quarta-feira, 30 de setembro de 2020

APP PARA POSTERIDADE: NEUROPSICÓLOGO BRASILEIRO CRIA SERVIÇO DE OUTRO MUNDO PARA “CONVERSAR” COM OS MORTOS[1]

  


Legathum é uma startup brasileira que está chamando a atenção de investidores no Vale do Silício com uma proposta ousada, que é usar a inteligência artificial com o propósito de “recriar” uma pessoa na nuvem para que após a morte ela possa conversar com seus filhos, netos e aliviar a saudade dos familiares.

 

Brasil, setembro de 2020: A inteligência artificial consiste em um ramo da ciência e da informática que tem como objetivo a criação de máquinas inteligentes. Ela se propõe a desenvolver máquinas que tenham a habilidade de pensar e agir como seres humanos, não necessariamente com um “corpo físico”.

Não é uma startup de médiuns nem pretende trazer de volta os espíritos dos que já se foram, mas sim preservar as memórias deles em vida.  Em parceria com a universidade, um brasileiro vai usar a inteligência artificial para imortalizar memórias. 

A promessa de vida eterna não vem em carne e osso, mas nos chips de servidores espalhados pela nuvem. E para ter o backup, a startup reúne todos os dados da digital do cliente, como e-mails, chats, redes sociais e fotos para “recriar” uma pessoa virtualmente.

A ideia surgiu durante a pandemia do novo Coronavírus, quando os brasileiros perderam inesperadamente seus familiares, e o enterro passou a ser virtual. A falta desse último adeus inspirou o neurocientista a criar um aplicativo que aliviasse a dor da perda inesperada de milhares familiares.

Para atenuar o sofrimento da separação, a startup brasileira passou a usar a inteligência artificial com o propósito de eternizar o legado das pessoas, transferindo as memórias, lembranças, personalidade e comportamento para além da nuvem e fazer com que elas durem até pós a morte.

Agora, quem está bem vivo nesse projeto e colocando o Brasil em posição de destaque no setor de inovação e tecnologia é Deibson Silva[2], neuropsicólogo, formado pela Faculdade de Medicina da USP. Ele estuda o comportamento humano desde 2013 e já tem histórico de trabalhos com um software de análise comportamental utilizado por mais de 700 mil pessoas em quatro continentes. Recentemente ele resolveu usar a expertise para montar o Goowit, um aplicativo gratuito de emprego, capaz de fazer o macth ideal com 98% de assertividade entre o funcionário e a empresa.

E foi nesse período de pandemia que o neuropsicólogo teve esse insight “… vi o sofrimento das pessoas enterrando o ente querido e resolvi criar algo que ajudasse a guardar o perfil daqueles que tivessem que partir dessa vida”, comenta Deibson Silva ao informar que os efeitos da Covid-19 mostraram o quanto os seres humanos são vulneráveis. “Milhares se foram e levaram com eles lindas histórias e memórias, e que muito provavelmente essas memórias se perderão em até mais duas gerações”, destaca Deibson.

 

O projeto   

O Legathum, que terá o primeiro protótipo pronto provavelmente já em dezembro de 2020, será um aplicativo que funcionará através do método storytelling, ou seja, a própria pessoa contará a sua história para o sistema do aplicativo.

“Ela vai conversar com o nosso bot, que é o condutor, como um mentor pessoal, que vai guiar essa pessoa na jornada dentro do aplicativo para que a inteligência artificial possa mapear tudo sobre essa pessoa. Esse bot é uma aplicação de software concebido para simular as ações humanas por repetidas vezes de maneira padrão e se chamará Ethernum”, destaca. 

“O mais importante é poder eternizar as nossas vivências, fazer com que a nossa família, mesmo depois da nossa partida, tenha a possibilidade de acessar esses dados, de maneira privada o filme da nossa vida”, aponta. “As pessoas importantes, as que fizeram grandes coisas, elas têm biografia e, com isso, nós queremos democratizá-la. Porque todo mundo tem uma linda história para ser eternizada”, conclui Deibson.

Para a iniciativa, ele juntou-se com o especialista em Inteligência Artificial e chefe do departamento de ciência e tecnologia da Universidade de Berkeley, Alberto Todeschini, na Califórnia.

 

Serviço:

https://legathum.com/



[2] Pesquisador e neuropsicólogo pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). Palestrante internacional e escritor e autor de 2 best-sellers: o Decifre e influencie pessoas e Decifre seu talento. Ele faz parte do seleto grupo de autores brasileiros que tem livro na biblioteca de universidade Harvard. Fundador e CEO do Goowit, rede social profissional focada no desenvolvimento de competências e recolocação do usuário no mercado de trabalho. Foi também criador do CIS Assessment, software e metodologia que já impactou mais de 700 mil pessoas e tem seus resultados validados pelo departamento de Estatística da Universidade Federal do Ceará (UFC) com 98,8% de precisão. Atualmente, também desenvolve projetos com inteligência artificial e machine learning.

terça-feira, 29 de setembro de 2020

IDENTIDADE DOS ESPÍRITOS NAS COMUNICAÇÕES PARTICULARES[1]

 


Allan Kardec

 

Por que os Espíritos evocados por um sentimento de afeição muitas vezes se recusam a dar provas certas de sua identidade?

Compreende-se todo o valor ligado às provas de identidade da parte dos Espíritos que nos são caros; esse sentimento é muito natural e parece, desde que os Espíritos podem manifestar-se, que lhes deve ser muito fácil atestar a sua personalidade. A falta de provas materiais, sobretudo para certas pessoas que não conhecem o mecanismo da mediunidade, isto é, a lei das relações entre os Espíritos e os homens, é uma causa de dúvida e de cruel incerteza. Embora tenhamos tratado várias vezes desta questão, vamos examiná-la novamente, para responder a algumas perguntas que nos são dirigidas.

Nada temos a acrescentar ao que foi dito sobre a identidade dos Espíritos que vêm unicamente para a nossa instrução e que deixaram a Terra há algum tempo. Sabe-se que ela não pode ser atestada de maneira absoluta e que se deve limitar a julgar o valor da linguagem.

A identidade só pode ser constatada com certeza para os Espíritos partidos recentemente, cujo caráter e hábitos se refletem em suas palavras. Nestes a identidade se revela por mil particularidades de detalhe. Algumas vezes a prova ressalta de fatos materiais, característicos, mas na maioria das vezes, de nuanças da própria linguagem e de uma porção de pequenos nadas que, por serem pouco salientes, não são menos significativos.

