Orson Peter Carrara
Foram eles que provocaram os
fenômenos, que buscaram os médiuns, que responderam às instigantes questões
propostas pelo Codificador. Também, em diferentes casos, submeteram-se às
pesquisas de nobres cientistas que investigaram os ditos e variados fenômenos,
que inspiraram textos e ditaram páginas e livros que orientam, elucidam,
ensinam.
A Doutrina Espírita é, pois, dos
Espíritos. A iniciativa foi deles, embora com a participação de médiuns – desde
o seu advento até os dias de hoje – e do notável e incomparável trabalho
daquele que organizou sistematicamente os ensinos para publicar as obras
básicas, que se desdobraram nas complementares; na Revista Espírita, fez surgir os adeptos, que se organizaram em
grupos variados, e que trabalham pelo ideal daí surgido, inspirando outros
autores – encarnados e desencarnados –, ao longo do tempo, que haurem nessa
fonte inesgotável os conhecimentos que dela jorra sem cessar, a partir de O Livro dos Espíritos.
A reflexão surge em virtude de
uma velha questão, bem própria de nossa condição humana, ameaçadora da plena
vivência espírita: a questão dos extremos entre o carinho que se possa ter por
destacados expoentes doutrinários do Espiritismo e os perigos ou ilusões do
endeusamento de pessoas, médiuns, dirigentes, escritores ou palestrantes.
A qualificação de expoentes
doutrinários destina-se a nominar autênticos trabalhadores da causa que se
destacaram em suas cidades, estados ou países, ou mesmo na intimidade de
instituições – não importando o tamanho –, com suas posturas de humildade e
serviço, desprovidos de intenções contraditórias e de cuja coerência
desdobram-se inúmeras bênçãos em favor de muitos.
É o caso de nomes respeitáveis,
que não se valem do Espiritismo para nada, exceto para promover sua plena
vivência e divulgação. São muitos os exemplos, apesar de serem humanos e
limitados em muitos aspectos, como ocorre com nossa condição de cidadãos comuns.
Tais comportamentos e legado de
exemplos gera carinho e gratidão, que não deve nunca se confundir com
endeusamento. Esse, o endeusamento, é postura equivocada, por variadas razões,
bem óbvias, por sinal, e por isso, desnecessário enumerá-las.
A vigilância deve ser nossa. O
respeito e o carinho nos permitem observar e aprender com quem nos dá exemplos
de perseverança, trabalho, de prudência e dedicação, onde se somam as virtudes
também da humildade e da exata noção do servir.
Esses exemplos de conduta e trabalho
se tornam referências em quem podemos confiar. Traduzem estímulos de trabalho e
coerência. Isso não significa endeusamento (e temos que lutar contra os
excessos de quaisquer gêneros), mas sim as exceções que inspiram confiança e,
se estabelecermos o critério de que não devemos endeusar nem seguir pessoas,
referido critério generaliza-se como regra a pretexto de estarmos endeusando. E
aí casas e pessoas ficam condução segura. Não se trata, pois, de endeusamento,
mas gratidão e carinho, cujos limites devemos discernir, sem generalizar com
leviandade.
Caso contrário, viveremos ou
alimentaremos o Espiritismo sem os Espíritos.
As instituições espíritas
necessitam e devem cultivar com todo empenho a fraternidade espontânea em seus
ambientes. Senão teremos casas deprimidas, sem vida, onde o contato pessoal é a
pedra de toque para vivermos o Espiritismo em sua grandeza e essência, na
vivência plena da fraternidade, do carinho e da gratidão.
Daí a importância das lideranças
autênticas, daquelas em quem podemos confiar e sempre resultante do trabalho e
do empenho no bem. Daquelas que não geram fanatismo, nem tampouco estimulam
endeusamentos, mas que respeitam a própria equipe com o exemplo pessoal de
dedicação ao ideal que esposam.
Nós, por nossa vez, devemos cuidar
para buscar sempre o equilíbrio nesse campo sutil entre o carinho e a gratidão,
ou o reconhecimento pelo trabalho – integrando-se inclusive ao trabalho – sem
buscar autopromoção ou elegendo o fanatismo como regra de conduta. Esse é
sempre prejudicial, bem ao oposto da gratidão, que reconhece o trabalho como
caminho de equilíbrio.
Sendo a Doutrina dos Espíritos,
sigamos sim os bons Espíritos, ou em outras palavras, os bons exemplos, que
todos saberemos identificar, estejam eles encarnados ou desencarnados.
Fonte: Espiritismo na Rede
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