Hugo Lapa
Algumas pessoas me pedem
explicações sobre a missão espiritual de cada um. Elas afirmam que não sabem
qual é a sua missão e por isso, não sabem como começar a coloca-la me prática.
Um questionamento comum é: o que devo fazer em minha vida para cumprir minha
missão? Essa é uma pergunta comum, mas não é tão simples de ser respondida,
pois nossa missão espiritual está muito mais próximo de algo que devemos sentir
interiormente do que de algo que precisamos saber intelectualmente.
A melhor resposta que se pode
dar a esse impasse é que, na verdade, quase ninguém sabe ao certo qual é a sua
missão, pois nosso compromisso espiritual não é algo que pode nos ser informado,
mas sim algo que cabe a cada um de nós desvendar. Revelar ao outro qual é a sua
missão seria o mesmo que um professor passar todas as perguntas ao aluno antes
dele fazer a prova. Se o aluno sabe de antemão o que lhe será perguntado, ele
não será testado em seus conhecimentos. O mesmo se dá com a nossa missão
espiritual. Se um anjo descesse do céu e dissesse: “Faça isso”, a pessoa
estaria fazendo apenas porque o anjo a ordenou e não porque ela sente
interiormente que deve fazer. Por isso, Deus não pode revelar nossa missão, mas
somos nós é que precisamos descobri-la sozinhos. Na quase totalidade das vezes
não sabemos qual é a nossa missão, mas vamos aos poucos resolvendo os enigmas e
a desvendando. Isso ocorre no momento em que decidimos seguir o nosso coração,
os impulsos de nossa alma, as aspirações mais profundas do nosso ser.
Uma das principais
características de uma missão espiritual é seu caráter impessoal e desprendido.
Nossa missão não é algo feito para nós, para nossos interesses pessoais, para
ganhar dinheiro, ou para obter coisas no mundo. O cumprimento de metas pessoais
tem a ver com nosso karma pessoal, com os efeitos do nosso ego, de nossa
personalidade, e não com nossa missão. A missão espiritual é um impulso que vem
do nosso espírito e é um legado que a pessoa deixa para a humanidade. É uma
obra que deve ser concretizada no mundo e que tem sua origem nos ecos do nosso
espírito. Não é uma realização pessoal, mas vem de uma aspiração coletiva. Não
se trata de nossa necessidade, mas de uma necessidade do conjunto da sociedade.
É preciso dizer que ninguém deve
realizar sua missão pensando nos ganhos materiais que obterá, pois quem faz
isso está se desviando de sua missão e percorrendo um caminho pessoal e
interesseiro. Quando isso ocorre, é comum falharmos em nossa missão. Sim, é
possível se falhar em uma missão. Um homem religioso, por exemplo, pode vir com
a missão de inspirar em milhares de pessoas a fé em Deus, mas pode sentir-se
muito atraído pelo dinheiro das doações, pega-las para si mesmo, enriquecer e
assim, falhar em sua missão. Nesse exemplo, o religioso pode se tornar não
alguém que conduz as pessoas a Deus, mas sim aquele que as desvia do caminho
espiritual. O religioso pode vir com o dom da oratória. Esse dom o ajudaria em
sua missão e muitas pessoas poderiam sentir-se tocadas pelas suas palavras e,
assim, sentirem-se inspiradas a seguir o caminho espiritual. Mas o dom que
seria utilizado de forma positiva pode também ser utilizado de forma negativa,
caso o religioso falhe em sua missão e deixe-se levar pelas tentações
materiais. Nesse caso, a pessoa pode até mesmo aprofundar seu karma negativo e
ficar ainda mais endividada.
Dizem que os espíritos mais
elevados não falham em suas missões, mas os espíritos não tão adiantados, como
99,9% da humanidade, podem sim cometer erros e fracassar. O principal erro que
alguém pode cometer para colocar em cheque sua missão é seguir um caminho do
seu ego e não do seu espírito. O orgulho, a vaidade e o egoísmo são
frequentemente o principal motivo das pessoas falharem em suas missões. Outro
dado relevante é que missões muito importantes para a humanidade e que tratam
de questões de necessidade evolutiva global e planetária não são depositadas
apenas em um único indivíduo, mas em dois, três ou mesmo quatro pessoas. Isso
significa que, se uma pessoa vem com uma missão muito importante de ser
concretizada, outros espíritos podem nascer ao mesmo tempo para garantir que
aquela obra seja feita. Por exemplo, Buda encarnou e cumpriu sua missão, mas
caso ele tivesse falhado (o que é muito improvável) outro já estava pronto para
realiza-la. Essa pessoa foi Mahavira, contemporâneo de Buda. Um homem com uma
vida muito semelhante a de Buda e que foi incumbido da mesma missão.