Muitas vezes as comunicações deste gênero encerram mais provas do que se pensa e que se descobrem com mais atenção e menos prevenções. Infelizmente, na maior parte do tempo não se contentam com que o Espírito quer ou pode dar; querem provas à sua maneira; ou lhe pedem que diga ou faça tal coisa, lembre um nome ou um fato, num momento dado, sem pensar nos obstáculos que, por vezes, a isto se opõem, e paralisam a sua boa vontade.

Depois, obtido o que se deseja, muitas vezes querem mais; acham que não é ainda bastante concludente; depois de um fato, pedem outro e mais outro. Numa palavra, nunca são suficientes para convencer. É então que o Espírito, muitas vezes fatigado por essa insistência, cessa completamente de se manifestar, esperando que a convicção chegue por outros meios. Mas muitas vezes, também, sua abstenção lhe é imposta por uma vontade superior, como punição ao solicitante muito exigente, e também como prova para a sua fé, porquanto, se por algumas decepções e por não obter o que quer, viesse a abandonar os Espíritos, esses por sua vez o abandonariam, deixando-o mergulhado nas angústias e torturas da dúvida, felizes quando seu abandono não tem consequências mais graves.

Mas, numa imensidade de casos, as provas materiais de identidade são independentes da vontade do Espírito, e do desejo que este tem de dá-las. Isto se deve à natureza, ou ao estado do instrumento pelo qual se comunica. Há na faculdade mediúnica uma variedade infinita de nuanças, que tornam o médium apto ou impróprio à obtenção de tais ou quais efeitos que, à primeira vista, parecem idênticos e que, no entanto, dependem de influências fluídicas diferentes. O médium é como um instrumento de cordas múltiplas: não pode dar som pelas cordas que faltam. Eis um exemplo notável:

Conhecemos um médium que se pode classificar entre os de primeira ordem, tanto pela natureza das instruções que recebe, quanto por sua aptidão em se comunicar com quase todos os Espíritos, sem distinção. Diversas vezes, nas evocações particulares, obteve provas irrecusáveis de identidade, pela reprodução da linguagem e do caráter de pessoas que jamais tinha conhecido. Há algum tempo, fez para uma pessoa que acabava de perder subitamente vários filhos, a evocação de um destes últimos, uma menina. A comunicação refletia perfeitamente o caráter da criança e era tanto mais satisfatória quanto respondia a uma dúvida do pai sobre a sua posição como Espírito. No entanto, de certo modo as provas eram apenas morais; o pai achava que outro filho teria podido dizer o mesmo; queria alguma coisa que só a filha pudesse dizer; admirava-se, sobretudo, de que o chamasse pai, em vez do apelido familiar que lhe dava, e que não era um nome francês, conforme a ideia de que se ela dizia uma palavra, podia dizer outra. Tendo o pai perguntado a razão, eis a resposta que, a respeito, deu o guia do médium:

 

Conquanto inteiramente desprendida, vossa filhinha não está em condição de vos fazer compreender a razão pela qual não pode fazer o médium exprimir os termos que conheceis e que ela lhe sopra. Ela obedece a uma lei em se comunicando, mas não compreende bastante para explicar o seu mecanismo. A mediunidade é uma faculdade cujas nuanças variam infinitamente, e os médiuns que de ordinário tratam de assuntos filosóficos não obtêm senão raramente, e sempre espontaneamente, essas particularidades que fazem reconhecer a personalidade do Espírito de maneira evidente. Quando os médiuns desse gênero pedem uma prova de identidade, no desejo de satisfazer o evocador, as fibras cerebrais, tensas por seu próprio desejo, já não são bastante maleáveis para que o Espírito as faça mover-se à sua vontade. Daí se segue que as palavras características não podem ser reproduzidas. O pensamento fica, mas a forma não mais existe.

Nada há, pois, de surpreendente que vossa filha vos tenha chamado pai, em vez de vos dar a qualificação familiar que esperáveis. Por um médium especial obtereis resultados que vos satisfarão; basta ter um pouco de paciência.

 

Alguns dias depois, achando-se esse senhor no grupo de um dos nossos associados, obteve de outro médium, pela tiptologia, e em presença do primeiro, não só o nome que desejava, sem que tivesse pedido especialmente, mas outros fatos de notável precisão. Assim, a faculdade do primeiro médium, por mais desenvolvida e flexível que fosse, não se prestava a esse gênero de produção mediúnica. Podia reproduzir as palavras que são a tradução do pensamento transmitido, e não termos que exigem um trabalho especial; daí por que o conjunto da comunicação refletia o caráter e a forma das ideias do Espírito, mas sem sinais materiais característicos. Um médium não é um instrumento próprio a todos os efeitos; assim como não se encontram duas pessoas inteiramente semelhantes no físico e no moral, não há dois médiuns cuja faculdade seja absolutamente idêntica.

É de notar que as provas de identidade vêm quase sempre espontaneamente, no momento em que menos se pensa, ao passo que são dadas raramente quando pedidas. Capricho da parte do Espírito? Não; há uma causa material. Ei-la:

 

As disposições fluídicas que estabelecem as relações entre o Espírito e o médium oferecem nuances de extrema delicadeza, inapreciáveis aos nossos sentidos e que variam de um momento a outro no mesmo médium. Muitas vezes um efeito que não é possível num instante desejado, sê-lo-á uma hora, um dia, uma semana mais tarde, porque as disposições ou a energia das correntes fluídicas terão mudado. Acontece aqui como na fotografia, onde uma simples variação na intensidade ou na direção da luz é suficiente para favorecer ou impedir a reprodução da imagem. Um poeta fará versos à vontade? Não; precisa de inspiração. Se não estiver em disposição favorável, por mais que perscrute o cérebro, nada obterá. Perguntai-lhe por quê? Nas evocações, o Espírito deixado à vontade se prevalece das disposições que encontra no médium, aproveita o momento propício; mas quando essas disposições não existem, não pode mais que o fotógrafo, na ausência da luz. Portanto, nem sempre pode, mal grado seu desejo, satisfazer instantaneamente a um pedido de provas de identidade. Eis por que é preferível esperá-las a solicitá-las.

Além disso, é preciso considerar que as relações fluídicas que devem existir entre o Espírito e o médium jamais se estabelecem completamente desde a primeira vez; a assimilação não se faz senão com o tempo e gradualmente. Daí resulta que, inicialmente, o Espírito sempre experimenta uma dificuldade que influi na clareza, na precisão e no desenvolvimento das comunicações; mas, quando o Espírito e o médium estão habituados um ao outro; quando seus fluidos estão identificados, as comunicações se dão naturalmente, porque não há mais resistências a vencer.

Por aí se vê quantas considerações devem ser levadas em conta no exame das comunicações. É por falta de fazê-lo e de conhecer as leis que regem esses tipos de fenômenos que muitas vezes se pede o que é impossível. É absolutamente como se alguém, que não conhecesse as leis da eletricidade, se admirasse que o telégrafo pudesse experimentar variações e interrupções e concluísse que a eletricidade não existe.

