sábado, 16 de novembro de 2019

MEDIUNIDADE E ALIENÇÃO MENTAL[1]



Arlene Paes Dias

“A mediunidade, conforme sabemos, exige exercício disciplinado, sintonia com as esferas superiores, meditação constante, isto é, vida íntima ativa e bem direcionada, ao lado do conhecimento do seu mecanismo e estrutura, de modo a tornar-se facilidade superior da e para a vida[2]”.
A mediunidade é a faculdade que nos permite entrar em contato com o mundo espiritual. Aprendemos, para exercê-la, as lições que nos são dadas pelos bons Espíritos e, assim, podemos consolar encarnados e desencarnados que procuram nossa orientação e carinho. Quando praticada com disciplina e baseada nos ensinamentos de Jesus, é consolo e lenitivo para todos nós.
Muitas pessoas, por falta de conhecimento, não acreditam na possibilidade dessa comunicação. Não têm fundamento os argumentos que usam para justificar seus pontos de vista, porque suas opiniões se baseiam em comentários que ouviram de pessoas que também não são estudiosas do assunto. No capítulo 43, ‘Alienação Mental’, do livro “Seara dos Médiuns”, Emmanuel, estimado benfeitor espiritual, dirige-se a essas pessoas que acreditam haver ligação entre mediunidade e alienação mental. Afirma que “especialistas que apenas examinassem os problemas do homem natural através do homem doente[3]” não estariam fazendo uma análise verdadeira.
Quem pratica a mediunidade é o médium. De acordo com Kardec, no capítulo 14, de O Livro dos Médiuns, todo aquele que sente, em qualquer grau, a influência dos Espíritos, é médium. Mas somente aqueles que conseguem desenvolvê-la, torná-la positiva e atuante, serão considerados médiuns.
Há médiuns desequilibrados? Sim, assim como há pessoas desequilibradas em qualquer lugar da nossa sociedade, independentemente da formação, da posição social, religião que seguem ou praticam. Não podemos julgar toda uma comunidade porque um membro que dela participa apresentou problemas de equilíbrio, de saúde, de comportamento. Kardec afirma que cada um expressa a mediunidade em um grau diferente de outros companheiros. E Emmanuel corrobora dizendo que cada pessoa vai expressar sua mediunidade de acordo com seu grau de evolução.
Como a pessoa se porta no convívio social? Como se expressa através dos seus órgãos dos sentidos? Olhos, ouvidos, boca (fala). O que nossos olhos veem? A bondade praticada silenciosamente por um grupo grande de homens e mulheres ou a maldade estrondosa e barulhenta, praticada por outro grupo, muitas vezes bem menor que o primeiro, mas que ocupa manchetes de televisão, rádio, jornal, redes sociais?
O mesmo se dá com o que ouvimos. Ou falamos. Temos certeza de que nossos comentários são verdadeiros? Que vão ajudar nosso próximo? Ou desmerecem alguém? Quanto tempo, ou melhor, quantas encarnações, ainda, precisaremos para entender que nossos pensamentos, que precedem nossos atos, geram consequências?
No livro “Dissertações Mediúnicas”, Emmanuel aborda aspectos interessantes que muitas vezes não são percebidos pelos médiuns. No capítulo 1, ele afirma que “esse posto é posto da renúncia, da abnegação e dos sacrifícios espontâneos”, ou seja, é importante saber que quem nasceu para executar a tarefa de trabalhar na mediunidade, a favor de sua evolução, mas, principalmente, atuando no socorro ao próximo, encarnado ou desencarnado, precisa conseguir filtrar tudo o que pode afetar seu equilíbrio espiritual. O apóstolo Paulo de Tarso já dizia: “sei que tudo posso, mas nem tudo me convém”. Agir com responsabilidade e encaixar a tarefa mediúnica nas suas atividades semanais, sem deixar de cumpri-la.
Por essa razão, Emmanuel afirma que a mediunidade deve ser encarada como um sacerdócio, ser cumprida com nobreza, com a consciência serena, para não tombar na luta e sempre pesar as consequências dos próprios atos, ou seja, renunciar aos desejos e aspirações de ordem material que possam impedir sua evolução moral.
O médium deve se preocupar sempre com os estudos relativos à tarefa que realiza. Já nos disse o Espírito de Verdade que o primeiro mandamento dos espíritas é amar. E, o segundo, instruir-se. Quando o médium estuda, ele está se preparando para enfrentar todos os obstáculos do seu caminho. Estudar fortalece sua fé, sua boa vontade. E, assim, o trabalhador será luz da crença e esperança para todos que o procuram.
Todos nós sabemos que a Terra é um planeta de expiações e provas, e que, por isso, ainda somos cercados por sombras, lágrimas e sofrimentos. Por tudo isso, é importante vigiar e orar para evitar que sejamos atingidos por vibrações que podem nos desequilibrar. “Os médiuns, em sua generalidade – prossegue o benfeitor –, não são missionários na acepção comum do termo; são almas que fracassaram desastradamente, que contrariaram, sobremaneira, o curso das leis divinas e que resgatam sob o peso de severos compromissos e ilimitadas responsabilidades, o passado obscuro e delituoso”. São Espíritos que tombaram porque abusaram do poder, da autoridade, da fortuna, da inteligência. Retornaram à Terra para difíceis resgates, que muitas vezes significam sacrificar-se a favor das almas que prejudicaram, devendo considerar os sofrimentos que enfrentam como ações renovadoras. E isso só ocorrerá quando conseguirem reconhecer e assumir as escolhas infelizes que fizeram, porque somente assim atingirão a redenção.
Ter consciência de que, para cumprir sua tarefa, deverá estudar, entender e praticar os ensinos de Jesus. Conhecer o Evangelho do Mestre na sua divina pureza. Ser humilde, não encarando a mediunidade como um privilégio, e sim, como bendita oportunidade de recomeçar, através da correção de atitudes inadequadas e injustiças que possa ter cometido.
Podemos concluir, assim, que Deus nos permitiu fazer uso da atividade mediúnica para nossa evolução. Cada um de nós, de acordo com suas possibilidades e empenho, fará o melhor uso possível dessa faculdade, pois requererá de nós responsabilidade, disciplina e persistência. É uma tarefa árdua, mas Deus nos dá todo o suporte através da atuação dos Espíritos Superiores nos esclarecendo, sustentando e apoiando, para enfrentarmos com êxito nossas dificuldades.
“A mediunidade é uma delicada flor que, para desabrochar, necessita de acuradas precauções e assíduos cuidados. Exige o método, a paciência, as altas aspirações, os sentimentos nobres, e, sobretudo, a terna solicitude do bom Espírito que a envolve em seu amor, em seus fluidos vivificantes[4]”.




[2] FRANCO, Divaldo Pereira - Loucura e Obsessão, ditado pelo Espírito Manoel Philomeno de Miranda - 9ª Edição – FEB - Rio de Janeiro, cap. 22 – 2003.
[3] XAVIER, F. C. Seara dos Médiuns – ditado pelo Espírito Emmanuel – 22ª edição, FEB – cap. 43.
[4] DENIS, Léon – No Invisível – 2ª reimpressão - FEB – Rio de Janeiro - Cap. 5 – Parte 1 - 2010.

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