Mas que tipo de missões as
pessoas podem realizar em benefício da humanidade? Uma pessoa pode ter a missão
de escrever um ou mais livros. Outra pessoa pode ter a missão de cuidar de
crianças abandonadas. Outro pode ter como missão produzir filmes humanistas.
Outro pode ter como missão dar palestras sobre um determinado tema em seu país
ou em vários países. Outra pessoa pode ter como missão uma profissão comum,
como exercer a medicina, a enfermagem, a psicologia, a advogacia, tudo isso em
prol do bem comum. Há também aqueles que são pessoas de destaque e poder na
sociedade, como por exemplo um jogador de futebol, de basquete, ou um ator
famoso, um político, um juiz etc., e que precisem realizar, dentro de suas
respectivas áreas, missões de transformação social e humana. Um político pode
realizar muito pela população de sua cidade; um juiz pode ter como missão
prender pessoas do crime organizado e livrar uma cidade dos malfeitores, para
tanto ele precisa enfrentar o medo de morrer e colocar sua vida a serviço do
bem comum, mesmo sob o risco de morte; um jogador de futebol pode usar seu
prestígio prévio para dar bons exemplos de cidadania, ética e solidariedade a
todos os seus fãs; um homem muito rico pode utilizar seu dinheiro para ajudar
instituições, construir abrigos, criar fundações, etc.
Um ator famoso, por seu lado,
pode se engajar em projetos sociais e usar sua influência para chamar a atenção
para determinada causa ou sensibilizar a população sobre algum segmento
excluído da sociedade, como por exemplo os deficientes físicos. Em cada área de
atuação é possível se realizar grandes obras, deixar sua contribuição, estimular
avanços e provocar a abertura de novos campos. Cientistas podem também ser
grandes missionários e realizar grandes feitos pela humanidade. Um bom exemplo
é Albert Sabin, que renunciou a patente da vacina contra a poliomielite pra que
ela pudesse ser distribuída gratuitamente para todas as pessoas. Sabin ajudou a
salvar milhões de vidas ao redor do mundo com sua renúncia, sua solidariedade e
sua benevolência. Ele pode ser considerado um exemplo de cientista abnegado e
missionário que veio a Terra. Outro exemplo de cientista missionário foi Albert
Einstein, que lutou durante anos contra a bomba atômica e foi uma voz
importante no discurso pacifista e da união dos povos. Einstein não era um
cientista clássico, com um pensamento mecanicista, mas tinha uma veia
filosófica profunda e humanista.
Além das missões de abrangência
local, de pequena monta, há também aqueles missionários cósmicos, que vêm a
Terra de tempos em tempos, algumas vezes obedecendo a conjunções astrológicas,
cumprir missões de cunho planetário. Esse é o caso dos mestres espirituais,
conhecidos como os avatares na Índia, ou Adeptos na Teosofia. Esses podem ser
considerados os maiores mestres da humanidade; espíritos muito elevados que vêm
trazer mensagens e realizar obras que ajudam a impulsionar a evolução
espiritual de toda a humanidade. São exemplos de missionários cósmicos
personalidades como Jesus, Buda, Krishna, Lao Tsé, Thot, Zoroastro, Rama,
Seraphis, Padma Sambhava, dentre outros. Alguns deles foram considerados deuses
na antiguidade, pois suas histórias oficiais se perderam na noite dos tempos e
eles se tornaram muito mais um mito ou uma figura lendária do que um personagem
histórico. No caso de uma missão cósmica tão importante e decisiva para a
humanidade, é necessário que outros espíritos venham antes do mestre e preparem
o terreno para o florescimento de sua obra. Esse foi o caso de João Batista
antes de Jesus. João veio ao mundo apenas para tornar as pessoas mais
receptivas a vinda do Messias. Ele preparou o povo para aquele que viria depois
dele. Há também seres que realizam sua missão silenciosamente, sem serem
conhecidos e de forma absolutamente discreta. Trabalham nos “bastidores do
mundo”, mas nem por isso sua missão é de menor relevância. Para esses
espíritos, a fama, a promoção pessoal e a projeção do seu nome nada
representam: eles são movidos unicamente pela sintonia com o espírito
universal, fonte de toda a vida. Sua única inspiração é fazer o bem pelo bem.
