Eu tenho a firme convicção de
que não vivemos uma única vez nesta Terra abençoada por Deus.
Tenho a convicção plena de que
já vivi muitas experiências.
Como explicar, senão dessa
forma, que meu coração bata descompassado ante certas paisagens do mundo?
Paisagens que jamais visitei na presente existência, mas que as contemplo como
velhas conhecidas.
Como explicar que ouvindo
determinado idioma, que não o do meu país natal, me aguce o cérebro e eu sinta
como se conhecesse todas aquelas palavras, que soubesse pronunciar todos
aqueles vocábulos?
Paisagens, sons, pessoas. De
repente, tudo vai se sucedendo em minha mente como múltiplas lembranças. Não
muito nítidas, mas nem por isso menos autênticas.
Pareço recordar paisagens da
Gália, com seus cultos, suas crenças, seus sacerdotes druidas.
Peregrino pelo vale do Loire,
entre castelos, como se fossem dias vividos, sofridos, passados.
As pirâmides do Egito, as areias
do deserto, reis, escravos, nações que se digladiam.
Ásia, Oceania, Europa. Por onde
terei andado em tantas e multiplicadas vidas, entre muitas posses ou na quase
miséria?
Com acesso às conquistas do
intelecto ou iletrado, entre o povo ignorado?
Quantas vestes terei usado? De
poder ou de submissão. Mantos de veludo, coroas, andrajos que mal cobriam o
corpo.
Terei vivido recluso em
mosteiros, montanhas? Ou livre, em cidades populosas?
A memória não permite acesso
integral a tudo que fui, tudo que experienciei.
Mas, como afirmava o Apóstolo
Paulo, Graças a Deus sou o que sou. Por isso, ouso erguer a fronte e sonhar.
Sonhar com meu retorno a esta
terra bendita. Quem sabe quando se dará. Talvez décadas. Ou séculos.
Não importa. Penso e planejo o
que desejo para quando eu voltar.
Com certeza, retornarei a esta
Terra abençoada porque reconheço não ter pago até o último centil, conforme
advertiu o sábio de Nazaré.
E, se nesta vida, aprendi a me
extasiar com a beleza arquitetônica de prédios antigos, que sobreviveram ao
tempo, quem sabe eu possa retornar como alguém que, qual novo Mecenas, possa
restaurar tantos daqueles carcomidos pelo tempo.
Se agora plenifico a alma
ouvindo a música que me enche os ouvidos, talvez eu possa retornar como alguém
dedicado à arte musical. Serei, quem sabe, um virtuose do violino, do cello, do
piano...
Ou então eu possa retornar com
uma flauta mágica engastada na garganta e solte a voz em todos os tons, em
caprichosas escalas.
Quiçá, como Bach, um dia, eu
possa dizer que nasci para louvar a Deus, através das árias mais sublimes,
executadas de forma magistral, arrebatando as almas em êxtase.
Ou retornarei como exímio pintor
que reproduzirá em telas magníficas paisagens de uma outra dimensão,
entrevistas em noites de sonho.
Penso e sonho. Em verdade, o
mais importante é saber que voltarei.
Voltarei para esses campos do
planeta azul e amarei a pátria onde renascer. Talvez até precise aprender um
novo idioma.
Novo aprendizado.
No entanto, com certeza, nas
noites brilhantes, olharei para os céus, contemplarei as estrelas,
identificarei outros mundos, celestes moradas que me aguardam num futuro
distante.
Fonte: Momento Espírita
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