O fato da constatação da identidade de certos Espíritos é um acessório no vasto conjunto dos resultados que o Espiritismo abarca; mesmo que tal constatação fosse impossível, nada prejulgaria contra as manifestações em geral, nem contra as consequências morais daí decorrentes. Seria preciso lamentar os que privassem das consolações que ela proporciona, por não ter obtido uma satisfação pessoal, pois isto seria sacrificar o todo à parte.



[1] Revista Espírita – Julho/1866 – Allan Kardec

segunda-feira, 28 de setembro de 2020

ÂNGELO LORENZETTI[1]

 


 

Nascido no dia 1º de janeiro de 1933, em Ribeirão Bonito - SP, é o terceiro filho do casal Giorgio Lorenzetti e Paulina Serafini Lorenzetti, imigrantes italianos chegados ao Brasil em 1926, que tiveram outros três filhos: Mário, Hugo e Valentim. A família morava na zona rural e no caminho até a escola ele levava uma cesta de verduras para vender e ajudar a família. Em Ribeirão Bonito estudou, aprendeu o ofício de marceneiro e a tocar trombone. A música levou Ângelo para Araraquara-SP em 1954. Tocou na orquestra Marabá e na orquestra do Clube 22 de Agosto.

Casou-se, em 1957, com Aretuza Silveira Lorenzetti, com quem teve quatro filhos: Jorge, José Ângelo, Jane e Jairo. Em 1961, fundou a Fábrica de Móveis LORENZETTI e chegou, posteriormente, a possuir três lojas em Araraquara e que encerrou suas atividades no ano de 2002. Conheceu o espiritismo aos 32 anos de idade, em 1965, a convite de seu irmão Valentim Lorenzetti, com a realização de um curso na Sociedade Obreiros do Bem, em Araraquara.

Iniciou sua trajetória na área social ainda na década de 60, como conselheiro do Hospital Psiquiátrico Cairbar Schutell, entidade onde anos mais tarde e por mais de uma vez, exerceu a presidência. Em 1971 entrou para a diretoria do Lar Nosso Ninho “Therezinha Maria Auxiliadora”, na função de tesoureiro até 1976.

Em 21 de março de 1976, fundou o Centro Espírita Redenção que hoje se desmembrou em muitos outros centros espíritas, independentes e com outros nomes, distribuídos na cidade de Araraquara, que atuam sob o lema da caridade e do amor ao próximo. Foi idealizador e participante na fundação do Grupo de Assistência ao Amigo, mantenedor do programa CVV em Araraquara no ano de 1981. Foi vice-presidente do Fundo das Instituições Sociais de Araraquara - FISA, por duas gestões: 1989 e 1990.

Em 29 de agosto de 1978 fundou o Lar Escola Redenção, uma entidade filantrópica, com o objetivo de auxiliar as famílias de baixa renda na educação e formação moral e espiritual de seus filhos do sexo masculino, na faixa etária de 7 a 16 anos, oferecendo a seus meninos um programa socioeducativo e noções básicas para uma integração sadia em nossa sociedade. Após 33 anos de existência, mais de 2,7 mil garotos foram atendidos pelo projeto.

“Seo” Ângelo, como era conhecido, desencarnou em Araraquara no dia 08 de setembro de 2008, após uma palestra no Centro Espírita Redenção. Durante a palestra chamou a atenção dos presentes ao trabalho em favor do Bem: "Quando Deus nos chamar, que não estejamos na horizontal do ócio, da inércia e sim na vertical, em favor do bem estar do próximo, exemplificando a fraternidade, a solidariedade e o amor ao próximo..." conclamando as pessoas a se voltarem mais para as reformas interiores e aos valores da alma. Terminou sua preleção, sentou-se junto com o público ali presente, e desencarnou. Desencarnou na vertical, em pleno trabalho, levando as palavras do Evangelho na Casa de Oração que fundou, amou, zelou e onde tanta gente ajudou.

sábado, 26 de setembro de 2020

QUANDO EU VOLTAR![1]

 


 

Eu tenho a firme convicção de que não vivemos uma única vez nesta Terra abençoada por Deus.

Tenho a convicção plena de que já vivi muitas experiências.

Como explicar, senão dessa forma, que meu coração bata descompassado ante certas paisagens do mundo? Paisagens que jamais visitei na presente existência, mas que as contemplo como velhas conhecidas.

Como explicar que ouvindo determinado idioma, que não o do meu país natal, me aguce o cérebro e eu sinta como se conhecesse todas aquelas palavras, que soubesse pronunciar todos aqueles vocábulos?

Paisagens, sons, pessoas. De repente, tudo vai se sucedendo em minha mente como múltiplas lembranças. Não muito nítidas, mas nem por isso menos autênticas.

Pareço recordar paisagens da Gália, com seus cultos, suas crenças, seus sacerdotes druidas.

Peregrino pelo vale do Loire, entre castelos, como se fossem dias vividos, sofridos, passados.

As pirâmides do Egito, as areias do deserto, reis, escravos, nações que se digladiam.

Ásia, Oceania, Europa. Por onde terei andado em tantas e multiplicadas vidas, entre muitas posses ou na quase miséria?

Com acesso às conquistas do intelecto ou iletrado, entre o povo ignorado?

Quantas vestes terei usado? De poder ou de submissão. Mantos de veludo, coroas, andrajos que mal cobriam o corpo.

Terei vivido recluso em mosteiros, montanhas? Ou livre, em cidades populosas?

A memória não permite acesso integral a tudo que fui, tudo que experienciei.

Mas, como afirmava o Apóstolo Paulo, Graças a Deus sou o que sou. Por isso, ouso erguer a fronte e sonhar.

Sonhar com meu retorno a esta terra bendita. Quem sabe quando se dará. Talvez décadas. Ou séculos.

Não importa. Penso e planejo o que desejo para quando eu voltar.

Com certeza, retornarei a esta Terra abençoada porque reconheço não ter pago até o último centil, conforme advertiu o sábio de Nazaré.

E, se nesta vida, aprendi a me extasiar com a beleza arquitetônica de prédios antigos, que sobreviveram ao tempo, quem sabe eu possa retornar como alguém que, qual novo Mecenas, possa restaurar tantos daqueles carcomidos pelo tempo.

Se agora plenifico a alma ouvindo a música que me enche os ouvidos, talvez eu possa retornar como alguém dedicado à arte musical. Serei, quem sabe, um virtuose do violino, do cello, do piano...

Ou então eu possa retornar com uma flauta mágica engastada na garganta e solte a voz em todos os tons, em caprichosas escalas.