Exemplos de missionários espirituais de menor alcance do século XX e XXI são:
Amma, Dadi Janki, Ram Bonjam, Mathieu Ricard, Padre Pio de Pietrelcina, Irmã
Dulce, Teresa Neuman, Ramana Maharshi, Yogananda, Vivekananda, Albert
Schweitzer, dentre outros.
Mas é certo que poucas são as
pessoas que conhecem sua missão e sabem exatamente o que devem fazer. Um
exemplo conhecido de todos é o de Chico Xavier. Certo dia, Chico estava
calmamente descansando próximo a uma cachoeira quando teve o primeiro contato
direito com seu mentor espiritual. O mentor de Chico era o espírito que ficou
conhecido como Emmanuel. Esse espírito guia conversou com Chico e lhe passou as
informações iniciais sobre a missão que ele deveria desenvolver em sua vida a
partir daquele momento. Inicialmente, Emmanuel revelou que Chico deveria
escrever 30 livros. Chico disse que não havia dinheiro para fazer as
publicações. Emmanuel disse que Chico não se preocupasse com isso, pois tudo
isso seria arranjado pela espiritualidade.
Esse é um aspecto importante da
missão de cada um. Quando alguém está no caminho certo, mesmo que ela não
disponha dos recursos para alguma realização, se aquilo precisa acontecer, de
fato acontece. Por exemplo, uma pessoa deseja fazer um filme humanista e essa é
sua missão. Se a pessoa idealiza o filme e só falta o capital para sua produção,
o plano cósmico dá um jeito de trazer esse investimento. Isso não significa,
obviamente, que uma certa carga de esforço não seja necessária. O esforço é
essencial e a pessoa pode atravessar muitas dificuldades até conseguir os
recursos, mas se o filme tem que sair, o plano divino dá um jeito de fazer tudo
acontecer.
Já explicamos no livro “Tratado
de Terapia de Vidas Passadas” que existem três tipos de pessoas que vem a
Terra. A primeira vem apenas para cumprir seu karma e viver certas provações. A
segunda vem com o destino de cumprir uma parcela de seu karma e, ao mesmo
tempo, também realizar alguma missão espiritual. Outros, esses bem mais raros,
vieram apenas para cumprir sua missão, sem a necessidade de expiar seu karma.
Mas é certo que a maioria veio ao mundo apenas para cumprir seu destino kármico
e assim aprender certas lições. Pessoas que nasceram apenas para cumprir karma
e atravessar certas provações podem ter como tarefa principal, por exemplo,
nascer em condições subumanas, viver uma existência de miséria e privações,
sofrer algum acidente, ficar paralítico, perder todo o dinheiro, casa e
estabilidade. Outros vêm para enfrentar a morte de um filho, da esposa e de
outros familiares. Outros ainda vêm para resolver certas pendências com seu
parceiro evolutivo, além de perdoar, arrepender-se de certos erros, cuidar de
familiares ou amigos, ser o ponto de equilíbrio numa família, dentre outras
tarefas kármicas. É importante diferenciar a missão do karma. Missão espiritual
é uma realização de alcance coletivo. Tarefas kármicas são realizações apenas
de alcance pessoal, que fazemos para nós mesmos e nossa evolução espiritual.
Aqueles que desejam iniciar sua
missão devem ficar atentos àquilo que os antigos chamavam de sinais. Devemos
prestar atenção nos sinais e dar valor a eles, caso desejemos descobrir as
tarefas que devemos iniciar. Por outro lado, para realizar nossa missão
espiritual devemos iniciar empreendendo tudo aquilo que sentimos que deve ser
feito. Qual é a coisa que você mais sente afinidade? O que mais te realiza? O
que mais você busca e almeja na vida? O que te faz feliz? Imagine-se daqui a 10
ou 20 anos, o que você gostaria de ter feito ou ter iniciado? Você gostaria de
ser lembrado por ter realizado qual obra? Qual atividade ou qual realização
dentro do seu trabalho mais te preenche, te alegra, te faz sentir pleno e
realizado?
Entre dentro de si mesmo e tente
sentir onde está o seu coração, onde está seu espírito se manifestando na
Terra. Pense e reflita nessas questões. Se as suas maiores aspirações forem
realizações de interesse meramente pessoal, pode ser que você tenha vindo a
terra somente para viver seu karma e suas provações. Mas se as suas aspirações
tiverem uma perspectiva coletiva, talvez você seja um missionário que veio ao
mundo deixar uma obra.
Faça aquilo que você sente em
sua consciência que é o correto a se fazer… e naturalmente você estará
cumprindo aquilo que veio realizar.
Fonte: Espiritualidade para Todos
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