Jorge Hessen - jorgehessen@gmail.com
A liberdade de escolha dos
nossos atos vincula-se à “Lei de Causa e Efeito”, ou seja, tudo aquilo que
penso, que desejo, que faço determinam consequências naturais. A experiência da
vida humana é circunstanciada por livres decisões vinculadas às implicações das
escolhas. As Leis Divinas permitem assumirmos decisões livremente, contudo as
escolhas geram resultados adequados ou desagradáveis, dependendo das opções.
No orbe humano Deus jamais pune
e suas Leis não são e nunca foram de natureza punitiva, pois as escolhas que
fazemos poderão trazer uma “colheita” natural e sempre proporcional ao
“plantio”, consoante maior ou menor discernimento dos atos.
No mundo dos animais, um
cachorro, por exemplo, age por automatismo, portanto não consegue fazer
escolhas, exceto aquelas que estão dentro do espectro do seu instinto. O cão
não tem livre arbítrio, logo seus “atos errados” não lhes podem trazer
consequências negativas. Contudo, o ser irracional ensaia para vida racional,
por esta razão, quando o irracional ingressa no mundo humano desabrocha-se lhe
pouco a pouco a consciência e com ela a lei de liberdade, capacitando-o para as
escolhas das ações, determinando os resultados ao nível da consciência
alcançada.
A semeadura rende conforme os
propósitos e consciência do semeador. A “Lei de Causa e Efeito” sincronizada às
Leis “de Liberdade” e “de Responsabilidade” determina o rumo da existência
humana. Portanto, somos livres para pensar e agir, porém somos , em algum
nível, “servos” (responsáveis) por aquilo que fazemos, pensamos ou deixamos de
fazer.
No movimento espírita defende-se
a fábula de que TODO sofrimento do presente é fruto dos atos errados do
passado, entretanto, no capítulo V, do livro O Céu e o Inferno, Kardec diz categoricamente que o sofrimento
atual é apenas resultado da imperfeição que ainda não nos livramos e não
necessariamente de atos errados do pretérito. Indubitavelmente a lei do “karma”
é uma lei contraditória, vingativa, fatalista. Seu princípio é – “bateu terá
que apanhar”, “traiu terá que ser traído”, “matou terá que morrer” sempre numa
ancestral evocação à antediluviana lei do “olho por olho dente por dente”.
No entanto, o bom senso
kardequiano sussurra que não há um destino assinalado com acontecimentos
detalhados nos punindo durante a reencarnação, conforme apregoam os místicos
partidários do tal “karma”. A bem da verdade, o Codificador jamais citou a lei
do “karma” na literatura espírita. A rigor, o tal “karma” é uma lei impensada e
incongruente, por sua vez, a Lei de Causa e Efeito (contida na Codificação) é
uma lei moral coerente que nos faz crescer e avançar consciencialmente.
O sofrimento é inerente a nossa
imperfeição, ou seja, o orgulhoso sofre as consequências do orgulho e o egoísta
sofre os efeitos do egoísmo, mas que fique bem fulgente uma verdade: ninguém
reencarna para passar pela Lei de Talião, mas para superar a imperfeição e
evoluir através do trabalho no bem no limite da força de cada um.
À luz da Doutrina dos Espíritos
só existe um destino projetado para todas as criaturas, é o destino da
evolução, do aprimoramento intelectual e moral mirando o conhecimento da
VERDADE para a aquisição da pura e inexaurível felicidade. Não há fatalismos
catastróficos em nosso destino. Jamais poderemos pronunciar que “o que está
escrito está escrito” e nada modificará o nosso destino. Ora! Se acreditarmos
nisso, renegaremos o livre arbítrio e a Lei de Misericórdia, que nos induz ao
amor cobre a multidão dos atos errados.
Não somos uma máquina
(robotizada), até porque sabemos decidir. Adquirimos consciências graduais
sobre o chamado bem ou o mal, e isso estabelece os cenários das experiências
agradáveis ou não em nossa caminhada. Deus instituiu leis que estão inscritas
em nossas consciências. Com a Lei de Causa e Efeito conseguimos avaliar melhor
as escolhas e com elas desenvolvemos o discernimento em face das decorrências
naturais através das reencarnações.
Todos estamos num conjunto de
forças providenciais que determinam uma certa quantidade de “intervenções” para
que o livre-arbítrio possa ser operado. Mas todas as escolhas são nossas. Por
isso, antes da reencarnação, o fluxograma da nova experiência física jamais
será compulsório, porém sugerido amorosamente pelos especialistas do além, por
causa disso elegemos o grupo familiar, a sociedade, a cultura, as condições
socioeconômicas, a raça, o sexo. Tudo isso faz parte de nossa escolha, sugerida
ou não pelos Espíritos mais esclarecidos antes da reencarnação, e tal decisão
vai nos aproximar desta ou daquela influência de um grupo social que poderá ter
um certo peso relativo nas nossas escolhas.
A liberdade é proporcional ao
nosso estágio de evolução moral, por isso somos relativamente livres para
certas decisões, mas não precisamos ser reféns das circunstâncias e fatores
sociais, estruturas familiares, raciais, espirituais, “astrológicas”,
numerológicas etc., tudo isso pode até influenciar-nos, mas não determinará as
nossas resoluções a partir das nossas escolhas. Certamente tais influências
podem impulsionar-nos às melhores ou piores escolhas, mas teremos
inevitavelmente oportunidades para aprender com a vida.
É bem verdade que livros de
Ivone Pereira, Chico Xavier, Divaldo Franco demonstram as concernentes
influências do cenário social, político, econômico e cultural em que estamos
colocados em algum nível pode estar de maneira relativa conexo a um cenário de
vida anterior, mas sem implacáveis determinismos “cármicos”. Enfatizamos que
nas leis divinas não existe punição ou recompensa. O Criador estabeleceu leis
sábias e justas que determinam efeitos naturais ante nossas escolhas.
Apropriamo-nos da nossa vida e
determinamos nossas existências com liberdade dentro da evolução. Por isso,
responsabilizamo-nos pelas nossas existências, caminhando na vida de
conformidade com que fazemos de nós mesmos. Essa autoapropriação da existência
através da auto-responsabilização de tudo que acontece conosco dá-nos um certo
sentido de domínio na relatividade da nossa existência sobre a aflição, a
ternura, a alegria, a desventura. Naturalmente tudo o que nos acontece nos diz
respeito, portanto não podemos imputar a ninguém a vitória ou o infortúnio
daquilo que nos acontece, até porque o que nos ocorre é , na relatividade, um
espelho do passado recente ou mais remoto e aquilo que podemos colher amanhã
resultará relativamente da nossa semeadura do presente.
Somos os senhores e responsáveis
pela vida, portanto, quando erramos podemos refazer a caminhada mediante novas
escolhas, considerando que muitas vezes cometemos escolhas equivocadas e
sorvemos os naturais efeitos delas , porém na medida em que ampliamos a
consciência sobre os atos errados vamos diminuindo até mesmo os efeitos das
escolhas , porque bancaremos escolhas mais apropriadas.
Fomos criados para a FELICIDADE!
Portanto, ainda que diante de todas a dores e sofrimentos devemos encará-los
com AMOR.
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