Quiçá, como Bach, um dia, eu possa dizer que nasci para louvar a Deus, através das árias mais sublimes, executadas de forma magistral, arrebatando as almas em êxtase.

Ou retornarei como exímio pintor que reproduzirá em telas magníficas paisagens de uma outra dimensão, entrevistas em noites de sonho.

Penso e sonho. Em verdade, o mais importante é saber que voltarei.

Voltarei para esses campos do planeta azul e amarei a pátria onde renascer. Talvez até precise aprender um novo idioma.

Novo aprendizado.

No entanto, com certeza, nas noites brilhantes, olharei para os céus, contemplarei as estrelas, identificarei outros mundos, celestes moradas que me aguardam num futuro distante.

 

 

Fonte: Momento Espírita

sexta-feira, 25 de setembro de 2020

COMO O LUTO DAS PESSOAS PODE AFETAR OS ESPÍRITOS QUE DESENCARNARAM?[1]

 


Adriana Machado

 

Como ficamos quando os nossos entes amados se vão e como os afetamos mesmo que indiretamente?

A primeira parte da pergunta é muito fácil de ser respondida: nós ficamos muito tristes. Isso é um fato. Muitos são os sintomas que podem ser vivenciados profundamente por cada um de nós: a saudade bate, arrependimentos se fazem presentes, a culpa por atitudes impensadas martela o nosso coração…

Na maioria das vezes, sentimos um vazio em nossas vidas que, a cada dia, nos faz lembrar que alguém deixou de estar conosco. Então, nós sofremos: sofremos pouco, sofremos muito, sofremos bastante… depende de cada um de nós.

Mas, em nosso egocentrismo pensamos que somente nós sentimos saudade. Esquecemos que não existe morte e que, do outro lado da vida, aqueles que são alvo de nossa saudade também a sentem e com intensidade.

Esquecemos que, se eles estão vivos, também estarão sentindo a mesma ausência, a mesma saudade, a mesma dor por terem tido a necessidade de se ausentar de uma vida que, em muitos casos, nem queriam perder.

O interessante, todavia, é que as nossas emoções não se fixam somente em nós, estejamos nós no plano material ou espiritual. O amor nos liga ao ser amado aonde quer que ele se encontre.

Vamos pensar: se estamos o tempo todo em constante ligação energética com quem amamos, imaginem se estivermos (desencarnados) fixados em alguém (encarnado) que está portando sentimento de tristeza, de saudade, de arrependimento e de culpa que foram construídos pela nossa ausência (no desencarne)? Imaginem que pudéssemos sentir tudo isso com muita intensidade! Se não é fácil lidar somente com as nossas dores, imagine nos depararmos com a dor que “provocamos” em alguém que amamos. Pois é o que acontece! Quando estamos no plano extrafísico, as emanações energéticas exacerbadas de nossos entes encarnados chegam a nós com intensidade e são quase audíveis.

Por isso, se amamos a quem se foi, temos que tomar cuidado com os sentimentos que alimentamos. Porque sentir é uma coisa, alimentar esse sentimento é outro bem diferente.

Para todo espírito que desencarna e que se encontra em um equilíbrio razoável (segundo a sua própria evolução), existe uma proteção natural que o isolará dos sentimentos normais de saudade dos entes que ficaram, dando-lhe a oportunidade de uma adaptação à sua nova etapa de vida.

O problema é quando não acontece assim. O espírito pode chegar portando algum nível de desequilíbrio que somado ao fato dos seus entes amados estarem sofrendo devastadoramente, fazem com que ele não consiga lidar bem com o seu retorno às esferas espirituais.

Ele pode sentir que precisa ajudar aos seus e, por uma escolha muito equivocada, desejar estar com eles nas esferas carnais.

Imediatamente, ele se desloca para junto dos seus amados, fazendo com que todos entrem num processo prejudicial de influenciação.

Se não ficou claro, eu explico: todo espírito é livre para fazer o que quiser e, no plano espiritual, estará onde ele mais se identifica. Se ele deseja estar com os seus entes queridos, ele poderá se deslocar para junto deles. Mas, o problema é que ele não sabe o que fazer, porque ainda não se adaptou ao plano etéreo.

Então, em decorrência de uma postura de sofrimento exagerada adotada pelos próprios entes encarnados, inicia-se um processo obsessivo destes junto ao desencarnado, escravizando-o e alimentando uma ligação dolorosa de sofrimento mútuo.

Vê-se, portanto, que esse processo de influenciação pode partir dos encarnados. E isso em razão da ignorância daqueles que amam, mas que não conseguem amar livremente. Não conseguem libertar o alvo de seu amor, por acreditar que eles (encarnados) somente serão felizes ao lado daquele que se foi. Não conseguem entender que amar é libertar, é aceitar os desígnios de Deus, quando chega o momento em que os seres que se amam precisam se distanciar por algum tempo. Não acreditam que a ponte de amor que os une é forte para jamais se romper.

Por isso, precisamos ficar atentos aos nossos sentimentos desequilibrantes, seja para dar alento ao coração daquele amado que se distanciou, seja para que possamos aprender o melhor desse momento doloroso e trazermos paz ao nosso próprio coração.

Por incrível que pareça, a saudade é um sentimento importante em todos os seres, mas que quando em exagero, nos traz sofrimentos incalculáveis.

Se não sentíssemos saudade, não daríamos a devida importância àquela pessoa em nossa vida. Mas, para o nosso próprio bem, cabe a nós compreendermos que essa saudade deve caber em nosso coração. Se for maior do que ele, nos sufocará, bem como sufocará o ente amado que a sentirá com todas as dores construídas por nós e que a ela (saudade) forem somadas.

Portanto, acreditemos que somos capazes de viver a vida com a lembrança saudosa dos nossos entes queridos. Assim, estaremos construindo um futuro de felicidade para nós e para eles, dando-nos a condição de quando chegar a nossa vez de viajar para o outro lado, estejamos aptos para sermos recebidos com louvor por estes seres tão amados.

 

Fonte: Kardec Rio Preto

quinta-feira, 24 de setembro de 2020

ALMA A PENAR[1]

 


Miramez

 

O que se deve entender por alma penada?

‒ Uma alma errante e sofredora, incerta do seu futuro, à qual podeis proporcionar um alívio que frequentemente ela solicita ao vir comunicar-se convosco.

Questão 1015/O Livro dos Espíritos

 

Alma a penar, no dizer do Catolicismo, é o Espírito sofredor, que se encontra com a consciência em chamas. Na verdade, isso é processo de despertamento espiritual, como já dissemos muitas vezes. Antes parecia o sofrimento sem remissão, mas, com o advento da Doutrina dos Espíritos, a esperança chegou aos corações que tanto sofriam com certos adjetivos que traziam medo para os homens.

