segunda-feira, 19 de agosto de 2019

AURORA A. DE LOS SANTOS DE SILVEIRA[1]




Aurora A. de los Santos de Silveira, pioneira espírita uruguaia, nasceu no dia 28 de agosto de 1890 e desencarnou no dia 10 de agosto de 1969, em Montevidéu.
O Espiritismo uruguaio muito deve a essa mulher idealista, que através do seu exemplo e dedicação contribuiu para fazer germinar, naquela nação, a semente generosa da Doutrina dos Espíritos.
Sofrendo as agruras de prisões e da separação dos filhos revelou a sua fibra de missionária, não deixando jamais o desempenho de uma tarefa apostólica que a impulsionava, e que culminou com a fundação de uma instituição espírita que também se tornou a pioneira naquela pátria irmã.
Filha de José Fabrício dos Santos, brasileiro, e Petrona Tejera, espanhola, Aurora morava no Departamento da Rivera, na República Oriental do Uruguai, motivo que a levou a cursar apenas um ano da escola primária.
Sua vida foi repleta de dificuldades e sacrifícios junto a seus familiares, nos afazeres da agricultura. Desde pequena se revelaram nela fenômenos mediúnicos de vidência, que seus pais procuravam reprimir, por desconhecer sua verdadeira causa e por temerem que ela enveredasse pelo caminho da loucura.
Foi mãe extremosa de 7 filhos, em dois matrimônios. Em 1933 desencarnou o seu segundo esposo, Gervásio Silveira, deixando-a na maior penúria com absoluta falta de recursos, o que a levou, juntamente com seus filhos, a passar por angustiosa fase.
Nesses momentos de grandes aflições, conheceu uma senhora de nome Valentina, que lhe deu alguns folhetos e revistas espíritas. A leitura dessas publicações atuou como verdadeiro bálsamo, preenchendo uma grande lacuna naquele Espírito bondoso e abnegado.
Cheia de fé e esperança, Aurora começou a levar os seus filhos a pequenos Centros Espíritas que existiam nas cidades de Rivera e Livramento, na fronteira entre o Brasil e Uruguai, sentindo-se daí por diante bastante aliviada em suas angústias, dedicando-se à leitura de "O Evangelho Segundo o Espiritismo", de Allan Kardec.
No dia 5 de julho de 1935, transferiu seu domicílio para a capital uruguaia, em busca de melhores condições econômicas, passando a trabalhar como costureira.
Em Montevidéu, certo dia, estando muito cansada e aflita, pediu a seu filho Baltazar que lesse o único livro espírita que possuía, "O Evangelho Segundo o Espiritismo", ocasião em que se manifestou um espírito que, diante do assombro do moço, apenas disse: "Não temais, venho para ajudar-vos", solicitando que procurassem reunir três ou quatro pessoas, quando então voltaria.
Ao despertar, Aurora inteirou-se daquela solicitação e, no dia seguinte promoveu a reunião, segundo a vontade expressa pelo espírito comunicante, que deu o nome de "Bon Ajou".
Após a realização dessa sessão, Aurora teve desabrochada a sua mediunidade, passando a fazer curas assombrosas de cegos, paralíticos, cancerosos e de uma série de pessoas desenganadas pela medicina oficial.
Sua fama se espargiu e doentes vinham de todos os lugares em busca da cura.
Nessa época o Espiritismo no Uruguai era praticamente desconhecido e Aurora foi acusada de exercício ilegal da Medicina, sendo presa e recolhida a uma prisão de mulheres, onde permaneceu durante 6 meses. Seus filhos foram parar nos mais diversos lugares, inclusive em orfanatos.
Terminada a sentença, abandonou a prisão, debilitada e abatida, porém isso não impediu que dentro de poucos dias voltasse ao mesmo lugar, reiniciando o seu trabalho apostólico, ajudando os seus irmãos mais necessitados e lutando pela divulgação dos ideais espíritas.
Após grandes lutas conseguiu ver realizado o seu sonho, obtendo personalidade jurídica para uma instituição que fundou, o "Centro Evangélico Espiritual Hacia la Verdad", sociedade beneficente cuja inauguração ocorreu em 31 de maio de 1944, e cuja sede própria foi levantada em 1950, na Avenida General Flores, 4.689, em Montevidéu. Tudo isso através do seu esforço, coadjuvado por um livro e um Espírito amigo.
Os dados acima foram obtidos por intermédio de Baltazar Silveira, filho da grande pioneira, entretanto, a título de subsídios biográficos, transcreveremos abaixo o que o erudito escritor e orador brasileiro, Newton Boechat, escreveu sobre essa notável batalhadora, em outubro de 1966, quando ela ainda estava entre nós:
D. Aurora A. de los Santos de Silveira, pioneira no Movimento Espírita Uruguaio, médium notável e destemida, hoje repousando das lutas de antanho, quando era vigoroso seu organismo físico. Enfrentou, vezes inúmeras, o cárcere, a perseguição, os ataques de adversários terríveis, para evidenciar a Mensagem Espírita: o "Hacia la Verdad", é o fruto de seus labores em função do Bem, obtendo, finalmente, personalidade jurídica desde 1944.
A venerada Sra., junto à lareira da residência de Canellones, muito nos contou das lutas de outrora, com seus ardis e embargos, mas que não lhe puderam frustrar a perseverança.
Hoje, o "Hacia la Verdad" é organização respeitável, com centenas de sócios, em sede confortável de 200 butacas (poltronas) e preciosa biblioteca.
Seu auditorium lembra o da "Confederação Espírita João Evangelista" da Penha, no Rio de Janeiro.
D. Aurora, quando mais tarde for escrita a Historia do Espiritismo Uruguaio, em seus pródromos, aparecerá como inesquecível criatura que, quase só, não poupou esforços na hora do testemunho.
Ela é lá o que o Dr. Bezerra, Sayão, Bittencourt, Caírbar, Eurípedes, Lins, Olímpio Teles, Petitinga, Batuíra e tantos outros que já desencarnaram, foram aqui.
Nós, espiritistas brasileiros, devemos envolver o nome de d. Aurora A. de los Santos Silveira, em nosso carinhoso respeito. Que no silêncio de sua residência em Canellones, meditando nas lutas sublimes de outros tempos, junto à lareira amiga e ao chimarrão de que tanto gosta, receba o rocio de nossas irradiações.




[1] Os Grandes Vultos do Espiritismo – Paulo Alves Godoy

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