Arlene Paes Dias
“A mediunidade, conforme
sabemos, exige exercício disciplinado, sintonia com as esferas superiores,
meditação constante, isto é, vida íntima ativa e bem direcionada, ao lado do
conhecimento do seu mecanismo e estrutura, de modo a tornar-se facilidade
superior da e para a vida[2]”.
A mediunidade é a faculdade que
nos permite entrar em contato com o mundo espiritual. Aprendemos, para
exercê-la, as lições que nos são dadas pelos bons Espíritos e, assim, podemos consolar
encarnados e desencarnados que procuram nossa orientação e carinho. Quando
praticada com disciplina e baseada nos ensinamentos de Jesus, é consolo e
lenitivo para todos nós.
Muitas pessoas, por falta de
conhecimento, não acreditam na possibilidade dessa comunicação. Não têm
fundamento os argumentos que usam para justificar seus pontos de vista, porque
suas opiniões se baseiam em comentários que ouviram de pessoas que também não
são estudiosas do assunto. No capítulo 43, ‘Alienação Mental’, do livro “Seara
dos Médiuns”, Emmanuel, estimado benfeitor espiritual, dirige-se a essas
pessoas que acreditam haver ligação entre mediunidade e alienação mental.
Afirma que “especialistas que apenas examinassem os problemas do homem natural
através do homem doente[3]”
não estariam fazendo uma análise verdadeira.
Quem pratica a mediunidade é o
médium. De acordo com Kardec, no capítulo 14, de O Livro dos Médiuns, todo aquele que sente, em qualquer grau, a
influência dos Espíritos, é médium. Mas somente aqueles que conseguem
desenvolvê-la, torná-la positiva e atuante, serão considerados médiuns.
Há médiuns desequilibrados? Sim,
assim como há pessoas desequilibradas em qualquer lugar da nossa sociedade,
independentemente da formação, da posição social, religião que seguem ou
praticam. Não podemos julgar toda uma comunidade porque um membro que dela
participa apresentou problemas de equilíbrio, de saúde, de comportamento.
Kardec afirma que cada um expressa a mediunidade em um grau diferente de outros
companheiros. E Emmanuel corrobora dizendo que cada pessoa vai expressar sua
mediunidade de acordo com seu grau de evolução.
Como a pessoa se porta no
convívio social? Como se expressa através dos seus órgãos dos sentidos? Olhos,
ouvidos, boca (fala). O que nossos olhos veem? A bondade praticada
silenciosamente por um grupo grande de homens e mulheres ou a maldade
estrondosa e barulhenta, praticada por outro grupo, muitas vezes bem menor que
o primeiro, mas que ocupa manchetes de televisão, rádio, jornal, redes sociais?
O mesmo se dá com o que ouvimos.
Ou falamos. Temos certeza de que nossos comentários são verdadeiros? Que vão
ajudar nosso próximo? Ou desmerecem alguém? Quanto tempo, ou melhor, quantas
encarnações, ainda, precisaremos para entender que nossos pensamentos, que precedem
nossos atos, geram consequências?
No livro “Dissertações
Mediúnicas”, Emmanuel aborda aspectos interessantes que muitas vezes não são
percebidos pelos médiuns. No capítulo 1, ele afirma que “esse posto é posto da
renúncia, da abnegação e dos sacrifícios espontâneos”, ou seja, é importante
saber que quem nasceu para executar a tarefa de trabalhar na mediunidade, a
favor de sua evolução, mas, principalmente, atuando no socorro ao próximo,
encarnado ou desencarnado, precisa conseguir filtrar tudo o que pode afetar seu
equilíbrio espiritual. O apóstolo Paulo de Tarso já dizia: “sei que tudo posso,
mas nem tudo me convém”. Agir com responsabilidade e encaixar a tarefa
mediúnica nas suas atividades semanais, sem deixar de cumpri-la.
Por essa razão, Emmanuel afirma
que a mediunidade deve ser encarada como um sacerdócio, ser cumprida com
nobreza, com a consciência serena, para não tombar na luta e sempre pesar as
consequências dos próprios atos, ou seja, renunciar aos desejos e aspirações de
ordem material que possam impedir sua evolução moral.
O médium deve se preocupar
sempre com os estudos relativos à tarefa que realiza. Já nos disse o Espírito
de Verdade que o primeiro mandamento dos espíritas é amar. E, o segundo,
instruir-se. Quando o médium estuda, ele está se preparando para enfrentar
todos os obstáculos do seu caminho. Estudar fortalece sua fé, sua boa vontade.
E, assim, o trabalhador será luz da crença e esperança para todos que o
procuram.
Todos nós sabemos que a Terra é
um planeta de expiações e provas, e que, por isso, ainda somos cercados por
sombras, lágrimas e sofrimentos. Por tudo isso, é importante vigiar e orar para
evitar que sejamos atingidos por vibrações que podem nos desequilibrar. “Os
médiuns, em sua generalidade – prossegue o benfeitor –, não são missionários na
acepção comum do termo; são almas que fracassaram desastradamente, que
contrariaram, sobremaneira, o curso das leis divinas e que resgatam sob o peso
de severos compromissos e ilimitadas responsabilidades, o passado obscuro e delituoso”.
São Espíritos que tombaram porque abusaram do poder, da autoridade, da fortuna,
da inteligência. Retornaram à Terra para difíceis resgates, que muitas vezes
significam sacrificar-se a favor das almas que prejudicaram, devendo considerar
os sofrimentos que enfrentam como ações renovadoras. E isso só ocorrerá quando
conseguirem reconhecer e assumir as escolhas infelizes que fizeram, porque
somente assim atingirão a redenção.
Ter consciência de que, para
cumprir sua tarefa, deverá estudar, entender e praticar os ensinos de Jesus.
Conhecer o Evangelho do Mestre na sua divina pureza. Ser humilde, não encarando
a mediunidade como um privilégio, e sim, como bendita oportunidade de
recomeçar, através da correção de atitudes inadequadas e injustiças que possa ter
cometido.
Podemos concluir, assim, que
Deus nos permitiu fazer uso da atividade mediúnica para nossa evolução. Cada um
de nós, de acordo com suas possibilidades e empenho, fará o melhor uso possível
dessa faculdade, pois requererá de nós responsabilidade, disciplina e
persistência. É uma tarefa árdua, mas Deus nos dá todo o suporte através da
atuação dos Espíritos Superiores nos esclarecendo, sustentando e apoiando, para
enfrentarmos com êxito nossas dificuldades.
“A mediunidade é uma delicada
flor que, para desabrochar, necessita de acuradas precauções e assíduos
cuidados. Exige o método, a paciência, as altas aspirações, os sentimentos
nobres, e, sobretudo, a terna solicitude do bom Espírito que a envolve em seu
amor, em seus fluidos vivificantes[4]”.
[2] FRANCO, Divaldo Pereira - Loucura e Obsessão, ditado
pelo Espírito Manoel Philomeno de Miranda - 9ª Edição – FEB - Rio de Janeiro,
cap. 22 – 2003.
[4] DENIS, Léon – No Invisível – 2ª reimpressão - FEB – Rio
de Janeiro - Cap. 5 – Parte 1 - 2010.
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