As comunicações sérias dos Espíritos elevados são portadoras de alegria e mesmo entusiasmo para o trabalho de recuperação. Não existe dor eterna, nem problemas sem solução. Deus é o Senhor, de onde verte o amor puro para toda a criação. Ele não chora, nem ri; não é violento, nem quieto, é força de equilíbrio que mantém a harmonia em todo o universo.

A alma pena por suas faltas, mas, como lição, de modo a repará-las, sentindo vontade de se conduzir para os caminhos da paz e da harmonia espiritual. A alma errante e sofredora se encontra em situação de desajustamento moral e, em consequência, ela se apega ao bem que lhe pode dar alívio e mesmo diretrizes para a sua própria cura.

As leis naturais nos indicam que devemos fazer mudanças, moralizar nossos costumes. Não pensem os encarnados que nós outros, dos planos imediatos à Crosta, não fazemos mudanças igualmente sem violência. Devemos sempre buscar subindo, como imposição da lei natural da vida maior.

Aos homens que já conhecem a Doutrina dos Espíritos e praticam seus ensinamentos, nós falamos que cuidem das reuniões com mais amor, principalmente no trato com os sofredores.

Eles são enfermos morais, que em muitos casos dependem dos encarnados para conselhos, e serão igualmente ajudados pelos benfeitores que eles não podem enxergar, devido à sua situação de desordem moral. Conversem com eles, transmitindo ânimo e força.

As chagas são muito grandes nos corpos espirituais. São feridas que deverão ser curadas e somente as mudanças de hábitos poderão predispô-las para a verdadeira cura. Por isso Jesus, em muitos casos, dizia ao doente que acabava de receber a cura pelas Suas mãos santas: "- Vai, e não peques mais".

O Evangelho é força de modificação das criaturas, e pede a elas para esquecerem o ódio, o rancor, a perseguição, a maledicência, o ciúme etc., e levarem a vida mais dentro da fraternidade e da caridade, obediente ao coração que ama, para que a luz possa crescer na intimidade e libertar os sentimentos da inferioridade.

Então, parando Jesus, chamou-os e lhes perguntou:

 

Que quereis que eu vos faça? (Mateus 20:32)

 

Para os que desejam aprender e mudar para melhor, Jesus sempre aparece de muitos modos, com a mesma interrogação. Os irmãos que sofrem deveriam dizer: "Que eu veja". Sendo sincero o pedido, logo veriam a luz e o Mestre passaria a viver dentro dos seus corações, com outras advertências, com preceitos de paz e de trabalho, mudando os caminhos e ajudando aos que sofrem a entrar nas bem-aventuranças pelos próprios esforços.

Quem deseja subir, deve fazer força; quem carrega a sua cruz com coragem fica mais alto, e a esperança o cobre de amor e de graça na luz da fé.

As almas penadas na região da Terra deverão desaparecer por breves tempos, pelo esclarecimento e pela invasão da luz em todos os corações. Vamos orar e trabalhar para que esse dia não demore.



[1] Filosofia Espírita – Volume 20 – João Nunes Maia

terça-feira, 22 de setembro de 2020

O TRABALHO[1]

 


(Extraído do jornal espírita italiano La Voce di Dio – Traduzido do italiano)

Allan Kardec

 

A medida do trabalho imposto a cada Espírito, encarnado ou desencarnado, é a certeza de ter realizado escrupulosamente a missão que lhe foi confiada. Ora, cada um tem uma missão a cumprir: este, numa grande escala, aquele em escala menor. Entretanto, relativamente, as obrigações são todas iguais e Deus vos pedirá conta do óbolo posto em vossas mãos. Se ganhastes uma vantagem, se dobrastes a soma, certamente cumpristes o vosso dever, porque obedecestes à ordem suprema.

Se, em vez de ter aumentado este óbolo o tivésseis perdido, é certo que teríeis abusado da confiança que o vosso Criador tinha depositado em vós; por isso, sereis tratado como um ladrão, porque tomastes e não restituístes; longe de aumentar, dissipastes. Ora, se, como acabo de dizer, cada criatura é obrigada a receber e dar, quanto mais, espíritas, tendes de obedecer a essa lei divina, tanto mais esforço deveis fazer para cumprir este dever perante o Senhor, que vos escolheu para partilhar seus trabalhos e vos convidou à sua mesa. Pensai, meus irmãos, que o dom que vos é dado é um dos soberanos bens de Deus. Não vos envaideçais por isto, mas envidai todos os esforços para merecer este alto favor. Se os títulos que poderíeis receber de um grande da Terra, se os seus favores são algo de belo aos vossos olhos, tanto mais vos deveríeis sentir felizes com os dons do senhor dos mundos; dons incorruptíveis e imperecíveis, que vos elevam acima de vossos irmãos e para vós serão a fonte de alegrias puras e santas!

Mas quereis ser os seus únicos possuidores? Como egoístas, quereríeis guardar só para vós tanta felicidade e alegria?

Oh! Não; fostes escolhidos como depositários. As riquezas que brilham aos vossos olhos não são vossas, mas pertencem a todos os vossos irmãos em geral. Deveis, pois, aumentá-las e distribuí-las.

Como o bom jardineiro que conserva e multiplica suas flores, e vos apresenta no rigor do inverno as delícias da primavera; como no triste mês de novembro nascem rosas e lírios, assim estais encarregados de semear e cultivar em vosso campo moral, flores de todas as estações, flores que desafiarão o sopro do aquilão e o vento sufocante do deserto; flores que, uma vez desabrochadas em seus pedicelos, não passarão nem jamais murcharão; mas, brilhantes e vivazes, serão o emblema da verdura e das cores eternas. O coração humano é um solo fértil em afeição e em doces sentimentos, um campo cheio de sublimes aspirações, quando cultivado pelas mãos da caridade e da religião.

Oh! Não reserveis apenas para vós esses pedúnculos sobre os quais crescem sempre tão doces frutos! Oferecei-os aos vossos irmãos, convidai-os a vir saborear, sentir o perfume de vossas flores, a aprender a cultivar os vossos campos. Nós vos assistiremos, encontraremos regatos frescos que, correndo suavemente, darão força às plantas exóticas, que são os germes da terra celeste. Vinde! Trabalharemos convosco, partilharemos vossa fadiga, a fim de que também possais acumular esses bens e deles fazer participar outros irmãos, em caso de necessidade. Deus nos dá e nós, reconhecidos por seus dons, os multiplicamos o mais possível. Deus nos incumbe da nossa própria melhoria e da dos outros; cumpriremos nossas obrigações e santificaremos sua vontade sublime.

