(Sociedade Espírita de Sens – Médium: Sr. Percheron)
Quis Deus que o Espírito do homem fosse ligado à matéria para sofrer as
vicissitudes do corpo, com o qual se identifica a ponto de iludir-se e de o
tomar por si mesmo, quando não passa de sua prisão passageira; é como se um
prisioneiro se confundisse com as paredes da cela. Os materialistas são muito cegos
por não perceberem seu erro, porquanto, se quisessem refletir um pouco
seriamente, veriam que não é pela matéria do corpo que se podem manifestar;
concluiriam que, desde que a matéria desse corpo se renova continuamente, como
a água de um rio, não é senão pelo Espírito que podem saber que são sempre eles
mesmos.
Suponhamos que o corpo de um homem que pesasse sessenta quilos
assimile, para a reparação de suas forças, um quilo de nova substância por dia,
a fim de substituir a mesma quantidade de antigas moléculas de que se separa e
que cumpriram o papel que deviam desempenhar na composição de seus órgãos;
assim, ao cabo de sessenta dias a matéria desse corpo estaria renovada. Nesta hipótese,
cujos números podem ser contestados, mas verdadeira em princípio, a matéria do
corpo renovar-se-ia seis vezes por ano; portanto, o corpo de um homem de vinte
anos já se teria renovado cem vezes; aos quarenta, duzentas e quarenta vezes;
aos oitenta, quatrocentas e oitenta vezes. Mas o vosso Espírito se terá renovado?
Não, pois tendes consciência de que sois sempre vós mesmos. É, pois, o vosso
Espírito que constitui o vosso eu, e segundo o qual vós vos manifestais, e não
o vosso corpo, que não passa de matéria efêmera e mutável.
Os materialistas e os panteístas dizem que as moléculas desagregadas
depois da morte do corpo retornam à massa comum de seus elementos primitivos, o
mesmo se dando com a alma, isto é, com o ser que pensa em vós; mas que sabem
eles disso? Há uma massa comum de substância que pensa? Jamais o demonstraram,
e é o que deveriam ter feito antes de afirmar. Da parte deles não passa de uma
hipótese. Ora, se durante a vida do corpo as moléculas se desagregam centenas
de vezes, não obstante o Espírito seja sempre o mesmo e conserve a consciência
de sua individualidade, não é mais lógico supor que a natureza do Espírito não
é passível de desagregar-se? Por que, então, se dissolveria após a morte do
corpo, e não antes?
Após esta digressão, dirigida aos materialistas, volto ao meu assunto.
Se Deus quis que suas criaturas espirituais fossem momentaneamente unidas à
matéria, é, repito, para as fazer sentir e, a bem dizer, para que sofressem as
necessidades que a matéria exige de seus corpos, no que respeita ao seu
sustento e conservação. Dessas necessidades nascem as vicissitudes que vos fazem
sentir o sofrimento e compreender a comiseração que deveis ter por vossos
irmãos na mesma posição. Esse estado transitório é, pois, necessário ao
adiantamento do vosso Espírito, que, sem isto, ficaria estagnado. As
necessidades que o corpo vos faz experimentar estimulam os vossos Espíritos e
os forçam a buscar os meios de as prover; desse trabalho forçado nasce o desenvolvimento
do pensamento. Constrangido a presidir aos movimentos do corpo para os dirigir,
visando a sua conservação, o Espírito é conduzido ao trabalho material e daí ao
trabalho intelectual, necessários um ao outro, pois a realização das concepções
do Espírito exige o trabalho do corpo e este não pode ser feito senão sob a
direção e o impulso do Espírito. Tendo assim o Espírito adquirido o hábito de
trabalhar, e a ele constrangido pelas necessidades do corpo, o trabalho, por
sua vez, se lhe torna uma necessidade; e quando, desprendido de seus laços, não
tem mais de pensar na matéria, pensa em trabalhar em si mesmo para o seu
adiantamento.
Agora compreendeis a necessidade para o vosso Espírito de estar ligado
à matéria durante uma parte de sua existência, para não ficar estacionário.
Teu
pai, Percheron, assistido pelo Espírito Pascal
Observação – A
estas observações, perfeitamente justas, acrescentaremos que, trabalhando para
si mesmo, o Espírito encarnado trabalha para a melhoria do mundo em que habita,
assim ajudando a sua transformação e o seu progresso material, que estão nos
desígnios de Deus, de quem é o instrumento inteligente. Na sua sabedoria
previdente, quis a Providência que tudo se encadeasse na Natureza; que, todos,
homens e coisas, fossem solidários. Depois, quando o Espírito houver realizado
a sua tarefa e estiver suficientemente adiantado, gozará do fruto de suas
obras.
Nenhum comentário:
Postar um comentário