica cônscia instantaneamente. Não pode nem mesmo
traduzir os pensamentos e intercâmbios que tiveram lugar enquanto estava
próxima da morte na linguagem humana que precisa falar agora, depois de sua
ressurreição.
O passo seguinte da experiência
ilustra claramente a dificuldade em traduzir essa linguagem não falada. O ser
quase imediatamente dirige certo pensamento à pessoa a cuja presença chegou tão
dramaticamente. Em geral as pessoas com quem conversei tentaram formular o
pensamento como se fosse uma pergunta. Entre as traduções que ouvi, estão: Você está preparado para morrer? Você está pronto para morrer? O que é que você fez de sua vida que possa
mostrar? E O, que você fez com a sua
vida já é suficiente?
As duas primeiras fórmulas, que
acentuam "preparação", podem de início parecer ter um sentido
diferente das outras duas, que acentuam "realizações". No entanto,
alguma base para a minha suposição de que todos estão tentando expressar o
mesmo pensamento vem da narrativa de uma mulher que colocou a questão assim:
A primeira coisa que
ele me disse, que ele como que perguntou, foi se eu estava pronta para morrer,
ou que é que eu tinha feito com minha vida que desejaria lhe mostrar.
Além disso, mesmo no caso mais
comum em que a "questão" é fraseada, parece, depois de algum
esclarecimento, que leva a mesma força. Por exemplo, um homem contou-me que,
durante a sua "morte":
A voz me fez uma pergunta: 'Vale a pena?' E
o que ela queria dizer era se tinha valido a pena levar a vida que eu estava
levando até aquele ponto, sabendo o que eu agora sabia.
Incidentalmente, devo insistir
em que a questão, a pergunta, profunda e final como parece ser no seu impacto
emocional, não é feita como uma condenação. O ser, todos parecem concordar, não
faz a pergunta para acusar ou para ameaçar, pois sentem todos o total amor e
aceitação vindos da luz, qualquer que seja a resposta.
No entanto, o ponto da questão
parece ser o de fazê-los pensar sobre suas vidas, refletir. É, se quiserem, uma
pergunta socrática, feita não para obter informação, mas para ajudar a pessoa
que está sendo inquirida a prosseguir por si própria no caminho da verdade.
Vejamos alguns relatos de
primeira mão sobre esse ser fantástico.
1 - Ouvi os médicos
dizerem que eu estava morto, e foi aí que me senti como se estivesse vagando,
mais como se estivesse flutuando por essa escuridão, que era uma espécie de
lugar fechado. Não há na verdade palavras que descrevam isso. Tudo era bem
negro, exceto que, bem longe de mim, eu podia ver essa luz. Era uma luz bem,
bem brilhante, mas no início não muito grande. Foi crescendo à medida que eu ia
chegando mais perto.
Eu estava tentando
chegar até aquela luz no fundo porque achava que era Cristo, e estava tentando
alcançar aquele ponto. Não foi uma experiência assustadora. Foi mais como uma
coisa agradável. Pois, sendo cristão, imediatamente liguei a luz com Cristo,
que disse: “Eu sou a luz do mundo”. E eu disse a mim mesmo: “Se chegou a hora,
se vou morrer, então já sei quem é que espera por mim lá nó fundo, lá naquela
luz”.
2 - Eu me levantei e
fui até o vestíbulo beber água, e foi então, como eles descobriram mais tarde,
que meu apêndice supurou. Fiquei muito fraco e caí. Comecei a me sentir como
que vagando, um movimento do meu ser real para dentro e para fora do meu corpo,
e a ouvir uma linda música. Flutuei pelo hall e para fora da porta até a
varanda. Lá começou a se juntar uma névoa cor-de-rosa, parecia quase como uma
nuvem, em volta de mim, e aí flutuei através da cerca como se ela não existisse
e fui subindo até essa luz pura e clara como cristal, uma luz branca que
iluminava. Era linda e brilhante, tão radiante, mas não ofuscava meus olhos.
Não é uma espécie de luz que se possa descrever na terra. Não cheguei
propriamente a ver ninguém nessa luz, e, no entanto, ela possuía certa
identidade, mesmo. É uma luz de perfeito amor e perfeita compreensão.
Veio-me à mente o
pensamento: “Vós me amais?” Não era bem na forma de uma pergunta, mas acho que
a conotação do que a luz disse era: “Se você me ama, volte e complete o que
começou na vida”. E durante todo esse tempo eu me sentia como se estivesse
rodeado de uma plenitude de amor e compaixão.
3 - Eu sabia que
estava morrendo e que não havia nada que pudesse fazer, porque ninguém me
ouvia. Eu estava fora do meu corpo, não há dúvida sobre isso, porque podia ver
o meu corpo lá na mesa de operação. Minha alma estava fora! Tudo isso me fez
sentir muito mal no início, mas depois veio aquela luz bem brilhante. Parecia
inicialmente um tanto frouxa; depois, era um feixe enorme. Era só uma quantidade
enorme de luz, não tinha nada de parecido com o facho de luz de uma lanterna,
era só luz, luz demais. E me dava calor; eu sentia uma sensação de quentura.
Era uma luz
brilhante, branco-amarelada, mais para o branco. Tinha um brilho imenso; mas
não dá para descrevê-la. Parecia que ela cobria tudo, embora não me impedisse
de ver ao redor de mim — a sala de operação, os médicos e enfermeiras, tudo.
Dava para ver claramente e a luz não ofuscava.
No começo, quando
veio a luz, eu não sabia bem o que estava acontecendo, mas aí ela perguntou —
me perguntou assim — se eu estava pronto para morrer. Estava falando como se
fosse uma pessoa, mas não havia pessoa alguma. Era a luz que estava falando,
mas só uma voz.
Agora, acho que a
voz que estava falando comigo sabia mesmo que eu não ia morrer. Sabe, ela
estava mais me testando do que qualquer outra coisa. Mas, no momento em que a
luz falou comigo, me senti realmente bem — segura e amada. O amor que vinha
dela é inimaginável, indescritível. Era uma pessoa agradável para ter junto da
gente! E tinha também senso de humor, se tinha!
[1] Vida depois da
Vida – Dr. Raymond Moody Jr.
[2] Raymond A. Moody, Jr., M.D. é reconhecida autoridade
no estudo de Experiências de Quase Morte. É Psicólogo e leciona da Universidade
de Nevada, Las Vegas, onde ocupa a Bigelow Chair of Consciousness. Também é doutor de Light Beyond e Reflections
on life after life.
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