Espíritas, é a vós que me dirijo. Preparamos o vosso campo; agora agi de maneira que todos que necessitarem possam fruir largamente. Lembrai-vos de que todos os ódios, todos os rancores, todas as inimizades devem desaparecer diante de vossos deveres: instruir os ignorantes, assistir os fracos, ter compaixão dos aflitos, defender os inocentes, lastimar os que estão no erro e perdoar aos inimigos. Todas essas virtudes devem crescer em abundância no vosso campo, e deveis implantá-las nos dos vossos irmãos. Recolhereis uma ampla colheita e sereis abençoados por vosso Pai, que está nos céus!

Meus caros filhos, quis dizer-vos todas essas coisas, a fim de vos encorajar a suportar com paciência todos aqueles que, inimigos da nova doutrina, buscam vos denegrir e vos afligir. Deus está convosco, não o duvideis. A palavra de nosso Pai celeste desceu ao vosso globo, como no dia da Criação. Ele vos envia uma nova luz, luz cheia de esplendor e de verdade.

Aproximai-vos, ligai-vos estreitamente a ele e segui corajosamente o caminho que se abre à vossa frente.

Santo Agostinho



[1] Revista Espírita – Junho/1866 – Allan Kardec

segunda-feira, 21 de setembro de 2020

ANGEL AGUAROD[1]

 

 

Angel Aguarod veio à vida terrena em um humilde lar, na vila Ayerbe, província de Huesca, ao norte da Espanha, em 2 de Outubro de 1860, sendo seus pais Dom Juan Aguarod e Dona Juana Torrero. Nascido em um lar católico, sua primeira educação, naturalmente, foi católica, estando ela a cargo de seu tio materno Dom Pablo Torrero, que era cura e pároco da povoação de Novales, da mesma província de Huesca.

Contava 11 anos, quando saiu da Província natal para radicar-se na populosa e ativa Barcelona. Foi nesta cidade que se deu a evolução de seu espírito ávido de progresso. Na buliçosa capital catalã emancipou-se da tutela católica. As ideias de liberdade, igualmente e fraternidade invadiram sua alma, dela tomando conta.

De origem humilde, teve que dar seus primeiros passos, na vida material, no seio da classe operária. Como operário, filiou-se à entidade de sua classe e, aos 17 anos, já ocupava o cargo de secretário geral e delegado da mesma perante o “Centro Federativo de las Sociedades Obreras”, de Barcelona.

Por essa época, 1877, iniciou-se na Capital da Catalunha, por Dom Antônio Tudury y Pons, um movimento em favor do ensino leigo, ao qual aderiu com todo o entusiasmo, fundando, ele mesmo, um colégio que dirigiu e sustentou até o ano de 1905, após o que, veio radicar-se na Argentina.

Para atender e dirigir esse colégio, que recebeu o nome de Sócrates, fez o curso da Escola Normal de Barcelona, frequentando as aulas noturnas, posto que, durante o dia, precisava ganhar seu sustendo e da sua família.

Foi em 1880 que seu espírito inquieto se interessou pela Doutrina Espírita, dedicando-se plenamente a seu estudo. Seus primeiros passos no terreno do Espiritismo foram dados em “La Cosmopolita”, sociedade formada por elementos genuinamente racionalistas e de tendências liberais e universalistas.

Passou logo para o “Centro Barcelonés de Estudios Psicológicos”, do qual foi um dos fundadores, assim como foi da “Unión Espiritista Kardeciana” e dos Centros “Socrates” e “Amor y Ciência”, dos quais ocupou a presidência, em vários períodos, tendo atuação destacada.

Pode-se afirmar que até 1905, época em que se mudou para a Argentina, não houve ato jubiloso de propaganda espírita em Espanha no qual não tomasse parte e, em muitos deles, juntamente com Amália Domingo Soler, Belen Serraga de Ferrero, Visconde Antônio Torres Solanot, Doutor Manuel Sanz Benito, Miguel Vives, Quintin López Gomez, Fabian Palasi e muitos outros pioneiros do movimento espírita espanhol.

Passou a residir na República Argentina, em 1905, e logo começou a trabalhar na “Constancia” e em “La Fraternidad”. Pouco tempo depois fundou o “Centro Amor y Ciencia” e a “Liga Espiritista Kardeciana de Propaganda”, instituições que presidiu, bem como dirigiu a Escola Dominical que funcionava no Centro Amor y Ciencia. Ainda dirigiu a primitiva revista “El Espiritismo”, que fundou como órgão oficial da Liga. Foi um dos mais destacados conferencistas do quadro organizado pela “Constancia”, revezando-se na tribuna com Cosme Mariño, Doutor Ovídio Rebaudi, Fransisco Durand e alguns outros luminares da oratória. Percorreu várias vezes o interior da Argentina, fazendo conferências e auxiliando a fundação de centros e sociedades espíritas. Voltou à Espanha e, pouco tempo depois, rumou para o Uruguai, onde permaneceu alguns meses, para, em seguida residir no Paraguai, país no qual se entregou a um trabalho ativo de propaganda. Mas onde seu espírito sofreu rude golpe com a desencarnação trágica de seu neto mais querido, morto num acidente de tráfego.

Por breve tempo tornou à sua pátria natal e, em 1915, voltou à América do Sul, resolvendo residir em Porto Alegre. De chegada ali, incorporou-se à vida ativa espírita brasileira, atuando em várias sociedades e entrando a colaborar na revista “Eternidade”, órgão das Sociedades “Dias da Cruz” e “Allan Kardec”, revista que ele, mais tarde, passou a dirigir até sua última publicação. Na revista referida iniciou uma intensa campanha em prol da união dos espíritas riograndenses, campanha que foi coroada de êxito com a fundação, em 17 de Fevereiro de 1921, na Federação Espírita do Rio Grande do Sul, cujos destinos presidiu até 1927, realizando, durante sua presidência e depois desta, numerosas excursões de propaganda, que deram como resultado a fundação de novas sociedades e centros de estudo pelo interior do Estado.

Fundador, em 1921, em Porto Alegre, do Grupo “Paz” e, em 1922, da Sociedade “Paz e Amor”, foi eleito seu presidente, cargo que desempenhava ainda por ocasião de seu desencarne. Aguarod não só desenvolveu suas atividades associativas no campo do Espiritismo, ao qual dedicou sempre seus melhores entusiasmos.

