Richard Simonetti[2]
1 – O que dizer da manifestação de pretos velhos no Centro
Espírita, com seu linguajar peculiar? Não devem ser estimulados a mudar a
postura, instruindo-se?
‒ Parece-me que a
evolução não tem nada a ver com a expressão física ou linguística. Espíritos
que se manifestam como pretos velhos podem ser muito evoluídos, tanto quanto
branquelos podem ser atrasados.
2 – O problema é quando Espíritos apresentam-se como
orientadores. Fica complicado aceitar que um mentor não tenha aprendido a
falar.
‒ Kardec orienta que
devemos considerar o conteúdo, não a forma. Respeitando a opção do Espírito,
tudo o que nos compete avaliar é se sua mensagem guarda compatibilidade com os
princípios espíritas.
3 – Não devemos, portanto, opor resistência à manifestação
de pretos velhos, índios, caboclos?…
‒ Não vejo motivo para
cultivar preconceitos, mesmo porque, não raro, Espíritos dessa condição, menos
esclarecidos e ainda vinculados às tradições da raça, manifestam-se para serem
ajudados, não para receberem lições de português.
4 – E se estivermos diante de um condicionamento mediúnico,
médiuns falando como pretos velhos por imitação?
‒ É um problema que
compete ao dirigente resolver, avaliando se está diante de manifestação
autêntica ou de mero condicionamento a partir da influência de outros médiuns.
Não costuma acontecer com médiuns que se preparam adequadamente em cursos
específicos sobre mediunidade.
5 – Diante de uma manifestação autêntica, se o preto velho é
um Espírito evoluído, não será razoável que se manifeste com linguagem
escorreita, sem maneirismos?
‒ Penso que não
devemos impor condições ao manifestante. Os Espíritos desencarnados, quando
evoluídos, podem adotar a forma e o linguajar que lhes aprouver. É uma opção e
um direito.
6 – Por que o fazem?
‒ Pretos velhos
revivem, nas manifestações, o tempo em que estiveram em regime de escravidão,
que lhes foi muito útil, ajudando-os a superar o orgulho que marca o
comportamento humano. É uma homenagem que prestam à raça negra e um exercício
de humildade.
7 – Quanto à morfologia perispiritual, tudo bem. Quanto à
palavra, não seria interessante usar uma linguagem atual, não africanizada?
‒ Pode acontecer, mas
aí vai depender do próprio grupo e de uma adequação dos médiuns. O Centro
Espírita Amor e Caridade, em Bauru, foi orientado desde sua fundação, em 1919,
por uma corrente africana. Seus representantes, em dado momento, observando a
evolução do grupo, na década de 40, disseram: Pretalhada vai vestir casaca.
Anunciavam por esta metáfora que a partir daquele momento eliminariam as
expressões africanizadas, o que de fato ocorreu.
8 – Devemos, então, admitir que esses Espíritos façam uma
adequação do linguajar, de conformidade com as tendências ou necessidades do
grupo?
‒ Exatamente. Um
confrade, médium vidente, visitou certa feita um grande terreiro de Umbanda, em
Vitória, Espírito Santo. Viu algo que o perturbou: o Espírito Frederico Figner,
que foi dedicado diretor da Federação Espírita Brasileira, manifestar-se como
um preto velho. Julgou estar tendo uma alucinação e logo esqueceu. Algum tempo
depois, em visita a Uberaba, ouviu alguém perguntar a Chico Xavier por onde
andaria Frederico Figner. E o médium: Anda dando assistência a um terreiro de
umbanda em Vitória, no Espírito Santo.
Fonte: Kardec Rio Preto
[2] Richard Simonetti é escritor, palestrante espírita e
vice-presidente do CEAC (Bauru-SP). Também é diretor de divulgação da Doutrina
Espírita, da mesma entidade. Falecido em 03/10/2018.
muito boa explicação.
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