Marcelo Medeiros
Muito comum, mesmo entre os
espíritas, que se faça confusão entre os termos morte e desencarne, porém os
termos possuem sentidos diferentes e a compreensão deles nos ajudará a
esclarecer um assunto muito importante: o
que acontece com o Espírito no momento da morte do corpo? Ela é dolorosa? É igual para todos? É a todas essas perguntas que tentaremos
esclarecer neste artigo.
Para ajudar a esclarecer esse
assunto tão fascinante é preciso, antes de tudo, conhecermos o significado dos
termos morte e desencarne para o Espiritismo.
A morte é o fim da vida do corpo
físico, ocorre quando o corpo, natural ou forçadamente, não tem mais condições
de se manter vivo.
O desencarne é o processo de
desligamento do Espírito, e seu corpo espiritual ou perispírito, do corpo físico.
Ao reencarnar o Espírito se une
ao corpo físico através de seu perispírito molécula a molécula, no desencarne
esse processo é invertido e o Espírito se desligará do corpo também molécula a
molécula. A esse respeito Kardec escreveu que:
O fluido perispiritual
só pouco a pouco se desprende de todos os órgãos, de sorte que a separação só é
completa e absoluta quando não mais reste um átomo do perispírito ligado a uma
molécula do corpo[2].
É importante ressaltar o fato de
que morte e desencarne acontecem, normalmente, em momentos distintos e é isso
que veremos agora com mais detalhes.
Kardec generaliza os diferentes
“tipos” de desencarne quanto ao momento em que se dão e consequentemente quanto
à facilidade ou dificuldade do processo. Os exemplos devem ser entendidos como
casos extremos e, portanto, existem muitas variações entre um tipo e outro.
Essa generalização foi feita em quatro grandes grupos que são:
Se no momento em que
se extingue a vida orgânica o desprendimento do perispírito fosse completo, a
alma nada sentiria absolutamente.
Se nesse momento a
coesão dos dois elementos (os dois corpos: espiritual e carnal) estiver no auge
de sua força, produz-se uma espécie de ruptura que reage dolorosamente sobre a
alma.
Se a coesão for
fraca, a separação torna-se fácil e opera-se sem abalo.
Se após a cessação
completa da vida orgânica existirem ainda numerosos pontos de contato entre o
corpo e o perispírito, a alma poderá ressentir-se dos efeitos da decomposição
do corpo, até que o laço inteiramente se desfaça[3].
Após esses oportunos
esclarecimentos sobre os diferentes processos de desencarne, Kardec finaliza
dizendo que:
Daí resulta que o
sofrimento, que acompanha a morte, está subordinado à força adesiva que une o
corpo ao perispírito; que tudo o que puder atenuar essa força, e acelerar a
rapidez do desprendimento, torna a passagem menos penosa; e, finalmente, que,
se o desprendimento se operar sem dificuldade, a alma deixará de experimentar
qualquer sentimento desagradável[4].
Mas então o que gera essa força
“adesiva” que torna o corpo espiritual mais ligado ao corpo carnal e, por
consequência, mais difícil e penoso o seu desligamento para o Espírito? Kardec
mais uma vez vem nos esclarecer quando responde que:
O
estado moral da alma é a causa principal que influi sobre a maior ou menor
facilidade do desligamento. A afinidade entre o corpo e o perispírito está em
razão do apego do Espírito à matéria; está em seu máximo no homem cujas
preocupações todas se concentram na vida e nos gozos materiais; ela é quase
nula naquele cuja alma depurada está identificada por antecipação com a vida
espiritual. Uma vez que a lentidão e a dificuldade da separação estão em razão
do grau de depuração e de desmaterialização da alma, depende de cada um tornar
essa passagem mais ou menos fácil ou penosa, agradável ou dolorosa[5].
Fica agora fácil entender que os
fenômenos da morte e do desligamento do Espírito em relação ao corpo
(desencarne) ocorrem, de modo geral, em momentos distintos podendo ser essa
diferença de tempo em horas, dias, meses e mesmo anos. O que também nos chama a
atenção é o fato de depender de cada um tornar esse momento mais fácil e
agradável ou mais penoso e doloroso. A vida plenamente material onde se busca
tudo que a matéria oferece como gozos e posses é aquela que dará mais
dificuldade ao Espírito na hora do desencarne. Aquele que vive conforme a moral
do Evangelho, dando importância relativa às coisas materiais, reconhecendo seu
valor, mas não vivendo em função disso e principalmente reconhecendo e
aceitando os Desígnios Divinos acima de qualquer revolta, esse sim terá uma
passagem tranquila e fácil quando chegar sua hora.
Existe um outro fenômeno que
possui relação direta com a moral do indivíduo e que começa a acontecer
imediatamente após a morte do corpo, é o fenômeno da perturbação espiritual.
Como nos esclarece Kardec a esse respeito:
[...] nesse momento a alma sente um
entorpecimento que paralisa, momentaneamente, as suas faculdades e neutraliza,
pelo menos em parte, as sensações; está, por assim dizer, cataleptizada, de
sorte que quase nunca testemunha consciente o último suspiro. [...] A
perturbação pode, pois, ser considerada como estado normal no instante da
morte; a sua duração é indeterminada; varia de algumas horas a alguns anos. À medida
que ela se dissipa, a alma está na situação do homem que sai de um sono
profundo; as ideias estão confusas, vagas e incertas; vê-se como através de um
nevoeiro; pouco a pouco a visão se ilumina, a memória retorna e ela se
reconhece. Mas esse despertar é bem diferente, segundo os indivíduos; nuns é
calmo e proporciona uma sensação deliciosa; noutros, é cheio de terror e
ansiedade, e produz o efeito de um horrível pesadelo[6].
Assim fica mais uma vez clara a importância de uma vida
reta, onde impere a moral do Evangelho de Jesus e onde cada um se esforce para
ser cada dia melhor que no dia anterior. Para fechar a questão trago mais uma
citação de Kardec onde ele fecha o assunto com muita clareza e objetividade:
O último alento
quase nunca é doloroso, uma vez que ordinariamente ocorre em momento de
inconsciência, mas a alma sofre antes dele a desagregação da matéria, nos
estertores da agonia, e, depois, as angústias da perturbação. Demo-nos pressa
em afirmar que esse estado não é geral, porquanto a intensidade e duração do
sofrimento estão na razão direta da afinidade existente entre corpo e
perispírito. Assim, quanto maior for essa afinidade, tanto mais penosos e
prolongados serão os esforços da alma para desprender-se. Há pessoas nas quais
a coesão é tão fraca que o desprendimento se opera por si mesmo, como que
naturalmente; é como se um fruto maduro se desprendesse do seu caule, e é o
caso das mortes calmas, de pacífico despertar[7].
Fonte: Espiritismo em Movimento
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