Seu trabalho de publicista espírita foi enorme. Fundou e dirigiu periódicos e revistas tais como “El Espiritismo”, desde 1905 a 1912, em Buenos Aires; “Nueva Era”, em Barcelona; ainda dirigiu “La Unión Espiritista”, também em Barcelona; “Fraternidad”, de Alcoy (Alicante); “La Antorcha del Progresso”, de Badalona; “Eternidade” e “Boletim da Federação Espirita do Rio Grande do Sul”, colaborando em muitas outras, como sejam: “Luz y Unión”, “La Luz del Porvenir”, de Barcelona; “Constancia” e “La Fraternidad” , de Buenos Aires; “Reformador”, do Rio de Janeiro; “El Espiritismo” e “Luz y Vida”, também de Buenos Aires; “Rosendo”, de Cuba, além de uma infinidade de artigos que eram solicitados por outros periódicos da Europa e da América, os quais ele enviava de bom grado sem nunca receber, por tanto labor, retribuição alguma, apesar de, em toda a sua vida, ganhar seu modesto pão quotidiano com seu trabalho em honestas ocupações e empregos, algumas vezes como operário, outras como educador!

Diante de tão grande atividade, quem poderia pensar que ainda lhe sobraria tempo para outros trabalhos, além de suas múltiplas ocupações diárias?!... Pois ainda conseguia tempo para escrever algumas obras de propaganda e divulgação espírita, tais como “Los Mensajes de Abuelo Pablo”, “Orientado hacia las Cambres”, “Del Maestro al Discípulo”, “Confidencias Espirituales”, “Grandes y Pequeños Problemas a la Luz de la Nueva Revelación” (em castelhano), publicada em tradução portuguesa (1932) pela FEB, “Vozes de Além-Túmulo” (em português), “La Verdad a los Ninõs”, obras às quais atribuía origem espiritual, pois Aguarod acreditava possuir a mediunidade intuitiva, meio pelo qual supunha lhe foram ditadas. Deixou, inédita, a importante obra – “O Sermão da Montanha”.

Aos 13 dias do mês de Novembro de 1932, desencarnou, em Porto Alegre, contando a idade de 72 anos, o incansável batalhador da Causa Espírita.

sábado, 19 de setembro de 2020

O MOMENTO DA MORTE E O DESENCARNE[1]

 


Marcelo Medeiros

 

Muito comum, mesmo entre os espíritas, que se faça confusão entre os termos morte e desencarne, porém os termos possuem sentidos diferentes e a compreensão deles nos ajudará a esclarecer um assunto muito importante: o que acontece com o Espírito no momento da morte do corpo? Ela é dolorosa? É igual para todos? É a todas essas perguntas que tentaremos esclarecer neste artigo.

Para ajudar a esclarecer esse assunto tão fascinante é preciso, antes de tudo, conhecermos o significado dos termos morte e desencarne para o Espiritismo.

A morte é o fim da vida do corpo físico, ocorre quando o corpo, natural ou forçadamente, não tem mais condições de se manter vivo.

O desencarne é o processo de desligamento do Espírito, e seu corpo espiritual ou perispírito, do corpo físico.

Ao reencarnar o Espírito se une ao corpo físico através de seu perispírito molécula a molécula, no desencarne esse processo é invertido e o Espírito se desligará do corpo também molécula a molécula. A esse respeito Kardec escreveu que:

 

O fluido perispiritual só pouco a pouco se desprende de todos os órgãos, de sorte que a separação só é completa e absoluta quando não mais reste um átomo do perispírito ligado a uma molécula do corpo[2].

 

É importante ressaltar o fato de que morte e desencarne acontecem, normalmente, em momentos distintos e é isso que veremos agora com mais detalhes.

Kardec generaliza os diferentes “tipos” de desencarne quanto ao momento em que se dão e consequentemente quanto à facilidade ou dificuldade do processo. Os exemplos devem ser entendidos como casos extremos e, portanto, existem muitas variações entre um tipo e outro. Essa generalização foi feita em quatro grandes grupos que são:

 

Se no momento em que se extingue a vida orgânica o desprendimento do perispírito fosse completo, a alma nada sentiria absolutamente.

Se nesse momento a coesão dos dois elementos (os dois corpos: espiritual e carnal) estiver no auge de sua força, produz-se uma espécie de ruptura que reage dolorosamente sobre a alma.

Se a coesão for fraca, a separação torna-se fácil e opera-se sem abalo.

Se após a cessação completa da vida orgânica existirem ainda numerosos pontos de contato entre o corpo e o perispírito, a alma poderá ressentir-se dos efeitos da decomposição do corpo, até que o laço inteiramente se desfaça[3].

 

Após esses oportunos esclarecimentos sobre os diferentes processos de desencarne, Kardec finaliza dizendo que:

 

Daí resulta que o sofrimento, que acompanha a morte, está subordinado à força adesiva que une o corpo ao perispírito; que tudo o que puder atenuar essa força, e acelerar a rapidez do desprendimento, torna a passagem menos penosa; e, finalmente, que, se o desprendimento se operar sem dificuldade, a alma deixará de experimentar qualquer sentimento desagradável[4].

 

Mas então o que gera essa força “adesiva” que torna o corpo espiritual mais ligado ao corpo carnal e, por consequência, mais difícil e penoso o seu desligamento para o Espírito? Kardec mais uma vez vem nos esclarecer quando responde que:

 

O estado moral da alma é a causa principal que influi sobre a maior ou menor facilidade do desligamento. A afinidade entre o corpo e o perispírito está em razão do apego do Espírito à matéria; está em seu máximo no homem cujas preocupações todas se concentram na vida e nos gozos materiais; ela é quase nula naquele cuja alma depurada está identificada por antecipação com a vida espiritual. Uma vez que a lentidão e a dificuldade da separação estão em razão do grau de depuração e de desmaterialização da alma, depende de cada um tornar essa passagem mais ou menos fácil ou penosa, agradável ou dolorosa[5].

 

Fica agora fácil entender que os fenômenos da morte e do desligamento do Espírito em relação ao corpo (desencarne) ocorrem, de modo geral, em momentos distintos podendo ser essa diferença de tempo em horas, dias, meses e mesmo anos. O que também nos chama a atenção é o fato de depender de cada um tornar esse momento mais fácil e agradável ou mais penoso e doloroso. A vida plenamente material onde se busca tudo que a matéria oferece como gozos e posses é aquela que dará mais dificuldade ao Espírito na hora do desencarne. Aquele que vive conforme a moral do Evangelho, dando importância relativa às coisas materiais, reconhecendo seu valor, mas não vivendo em função disso e principalmente reconhecendo e aceitando os Desígnios Divinos acima de qualquer revolta, esse sim terá uma passagem tranquila e fácil quando chegar sua hora.

