Joanna de Ângelis
A experiência vivencial é feita
de lutas. No passado remoto, o mais forte venceu a fragilidade do outro e
impôs-se, abrindo o campo da evolução antropológica.
À medida que o cérebro foi-se
desenvolvendo sob o império do psiquismo espiritual e tornando-se mais
complexo, a inteligência contribuiu para que o processo de vitória se fizesse
menos agressivo, embora ainda predomine na criatura humana uma soma de
manifestações da natureza animal.
O ser, no entanto, já discerne,
repetindo as lutas cruentas por atavismo e sentido de perversidade, muitas
vezes patológica, que lentamente serão superadas pela força mesma da evolução.
Apesar disso, abandonar os
patamares mais imediatos, do que considera como necessidade de sobrevivência,
exige uma luta feita de conflitos entre o que se desfruta e ao que se aspira, o
que se tem e o que se pode e deve conseguir.
Essa luta tem muito a ver com os
hábitos ancestrais que deixaram sulcos profundos no inconsciente e que se
repetem por quase automatismo que à razão compete superar.
Nesse esforço ressurgem as
impressões das reencarnações próximas, caracterizadas pela predominância do
instinto, sem matrizes dominantes da razão e do sentimento de solidariedade.
Reaparecem, então, como
tormentos íntimos, frustrações e desaires que atormentam, exigindo terapia
conveniente e esforço pessoal, a fim de ultrapassar os limites impostos pelas
circunstâncias.
Da mesma forma que existe o
fototropismo, o heliotropismo, podemos encontrar na vida um psicotropismo
superior propelindo os seres iniciantes a crescer, a se direcionar no rumo do
Pensamento Causal e Organizador de tudo.
É inevitável essa atração e
ninguém pode fugir-Lhe ao imperioso magnetismo, que vitaliza tudo e a tudo
envolve.
A luta, porém, trava-se no âmago
do ser acostumado ao menor esforço e muitas vezes à exploração do trabalho
alheio.
Nessa ascese, cada qual
desempenha um papel importante e ninguém pode viver por outrem o compromisso
que lhe cabe atender.
Esse crescimento é feito com suor
e esforço bem-direcionado que, por isso mesmo, compensa e fascina abrindo novas
oportunidades e desenvolvendo outras propostas de integração, que não mais se
compadecem com a autocomiseração, nem com a angústia, medo, limites a que se está
acostumado. O desafio da evolução é grandioso e todos os seres são conduzidos
inevitavelmente à sua conquista.
Como luta pode oferecer
resultados sempre melhores, porque fortalece aquele que combate, essa, a da
evolução das necessidades básicas para as libertadoras, superará os conflitos
em que o ser vem mergulhado, libertando-o das amarras que o prendem na
retaguarda do progresso. Os seres humanos que caminham sob o jugo da
insegurança pessoal, diante da vida, aclimatam-se às regiões de sombras, porque
aí se refugiam para prantearem os limites em que se comprazem, temendo tomar
decisões que os libertariam, mas que, por outro lado, exigem-lhes o denodo, o
sacrifício e a coragem para não desistir.
Começada essa batalha nova, a de
conquistar os espaços da evolução, mesmo sob conflitos perturbadores, dá-se o
primeiro passo, que logo será seguido por outros, até o momento em que o prazer
de ser livre se torna emulador para mais audaciosas realizações. Ninguém,
portanto, aspire a vencer, aguardando que outros realizem o esforço que lhe
cumpre desenvolver, porque a conquista é pessoal e intransferível, não havendo
lugar para fraude ou enganos.
Quando o homem primitivo ergueu
os olhos para o Infinito, atemorizou-se e curvou-se ante a majestade que não
conseguiu entender.
Lentamente, porém, perscrutando
a Natureza e exercitando-se, passou do instinto grotesco para os mais refinados
e abriu o campo da razão, que lhe faculta alcançar as primeiras manifestações
da intuição que lhe será patrimônio futuro, quando totalmente livre dos
imperativos da matéria.
Assim, a luta conflitiva cede
lugar à de natureza consciente e racional, porque apresenta a meta a ser
conquistada, sem cuja vitória o sofrimento permanece como ditador, impondo as
suas diretrizes arbitrárias e nem sempre necessárias.
A vida não exige dor, mas brinda
amor.
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