Existe um outro fenômeno que possui relação direta com a moral do indivíduo e que começa a acontecer imediatamente após a morte do corpo, é o fenômeno da perturbação espiritual. Como nos esclarece Kardec a esse respeito:

 

 [...] nesse momento a alma sente um entorpecimento que paralisa, momentaneamente, as suas faculdades e neutraliza, pelo menos em parte, as sensações; está, por assim dizer, cataleptizada, de sorte que quase nunca testemunha consciente o último suspiro. [...] A perturbação pode, pois, ser considerada como estado normal no instante da morte; a sua duração é indeterminada; varia de algumas horas a alguns anos. À medida que ela se dissipa, a alma está na situação do homem que sai de um sono profundo; as ideias estão confusas, vagas e incertas; vê-se como através de um nevoeiro; pouco a pouco a visão se ilumina, a memória retorna e ela se reconhece. Mas esse despertar é bem diferente, segundo os indivíduos; nuns é calmo e proporciona uma sensação deliciosa; noutros, é cheio de terror e ansiedade, e produz o efeito de um horrível pesadelo[6].

 

Assim fica mais uma vez clara a importância de uma vida reta, onde impere a moral do Evangelho de Jesus e onde cada um se esforce para ser cada dia melhor que no dia anterior. Para fechar a questão trago mais uma citação de Kardec onde ele fecha o assunto com muita clareza e objetividade:

 

O último alento quase nunca é doloroso, uma vez que ordinariamente ocorre em momento de inconsciência, mas a alma sofre antes dele a desagregação da matéria, nos estertores da agonia, e, depois, as angústias da perturbação. Demo-nos pressa em afirmar que esse estado não é geral, porquanto a intensidade e duração do sofrimento estão na razão direta da afinidade existente entre corpo e perispírito. Assim, quanto maior for essa afinidade, tanto mais penosos e prolongados serão os esforços da alma para desprender-se. Há pessoas nas quais a coesão é tão fraca que o desprendimento se opera por si mesmo, como que naturalmente; é como se um fruto maduro se desprendesse do seu caule, e é o caso das mortes calmas, de pacífico despertar[7].

 

Fonte: Espiritismo em Movimento



[2] Kardec, Allan. O Céu e o Inferno. 2ª parte, cap. 1, item 4.

[3] Idem. Ibidem, item 5.

[4] Idem. Ibidem.

[5] Idem. Ibidem, item 8.

[6] Idem. Ibidem, item 6.

[7] Idem. Ibidem, item 7.

sexta-feira, 18 de setembro de 2020

A DOUTRINA É DOS ESPÍRITOS[1]

 


Orson Peter Carrara

 

Foram eles que provocaram os fenômenos, que buscaram os médiuns, que responderam às instigantes questões propostas pelo Codificador. Também, em diferentes casos, submeteram-se às pesquisas de nobres cientistas que investigaram os ditos e variados fenômenos, que inspiraram textos e ditaram páginas e livros que orientam, elucidam, ensinam.

A Doutrina Espírita é, pois, dos Espíritos. A iniciativa foi deles, embora com a participação de médiuns – desde o seu advento até os dias de hoje – e do notável e incomparável trabalho daquele que organizou sistematicamente os ensinos para publicar as obras básicas, que se desdobraram nas complementares; na Revista Espírita, fez surgir os adeptos, que se organizaram em grupos variados, e que trabalham pelo ideal daí surgido, inspirando outros autores – encarnados e desencarnados –, ao longo do tempo, que haurem nessa fonte inesgotável os conhecimentos que dela jorra sem cessar, a partir de O Livro dos Espíritos.

A reflexão surge em virtude de uma velha questão, bem própria de nossa condição humana, ameaçadora da plena vivência espírita: a questão dos extremos entre o carinho que se possa ter por destacados expoentes doutrinários do Espiritismo e os perigos ou ilusões do endeusamento de pessoas, médiuns, dirigentes, escritores ou palestrantes.

A qualificação de expoentes doutrinários destina-se a nominar autênticos trabalhadores da causa que se destacaram em suas cidades, estados ou países, ou mesmo na intimidade de instituições – não importando o tamanho –, com suas posturas de humildade e serviço, desprovidos de intenções contraditórias e de cuja coerência desdobram-se inúmeras bênçãos em favor de muitos.

É o caso de nomes respeitáveis, que não se valem do Espiritismo para nada, exceto para promover sua plena vivência e divulgação. São muitos os exemplos, apesar de serem humanos e limitados em muitos aspectos, como ocorre com nossa condição de cidadãos comuns.

Tais comportamentos e legado de exemplos gera carinho e gratidão, que não deve nunca se confundir com endeusamento. Esse, o endeusamento, é postura equivocada, por variadas razões, bem óbvias, por sinal, e por isso, desnecessário enumerá-las.

A vigilância deve ser nossa. O respeito e o carinho nos permitem observar e aprender com quem nos dá exemplos de perseverança, trabalho, de prudência e dedicação, onde se somam as virtudes também da humildade e da exata noção do servir.

Esses exemplos de conduta e trabalho se tornam referências em quem podemos confiar. Traduzem estímulos de trabalho e coerência. Isso não significa endeusamento (e temos que lutar contra os excessos de quaisquer gêneros), mas sim as exceções que inspiram confiança e, se estabelecermos o critério de que não devemos endeusar nem seguir pessoas, referido critério generaliza-se como regra a pretexto de estarmos endeusando. E aí casas e pessoas ficam condução segura. Não se trata, pois, de endeusamento, mas gratidão e carinho, cujos limites devemos discernir, sem generalizar com leviandade.

Caso contrário, viveremos ou alimentaremos o Espiritismo sem os Espíritos.

As instituições espíritas necessitam e devem cultivar com todo empenho a fraternidade espontânea em seus ambientes. Senão teremos casas deprimidas, sem vida, onde o contato pessoal é a pedra de toque para vivermos o Espiritismo em sua grandeza e essência, na vivência plena da fraternidade, do carinho e da gratidão.

Daí a importância das lideranças autênticas, daquelas em quem podemos confiar e sempre resultante do trabalho e do empenho no bem. Daquelas que não geram fanatismo, nem tampouco estimulam endeusamentos, mas que respeitam a própria equipe com o exemplo pessoal de dedicação ao ideal que esposam.

Nós, por nossa vez, devemos cuidar para buscar sempre o equilíbrio nesse campo sutil entre o carinho e a gratidão, ou o reconhecimento pelo trabalho – integrando-se inclusive ao trabalho – sem buscar autopromoção ou elegendo o fanatismo como regra de conduta. Esse é sempre prejudicial, bem ao oposto da gratidão, que reconhece o trabalho como caminho de equilíbrio.

Sendo a Doutrina dos Espíritos, sigamos sim os bons Espíritos, ou em outras palavras, os bons exemplos, que todos saberemos identificar, estejam eles encarnados ou desencarnados.

 

Fonte: Espiritismo na Rede